quarta-feira, 10 de março de 2010

A filha pródiga.



Philip Yancey - Do livro "Maravilhosa graça"

Uma jovem fora criada em Traverse City, Michigan, cercada por pomares de cerejas. Seus pais, um tanto antiquados e conservadores, constumavam reagir mal ao piercing que ela usava no nariz, às músicas que ouvia e ao comprimento de sua saia; de vez em quando a repreendiam e ela ficava furiosa. "Odeio vocês!", gritou para o pai quando ele bateu à porta do seu quarto após uma discussão. Naquela noite, a jovem realizou um plano que mentalmente já ensaiara dezenas de vezes. Fugiu de casa.

Ela visitara Detroit apenas uma vez, em uma viagem que fizera de ônibus com os amigos da igreja para assistir ao jogo dos Tigers. Os jornais de Traverse City descreviam com detalhes deploráveis as gangues, as drogas e a violência reinantes na cidade de Detroit; assim, ela concluiu que provavelmente aquele seria o ultimo lugar em que os pais a procurariam. Talvez pesassem na Califórnia, ou na Flórida, mas não em Detroit.

Em seu segundo dia na cidade, ela conheceu um homem dirigindo o maior carro que já vira na vida. Ele lhe ofereceu carona, pagou-lhe um almoço e arranjou um lugar pra ela ficar. O homem deu-lhe alguns comprimidos que a fizeram sentir-se melhor do que nunca. Ela se sentiu ótima e concluiu que os seus pais a impediam que se divertisse.

A boa vida continuou durante um mês, dois meses, um ano. O homem com o carrão - ela o chamava de "chefe" - ensinou-lhe coisas que os homens gostam. Sendo menor de idade, eles lhe pagavam mais. Ela morava em um apartamento pequeno e podia encomendar o que precisava. Ocasionalmente pensava nos pais, mas a vida deles parecia-lhos tão chata e provinciana que mal acreditava que fora criada alí.

Ela se assustou ao ver sua foto na embalagem da caixinha de leite com os dizeres: "Você viu essa criança?". Agora, porém, com o cabelo tingido de loiro e com toda a maquiagem que usava, ninguem a consideraria uma criança. Além do mais, a maioria dos seus amigos também fugira de casa e ninguem dava com a linguas nos dentes em Detroit.

Após um ano, os primeiros sintomas incipientes da enfermidade apareceram, e ela ficou surpresa com a crueldade do chefe: "Hoje em dia, a gente não pode facilitar", ele rosnou; antes que a jovem percebesse, estava na rua sem um tostão. Ainda conseguia ganhar alguma coisa à noite, mas não lhe pagavam muito, e todo o dinheiro era usado para manter o vício. Quando chegou o inverno, acabou dormindo nas grades de metal do lado de fora de uma loja de departamentos. "Dormir" não seria a palavra certa - uma adolescente sozinha na noite de Detroit nunca pode baixar a guarda. Tinha olheiras profundas. A tosse piorava.

Uma noite ela estava acordada, atenta ao barulho de passos; de repente, tudo ao seu redor pareceu diferente. Não se sentia mais como uma mulher do mundo. Sentia-se uma garotinha perdida em uma cidade fria e assustadora.

Começou a soluçar.

Seus bolsos estavam vazios e estava com fome. Precisava de uma picada. Trêmula, escolheu as pernas debaixo dos jornais que empilhara sobre o casaco. Alguma coisa acionou uma série de lembranças e uma imagem encheu-lhe a mente: o mês de maio em Traverse City, quando milhares de cerejas florescem todas ao mesmo tempo. Via até seu cachorro golden retriever correndo no meio das fileiras das árvores floridas atrás de uma bola de tênis.

"Deus, por que fugi?", perguntou a si mesma, e uma dor transpassou seu coração. "Meu cachorro em casa come melhor do que eu agora." Ela soluãva e imediatamente percebeu que desejava voltar pra casa mais do que qualquer outra coisa no mundo.

Três telefonemas, todos caindo na secretária eletronica. Nas duas primeiras vezes, desligou sem deixar mensagem; na terceira, porém, disse: "Papai, mamãe, sou eu. Estive pensando em voltar pra casa. Estou pegando um onibus e chegarei aí amanhã por volta da meia noite. Se vocês não estiverem me esperando.. bem, acho que ficarei no ônibus e irei para o Canadá.

Foram sete horas de viagem entre Detroit e Traverse City; durante aquele tempo ela percebia os erros do seu plano.

E se os pais estivessem fora da cidade e não tivessem ouvido a mensagem? Talvez devesse ter esperado outro dia para poder falar com eles. E, mesmo que estivessem em casa, provavelmente já a considerassem morta havia muito tempo. Deveria ter-lhes dado um tempo para se recuperarem do choque.

Seus pensamentos pulavam de lá pra cá entre as preoucupações e o discurso que estava preparando para o pai. "Papai, sinto muito. Sei que estava errada. A culpa não foi sua; foi minha. Papai, você pode me perdoar?" Repetiu as palavras muitas e muitas vezes, sentindo a garganta apertada enquanto as ensaiava.

Havia anos que não pedia perdão a ninguem.

O ônibus estivera andando com as luzes acesas desde Bay City. Pequenos flocos de neve batiam no calçamento desgastado por milhares de mneus, e o asfalto exalava vapor. Ela esquecera como a noite é escura lá fora. Um cervo cruzou a estrada como uma flecha e o ônibus deu uma guinada. De vez em quando, aparecia um outdoor ao lado da estrada. Uma placa indicava quantos quilometros faltavam até Traverse City. "É, Deus!"

Quando o ônibus finalmente entrou na rodoviária, os freios sibilando em protesto, o motorista anunciou pelo microfone: "Quinze minutos, pessoal. É todo o tempo que vamos ficar aqui". Quinze minutos para decidir sua vida. Ela se examinou em um espelhinho, alisou o cabelo e limpou o dente sujo de batom. Olhou para as manchas de fumo nas pontas dos dedos e ficou imaginando se os pais iriam perceber. Isso se estivessem lá.

A jovem entrou no saguão sem saber o que esperar. Nenhuma das milhares de cenas que passaram por sua cabeça prepararam-na para aquilo que viu.

Ali, naquele terminal de ônibus de paredes de concreto e cadeiras de plástico de Traverse City, em Michigan, estava um grupo de parentes, irmãos e irmãs, tios e primos, uma avó e uma bosavó para recebê-la.

Todos usando chapeuzinho de festa e assoprando apitos; na parede do terminal havia um cartaz que dizia: "Bem-vinda ao lar!"

Da multidão que a recepcionava surge o pai. Ela olhou para ele através das lagrimas quentes que brotavam de seus olhos e começou o discurso memorizado: "Papai, sinto muito. Eu sei..."

Ele a interrompeu: "Quieta, filhinha. Não temos tempo para isso agora. Não temos tempo para pedidos de desculpas. Você vai chegar atrasada na festa. Lá em casa há um banquete esperando por você"


Comentário do blog:

O interessante é que Jesus, ao falar da palavra do filho prodigo, indica que o pai sabia que o filho estava morto e não voltou pela vontade de estar com o pai, mas por suas necessidades próprias.

Mesmo assim o pai o aceita.

A diferença, ainda que pequena, entre essa história e a parabola contada por Jesus é que, o Pai da parabola de Jesus não deu nem atencão ao pedido de desculpas. O que importava era que o filho que estava morto agora reviveu.

Ele abraçou o filho e o levou, antes mesmo que ele pensasse em mudar de idéia.

E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.

E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho.

Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;


E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos;

Porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.

Esse é Jesus.

O evangelho segundo o espiritísmo.



Capítulo 1

1 Evangelho das boas novas dos espíritos, a consolação. Com Moisés houve a primeira revelação, Jesus a segunda, e agora o Evangelho (boas novas) dos espíritos estão sendo reveladas aos homens.
2 Houve um homem chamado Allan Kardec, o qual codificou a doutrina dos espíritos.
3 Parte da doutrina ensina que a somos salvos por nosso mérito.
4 Então, surgiu uma parábola.

Capítulo 2

1 E disse: Um certo homem tinha dois filhos;
2 E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda.
3 E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente.
4 E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades.
5 E foi, e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos, a apascentar porcos.
6 E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada.
7 E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!
8 Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti;
9 Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.
10 E, tornando em si novamente, o filho lembrou que o Pai não o aceitaria nesse estado.
11 Isso quem ensina são os chamados cristãos e um judeu de nome Jesus, a quem os seus seguidores o chamam de Cristo.
12 Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. (Quem lê entenda)
13 O filho sabia que ele deveria merecer, para estar perto dEle como filho,
14 O filho lembrou que o Pai o havia ensinado que tudo que acontece com ele é decorrente de algo que fez anteriormente.
15 E começou a aceitar seu estado como uma forma de pagamento dos seus erros, e que fora da caridade não há salvação.
16 Então o filho pensou: Irei fazer caridade ao próximo quando, depois que esse carma acabar, tiver algum tipo de condição para fazê-lo.
17 Irei ter com meu Pai e direi: Pai, pequei contra o céu e perante ti; mas evoluí, fiz caridade, e mesmo os meus erros anteriores foram pagos com minhas tribulações.
18 Agora sou digno de ser considerado seu filho.
19 Depois de pensar isso, ele continuou sua vida, sabendo que em algum tempo, quem sabe se longo ou não, teria seu carma pago, estaria evoluído e mereceria estar ao lado do Pai.
20 Isso ele sabia que poderia não ser nessa vida, mas um dia ele seria merecedor...






Diante disso eu pergunto se é realmente o Evangelho (boas novas) segundo o espiritismo. Porque isso não tem cara de boas novas, são as velhas mensagens de todas as religiões (tirando a reencarnação, que algumas não tem) de salvação por nosso mérito...

sábado, 6 de março de 2010

Comentários sobre Bart Ehrman


          

 Uma conversa sobre a autenticidade do novo testamento surge sempre quando pedem as razões para considerarem o cristianismo relevante. Aparece normalmente, também, logo no inicio da conversa, a citação do autor Bart Ehrman e seu livro “O que Jesus disse? O que não disse? Quem mudou a bíblia e porque.”. Alguns estudiosos, como Daniel B. Wallace e H Wayne House dizem que o livro de Ehrman foi escrito para “o cético que quer motivos para não crer, que considera a bíblia um livro de mitos”.
            Isso é verdade, principalmente porque grande parte até mesmo nunca leu o livro, mas cita algumas afirmações dele de que a bíblia é cheia de erros. Então eu modificaria a afirmação pra ficar da seguinte forma: o livro e o autor (Bart Ehrman) são apelados por “céticos” que querem motivos para não crer, e que já consideram a bíblia um livro de mitos.
Isso é coisa de gente sensata? Outra pergunta que faço: alguém que quer realmente buscar a verdade e seguir as evidências onde elas o levarem, avalia somente um lado da moeda? Essa é outra coisa que se vê muito por aí na internet e me faz pensar na honestidade de algumas pessoas sobre esse assunto. Gostaria de colocar algumas considerações sobre o que ele escreveu, e, também colocar o comentário de alguns especialistas no assunto.
            Eu já havia feito alguns comentários sobre os argumentos de Erhman, mas quero colocar alguns outros. O comentário foi feito num texto de Oscar Cullmann sobre a formação do Novo Testamento, disse o seguinte:

“ [...] ao contrário da tempestade em copo d’água que autores como Bart Erhman fazem, os estudiosos do Novo Testamento sempre souberam que não existem os originais. Mas isso não impede que, com a critica textual, se possa estar muito próximo do que os escritores do Novo Testamento escreveram, garantindo assim sua autenticidade. O próprio Erhman dá um tiro no próprio pé ao tratar algo da crítica textual e mostrar que alguns escritores estavam errados através disso. Ora, se não existem os originais, como ele cansa de dizer, como saber que tal variação é a mais próxima?”

            Ehrman, em seu livro, falou muito sobre o mundo dos copistas, e alguns especialistas no assunto não deixaram de comentar o que ele disse. Wallace, que citei anteriormente, disse que:

“Ehrman mistura a informação padrão da critica textual com a própria interpretação; interpretação essa que não é de maneira alguma compartilhada por todos os críticos textuais, nem mesmo pela maioria deles. Ele, em essência, pinta um quadro muito sombrio da atividade de escrever, deixando o leitor desavisado presumir que não temos chance de recuperar a linguagem original do Novo Testamento.” [1]

            Outro fato que ele sempre cita é que, por causa dos erros desses copistas, as variações textuais do Novo Testamento são muito grandes. Ele diz isso na intenção do leitor pensa: “Nossa! Se existem tantas variações assim, pra que confiar na mensagem bíblica?”. Só que ele esquece (?) de afirmar, na mesma proporção, que a maioria esmagadora das variações são totalmente irrelevantes com as doutrinas cristãs e sua substância. Kurt Aland, outro critico, textual fala que:

“Os próprios críticos textuais, e, ainda mais, os especialistas do Novo Testamento, sem mencionar os leigos, tendem a ficar fascinados com as diferenças e esquecem quantas delas podem se dever ao acaso ou às tendências normais dos escrivães e quão raramente ocorrem variações relevantes – entregando-se ao risco comum de não ver a floresta por apenas fixar os olhos nas árvores.” [2]

            Waine House diz que “ a grande maioria das variações do Novo Testamento grego é mínima, como mudança de uma letra, mudanças envolvendo sinônimos, mudanças no uso de pronomes e mudanças na ordem das palavras, e nenhuma delas afeta a teologia principal.” [3]. Ele diz outra coisa sobre o argumento de Ehrman que chega a ser engraçado:

Podemos usar o próprio livro de Ehrman, Misquoting Jesus, como uma anedota para mostrar por que o número de variações pode exceder o verdadeiro número de palavras do texto. Na discussão sobre Lucas 3:22, o texto cita equivocadamente “Lucas 3:23”. Isso quer dizer que esse erro ocorre em todas as cópias de Misquoting Jesus. Como em fevereiro de 2005, Misquoting Jesus já vendera cem mil cópias; usando o método da critica textual e presumindo que o erro tenha continuado sem correção até essa data, isso representa que há cem mil erros em Misquoting Jesus. Se as edições subseqüentes desse livro corrigirem o erro e venderem cem mil cópias, isso quer dizer que haveriam duzentas mil “variações” em Misquoting Jesus. Isso se refere a um único erro em apenas uma edição. Talvez hajam mais erros, levando à possibilidade de mais variações.
Devemos duvidar da integridade de Misquoting Jesus por ter cem erros e por poder ter exponencialmente mais variações de leitura? De acordo com o argumento de Ehrman, sim. Talvez, não seja tão convincente declarar que “o Novo Testamento não é confiável” porque tem quatrocentas mil variações. Isso é especialmente verdade quando lembramos que o Novo Testamento grego contém cerca de 140 mil palavras. Isso quer dizer que em meio aos aproximadamente 5.735 manuscritos do Novo Testamento, permitindo as quatrocentas mil variações de Ehrman (que não estou promovendo), isso representa uma media de cerca de setenta variações por manuscrito, e a maioria delas é irrelevante para qualquer ensinamento da bíblia. À luz disso, o caso contra a confiabilidade do texto bíblico não parece tão devastador. [4]

Esses são alguns comentários e argumentos sobre o método que Ehrman utilizou pra dizer que não podemos confiar nas cópias do Novo Testamento. É claro que há problemas textuais e dificuldades bíblicas que precisam de resolução, entretanto o problema não é essa tempestade em copo d’água feita pela mídia sensacionalista e por muitos céticos.
            Esse texto se limitou a falar de algumas afirmações de Bart Ehrman, principalmente sobre sua metodologia. Em breve vou escrever algo sobre alguns dos argumentos do autor sobre algumas outras conclusões. Mas até aqui vimos que não se pode acreditar em tudo que falam, nem mesmo se na capa de um livro estiver escrita que o autor é “a maior autoridade em bíblia do mundo”. (?) Embora o livro contenha muita informação importante, ele só convence quem já está convencido de que não podemos confiar na bíblia.


Notas
[1] – Wallace, Daniel B. “The gospel According to Bart.” “The gospel.”
[2] – Aland, Kurt e Barbra. The text f the new testament. Trad. Rhodes Errol F. Grand Rapids, MT: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1981, p. 28,29.
[3] - O Jesus que nunca existiu, H. Wayne House, p. 248, 249.
[4] – IBID., p. 249, 250.

Autor: Jonadabe Rios