Por Norman Geisler
A revindicação islâmica a favor do Alcorão é incomparávem em relação a qualquer outra das principais religiões. Será que o Alcorão é um milagre? Maomé afirmou que sim – na verdade foi o único milagre que ofereceu como prova de suas afirmações de ser profeta (surata 17.88). A evidência que os muçulmanos oferecem para tal afirmação inclui os seguintes pontos:
- Argumento do estilo literário singular.
A eloquência é altamente questionável como teste da inspiração divina; mas a pedra fundamental da posição islâmica é que o Alcorão possui qualidade e estilo literários que só poderiam ter vindo diretamente de Deus. Na melhor das hipóteses a qualificação literária do Alcorão prova que Maomé era uma pessoa dotada artisticamente. Mas dons artísticos e intelectuais surpreendentes não são necessariamente sobrenaturais. Mozart escreveu sua primeira sinfonia aos seis anos de idade e produziu toda a sua obra musical antes dos 35 anos, quando morreu. Maomé só começou a ditar as revelações quando contava com 40 anos. Mas que muçulmano diria que as obras de Mozart são miraculosas? Se eloqüência fosse o teste, muitos clássicos literários poderiam ser considerados divinos, desde a Ilíada e a Odisséia de Homero até Shakespeare.
Além disso, até alguns dos primeiros estudiosos muçulmanos admitiram que o Alcorão não era perfeito quanto à forma literária. O teólogo xiita iraniano Ali Dashti observa que:
Entre os teólogos muçulmanos do período antigo, antes do fanatismo e da hipérbole prevalecerem, houve alguns como Ebrahim On-Nassam que reconheceram abertamente que a ordem e a sintaxe do Alcorão não eram miraculosas e que obras de valor igual ou maior poderiam ser produzidas por pessoas tementes a Deus.
Apesar de alguns condenarem essa visão (baseada na interpretação da surata 17.90), On-Nassam teve muitos defensores, entre eles vários expoentes da escola mutazilita (Dashti, p. 48).
O Alcorão não é único, mesmo entre obras em árabe. O estudioso islâmico C. G. Pfander indica que “nem todos os estudiosos árabes concordam que o estilo literário do Alcorão seja superior a todos os outros livros da língua árabe”. Por exemplo, “alguns duvidam que em eloqüência e poesia ele supere o Um’allqat, ou o Magamat ou o Hariri, apesar de poucas pessoas em temas islâmicos serem corajosas o suficiente para expressar tal opinião” (Pfander, p. 264) Dashti afirma, no entanto, que o Alcorão contém várias irregularidades gramaticais. Ele observa que:
O Alcorão contém frases que são incompletas e não são totalmente inteligíveis sem o uso de comentários; palavras estrangeiras, palavras árabes desconhecidas e palavras usadas com sentido anormal; adjetivos e verbos flexionados sem consideração de concordância de gênero e número; pronomes aplicados ilógica e incorretamente, que às vezes não têm referente; e predicados que, em passagens rimadas, às vezes estão muito afastados dos sujeitos.
E acrescenta: “essas e outras aberrações na língua deram liberdade aos críticos que negam a eloqüência do Alcorão” (Dashti, p. 48-9). Ele fornece vários exemplos (74.1; 4.160; 20.66; 2.172 etc.), um dos quais é: “No versículo 9 da surata 49 (Al hujjurat), ‘E quando dois grupos de crentes compaterem entre si, reconciliai-os, então!”. O verbo para “combaterem” está no plural, mas deveria estar no dual como o sujeito, “dois grupos”. Anis A. Shorrosh descreve outras falhas no Alcorão. Por exemplo, na surata 2, versículo 177, ele indica que a palavra árabe deveria ser sabirun, e não sabirin como é encontrada por sua posição na frase. Da mesma forma sabiin na surata 5, versículo 69 é mais acertada que sabiun. Além disso, Shorrosh indica que há “um erro grosseiro no árabe” da surata 3, versículo 59. (Shorrosh, p. 199-200). Dashti conta mais de 100 aberrações das regras e estruturas normais do árabe (Dashti, p. 50). Com tais problemas, o Alcorão pode ser eloqüente, mas não é perfeito nem incomparável.
Como Pfander observou:
Mesmo que provassem sem sombra de dúvida que o Alcorão é muito superior a todos os outros livros em eloqüência, elegância e poesia, isso não provaria sua inspiração, assim como a força de um homem não demonstra sua sabedoria ou como a beleza de uma mulher não demonstra sua virtude (Pfander, p. 267)Não há conexão lógica entre eloquência literária e autoridade divina. O Deus soberano (que os muçulmanos aceitam) poderia decidir falar na linguagem cotidiana, se quisesse. Na melhor das hipóteses é possível tentar argumentar que, se Deus falou, ele deve ter falado da forma mais eloquente. De qualquer maneira, seria uma falácia argumentar que o simples fato de o Alcorão ser eloquente implica que Deus teria sido seu autor. Os seres humanos podem falar eloquentemente, e Deus pode falar numa linguagem comum.
Outras religiões usaram o belo estilo literário de suas obras como sinal da origem divina. Os muçulmanos aceitaram a inspiração dessas obras? Por exemplo, o fundador persa do maniqueísmo, Mani, “supostamente afirmou que os homens devem crer nele como o Parácleto [‘Auxiliador’ que Jesus prometeu em João 14] porque produziu um livro chamado Artand, cheio de belas figuras”. Além disso, “ele disse que o livro lhe foi dado por Deus, que nenhum homem vivo poderia desenhar as figuras com tanta beleza e que, portanto, evidentemente viera do próprio Deus” (Pfander, p. 264). Mas nenhum muçulmano aceitaria essa afirmação. Então por que os não muçulmanos devem aceitar a beleza literária como teste válido para a autoridade divina do Alcorão?
DASHTI , Twenty-three years: a study of the prophetic career of Mohammad.
C. G. PFANDER, The Mizanu’l Haqq (The balance of truth)
Por Norman Geisler, retirado da "Enciclopédia Apologética"
Comentários do Blog:
Apesar de eu não concordar muito com as afirmações do Norman Geisler, principalmente algumas sobre a Bíblia e suas doutrinas, nem tudo que ele escreve é ruim. Está aí a primeira parte do que ele trata do assunto, onde menciona a conclusão de dois pesquisadores.
O que acho engraçado nos defensores do Islã é que (1) o que eles afirmam da transmissão oral para a composição do Alcorão se aplica ao Novo Testamento, mesmo assim criticam sua composição (por puro desconhecimento das pesquisas sobre o assunto, já que geralmente só leem, de forma equivocada ainda por cima, alguns livros como o de Bart Ehrman) e (2) esse argumento é simplesmente sem sentido. Algo eloquente só significa que é eloquente, nada mais que isso. Isso na verdade se parece mais com um apelo a autoridade, só que uma pessoa pode escrever mentiras de forma eloquente enquanto outra pode escrever verdades de forma comum.
Em breve pretendo escrever alguns outros artigos refutando algumas alegações islâmicas, inclusive algumas interpretações mirabolantes que vi na internet em alguns blogs de muçulmanos.
As cosias não são bem assim como querem apresentar...
As cosias não são bem assim como querem apresentar...
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