quarta-feira, 13 de abril de 2011

O deus dos palpiteiros - Olavo de Carvalho

Se há um Deus onipotente, onisciente e onipresente, é óbvio que não podemos conhecê-Lo como objeto, ou mesmo como sujeito externo, mas apenas como fundamento ativo da nossa própria autoconsciência, maximamente presente como tal no instante mesmo em que esta, tomando posse de si, se pergunta por Ele. Tal é o método de quem entende do assunto, como Platão, Aristóteles, Sto. Agostinho, S. Francisco de Sales, os místicos da Filocalia, Frei Lourenço da Encarnação ou Louis Lavelle.

Quando um Richard Dawkins ou um Daniel Dennett examinam a questão de um “Ser Supremo” que teria “criado o mundo” e chegam naturalmente à conclusão de que esse Ser não existe, eles raciocinam como se estivessem presentes à criação enquanto observadores externos e, pior ainda, observadores externos de cuja constituição íntima o Deus onipresente tivesse tido a amabilidade de ausentar-se por instantes para que pudessem observá-Lo de fora e testemunhar Sua existência ou inexistência.

Esse Deus objetivado não existe nem pode existir, pois é logicamente autocontraditório. Dawkins, Dennett e tutti quanti têm toda a razão em declará-lo inexistente, pois foram eles próprios que o inventaram. E ainda, por uma espécie de astúcia inconsciente, tiveram o cuidado de concebê-lo de tal modo que as provas empíricas da sua inexistência são, a rigor, infinitas, podendo encontrar-se não somente neste universo mas em todos os universos possíveis, de vez que a impossibilidade do autocontraditório é universal em medida máxima e em sentido eminente, não dependendo da constituição física deste ou de qualquer outro universo.

Se você não “acredita” no Deus da Bíblia, isso não faz a mínima diferença lógica ou metodológica na sua tentativa de investigar a existência ou inexistência d’Ele, quando essa tentativa é honesta. Qualquer que seja o caso, você só pode discutir a existência de um objeto previamente definido se o discute conforme a definição dada de início e não mudando a definição no decorrer da conversa, o que equivale a trocar de objeto e discutir outra coisa. Se Deus é definido como onipotente, onisciente e onipresente, é desse Deus que você tem de demonstrar a inexistência, e não de um outro deus qualquer que você mesmo inventou conforme as conveniências do que pretende provar.

O método dos Dawkins e Dennetts baseia-se num erro lógico tão primário, tão grotesco, que basta não só para desqualificá-los intelectualmente nesse domínio em particular, mas para lançar uma sombra de suspeita sobre o conjunto do que escreveram sobre outros assuntos quaisquer, embora seja possível que pessoas incompetentes numa questão que julgam fundamental para toda a humanidade revelem alguma capacidade no trato de problemas secundários, onde sua sobrecarga emocional é menor.

Longe de poder ser investigado como objeto do mundo exterior, Deus também é definido na Bíblia como uma pessoa, e como uma pessoa sui generis que mantém um diálogo íntimo e secreto com cada ser humano e lhe indica um caminho interior para conhecê-La. Só se você procurar indícios dessa pessoa no íntimo da sua alma e não os encontrar de maneira alguma, mesmo seguindo precisamente as indicações dadas na definição, será lícito você declarar que Deus não existe. Caso contrário você estará proclamando a inexistência de um outro deus, no que a Bíblia concordará com você integralmente, com a única diferença de que você imagina, ou finge imaginar, que esse deus é o da Bíblia.

Quando o inimigo da fé faz um esforço para ater-se à definição bíblica, ele o faz sempre de maneira parcial e caricata, com resultados ainda piores do que no argumento da “criação”. Dawkins argumenta contra a onisciência, perguntando como Deus poderia estar consciente de todos os pensamentos de todos os seres humanos o tempo todo. A pergunta é aí formulada de maneira absurda, tomando as autoconsciências como objetos que existissem de per si e questionando a possibilidade de conhecer todos ao mesmo tempo ex post facto.

Mas a autoconsciência não é um objeto. É um poder vacilante, que se constitui e se conquista a si mesmo na medida em que se pergunta pelo seu próprio fundamento e, não o encontrando dentro de seus próprios limites, é levado a abrir-se para mais e mais consciência, até desembocar numa fonte que transcende o universo da sua experiência e notar que dessa fonte, inatingível em si mesma, provém, de maneira repetidamente comprovável, a sua força de intensificar-se a si próprio.

Dez linhas de Louis Lavelle sobre este assunto, ou o parágrafo em que Aristóteles define Deus como noesis noeseos, a autoconsciência da autoconsciência, valem mais do que todas as obras que Dawkins e Dennett poderiam escrever ao longo de infinitas existências terrestres. Um Deus que desde fora “observasse” todas as consciências é um personagem de história da carochinha, especialmente inventado para provar sua própria inexistência.

Em vez de perguntar como esse deus seria possível, sabendo de antemão que é impossível, o filósofo habilitado parte da pergunta contrária: como é possível a autoconsciência? Deus não conhece a autoconsciência como observador externo, mas como fundamento transcendente da sua possibilidade de existência. Mas você só percebe isso se, em vez de brincar de lógica com conceitos inventados, investiga a coisa seriamente desde a sua própria experiência interior, com a maturidade de um filósofo bem formado e um extenso conhecimento do status quaestionis.

O que mata a filosofia no mundo de hoje é o amadorismo, a intromissão de palpiteiros que, ignorando a formulação mesma das questões que discutem, se deleitam num achismo inconseqüente e pueril, ainda mais ridículo quando se adorna de um verniz de “ciência”.

http://www.olavodecarvalho.org/semana/090318dc.html

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A Bíblia e o Celular.

Acabaram de me enviar pela milésima vez aquele texto onde se pergunta como seria se tratássemos a Bíblia do jeito que tratamos o celular.

Por isso resolvi fazer uma brincadeira com a pessoa que me enviou (e não gostou nada, por sinal), e mostrar que as pessoas usam a Bíblia sim como o célular.

Mas é bom destacar: É só uma brincadeira, e não estou a zombar da Bíblia (Livro que foi inspirado pelo próprio Deus). O objetivo é criticar algumas formas de uso.

Mas então, não é que utilizamos a Bíblia como o celular?

Se carrega no bolso ou na bolsa pra dizer que tem, apenas porque todo mundo tem que ter.

Várias vezes ao dia são dada certas olhadas, no entanto nada profundo ou contextualizado.

Muitas vezes se olha pra ver se tem um SMS do céu.

Tem a versão de brinquedo para se dar de presente as crianças.

Tem que se levar a Igreja e dar 10% do seu salário para ter crédito com Deus.

A qualidade do sinal vai depender da denominação que freqüenta.

Só [eu] e meu [grupo] sabe usar direitinho e tem o melhor sinal.

Se escolhe a operadora pelas vantagens e promoções.

As operadoras ganham muito dinheiro dando sinal.

Não se sabe onde e como foi fabricada, ou se ignora, mas pensam que caiu do céu pronta para a venda.

Por utilizá-la para futilidades, muitos acabam enjoando.

Possui várias versões: Almeida, Almeida Corrigida, Almeida Corrigida e Fiel, Almeida Corrigida e Fiel Atualizada, e por aí vai...

Existe uma feita para cada tipo de pessoa: Bíblia da mulher, do homem, criança, empresário, bíblia gay, do Paraguai (onde é incompleta).

Você pode comprar capas personalizadas proteger.

Alguns fazem coleção de Bíblias, mas nunca usam.

Outros roubam dinheiro de otários utilizando de forma errada seus serviços.

Nela encontramos alguns telefones de emergência:

- Está triste, prestes a perecer e amargurado? Ligue Pr 31, 6
- Estão zombando de você? Ligue Sl 80, 6
- Em caso de emergência, disque Sl 91, na superstição de que o Salmo tem algum poder especial.

Novamente: É só uma brincadeira, e não estou zombando da Bíblia (Livro que foi inspirado pelo próprio Deus). O objetivo é criticar algumas formas de uso, principalmente as formas supersticiosas que tiram o devido valor das Sagradas Escrituras.

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Se você vê mais semelhanças, pode colocar nos comentários rsrsrs

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O dia original da "Queima do Alcorão"

Normalmente muitos muçulmanos desavisados, outros nem tanto, afirmam que a Bíblia foi modificada com o tempo, e que por isso não podemos confiar nela. Muitos do que afirmam isso, que nem sempre são muçulmanos, apelam para escritores como Bart Ehrman, crendo que o mesmo tenha demonstrado o "consenso" de que a Bíblia, em especial o Novo Testamento, não é digna de confiança.

O problema é que boa parte nem mesmo entendeu a proposta do livro. Muitos se empolgaram mesmo foi com o titulo tendencioso, diferente do original, e a partir daí tiveram uma idéia falsa.

O ruim nisso é que pouco se sabe sobre a história da Igreja e a composição das escrituras, muito menos o que significa a inspiração da Bíblia.

Isso tem feito muitos abandonarem a fé na Bíblia e na Igreja, embora quem conheça de fato as doutrinas da Igreja não a abandona, isso porque boa parte das criticas são infundadas e não são direcionadas as doutrinas em si, e sim a certos tipos de espantalhos mal feitos em questões como a Divindade de Jesus e os escritos de Paulo, por exemplo.

Segue aí um vídeo interessante, e engraçado, sobre o Alcorão. Há muito o que estudar sobre o assunto, mas os muçulmanos devem rever as afirmações que aceitam sem contestar, principalmente de uma falsa base histórica contra a Igreja.