quarta-feira, 2 de maio de 2012

A realidade do Paganismo

Pe. André Dupeyrat  MSC

O relato que vocês lerão é horrível; mas o demônio é ainda mais horrível. Ele, que sempre odiou as crianças, não somente se esforça em matá-las – antes ou depois do nascimento – mas também busca legalizar e institucionalizar o assassínio delas, como querendo marcar com a sua assinatura as sociedades de que tomou conta.

Foi, por exemplo, o caso de Cartago, imolando suas crianças a Moloch-Baal (1). Assim também foi Canaã (cujos vícios contaminavam, às vezes, Israel [2]). E é o caso do aborto contemporâneo. É sempre o paganismo – antigo ou moderno –  sempre favorável à eliminação das crianças indesejáveis (3).

Em nossa época de “diálogo inter-religioso”, convêm recordar esta verdade a tempo e a contratempo: não somente as diversas religiões não são equivalentes no plano sobrenatural (uma leva ao céu, e as outras ao inferno), mas também elas produzem, já neste mundo, frutos bem diferentes. Uma – a do recém-nascido de Belém – defende a infância. As outras são marcadas, como Herodes, pelo sinal do Maligno, “homicida desde o começo” (Jo. 8, 34).

Reproduzimos aqui o estudo que o  pe. André Dupeyrat, missionário do Sagrado Coração, publicou em 1962, intitulado “Moloch Papua”, na sua obra 21 anos entre os Papuas (4).Ali encontraremos o pecado original e suas terríveis consequências; encontraremos também, a natureza humana, que permanece, apesar de tudo; e, finalmente, a necessidade que nós todos temos da graça sobrenatural e do doce e benfazejo reino de Cristo Rei, reino de justiça, de doçura e de paz. (Comentários da Revista Sel de la Terre, com pequenas adaptações).

+++

Quando uma mulher papua está para dar à luz seu primeiro filho, logo que aparecem os sintomas, ela chama três ou quatro outras mulheres que já passaram pelas dificuldades do parto e que, além disso, possuem também uma porca com seus leitões.

Elas descem em grupo para o ribeirão mais próximo, em companhia da porca e dos leitões. Foi o cortejo que eu vi e que me pareceu tão divertido.

Chegada ao ribeirão junto com as suas companhias, a jovem mulher se deita na margem deste, sobre um banco de areia ou, se não há isto, sobre um rochedo plano, e então as outras mulheres põem-se a insultá-la e a bater nela rudemente. O velho [que me contou] me assegurou mesmo de que elas chegavam a pisoteá-la, e isto me confirmado em seguida. A razão deste comportamento imprevisto é a  de ajudar a jovem a fazer as contrações desejadas, encorajando-a assim nos seus trabalhos. Estranho encorajamento, que o velho imitava para mim com arte: “força, imbecil, força” E seguiam-se golpes sobre a cabeça e o ventre da mulher. “Ah! Você quis ter uma criança, pois bem, agora pague o preço do teu desejo, podridão!…”  E mais socos e pontapés.

Por fim, e apesar das ações dessas estranhas parteiras, o bebê entra neste triste mundo. A partir deste momento, a jovem mãe é deixada inteiramente sozinha, justamente quando ela precisaria de maior assistência. Isto porque ela é considerada impura. Não se pode nem tocá-la. E assim as mulheres se retiram com suas  porcas barulhentas.

Com uma coragem e resistência à dor que só se encontra ainda entre os primitivos, a jovem mãe corta por si própria o cordão umbilical com uma pedra afiada. Cava com suas mãos um buraco no solo amolecido da margem do ribeirão, se possível entre duas grandes pedras, enterrando aí a placenta e o resto; lava-se com cuidado e asperge com água o rochedo, as pedras e a areia que podem ter sido contaminadas, pois nada deve subsistir do sublime drama do nascimento de um ser humano. Os espíritos dos mortos ou os da floresta poderiam acabar se apoderando de alguns grãos de areia ensanguentados para realizar malefícios contra a mãe ou seus futuros filhos.

Feito isto, a jovem mãe toma o seu recém-nascido que ela tinha deixado a vagir sobre a margem. Ela olha para este pequeno ser que vem dela, o primeiro. Seu coração de mãe, como todos os corações maternais, se derrete de ternura. Não é uma hipótese, sabemos disto através de outras confidências. Mas os inexoráveis ancestrais a obrigam a cumprir um dos atos mais revoltantes que se possa conceber.

Ela toma o seu filho por um dos pés, agitando-o um instante de cabeça para baixo, e o atira vigorosamente contra um rochedo. O pequeno e frágil crâneo se quebra e deixa sair, com o cérebro que não pensará jamais, grande quantidade de sangue fresco que corre sobre a pedra.

Neste momento, as porcas, que eram contidas pelas mulheres à distância, se precipitam. Atraídas já pelos odores do parto, enlouquecem com o odor de sangue fresco que acaba de sair do pequeno corpo. Com grande estrépito, atacam juntas a pequena vítima que jaz  como um boneco deslocado.

Então, todas as mulheres, inclusive a jovem mãe, acompanham atentamente a corrida das porcas com uma excitação e um nervosismo maiores que o de um agenciador  de apostas numa corrida.

Trata-se exatamente de ver qual será a primeira porca que atingirá primeiro o pobre pequeno cadáver para devorá-lo. Esta porca mostrará assim, pela sua façanha, que ela é a mais forte e esperta de todas; seus porquinhos, portanto, serão melhores que o das outras porcas.

Enquanto a horrível vencedora desta terrível corrida dilacera com os dentes o corpo do recém-nascido, brigando com as outras porcas que buscam arrancar-lhe alguns pedaços, as mulheres escolhem um dos porquinhos, que será macho se a vítima for um menino, e fêmea, no caso de uma menina.

O porquinho selecionado é lavado pelas parteiras, como se lavassem um recém-nascido, é enxugado com folhas, depois é entregue à mãe. Imediatamente esta se põe a amamentar o porquinho.

Daí em diante, este animalzinho será seu filho. Ela o alimentará como a uma criança, primeiro amamentando-o; mais tarde, ela mastigará legumes e, boca a boca, fará passar o alimento ao porquinho.

A mulher não matará mais as crianças que nascerão depois. Pelo contrário, ela cuidará deles com muito carinho. Mas a prova de que ela é uma boa mãe será tirada do modo como ela cria o seu porco. Se ela conseguir criar um porco grande e gordo, será considerada como uma doméstica fora do comum e como mulher de alto preço. Seu marido terá orgulho disto, e ela será a glória de sua  aldeia, porque virá o momento em que o animal deverá ser massacrado por ocasião de uma grande dança, e os convidados julgarão o sucesso da festa pelo tamanho dos porcos sacrificados. Aliás, foi para esta finalidade que o porquinho foi escolhido, alimentado, criado.

Sua “mãe” sentirá por causa disto a mais profunda amargura. Ela poderá até chegar ao ponto de cortar um de seus dedos, como fazem as mulheres para manifestar sua dor por ocasião da perda de um ente querido.

Todavia, nem sequer uma parcela da carne dos porcos massacrados será comida por um membro da tribo, pois os porcos eram “filhos” dela. Tudo é distribuído aos estrangeiros convidados que, por sua vez, quando fizerem uma dança na sua tribo, oferecerão também  seus próprios porcos. E será preciso que eles sejam semelhantes aos porcos que eles receberam, o contrário seria uma grave ofensa que pode se tornar uma causa de guerra.

Pode-se perguntar qual é a razão que leva jovens mães a sacrificar assim seus primogênitos, um gesto horrível que nos faz lembrar certos costumes mencionados na Bíblia e, sobretudo, os sacrifícios oferecidos  pelos notáveis cartagineses ao terrível deus Moloch.

Interroguei numerosos indígenas. A resposta era sempre a mesma:

_ Nossos antepassados fizeram assim; fazemos como eles…

Às vezes, acrescentavam:

_ Se não fizéssemos assim, as piores calamidades cairiam sobre nós, pois os espíritos dos antepassados  ficariam irritados…

Notas

(I) Segundo o testemunho de Diodoro da Sicília, “havia entre os cartagineses uma estátua de bronze de Baal que estendia as mãos abertas e um pouco inclinadas para baixo, de maneira que a criança que era aí posta rolava e caia num buraco de fogo” (XX, 14, 6). Em 310 A.C., os cartagineses atribuíram sua derrota para os romanos ao fato de que eles tinham se habituado a imolar a Baal crianças compradas, e não suas próprias. Para se redimirem disto, imolaram então 300 meninos das melhores famílias da cidade. Encontrou-se em Cartago, mas também na Sicília e na Sardenha (sobretudo em Soucis – a atual San’Antioco, na província de Cagliari) a sepultura de milhares de meninos assim sacrificados.

 (2) – “e edificaram altares a Baal, para queimarem seus filhos no fogo em holocausto a Baal, o que eu não mandei jamais, nem disse, nem me veio ao pensamento” (Jer. 19, 5)- Foi para evitar esta contaminação que Deus recomendou aos israelitas o extermínio completo dos povos pagãos instalados na terra prometida.

 (3) – Entre os povos mais civilizados dos pagãos da Antiguidade, os gregos e os romanos, a prática do abandono (chamado “exposição”) dos meninos foi considerado como um direito do pai de família *(v. o estudo sobre “L’eugénisme pré-chrétien” em Le Sel de la Terre, nº 31). O aborto, considerado inicialmente como imoral (foi ainda condenado por Ovídio no seu Arte de Amar, que está longe de ser um tratado de virtudes), se generalizou sob os imperadores. Em toda parte se constata a mesma coisa: a China pratica desde tempos imemoriais a eliminação das meninas (já Marco Polo falava disto no século XIII); o infanticídio é constatado desde o Níger até a Groelândia. Quanto ao paganismo moderno, ver o estudo sobre “L’eugénisme post-chrétien”, em Le Sel de la Terre 33.

 (4) André Dupeyrat, 21 ans chez les Papous, Paris, La Colombe, 1962, pág. 222-226.

Retirado do blog da FBMV

Nenhum comentário:

Postar um comentário