segunda-feira, 21 de agosto de 2017

São Paulo, campeão antipapal? [Parte I] - Autor desconhecido.

Outro argumento de que se valem os protestantes para negar a suprema autoridade de São Pedro, apóia-se no capítulo onze da segunda Epístola de S. Paulo aos Coríntios. Eis o texto com que eles nos acenam: “Cuido que em nada tenho sido inferior aos grandes apóstolos” (versículo 5).

Louco por uma oportunidade em que pareça triunfante, o nosso irmão separado exclama logo: “entra pelos olhos que esta asserção absoluta de Paulo é incompatível com a teoria romana”. A verdade, entretanto, é que nada existe mais simples e claro do que a interpretação de tal passagem, de acordo com a opinião adotada pela Igreja Católica.

Falaremos com a desejada clareza. Depois da primeira missão de S. Paulo a Corinto, alguns falsos apóstolos fizeram tudo o que podiam fazer para desacreditá-lo aos olhos daquele povo recém convertido. Para realizarem seu perverso intuito, começaram pondo-lhe em dúvida a autoridade e o título de apóstolo que ele mesmo usava. Com que direito Paulo se apresentava como Apóstolo, se ele não tinha sequer conhecido o divino Mestre neste mundo? Com que direito ele, convertido da última hora, se equiparava aos Doze privilegiados que Cristo havia escolhido a dedo e com ele tinham trabalhado e sofrido? Não viam por aí que Paulo era um intruso?

Exagerando naquela campanha um perigoso ardil do inferno para matar o entusiasmo daquela gente pelo cristianismo que ele mesmo lhe havia ensinado, S. Paulo sai a campo e prova que é legítimo o seu nome de apóstolo. É que ele tinha diretamente escolhido por Cristo, da mesma forma que os Doze. Como os Doze, ele havia recebido de Cristo a sagrada apostólica.

Eis o que São Paulo aí quer dizer. Nem de leve faz alusão à existência de um chefe visível na Igreja, como imediato representante do Salvador na direção da cristandade. Pretender encontrar nesta passagem qualquer argumento contra o primado só prova uma coisa: ignorância ou preconceito religioso.

No seu empenho de lançar o descrédito sobre a autoridade papal, agarram-se logo os protestantes a outra passagem de São Paulo, desta vez tirada de sua epístola aos gálatas, no capítulo segundo.

Ei-la: “Quatorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém com Barnabé, levando também a Tito. Mas subi em consequência de uma revelação; e expliquei aos fiéis o Evangelho que prego entre os gentios, e particularmente àqueles que pareciam ser os de maior consideração, pelo temor de não correr ou de haver corrido em vão. Quanto, porém, àqueles que pareciam ser os mais considerados (quais hajam sido noutro tempo, pouco me importa; Deus não faz acepção de pessoas) àqueles, digo, que pareciam ser alguma coisa, esses nada me comunicaram. Antes, pelo contrário, tendo visto que me havia sido comunicado o Evangelho da incircuncisão, como (fora dado) a Pedro o da circuncisão, (porque o que Deus obrou em Pedro para o apostolado da circuncisão, também obrou em mim para os gentios); e, tendo conhecido em mim a graça que me foi dada, Tiago e Cefas, e João que pareciam ser as colunas da Igreja, nos deram as mãos, a mim e a Barnabé, em sinal de companhia, para que nós pregássemos aos gentios. “Ora, tendo Cefas vindo depois a Antioquia, resisti-lhe publicamente, porque era repreensível”. (versículo 11)

Aí está todo o trecho de S. Paulo onde muitos protestantes querem enxergar desapreço do grande apóstolo para com a autoridade de S. Pedro. Façamos de todo ele um exame escrupuloso. Para o protestante, o emprego do verbo [pareciam], a coordenação igualitária de Pedro e Paulo, a repreensão que este fez àquele, em Antioquia, são três golpes mortais vibrados contra a primazia de Pedro.

Para bem entendermos essa linguagem de S. Paulo aos Gálatas, é preciso explicar, antes de tudo, os fatos que o levaram a escrever dessa vez aos habitantes da Galácia. Porque, tanto nesta última região como em Corínto, por onde S. Paulo já andara evangelizando, tinham aparecido, na sua ausência, inimigos rancorosos que lançavam mão de todos os meios para desacreditá-lo perante aquelas populações.

E o motivo principal de tão perversa propaganda era que os judeus recém batizados não podiam absolutamente compreender que a lei de Moisés em que eles tinham sido educados e da qual tinham uma idéia elevadíssima, fosse substituída pelo cristianismo. Para eles o cristianismo ensinado por Paulo, em lugar de completar, o que fazia era destruir a Lei mosaica. Por isto moviam oposição obstinada ao apostolado de Paulo que lhes parecia um perigo revolucionário.

Na Galiléia, a atitude dos inimigos do Apóstolo primava pela astúcia. Sem se oporem abertamente às decisõe do Concílio de Jerusalém, que havia decidido estarem sem vigor determinados ritos e prescrições da lei mosaica, afirmavam jeitosamente que aquela decisão do concílio era de caráter provisório, para evitar choque com as idéias de Paulo. E insistiam dizendo que o verdadeiro Evangelho era o que saia da boca de Pedro, Tiago e João, que eram as colunas da Igreja, que estes é que desde o princípio haviam convivido com o Salvador e guardado com exatidão seus ensinamentos. Etc,. etc.

Assim argumentando, não negavam que a fé em Cristo bastava para a eterna salvação; mas repetiam que as observâncias do rito mosaico davam aos cristãos uma perfeição religiosa que os pagãos batizados nunca poderiam conseguir, se não as pusessem em prática. Desconfiassem, portanto, da pregação de Paulo, que era um perigoso inovador. Ele que tão recentemente perseguira os cristãos, não podia agora merecer tão grande confiança; e o seu Evangelho só podia ser incompleto e defeituoso… Quem quisesse ser perfeito, diziam os tais, escutasse antes o que diziam as colunas da Igrejas, e recebessem a circuncisão e observassem o ritual da lei de Moisés.

Tão ardilosas afirmações estavam produzindo efeito em muitos corações. As novas cristandades convertidas por Paulo sentiam-se num mar de dúvidas e corriam grande perigo de cisma. Estava, pois, o grande apóstolo no imperioso dever de intervir para evitar este perigo, defendendo sua doutrina.

Feita esta longa exposição, mostraremos a que ficam reduzidos os argumentos do protestante, quando procura concluir daí que S. Paulo desdenhou a autoridade de S. Pedro como chefe supremo da Igreja.

[Continua…]

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