sexta-feira, 27 de abril de 2012

Aleluia e Trato - Missa Tridentina


"Ao Gradual, sucede o Aleluia ou o Trato, conforme o tempo do ano: o Aleluia é repetido como um responsório e seguido de um versículo, depois do qual se torna a repetir uma terceira vez Aleluia. Este canto, por excelência, de louvor a Deus, devia ter seu lugar na Santa Missa. Ele tem qualquer coisa de tão alegre e, ao mesmo tempo, de tão misterioso, que nos tempos de penitência, quer dizer, depois da Septuagésima até a Páscoa, não é cantado.

Então é substituído pelo Trato. Este ocupa piedosamente a Assembléia durante o tempo necessário para as diferentes evoluções que devem ter lugar, quando o diácono, depois de ter pedido a bênção do padre, vai em procissão para o púlpito do evangelho e se prepara para fazer ouvir o Verbo de Deus.

O trato se compõe algumas vezes de um salmo inteiro, ou quase, assim como vemos no primeiro domingo da Quaresma; ordinariamente, só contém alguns versículos. Esses versículos, que se cantam com uma melodia bastante rica e muito característica, seguem sem anúncio e repetição: por ser todo executado de uma só vez, em uma só tirada, recebe o nome de Tractus."

O que acho interessante é que, até mesmo para quem não entende nada da língua, nem mesmo do português para ler em um missal bilíngue, se pode compreender muita coisa somente com os gestos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Muçulmanos incendeiam igreja católica no Sudão

Um grupo de muçulmanos incendiou uma igreja católica em Kartum, capital do Sudão do Sul, ato que foi qualificado por especialistas como mais um lamentável incidente de "hostilidade religiosa".

Centenas de muçulmanos botaram fogo no templo na noite de sábado 21 de abril, aonde vão para rezar muitos habitantes cristãos do Sudão do Sul.

A cobertura destes fatos realizada por diversos meios seculares tentou apresentar o ataque como um assunto relacionado somente à política e a economia por causa do enfrentamento entre Sudão do Sul e Sudão do norte.

A respeito, Nina Shea, Diretora do Hudson Institute’s Center para a Liberdade Religiosa, assinalou ao Grupo ACI que "durante muitos anos, os meios internacionais não puderam ver a dimensão religiosa deste conflito. Ao ler equivocamente a mensagem do incêndio da Igreja em Kartum, a imprensa demonstra que este ponto cego ainda se mantém".

Shea recordou, além disso, que "os ataques para destruir Igrejas se converteram em um padrão em cada vez mais áreas islâmicas. Em anos recentes, as Igrejas - algumas com fiéis cristãos– foram queimadas ou bombardeadas repetidamente no Egito, Iraque e Nigéria".

"Não existe mostra mais dramática da perseguição religiosa. A população cristã do Sudão já faz tempo que é o objetivo da violência de extremistas, incluindo a do governo radical do General Bashir, que advertiu que Sudão do Sul se tornava independente e não ia tolerar a diversidade religiosa no norte".

Finalmente, Nina Shea indicou que "por quase duas décadas, Kartum, cidade em que se aplica a lei islâmica do norte, tentou impor à força a lei sharia (muçulmana) principalmente nos cristãos e nos animistas do Sudão do Sul, algo que impulsionou uma rebelião que custou dois milhões de vidas".

Sudão do Sul, majoritariamente cristão, separou-se de Sudão para converter-se em um país independente em 2011. Nas tensões que ainda se vive na região, o componente religioso segue sendo fundamental, explicou Shea.

Fonte: ACI Digital

terça-feira, 24 de abril de 2012

Alguns comentários sobre o aborto

Vi essa discussão no facebook, e achei tanto espantosa quanto engraçada, por isso não sei se rio ou se choro com os argumentos abortistas. O argumento da pessoa que defendeu o aborto estará em vermelho (não por acaso), enquanto o pró-vida estará de azul.

Depois colocarei alguns comentários que fiz em uma outra página. Serão colocados na forma que escrevi lá, apenas para complementar com algo que penso sobre o assunto. Eu, pessoalmente, acrescentaria algumas coisas, porém isso será assunto para outro texto.

Bom proveito:

O aborto não é um assassinato. Isso já foi explicado um milhão de vezes, mas os pró-vida” insistem em se referir ao aborto como sendo um “assassinato”, o que de fato não é verdade. O cérebro é o órgão que controla o corpo e é responsável por todas as emoções. Enquanto o feto não possui o sistema nervoso central (o cérebro) formado, ele não pensa, não sente, não sofre, não ama, não odeia, não tem emoção nenhuma e não tem consciência de coisa nenhuma.


Hoje, consideramos que uma pessoa está morta, através da morte cerebral. A sociedade aceita que é esse órgão o responsável pela vida quando falamos da finalização dela. O mesmo deve ser considerado para o seu inicio. Quem acredita que apenas uma célula (célula ovo) ou um aglomerado de células (embrião) possui vida e esta deve ser defendida, deverá ser contra desligar os aparelhos após a morte cerebral para a doação de órgãos, para a utilização de plantas (afinal também possuem vida) e a própria vida em si (pois para uma pessoa viver , milhões de células morrem).


Por isso, caso seja necessário e se essa for a decisão da mulher, a remoção desse aglomerado de células de seu corpo pode e deve ser feita. Além disso: Um assassinato é cometido contra uma pessoa. Juridicamente, para se adquirir personalidade (ser pessoa) é necessário dois fatores: nascimento+vida, logo um feto não é uma pessoa.


Então, cientificamente e juridicamente falando, o aborto não é um assassinato.

Logo após a resposta que destroça essas afirmações:

1) “O cérebro é o órgão que controla o corpo e é responsável por todas as emoções. Enquanto o feto não possui o sistema nervoso central (o cérebro) formado, ele não pensa, não sente, não sofre, não ama, não odeia, não tem emoção nenhuma e não tem consciência de coisa nenhuma.”


Uma pessoa em estágio avançado de Alzheimer também não “pensa, não sente, não sofre, não ama, não odeia, não tem emoção nenhuma e não tem consciência de coisa nenhuma”. O mesmo pode ser dito sobre pessoas com demências graves. Se o fato de não pensar, sentir, sofrer, amar e odiar justifica a interrupção deliberada da vida de uma criança em gestação, o argumento se aplica inteiramente a uma pessoa com alguma das condições que mencionei acima. E, de fato, isso seria considerado assassinato – talvez não juridicamente, mas certamente do ponto de vista moral (coisa, aliás, da qual os pro-choice fogem desembestadamente).


2) “Hoje, consideramos que uma pessoa está morta, através da morte cerebral. A sociedade aceita que é esse órgão o responsável pela vida quando falamos da finalização dela. O mesmo deve ser considerado para o seu inicio.”


Você misturou alhos com bugalhos aqui. E eu trago não a minha opinião, mas a de Jérôme Lejeune (1926 – 1994), geneticista responsável pela descoberta da anomalia cromossômica que dá origem à Síndrome de Down. O Dr. Lejeune dizia: “A vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram com os 23 cromossomos femininos, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco da vida. [...] Aceitar o fato de que, depois da fertilização, um novo ser humano começou a existir não é uma questão de gosto ou opinião. A natureza humana do ser humano, desde a sua concepção até sua velhice não é uma disputa metafísica. É uma simples evidência experimental.


Portanto, seu argumento é falacioso. A vida humana começa no exato momento da concepção. E quem diz isso não sou eu, mas um cientista – aluías, um dentre inúmeros que compartilham de sua opinião. Escolhi especificamente este como exemplo em virtude de sua proeminência da área de Pediatria e de Genética.


3) “Quem acredita que apenas uma célula (célula ovo) ou um aglomerado de células (embrião) possui vida e esta deve ser defendida, deverá ser contra desligar os aparelhos após a morte cerebral para a doação de órgãos, para a utilização de plantas (afinal também possuem vida) e a própria vida em si (pois para uma pessoa viver , milhões de células morrem)...”


Essa aqui é outra falácia das boas, hein?!


Um feto é um ser humano VIVO. Alguém cuja morte cerebral foi constatada é um ser humano MORTO. São coisas completamente diferentes. A vida, como já foi dito, começa na concepção, e não a partir do momento em que o sistema nervoso está plenamente desenvolvido. Além disso, a criança está sendo alimentada pela mãe através de uma conexão natural originária da concepção.


Quando a morte cerebral é constatada, não há chance de retorno a vida. A situação é diametralmente distinta. Como a vida está sendo mantida única e exclusivamente através de aparelhos (ou seja, artificialmente), não há porque manter o organismo em funcionamento. Veja bem: estou falando de um caso em que a morte cerebral já foi devidamente comprovada; esse raciocínio não se aplica a pessoas com doenças graves ou terminais que, ainda vivas, não têm chance de recuperar a saúde.


4) “Juridicamente, para se adquirir personalidade (ser pessoa) é necessário dois fatores: nascimento+vida, logo um feto não é uma pessoa. Então, cientificamente e juridicamente falando, o aborto não é um assassinato.”


Errado. Se o feto (ou nascituro) não fosse considerado um sujeito de direitos, o aborto não seria considerado pelo nosso ordenamento jurídico um crime doloso contra a vida (Código Penal, Título I – Dos Crimes contra a Pessoa, Capítulo I – Dos Crimes contra a Vida, arts. 124 a 127). O chamado “aborto necessário” e o “aborto no caso de gravidez resultante de estupro” (art. 128) são exceções à regra jurídica – assim como a legítima defesa (art. 23, II) o é.


A definição de pessoa que você deu (nascimento + vida) é dada pelo art. 2º do Código Civil (CC). No entanto, você só levou em consideração a parte que lhe interessava. Portanto, deixe-me colcoar tudo aqui:


“Art. 2º - A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com a vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”


O ordenamento jurídico brasileiro “põe a salvo” os direitos do nascituro (ou seja, do feto). Assim é possível afirmar que a criança não-nascida é titular de direitos personalíssimos (como o direito à vida), e é sujeito de outros direitos, como herança, doação e pensão alimentícia.


Além de tudo isso, gostaria de deixar o parecer do eminente jurista Dr. Ives Gandra da Silva Martins, constitucionalista respeitadíssimo tanto dentro quanto fora do País:


“O direito à vida, talvez, mais do que qualquer outro, impõe o reconhecimento do Estado para que seja protegido e, principalmente, o direito à vida do insuficiente. Como os pais protegem a vida de seus filhos após o nascimento, os quais não teriam condições de viver, sem tal proteção à sua fraqueza, e assim agem por imperativo natural, o Estado deve proteger o direito à vida do mais fraco a partir de teoria do suprimento.


Por esta razão, o aborto e a eutanásia são violações ao direito natural à vida, principalmente porque exercidos contra insuficientes. No primeiro caso, sem que o insuficiente possa se defender e no segundo, mesmo com autorização do insuficiente, porque o insuficiente, levado pelo sofrimento, não raciocina com a lucidez que seria desejável. É violação ao direito à vida o suicídio, pois o suicida é também um insuficiente levado ao desespero do ato extremo, por redução da sua capacidade inata de proteção, constituída pelo intuito de preservação.”


Resposta da abortista: Me desculpe, mas não vou dizer nada, cada um com suas convicções, além do mais não tenho tempo para bater boca.


***

Agora segue alguns comentários que fiz sobre o assunto (não nessa mesma página). Seguindo o mesmo esquema, os comentários abortistas estarão em vermelho, e haverá um comentário verde feito por um amigo meu:


É claro que é um cadaver, ou o senhor poderia mi citar algum amigo de vosso circulo social que atualmente não tem cérebro, ou apenas partes dele. Se você conseguir identificar um, calo-me na hora e concordarei com a proposta contrária. Caso não consiga, tem-se que não seja tutelado o direito a vida de um indivíduo que se anime por questão de 2 horas em média em troca de um dilaceramento da psíque da mulher. Neste caso, é totalmente plausível afirmar que a mulher gera um cadaver, pois sua morte está decretada, pela sua prória incapacidade em sobreviver por sí só.

Peraí! Para não ser um cadáver ele terá que ser de algum círculo social? Para não ser um cadáver ele terá que viver mais que duas horas? Uma hora? Três? Quanto tempo? O filho de um primo meu morreu ao nascer. Qual a quantidade mínima de tempo de vida para que ele fosse considerado um ser vivo? Sobre a morte estar decretada pela incapacidade de viver só, mesmo ao nascer QUALQUER BEBÊ vai depender da mãe para viver até que chegue a uma fase em que dependa de outros tipos de vidas que não são humanas (vegetais e outros animais), até que morra, pois todos estão com a morte decretada. Gostaria, por isso, que você mostrasse de que forma isso que você colocou definiria alguém como cadáver humano ou não.

Mas, pensemos bem a respeito. Quando mi refiri a questão de tempo de vida, minha intênção foi compará-la ao impacto da psíque da mãe. Veja, decidir sobre o próprio corpo é de interesse privado e não dá sociedade. Por exemplo, caso você esteja passando mal em um hospital e internado, se você estiver gozando de boas capacidades mentais, você pode a seu gosto assinar um termo e abandonar o tratamento, ou seja, o corpo é propriedade privada, não está sujeito a opinião pública. No entanto, no caso dos anencéfalos, temos que o assunto é complexo, visto que há a existência de um outro ser dentro do corpo da mulher. Se refletirmos, em uma gravidez de risco por exemplo, onde está em perigo a vida da mulher, não é considerado, pela justiça do Brasil, um crime. Sendo assim, vemos que o aborto, desde que em condições peculiares, não é considerado crime.


O que se é discutido então, é o fato de que a mulher enquanto germinadora de uma vida infrutífera, decretada a morte de uma forma sábida, deverá conviver com isso. É claro que todos estamos decretados a morrer, porém, um grande diferencial, não sabemos a hora. No caso dos anencéfalos, a morte é pré-estabelecida, esse é sem dúvidas, o fator principal.



[...] tanto em nosso caso quanto na dos anancéfalos não sabemos a hora. A coisa mais COMUM é as pessoas morrerem quando menos esperam. É COMUM, também, que morram antes que os demais, porém isso de forma alguma tira a dignidade dele. Se for o caso, por que não matar também os que vão morrer por causa de alguma doença, e se sabe que não haverá cura, mas que já estão nascidos? Só porque já estão nascidos? Que preconceito é esse? Ambos são bebês, ambos são humanos. Ou por que não tirar a vida também de outras pessoas com câncer que sabem que não terão cura? Eles não vão morrer? A família não vai sofrer? Então por que não fugir logo do sofrimento? A resposta é que todos possuem essa dignidade.


Então tirar a vida vai amenizar o sofrimento? Não, isso não ameniza o sofrimento, só se evita algo que não sabe do que vai ser. É uma fuga de responsabilidades. Sem contar que fugir do sofrimento, apesar de ser algo natural do ser humano (e por isso, a depender da situação, possui valor) não possui valor maior que uma vida humana.


Então, a mulher possui direitos de escolhas? Sim, isso é inegável. Porém o bebê, como ser humano tanto quanto ela, possui um direito que é maior que esse. Ou o direito de escolha e de não querer sofrer é maior que o direito a vida, mesmo que seja por um dia? Quem acha isso, que leve às últimas consequências em todas as áreas da vida.



Joanadabe Rios, então de posse de sua argumentação você declara por exemplo que não há diferênça entre um pasciente em estado terminal de cancer e um indívuo salubre ???


Que diferença haveria, além do estado de saúde?


Se você considerar tanto a saúde física, quanto a saúde psicológica, Nenhum.


Então... Não entendi sua pergunta.

Veja bem, Jonadabe Rios, se utópicamente, voce soubesse a data de sua morte e a sua consecutiva causa, você ainda sim seria igual a todos?? Agora vamos nos embasar no caso do pasciente em estado terminal de cancer. Presume-se que o médico tenha estabelecido que o mesmo viva apenas por um mês a mais. Imagine o impacto psicológico do indivíduo, o mesmo não tem como escapar desta condição.


O que estou querendo mi embasar é a quebra do instinto de sobrevivência, o ser humano é um indivíduo que tem enraizado em suas entranhas a própria sobrevivência, é um tanto quanto desconfortável a própria ideia de não existirmos. Desde que nos entendemos por pessoas, temos a noção de que existimos e vivemos, pois se a mesma não fosse procedente, não teríamos sentido algum. Agora, em situações particulares, onde é atacado o conceito e extinto de sobrevivência, o que pode-se ver é uma distância de infinitos anos luz do indivíduo referido, para como indivíduo tido como "normal".


Agora, Jonadabe, passemos esta situação para um ser humano, genero feminino, que até então pensava estar gerando em suas entranhas um indivíduo saudável que viverá, correrá, irá brincar pela casa, talvez com os avós, sorrirá nos momentos em que está mulher estiver desistimulada. É uma alegria imensa. Agora devemos prestar atênção neste momento. No momento em que a mãe se torna ciênte de que ao invés de gerar uma vida, está gerando um indivíduo nos mesmos padrões subjetivos de um pasciente em estado terminal de cancer. Que apesar de estar vivo e não ter data ou hora determinada para morrer, está com a morte predestinada Imaginem o potencial impacto na vida da germinatriz.



Sim, mas você está tratando a questão pelo impacto emocional.


Primeiro, o impacto para alguém sobre sua morte não diminui em nada sua humanidade e dignidade, só aumenta o impacto psicológico. Estou querendo tratar o assunto pela dignidade humana e o valor da vida, e não o impacto que teria para essa pessoa (até porque, no caso dos fetos, não há impacto para eles).


Porém, eu sinceramente não consigo imaginar isso pelo simples fato de que o impacto psicológico de cada coisa varia de pessoa para pessoa. Para dar um exemplo análogo, mas sobre outro assunto (sendo que também é um impacto psicológico), meu tio sente um impacto psicológico imenso com baratas. Ele prefere pular de um precipício do que atravessar uma "barreira de baratas" (sério). Já eu pisaria nelas com gosto.


Com a vida é a mesma coisa. Hoje mesmo (estou falando a verdade), ouvi de uma mulher que está com câncer, e o câncer é bem forte. Na primeira quimioterapia ela perdeu todos os cabelos (o que é bem incomum na primeira). Porém, quando foram falar com ela, ela simplesmente estava feliz e tratava aquilo como um "probleminha". Por isso, o impacto varia de pessoa para pessoa, e não podemos colocar esse impacto relativo como algo absoluto.


Jonadabe, não devemos olhar a questão de forma individual, porque se olharmos as questões de forma individual, não será promovido a justiça de nenhum modo, pois fazemos parte de um Estado populoso


Não podemos colocar esse impacto relativo como algo absoluto, concordo.


EM ANALOGIA, NÃO PODEMOS COLOCAR QUE TODAS AS MULHERES SEJAM OBRIGADAS A GERMINAR PONTENCIAIS NATI-MORTOS.


Essa é a essência da ADPF 54 - Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental




[...] fazermos parte de um estado populoso não muda o fato de que cada caso é um caso. Estamos falando de seres humanos e pessoas com potencial de viver muito tempo (já vi de casos de pessoas que viveram mais de 30 anos)


Jonadabe Rios Essa questão eu levo pela prudência. Vamos fazer uma analogia, certo?


Então, caso queira começar com a analogia, me responda: suponhamos que você seja responsável por uma empresa de demolição. Dizem que todos saíram do prédio a ser demolido. Poré, há a suspeita de haver alguma criança (ou até um cachorro) lá dentro. Você demoliria o prédio, ou verificaria antes de demolir?



Depois disso vamos ao que disse sobre a mulher se "obrigada".

Jonadabe, lógicamente, determinaria uma varredura.

ok. Vamos a outra analogia: Suponhamos que você é um caçador. Há algo se mechendo em uma moita, e você está com a arma apontada. Há a POSSIBILIDADE de ser um animal de caça, e há a possibilidade ser mero vento, e há a de ser um ser humano. Você atiraria ou verificaria?



Jonadabe, nesta situação, aguardaria para saber o que há por traz da moita. E dependendo do que for procederia ao disparo.

Então, se você demolisse antes de averiguar se há alguém no prédio, e se atirasse antes que tivesse uma certeza de que não era um ser humano, você estaria sendo tolo ou sábio?



Seria um tolo, logicamente. Entendo a base de sua argumentação. No entanto, você deve se atentar para o fato de que, se em ambas situações, houve-se tecnologia necessária para se definir a posição de determinada situação, não necessitaría de um procedimento urgente para proceder a uma determinada ação.


O que quero dizer, é que em sua argumentação, você desconsidera a Medicina.


Que bom que esteja começando a entender. Mas vamos lá. Levando em consideração que NÃO SABEMOS se o feto é um ser humano ou não (embora eu possa argumentar de forma positiva que é um ser humano, mas quero dar um jeito de você concluir por si mesmo), matá-lo sem ter essa certeza tornará a pessoa tola ou sábia?


Isso, assim como demolir o prédio e atirar na moita, é agir como se soubesse o que não sabe.

Joanadabe, sinceramente matá-lo sem ter certeza, seria uma atitude EXTREMAMENTE TOLA.


No entanto, como mi refiri anteriormente, sua argumentação desconsidera a Medicina.

Então, quem defende o aborto de anancéfalos (isso consideramos que NEM SABEMOS), está sendo sábio ou tolo? (já já tratamos do direito de escolha da mulher)


Nesse momento ela falha, porque desconsiderar a medicina, é desconsiderar, nos dias de hoje, a manutenção dos estados saudáveis.



Desconsidera a medicina de que forma?

Sua argumentação tem total enfase, no entanto, como mi refiri anteriormente, a Medicina, funciona como a tecnologia que dispensa tal ato de esperar ou não, compreende. A Medicina nos vem como ferramenta para evitar tal fato.

Sinceramente ainda não entendi como a medicina torna isso justificável.


Se você passa a considerar a existência da Medicina, você se abstem do fator surpresa.

Ainda não entendi.


Jonadabe. Voce em sua argumentação se refere a incerteza, pelo que eu entendi, correto ?

Não, eu posso argumentar de forma positiva que o feto anancéfalo é um ser humano como qualquer outro. Minha argumentação se baseia na prudencia. Apesar de, penso eu, conseguir mostra isso. Quero mostrar que até mesmo SE NÃO SOUBESSEMOS disso, o aborto seria injustificável.

Jonadabe, o Gabriel tá embananado com a própria linguagem. Deixa eu traduzir o problema numa bifurcação simples: A "Medicina" (como se entidades abstratas fizessem algo...) dá o direito de alguém adiantar o ASSASSINATO de alguém? Ou dá o direito à RETIRADA de um ser humano já MORTO? No primeiro caso, é injustificável o uso da Medicina; no segundo caso, é justificável.


Bom, sinceramente não entendi que ligação há no que eu disse com o que você quer dizer sobre a mecidina. Isso porque é exatamente pela medicina que se demonstra que ele é um ser vivo e humano como qualquer outro.

Jonadabe. Pela medicina demonstra que ele é um ser vivo? Convido-te a pensar sobre esta resolução do conselho federal de medicina: http://www.saude.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=22504


Chamo atênção especialmente para a parte introdutória da Resolução: "CONSIDERANDO que a parada total e irreversível das funções encefálicas equivale à morte, conforme critérios já bem estabelecidos pela comunidade científica mundial;"


Vou dar uma lida. Mas isso pode ser visto pro lógica. Porém, já estamos indo para outra questão, até que se diagnostique que seja um feto anancéfalo, já se passou um bom tempo, o que já seria suficiente para considerá-lo como ser vivo.


Após a leitura:


Anancefalia não é parada encefálica. Anancefalia também não significa que não há cérebro, é só um termo genérico.


Bom, ainda espero razões. Vou encerrar minha participação por aqui. Caso queira continuar amanhã, estarei de acordo. Mas vou aproveitar para copiar o que coloquei em outro lugar:


Quanto as famílias que vivem com essas crianças, por mais doloroso que possa ser, conheço exemplos disso. Aliás, não só de bebês anancefalos, mas seres humanos com outros tipos de problemas que não poderão fazer ambas as mesmas coisas, e mesmo assim seu direito a vida é assegurado. Uma pessoa com deficiência de um órgão, ou sem esse órgão, não será menos humano por causa disso (Como era em resposta a otura afirmação, me refiro a qui a fazer o que todas pessoas fazem. Porém, cada pessoa que possui certa deficiência física não poderá fazer o que outros fazem). Eu realmente não acho que uma pessoa que não poderá fazer nada disso seja menos digna do que as que poderão fazer. Ainda tem outras questões, que não vou tratar aqui para não me estender, como o fator da unificação da família em situações como essas.


Vou aproveitar para refletir e poder expressar-me de forma mais fidedigna aos meus anseios, até uma próxima discussão.

ok.



Após o termino, uma mulher postou o seguinte:

O legal é que só tem homens, com exceção de mim, claro, opinando sobre o que é possível no corpo das mulheres.

Minha resposta:

O fato de que a maioria dos que estão a frente são homens (embora discorde que a maioria dos que apoiam são homens) não significa que a argumentação é falsa. Isso é falácia. Uma coisa não é verdadeira ou falsa por causa do gênero da pessoa que diz, ela é verdadeira ou falsa se corresponde com a realidade das coisas e faz sentido como IDÉIA. E as ideias são universais, para homens e para mulheres.


Por fim, fica minha pergunta aos que defendem o aborto, já que não é a primeira vez que vejo esse tipo de argumentação: isso é tudo que vocês têm a apresentar?

No mais, a analogia que fiz foi praticamente uma cópia de um diálogo que li num livro de Peter Kreeft: http://porquecreio.blogspot.com.br/2009/10/aborto-socrates-e-herodes-debatem.html

domingo, 22 de abril de 2012

Gradual - Missa Tridentina


“Entre a Epístola e o Evangelho canta-se o Gradual. Compõe-se de um responsório com seu versículo. Antigamente se repetia o responsório inteiro antes e depois do versículo, na forma que ainda é usada para os responsórios breves, mas numa melodia muito ornada.

O gradual é, efetivamente, a parte mais musical do oficio e, como o canto era muito delicado, nunca eram admitidos mais de dois cantores, que subiam no púlpito para cantá-lo. Púlpito é uma espécie de cátedra de mármore colocada na Igreja.

É precisamente por subir os degraus do púlpito, que esta peça recebeu o nome de Gradual, assim como são chamados Salmos graduais os que os judeus cantavam subindo os degraus do templo."

Relembrando do sorteio que será realizado dia 30: http://porquecreio.blogspot.com.br/2012/04/sorteio-do-livro-ortodoxia-de.html

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um pagão ensinando cristianismo a um que se diz cristão...

É triste ver que muitos cristãos ainda conhecem pouco de sua história (e por isso são presas fáceis para os que criticam a fé, inclusive com dados mentirosos ao estilo do Código da Vinci), por outro lado é bom ver pessoas que, mesmo não sendo cristãs, não procuram distorcer os fatos sobre o cristianismo.


Os muçulmanos deveriam recorrer a Bart Ehrman?

Um ótimo texto de Gustavo Adolpho Souteras Barbosa do site e-cristianismo que menciona algumas coisas que já havia percebido há algum tempo sobre os apologistas muçulmanos que tentam desesperadamente demonstrar que não se pode confiar na Bíblia. Além do que o autor colocou, acrescento outras coisas que Erhman defende que nenhum muçulmano citaria, embora citem, sem refletir, qualquer coisa dele em relação a Bíblia. Um desses exemplos é que Erhman também defende que Jesus morreu na cruz com a mesma metodologia e mesmo ceticismo que usa em relação a Bíblia. O que será que os apologistas muçulmanos dizem disso? Não dizem nada. Apenas afirmam que a mensagem Bíblica foi adulterada e acreditam como fonte um texto bem mais posterior que o mais antigo manuscrito completo da Bíblia. Apenas citam o que convém só para fazer os que não conhecem do assunto desacreditem na Bíblia, porém fazem isso sem rigor e sem conhecer o assunto de fato.


Em breve vou postar alguns textos sobre o que pude refletir em alguns debates com muçulmanos, mas achei esse bem produtivo e refuta muito essa tempestade em copo d'água que fazem com os textos de Bart Ehrman (sendo que poucos realmente sabem alguma coisa relevante sobre crítica textual)


Engraçado é que ao debater com um que ama citar esse autor, ele disse que Ehrman não revela algumas coisas em relação a Bíblia com medo da repressão (sendo que nos EUA o que é mais comum são criticas ao cristianismo, e que há várias outras bem mais pesadas - mas talvez ele tenha dito porque já está acostumado com esse tipo de coisa), porém é só verem o que ele disse quando foi perguntado sobre o que acha do Alcorão no vídeo que se encontra no final do artigo.


Bom proveito:

Nos últimos anos, testemunhamos um crescente interesse pela crítica textual do Novo Testamento. Isto se deve principalmente à publicação dos livros de Bart D. Ehrman nesta área. No entanto, Ehrman não está preocupado em mostrar para seus leitores como o trabalho da crítica textual é feito. Seu propósito maior é disseminar seu ceticismo exagerado como forma de crítica às Escrituras. Segundo ele, não temos nenhuma garantia que a Bíblia que possuímos é realmente a mensagem deixada pelos apóstolos.

Tal ceticismo pode ser notado em algumas afirmações que ele tem feito e que somente em seu último debate com Daniel B. Wallace ele desmentiu:
No confronto direto que se seguiu, eu deixei de pedir a Bart que defina o que ele precisava para acreditar que nós temos o texto original do NT. Isto foi perguntado em nosso debate em outubro passado e Bart disse que ele precisaria ver 10 manuscritos de Marcos, escritos dentro de uma semana depois do autógrafo e tendo não mais do que 0,001% de desvio. Eu chamei a atenção dele sobre este ceticismo na TC-List e ele admitiu que falou de improviso e que foi um exagero. Eu notei que a questão feita tinha a ver com o mínimo que ele precisaria para acreditar, assim que se ele exagerou ele não estava realmente respondendo a pergunta. Depois, eu notei que já que há somente 57000 letras em Marcos, para exigir não mais do que 0.001% de desvio significaria no máximo a metade de uma letra!1
Quando será que Ehrman se deu conta de seu exagero? Será que foi depois que Wallace demonstrou que o padrão dele permitia erro máximo de metade de uma letra? Ou será que foi algo espontâneo? Não sabemos como foi, mas o fato dele somente agora reconhecer o exagero mostra como é sua metodologia: apegue-se ao máximo de ceticismo que puder, sempre.

E como não poderia deixar de ser, os esforços de Bart Ehrman despertaram a simpatia de muitos grupos que criticam a Bíblia como Palavra de Deus. É natural pensar no ateísmo como principal beneficiado por Bart Ehrman, mas outro grupo, muito estranhamente, também tem aproveitado suas críticas em benefício próprio: os muçulmanos.

O fenômeno acontece bastante nos Estados Unidos, onde há um esforço missionário maior por parte dos muçulmanos. Mas há no Brasil também alguns que utilizam dos livros de Bart Ehrman para questionar a confiabilidade da Bíblia. Um exemplo é o blog A Nova Cruzada, de autores muçulmanos, que faz uso de Bart Ehrman para defender que a Bíblia foi corrompida:
Bart D. Ehrman, é um dos maiores eruditos do mundo no assunto, Ph.D. em Teologia pela Universidade de Princeton, dirigente do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte - USA, e autor de diversos livros tais como: O que Jesus disse: O que Jesus não disse? - "Quem Mudou a Bíblia e Por que", "Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi?", "Os Evangelhos Perdidos".
Sobre as alterações bíblicas ele diz:
"Como digo em O que Jesus disse? O que Jesus não disse?, desde o início a questão fundamental para mim era o fato histórico de que não temos os textos originais de nenhum livro da Bíblia, apenas cópias feitas posteriormente - na maioria dos casos, muitos séculos depois. Para mim, passou a fazer cada vez menos sentido pensar que Deus tinha inspirado as palavras exatas do texto se na verdade não temos essas palavras, se os textos de fato foram modificados em milhares de pontos - a maioria das mudanças insignificantes, mas muitas delas verdadeiramente importantes.
(Excerto retirado do Livro: Quem Jesus foi? Quem Jesus não foi? - Editora Pocket Ouro).2
O autor destaca neste trecho justamente um dos pontos principais da crítica de Bart Ehrman: nós não temos os textos originais, apenas cópias feitas muito tempo depois. O site União Islâmica traz o seguinte trecho, retirado de outro livro de Bart Ehrman:
O trabalho de Bart Ehrman, The Orthodox Corruption of Scripture (A Corrupção Ortodoxa da Escritura, em tradução livre) identificou como a escritura foi mudada ao longo do tempo. Ele afirma sua tese, que ele prova com detalhes, na abertura: “A minha tese pode ser declarada de forma simples: escribas ocasionalmente alteraram as palavras de seus textos sagrados para fazê-los mais patentemente ortodoxos e prevenir o mau uso por cristãos que abraçavam opiniões aberrantes.”3
O mesmo autor é ainda usado no site Descobrindo o Islã, para defender que a Bíblia não é a palavra de Deus4.

Estes exemplos nos mostram como os muçulmanos estão utilizando o trabalho de Ehrman para questionar a Bíblia como Palavra de Deus. Mas será que eles deveriam confiar tanto assim em Bart Ehrman? Há dois pontos que os muçulmanos deveriam considerar com relação a esta sua mais nova fonte.

O primeiro ponto que deveriam considerar é a própria forma como a Bíblia é tratada pelo Sagrado Alcorão. É curioso como o site Descobrindo o Islã diz ter provado que a Bíblia não é a palavra de Deus apenas argumentando com base na autoria dos livros bíblicos. Sabemos, por exemplo, que o Sagrado Alcorão possui uma visão bem otimista das Escrituras. Na quinta Surata, por exemplo, discute-se as intenções de alguns judeus que procuravam a opinião do Mensageiro:
Por que recorrem a ti por juiz, quando têm a Tora que encerra o Juízo de Deus? E mesmo depois disso, eles logo viram as costas. Estes em nada são fiéis. Revelamos a Tora, que encerra Orientação e Luz, com a qual os profetas, submetidos a Deus, julgam os judeus, bem como os rabinos e os doutos, aos quais estavam recomendadas a observância e a custódia do Livro de Deus. Não temais, pois, os homens, e temei a Mim, e não negocieis as Minhas leis a vil preço. Aqueles que ao julgarem, conforme o que Deus tem revelado, serão incrédulos. Nem (a Tora) temo-lhes prescrito: vida por vida, olho por olho, nariz por nariz, orelha por orelha, dente por dente e as retaliações tais e quais; mas quem indultar um culpado, isto lhe servirá de expiação. Aqueles que não julgarem conforme o que Deus tem revelado serão iníquos. E depois deles (profetas), enviamos Jesus, filho de Maria, corroborando a Tora que o precedeu; e lhe concedemos o Evangelho, que encerra orientação e luz, corroborante do que foi revelado na Tora e exortação para os tementes. Que os adeptos do Evangelho julguem segundo o que Deus nele revelou, porque aqueles que não julgarem conforme o que Deus revelou serão depravados. - Sagrado Alcorão 5:43-47
O Sagrado Alcorão aqui condena a prática de alguns judeus que levavam seus casos ao Mensageiro para posteriormente ridicularizá-lo. E no ato de condená-los, o Sagrado Alcorão comenta que eles possuem a Torá, assim que nem precisariam de consultá-lo, já que ali está “encerrado o Juízo de Deus”. Este texto foi escrito 600 anos depois de Cristo e é interessante como o Sagrado Alcorão diz que a Torá dos judeus daquela época foi revelado por Deus e é suficiente para julgar os judeus, rabinos e doutos.

Da mesma forma o texto ainda diz que Jesus e seu Evangelho é enviado por Deus, corroborando a Torá. E mais do que isto, o texto diz ainda que os adeptos do Evangelho (cristãos) devem julgar segundo o que Deus nele revelou, indicando que o Evangelho também é uma revelação divina, isto com 600 anos depois de Cristo. Mesmo se admitíssemos alguma alteração entre os primeiros manuscritos sobreviventes e os originais, coisa que é bem difícil de se provar, o texto que o Sagrado Alcorão chama de revelado por Deus é o texto que temos hoje.

Na mesma Surata, temos mais declarações positivas sobre o texto bíblico:
Mas se os adeptos do Livro tivessem acreditado (em Nós) e temido, tê-los-íamos absolvido dos pecados, tê-los-íamos introduzido nos jardins do prazer. E se tivessem sido observantes da Tora, do Evangelho e de tudo quanto lhes foi revelado por seu Senhor, alimentar-se-iam com o que está acima deles e do que se encontra sob seus pés. Entre eles, há alguns moderados; porém, quão péssimo é o que faz a maioria deles! Ó Mensageiro, proclama o que te foi revelado por teu Senhor, porque se não o fizeres, não terás cumprido a Sua Missão. Deus te protegerá dos homens, porque Deus não ilumina os incrédulos. Dize: Ó adeptos do Livro, em nada vos fundamentareis, enquanto não observardes os ensinamentos da Tora, do Evangelho e do que foi revelado por vosso Senhor! Porém, o que te foi revelado por teu Senhor, exacerbará a transgressão e a incredulidade de muitos deles. Que não te penalizem os incrédulos. Os fiéis, os judeus, os sabeus e os cristãos, que creem em Deus, no Dia do Juízo Final e praticam o bem, não serão presas do temor, nem se atribularão. - Sagrado Alcorão 5:65-69
Continuando então a condenar judeus e cristãos, o Sagrado Alcorão se lamenta por estes não seguirem seus livros referidos aqui por Torá e Evangelho. Novamente aqui estes dois são considerados revelação do Senhor, e insta cristãos e judeus a observarem sua Torá e Evangelho. O textos disponíveis para cristãos e judeus 600 anos depois de Cristo são os mesmos que possuímos hoje e que Bart Ehrman considera adulterados. Por que o Sagrado Alcorão os recomendaria para cristãos e judeus?

Esta questão se torna ainda mais interessante quando observamos que o próprio Sagrado Alcorão diz para o muçulmano que ele deve declarar fé naquilo que foi revelado ao Povo do Livro (cristãos e judeus):
E não disputeis com os adeptos do Livro, senão da melhor forma, exceto com os iníquos, dentre eles. Dizei-lhes: Cremos no que nos foi revelado, assim como no que vos foi revelado antes; nosso Deus e o vosso são Um e a Ele nos submetemos. - Sagrado Alcorão 29:46
Tendo em vista este cenário de otimismo em relação à Bíblia, fica difícil entender por que os muçulmanos têm procurado questionar a confiabilidade bíblica, recorrendo ao trabalho de Bart Ehrman. É verdade que os muçulmanos sempre acusaram cristãos e judeus de corromperem a Bíblia, mas isto tradicionalmente foi entendido como uma corrupção de interpretação, ao invés de uma corrupção textual. James White, diretor do Alpha And Omega Ministeries e apologeta cristão, nos explica em seu blog como se deu esta mudança:
Muito da apologética muçulmana contra o Cristianismo hoje é baseado no que aconteceu em Agra, Índia, em 1854. Um homem chamado Ramat Allah rompeu com a tradição anterior e atacou a confiabilidade da Bíblia usando as formas modernas e destrutivas de redação crítica prevalecente particularmente na erudição europeia, especialmente alemã. Indo contra as visões de escritores populares muçulmanos de seus dias, como Shah Wali Allah (1703-1762) e Sayyid Ahmad Khan (1817-1898), os quais viam as acusações de corrupção feitas pelo Alcorão como primariamente se relacionando à interpretação, não à alteração do texto escrito, Ramat Allah popularizou o uso do criticismo liberal europeu como meio de derrotar missionários cristãos operando na Índia. Enfraqueça a confiança no texto da Bíblia e você silenciará o testemunho cristão. Ramat Allah (seu nome também é pronunciado Ramatullah) escreveu um trabalho vitalmente importante, Izhar ul-Haqq, um trabalho que até mesmo Ahmed Deedat admite que o influenciou enormemente.5
Assim, os muçulmanos passaram a atacar a confiabilidade bíblica por adotar a teologia liberal europeia. E assim como a teologia liberal está comprometida com a desconstrução do texto bíblico, os próprios muçulmanos tiveram que desconstruir a visão tradicional do Islã a respeito da Bíblia, para adotá-la. Desta forma podemos entender por que eles têm apelado a Bart Erhman para atacar a confiabilidade bíblica.

Então o primeiro ponto que deveriam considerar é a própria visão demonstrada pelo Alcorão, que entra em conflito com aquilo que Bart Ehrman defende.

O segundo ponto a se considerar é as consequências que as ideias de Bart Ehrman podem ter, não apenas para a Bíblia, mas para o próprio Sagrado Alcorão. O trecho citado pelo blog A Nova Cruzada acima, traz um ponto interessante que é argumentado por Ehrman:
Como digo em O que Jesus disse? O que Jesus não disse?, desde o início a questão fundamental para mim era o fato histórico de que não temos os textos originais de nenhum livro da Bíblia, apenas cópias feitas posteriormente - na maioria dos casos, muitos séculos depois. Para mim, passou a fazer cada vez menos sentido pensar que Deus tinha inspirado as palavras exatas do texto se na verdade não temos essas palavras, se os textos de fato foram modificados em milhares de pontos - a maioria das mudanças insignificantes, mas muitas delas verdadeiramente importantes.
Aqui observamos que para Ehrman, o fato de não termos os originais é um problema sério para a inspiração bíblica. Se temos apenas cópias, pergunta ele, como garantir que temos o texto original? Em um debate que ele teve com James White, sobre as Escrituras, ele diz:
E sobre os copistas que copiavam antes das cópias sobreviventes? Devemos acreditar que de repente eles eram virtualmente perfeitos? Eu não acho. Eu acho que de fato, eles provavelmente mudaram seus manuscritos bastante. Qual é a evidência? Os manuscritos antigos sobreviventes diferiam bastante.6
Bart Ehrman ressalta bastante a ideia de que entre o manuscrito original e as cópias que possuímos, pode ter havido muita modificação. O fato de não termos as cópias entre o original e as cópias mais antigas que possuímos para Ehrman é um dos problemas principais para a confiabilidade do texto bíblico. Seu ceticismo exagerado o faz acreditar que, mesmo em um espaço de tempo curto e sem uma organização centralizada com o propósito de modificar o texto, haveria mudanças fundamentais no texto original a ponto de o tornar irreconhecível.

Mas se esta opinião dele for válida, ela deveria se aplicar a qualquer texto na mesma situação, não é mesmo? Dos textos antigos, a Bíblia é o texto que possui manuscritos sobreviventes com data mais próxima do texto original. Textos antigos como as Ilíadas, os textos de Platão ou Aristóteles, todos estes poderiam muito bem sofrer as mesmas críticas.

Mais do que isto, as pressuposições de Bart Ehrman poderiam muito bem ser aplicadas ao próprio Sagrado Alcorão. Como os muçulmanos que já usam Bart Ehrman contra a Bíblia poderiam evitar que as ideias dele fossem aplicadas ao Sagrado Alcorão? A Bíblia é considerada revelação pelo Sagrado Alcorão, e mesmo assim eles se sentem livres para questionar sua confiabilidade.

Mas o caso do Sagrado Alcorão possui um agravante: há de fato uma revisão do texto do Alcorão, feita por Uthman ibn Affan, conhecido por Otman em português, que foi o terceiro califa muçulmano. E depois que a revisão foi feita, todos os outros manuscritos foram queimados.

A Hadith registrada segundo Sahih Al-Bukhari, 6.507, por exemplo, conta como na revisão de Otman, todos os dialetos foram suprimidos e apenas o dialeto de Quraish foi usado:
(O Califa 'Uthman ordenou Zaid bin Thabit, Said bin Al-As, 'Abdullah bin Az-Zubair e 'Abdur-Rahman bin Al-Harith bin Hisham a escrever o Alcorão na forma de um livro (Mushafs) e disse a eles. "Caso vocês entrem em desacordo com Zaid bin Thabit (Al-Ansari) a respeito de qualquer declaração dialética arábica do Alcorão, então o escreva no dialeto de Quraish, pois o Alcorão foi revelado neste dialeto". E assim eles o fizeram.7
Ali se trata da revisão de Otman. Na mesma Hadith, em 6.509, se descreve como Zaid bin Thabit reuniu todo o Sagrado Alcorão que foi usado por Otman para sua revisão:
Abu Bakr As-Siddiq me enviou quando o povo de Yamama foi morto (isto é, um número de Companhias do Profeta que lutaram contra Musailama). (Eu fui até ele) e encontrei 'Umar bin Al-Khattab sentado com ele. Abu Bakr então disse (para mim), "Umar veio a mim e disse: "Casualidades foram grandes entre os Qurra' do Qur'an (isto é, aqueles que conhecem o Alcorão de coração) no dia da Batalha de Yalmama, e eu temo que mais grandes casualidades possam se dar entre os Qurra' em outros campos de batalha, onde uma grande parte do Qur'an possa se perder. Então eu sugiro que tu (Abu Bakr) ordenes que o Qur'an seja recolhido". Eu disse para 'Umar, "Como podes fazer algo que o Apóstolo de Allah não fez?" 'Umar disse, "Por Allah, este é um bom projeto". 'Umar continuou a me encorajar a aceitar sua proposta até que Allah abriu meu peito para isto e eu comecei a me dar conta do bem na ideia que 'Umar percebeu." Então Abu Bakr disse (para mim). 'Tu és um jovem sábio e nós não temos nenhuma suspeita sobre ti, e costumavas escrever a Divina Inspiração para o Apóstolo de Allah. Então tu deverias buscar pelo (os escritos fragmentários do) Qur'an e colecioná-los em um livro." Por Allah se eles tivessem me ordenado a mover uma das montanhas não teria sido mais pesado para mim do que me ordenar reunir o Qur'an. Então eu disse para Abu Bakr, "Como podes fazer algo que o Apóstolo de Allah não fez?" Abu Bakr respondeu, "Por Allah, este é um bom projeto". Abu Bakr continuou a me encorajar a aceitar sua ideia até que Allah abriu meu peito para aquilo que Ele abriu os peitos de Abu Bakr e 'Umar. Então eu comecei a buscar pelo Qur'an e reuni-lo de (o que estava escrito em) talos finos, finas pedras brancas e também de homens que o conheciam de coração, até que eu encontrei o último Verso de Surat At-Tauba (Arrependimento) com Abi Khuzaima Al-Ansari e eu não o encontrei com ninguém além dele. O Verso é:
'Verdadeiramente veio a vós um Apóstolo (Muhammad) dentre vós mesmos. Aflige-lhe que vós recebais qualquer injúria ou dificuldade.(até o final da Surat-Baraa' (At-Tauba) (9.128-129) Então os manuscritos completos (cópia) do Qur'an ficaram com Abu Bakr até que ele morresse, então com 'Umar até o fim de sua vida e então com Hafsa, a filha de 'Umar.8

Então, posteriormente, Otman ordena fazer cópias dos manuscritos em poder de Hafsa. Todos os outros manuscritos que fossem encontrados deveriam ser queimados, como descreve a mesma Hadith, em 6.510:
Hudhaifa bin Al-Yaman veio a Uthman no tempo em que o povo de Sham e o povo do Iraque estavam travando batalha para conquistar Arminya e Adharbijan. Hudhaifa temia por suas (o povo de Sham e Iraque) diferenças na recitação do Qur'an, então ele disse para 'Uthman, "Ó chefe dos Fiéis! Salve esta nação antes que eles divirjam sobre o Livro (Qur'an) como os Judeus e os Cristãos fizeram antes". Então 'Uthman enviou uma mensagem para Hafsa dizendo, "Nos envie os manuscritos do Qur'an para que nós compilemos os materiais do Qur'an em cópias perfeitas e retornemos os manuscritos para você". Hafsa os enviou para 'Uthman. 'Uthman então ordenou Zaid bin Thabit, 'Abdullah bin AzZubair, Said bin Al-As e 'AbdurRahman bin Harith bin Hisham para reescrever os manuscritos em cópias perfeitas. 'Uthman disse para os três homens Quraishi, "Caso vocês entrem em desacordo com Zaid bin Thabit em qualquer ponto do Qur'an, então escrevam ele no dialeto de Quraish, o Qur'an foi revelado em sua língua". Eles fizeram assim e quando eles fizeram muitas cópias, 'Uthman devolveu os manuscritos originais a Hafsa. 'Uthman enviou para cada província Muçulmana uma cópia do que eles copiaram e ordenou que todos os outros materiais do Qur'an, seja escritos em manuscritos fragmentários ou cópias completas, fossem queimados. Said bin Thabit adicionou, "Deixei um verso do Surat Ahzab quando nós copiamos o Qur'an e eu costumava ouvir o Apóstolo de Allah recitando-o. Então nós buscamos por ele e o encontramos com Khuzaima bin Thabit Al-Ansari. (Aquele Verso era): 'Entre os Fiéis há homens que têm sido verdadeiros em sua aliança com Allah'. (33.23)9.
Temos portanto uma descrição oficial de como o terceiro califa muçulmano unificou o texto do Alcorão, queimando todos os outros manuscritos existentes. A intenção era que os muçulmanos não discutissem sobre seu texto sagrado assim como cristãos e judeus faziam, no entanto, este é exatamente o cenário que os críticos acham ideal para a corrupção de um texto. O que Bart Ehrman pensaria então disto? A seguir este raciocínio, portanto, alguém pode ser levado a concluir que o texto consolidado do Sagrado Alcorão por Otman possui bem menos confiabilidade do que a Bíblia.

Assim, quando o muçulmano usa Bart Ehrman contra as Escrituras, ele atira no próprio pé, usando um argumento que facilmente minaria a própria confiabilidade de seu texto sagrado. Trata-se portanto de um caso de dois pesos e duas medidas. E por este motivo também o muçulmano não deveria recorrer a Bart Ehrman para fazer críticas à confiabilidade bíblica, a menos que deseje ver seu próprio texto ser questionado com as mesmas bases.

Curiosamente Bart Ehrman evita declarar qualquer coisa sobre o Sagrado Alcorão. Em uma de suas apresentações, ele foi questionado sobre este livro, que podemos ver no vídeo abaixo:


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sorteio do livro "Ortodoxia" de Chesterton, em parceria com o Apologistas Católicos

"É inútil falar sempre da alternativa de razão e fé. A própria razão é uma questão de fé. é um ato de fé afirmar que nossos pensamentos têm alguma relação com a realidade por mínima que seja" (Ortodoxia, p. 56)
No dia 30/04/2012 estarei sorteando, em parceria com o site Apologistas Católicos, o livro "Ortodoxia" de G. K. Chesterton.

Para isto você deverá curtir a seguinte página no Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=100003136297809

Aproveitando a oportunidade, gostaria de saber algumas informações dos leitores do blog, que me poderão me ajudar nas futuras postagens:

- Qual sua religião? Se sim, qual?
- O que acha que pode melhorar no blog?
- Há algum tema específico que gostaria que seja tratado?
- Possui alguma página na internet?

As respostas podem ser enviadas para o seguinte e-mail: jonadabe.rios@hotmail.com

Desde já agradeço!

Mais informações sobre esse grande pensador:

Biografia de G. K. Chesterton
Tiro no próprio pé
O Sol se levanta todas as manhãs


      

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Thomas More e a importância das imagens

Não custa nada colocar sempre algo sobre esse assunto já batido, mas que ocupa a imaginação fantasiosa de alguns protestantes sobre as imagens. Alguns chegam a considerar a única coisa da Igreja que se deve criticar (até o momento em que são respondidos e começam a procurar outras desculpas para o protesto), e que, fora isso, seriam iguais a eles. Esse trecho, mencionado no livro Trivium, é uma refutação a algumas alegações de Tyndale. Bom proveito:

(o trecho em vermelho é um acréscimo meu)

"Imagens são livros necessários aos sem instrução e são bons livros também aos instruídos. Pois todas as palavras são apenas imagens que representam coisas que o escritor ou orador concebe em sua mente, tanto quanto a figura de uma coisa emoldurada pela imaginação, e deste modo concebido na mente, é tão somente a imagem representativa da coisa mesma sobre a qual o homem pensou.


Por exemplo, se eu conto um episódio da vida de um amigo meu [ou, se alguém narra um episódio da Bíblia, como a morte de Jesus], a imaginação que tenho dele em minha mente não é ele mesmo, mas uma imagem que o representa. E quando eu o nomeio, seu nome não é nem a figura que dele tenho em minha imaginação, mas apenas a imagem que apresenta a você a imaginação da minha mente.


Se eu estiver muito longe de você para lhe contar tal episódio, então será a escrita, e não o nome mesmo, uma imagem representativa do nome. E, no entanto, todos esses nomes falados e todas essas palavras escritas não são signos ou imagens naturais, mas signos construídos por consentimento e convenção entre os homens para significar as coisas, enquanto as imagens pintadas, esculpidas ou entalhadas podem ser tão bem trabalhadas, tão fiéis à verdade e ao objetivo, que, naturalmente, acabam representando-o muito mais eficazmente do que o nome falado ou escrito. Pois aquele que nunca tenha ouvido o nome do meu amigo, mas que tenha visto um seu retrato, se um dia a vir em pessoa, o reconhecerá através da imagem trazida à memória." (Confutation of Tundale's Answers)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Cezar Peluso: aborto de feto anencéfalo é ato 'egocêntrico'.

Abaixo um vídeo, que apesar da "derrota" da vida, fica como memorial de que, apesar de qualquer vitória filosófica, a mentira se interessa apenas pelo poder. Voto fantástico:

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Isabel: princesa, católica e antiescravagista.


Achei esse texto interessante, por isso resolvi postar:

"[...] O imperador não era ateu nem propriamente anticlerical. Cumpria normalmente suas obrigações de católico, mesmo quando não era obrigado pelo cerimonial. Quando esteve à morte em Milão, recebeu os sacramentos da Igreja, o mesmo acontecendo por ocasião da morte em Paris. Mas era, sobretudo, um racionalista do século XVII e um regalista. A condessa de Barral, ela própria uma ultramontana, o criticou na época do episódio do roubo das jóias, dizendo que, em matéria de catolicismo, ele acreditava mas não obedecia, no que, aliás, não se distinguia da maioria da elite brasileira. Já no exílio, d. Pedro ainda teve grandes discussões sobre religião com o conde de Aljezur, outro católico intransigente. Anotou no diário que respeitava a religião porque se convencia de que ela não exigia a abdicação da razão dada pelo criador.

Embora rejeitasse a supremacia da Igreja sobre o Estado, julgava que a união dos dois poderes devia ser tolerada enquanto as circunstâncias do país, isto é, a precária situação educacional, o exigissem. A Igreja tinha, então, uma função pedagógica e de manutenção da ordem. O imperador apoiava o casamento civil, os registros civis de nascimento e morte, a secularização dos cemitérios. Registrou em diário ser contra o ensino religioso em escolas públicas. Sintomaticamente, não consta que tivesse, nos anos finais do regime, relações próximas com nenhuma autoridade eclesiástica com quem pudesse discutir o problema das relações entre Igreja e Estado.

Estranhamente, apesar de cuidar de perto da educação das filhas, d. Pedro não conseguiu transmitir suas convicções à herdeira do trono. Isabel era uma ultramontana. Vivia criticando o pai pela tolerância religiosa. Já no exílio, mas ainda na fase de discussões de uma possível restauração, censurou-a por querer visitar Paray-le-Monial, num centro de romaria ligado ao culto do Sagrado Coração. Argumentou que o ato “lhe aumentaria a fama de beata prejudicando-a na opinião”. Isabel não lhe deu atenção e fez sua romaria. No Brasil, ela se aliou a políticos ultramontanos, e, no momento em que o imperador enfrentava os bispos e Pio IX, correspondia-se com o papa pedindo a canonização de Anchieta. Em 1888, Leão XIII lhe concedeu a Rosa de Ouro, condecoração reservada aos chefes de Estado, católicos, naturalmente, que se tivessem salientado por atos de benemerência. No caso, o ato meritório era a abolição da escravidão. Na entrega da Rosa, feita na capela imperial, discursou ninguém menos do que o bispo do Pará, d. Antônio de Macedo Costa, o mesmo que fora mandado para a cadeia em 1874. Não é difícil deduzir que os bispos apostavam num terceiro reinado com Isabel, como oportunidade de ouro para ter no governo uma aliada incondicional de suas idéias."

Carvalho, José Murilo de
D. Pedro II / por José Murilo de Carvalho, corrdenação Elio Gaspari e Lilia M. Scwarez – São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

domingo, 8 de abril de 2012

Chega de entreter bodes!

João Batista é Elias reencarnado?


Muitos espiritas ao tentarem mostrar que os Evangelhos apoiam a reencarnação tentam, de forma desesperada, mencionar o caso de Elias. Por isso resolvi escrever alguns motivos porque essa interpretação não é possível:

Primeiro, mesmo que pensassem que era o mesmo profeta em pessoa chamado de Elias não significa necessariamente que eles acreditavam que era reencarnação, pode significar que acreditavam que ele simplesmente veio assim como foi levado aos céus sem morrer. Alguém que não conhece o seu nascimento nem suas circunstâncias, principalmente porque ele passou a ficar no deserto, poderia muito bem supor isso (isso porque, essa confusão aconteceu até com Jesus). Ou seja, toda essa sua conclusão passa desse pressuposto, em vez de uma possível volta de Elias no mesmo corpo que teria sido arrebatado. Todo o texto mostra que as pessoas viam certo mistério em João, esse mistério, junto com seu ministério no deserto, pode ter feito as pessoas perguntarem isso. Só isso exclui uma interpretação reencarnacionista como necessária.

Veja que alguns diziam que Jesus era João Batista! Impossível pela idade deles estarem falando em uma reencarnação. No caso de João Batista estavam falando de alguém que, segundo a tradição judaica, não teria morrido.

Então temos que buscar mais pistas sobre o que eles acreditavam, em vez de simplesmente pressupor a qualquer custo que (1) Elias havia morrido depois de ter sido arrebatado e (2) eles estavam se referindo a uma reencarnação.

Segundo, Lucas, que foi contemporâneo dos apóstolos, aprendeu diretamente com eles e escreveu uma biografia de Jesus antes que estes morressem (o que significa que eles tiveram um bom tempo para autorizar a utilização dela) diz algo que pode ajudar na compreensão sobre o que eles acreditavam:

-> Herodes pensou que Jesus era João que tinha ressuscitado, ou Elias que tinha aparecido. 9, 7; Outros, (v. 8) um profeta antigo que tinha ressuscitado.
-> Quando perguntaram sobre quem Jesus era, eles responderam: "João o Batista (impossível, como disse, que pensassem que era reencarnação nesse caso, por causa da idade de ambos); outros, Elias, e outros que um dos antigos profetas ressuscitou." Lc 9, 19. Se com os outros profetas, que estavam mortos, eles acreditavam que teriam ressuscitado, imagine Elias, que foi arrebatado vivo?
-> João Batista já estava morto, mas Jesus ao conversar na transfiguração, conversou com Moisés e Elias. Ora, se eles acreditassem mesmo que João Batista era a reencarnação de Elias, é mais lógico supor que eles citariam o nome de "João" não "Elias".

Ou seja, nesses casos não há nenhuma referência a reencarnação, pelo contrário, há varias citações que argumentam de forma positiva para que ou eles pensavam que ou Elias tinha ressuscitado (caso acreditassem que ele tivesse morrido, o que é improvável) ou que Elias apareceu, tal como havia sumido, ou uma terceira opção, que citarei no final.

Isso é o que as pessoas diziam sobre Elias. Que ou havia aparecido, ou era algum dos profetas ressurretos.

E o que Jesus disse? "E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias" 1, 17.

Nesse caso temos duas opções: espírito reencarnado, ou uma linguagem familiar da tradição judaica para outra coisa.

Quanto isso, além de ser um indicativo contrário o fato de todos os outros falarem de uma "aparição" ou "ressurreição", nas Escrituras do AT, familiar a Jesus e aos judeus que ele se dirigia, ao falar de Elias, também não apoia a reencarnação. É só recordar que Eliseu, ao fazer um pedido a Elias, pediu a porção dobrada de seu espírito. Como Elias não morreu naquele momento, seria uma prova de desespero supor que seria algo como uma incorporação (o máximo que se pode chegar). Quando Eliseu voltou, as pessoas reconheceram que o espírito de Elias, que não tinha morrido, repousava sobre Eliseu.

Assim, uma vez que é impossível pelo texto uma reencarnação ou incorporação de Elias em Eliseu, fica óbvio que se refere ao espírito de profecia em Eliseu.

Juntando os textos que mostram que eles faziam referência a uma aparição e ressurreição, com o fato de que o texto nas Escrituras que falam de Elias se referem uma significação diferente para "espírito", então fica difícil não concluir que Jesus disse que João Batista iria no espírito e na virtude de Elias não no sentido de que era a reencarnação dele (até porque diz que "vai no espírito" não que "é o espírito"), mas que tinha, assim como Eliseu, o mesmo espírito profético.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Jesus do "Código da Vinci" - Por H. Wayne House


Esse já é um assunto batido, mas sempre tem gente pousando de conhecedor depois que leu livros como o Código da Vinci. Eu lembro da tempestade em copo d'água que foi feito, inclusive de um professor meu que estava jogando na cara dos seus alunos o quanto a Bíblia é falsa, como "prova" o Código da Vinci. Por muitas das afirmações falsas que estão no livro ainda serem divulgadas e cridas (nem todos passaram a acreditar por meio desse livro, mas é o mais comum), resolvi postar esse comentário. Bom proveito:

Em 2003, o escritor Dan Brown publicou seu quarto livro, O Código da Vinci. O livro é um romance, embora Brown afirme: “Todas as descrições de ilustrações, arquitetura, documentos e rituais secretos desse romance são exatos”, declaração que provocou alvoroço na comunidade cristã. As asserções de Brown a respeito de Jesus foram tão radicais quanto falsas. Os erros bem documentados em O código da Vinci levaram Sandra Miesel, da revista Crisis, a gracejar: “o Livro O código da Vinci está tão cheio de erros que o leitor instruído, na verdade,aplaude as raras ocasiões que Brown tropeça (sem querer) na verdade”. [1] Até mesmo Bart Ehrman, que discutiremos mais adiante neste capítulo, tem palavras depreciativas para a falta de exatidão histórica de Brown e sua pesquisa descuidada. [2]

Infelizmente, talvez muitas pessoas não tenham o discernimento de separar a verdade da ficção na obra de Brown. Embora o alvoroço em relação ao romance tenha se aquietado, alguns dos argumentos apresentados no livro continuam a reverberar em toda a sociedade. A popularidade do livro O código da Vinci levou a um aumento da aceitação pública pela busca de alternativas à percepção ortodoxa de Jesus. Todavia, muitas afirmações feitas por Brown são simplesmente recontagens exageradas dos debates dos estudiosos da atualidade. Limitaremos nossa crítica às afirmações de Brown a respeito de Jesus, especialmente em relação à divindade dele, e às interpretações errôneas de Brown das versões gnósticas de Jesus.

O Jesus humano de Dan Brown

Jesus foi feito Deus no Concílio de Niceia. A certa altura do romance, um dos personagens de Brown está instruindo outro a respeito do Jesus “real”. Ele diz: “Nessa reunião [Concilio de Nicéia], muitos aspectos do cristianismo foram debatidos e votados – a data da Páscoa, o papel dos bispos, a administração dos sacramentos e, claro, a divindade de Jesus”. Mais adiante, esse personagem, Teabing, em um diálogo, diz a outro:

- Meu caro, até esse momento da história, Jesus foi visto por seus seguidores como um profeta mortal, [...] um grande e poderoso homem, mas apenas um homem. Um mortal.- Não como o Filho de Deus?- Isso mesmo, o estabelecimento de Jesus como “o Filho de Deus” foi oficialmente proposto e votado no Concílio de Nicéia.

Brown continua e, ainda por intermédio desse personagem, declara que a votação foi secreta, e que era Constantino quem desejava se tornar o Jesus divino. Ele diz que a igreja roubou Jesus de seus seguidores primitivos, “seqüestrando a mensagem humana dele, envolvendo-a em um impenetrável manto de divindade e usando-a para expandir o poder dela mesma”. Ele alega que os “evangelhos” que enfatizavam a humanidade de Jesus foram reunidos e queimados por Constantino, mas alguns escaparam da destruição. Aqueles que usavam esses evangelhos eram chamados de “heréticos”, embora usassem os evangelhos “originais”. Entre esses “evangelhos heréticos”, diz Brown, estavam os pergaminhos do Mar morto e os “pergaminhos cópticos” encontrados em Nag Hammadi. [3] Brown argumenta que esses documentos “falam do ministério de Cristo em termos bem humanos”.

Resposta à alegação de Brown

O suporte bíblico para a divindade de Jesus. Essa bizarra declaração a respeito de Jesus simplesmente é falsa, e isso é fácil de provar. Primeiro, os próprios evangelhos testificam a divindade de Jesus. João 1.1,2 diz “No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus”. João 8:58 afirma: “Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que, antes que Abraão existisse, Eu Sou”. Mesmo se aceitarmos a erudição mais liberal de que o Evangelho de João foi escrito mais de dois séculos antes do Concílio de Nicéia. O apóstolo Paulo, na epístola aos Romanos, escrita em 55 e 57 d.C., pouco mais de vinte anos após a crucificação de Jesus, indica claramente que Jesus era divino: “O Cristo segundo a carne, o qual é sobre todas as coisas, Deus bendito eternamente. Amém” (Rm 9:5).

A divindade de Jesus na igreja pós-apostólica. A doutrina da divindade de Jesus foi defendida e ensinada logo no início da igreja. O pai apostólico Inácio acreditava na divindade de Jesus e, por volta de 105 d.C., escreveu: “Deus mesmo sendo manifestado na forma humana para a renovação da vida eterna”. [4]

Justino Mártir escreveu na primeira metade do éculo II: “O Pai do universo tem um Filho, que sendo também o primogênito Verbo de Deus, é mesmo Deus” [5]

Clemente, por volta de 150 d.C., defendeu a divindade de Jesus e a Trindade ao dizer: “Se esse é seu desejo, seja também você iniciado; e você se juntará ao coro com os anjos em torno do não gerado, indestrutível e único verdadeiro Deus, a Palavra de Deus, engrandecendo o hino conosco. Esse Jesus, que é eterno, o único grande Sumo Sacerdote do único Deus e Pai dele, ora pelos homens e os exorta”. [6]

A divindade de Jesus no Concílio de Nicéia. Dan Brown parece não saber do que se tratava o Concílio de Nicéia. Não era a divindade de Jesus que estava em debate, mas o novo ensinamento de um homem chamado Ário. O Concílio de Niceia não foi convocado para solidificar o poder com a elaboração de uma nova doutrina, mas para unificar a igreja e defender o ensinamento original das novas idéias. Ário acreditava que Jesus era divino, mas de forma diferente ou menor que o Pai, pois ele alegava que Jesus fora criado pelo Pai. A grande maioria dos bispos presentes no Concílio de Niceia era contra esse ensinamento. O único debate em relação à linguagem do credo apresentado por eles seria para descrever de forma mais acurada a relação do Pai e do Filho. [7]

Por fim, eles chegaram à linguagem familiar do Credo de Niceia:

Creio em um só Deus, Pai Onipotente, criador do Céu e da Terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis e em Jesus Cristo, Senhor nosso, Filho de Deus unigênito, e nascido do Pai, antes de todos os séculos.

Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro, gerado, não feito, da mesma substância do Pai e pelo qual foram feitas todas as coisas, o qual por nós foi crucificado e por nossa salvação desceu dos céus, encarnou por obra do Espírito Santo, de Maria Virgem e foi feito homem.

Foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escrituras. E subiu ao céu, onde há de vir segunda vez para julgar os vivos e os mortos e o seu Reino não terá fim.

Creio no Espírito Santo que também é o Senhor e dá vida, e procede do Pai e do Filho com os quais é juntamente adorado e glorificado, e que falou pelos profetas. Creio na Igreja que é uma, santa, católica e apostólica. Creio no Batismo para a remissão dos pecados e espero a Ressurreição dos mortos e a vida do futuro século. Amém.

Quanto à “reunião” realizada por Constantino de todos os “evangelhos heréticos”, os próprios escritos de Nag Hammadi comprovam que são falsos. Eles são datados de alguma época do século IV, provavelmente, depois de 350 d.C., e é possível que, até mesmo, sejam de “uma geração posterior” [8], tornando a composição deles, pelo menos, 25 anos posterior ao Concílio de Niceia.

A humanidade de Jesus no gnosticismo e nos evangelhos canônicos. De acordo com Brown, o Jesus dos evangelhos gnósticos é mais humano que o Jesus dos evangelhos canônicos. [...] A palavra gnóstico é um termo abrangente para um sistema filosófico baseado em “conhecimento secreto” (o termo gnóstico deriva da palavra grega para conhecimento). Os gnósticos acreditavam possuir o conhecimento correto do que era a realidade, o que não era visível para todas as outras pessoas.

Havia algumas crenças básicas entre os gnósticos. A essência divina original produziu outras essências divinas, mas aconteceu algum tipo de queda no reino espiritual. Como resultado disso, a matéria veio à existência. Essa matéria, portanto, foi produzida do mal. Todavia, parte da natureza original, pura e espiritual foi posta em algumas almas. Essas almas atravessaram o mundo material em seu retorno ao mundo divino, mas foram presas em sua “concha” material. Um “redentor”, a saber, Jesus, veio para revelar o meio de escapar do mundo material por meio desse bocado de natureza divina. [9]

Contudo, uma vez que, no gnosticismo, a matéria é inerentemente má, o Jesus gnóstico classifica-se em algum ponto entre ser um veículo humano para o espírito divino do Filho e uma simples aparição que não tem, de modo algum, forma material. Os evangelhos gnósticos, em vez de enfatizar a humanidade de Jesus, quase a excluem.

Retirado do livro “O Jesus que nunca existiu”. Para mais informações sobre as fontes pré-nicenas da divindade de Jesus, conferir aqui e aqui.

1 – MIESEL,Sandra. “Dismantling the Da Vinci Code”, reista Crisis, 8 de julho de 2004.
2 – Ehrman diz: “Como a maioria dos historiadores que dedicou a vida ao estudo das fontes antigas de Jesus e do cristianismo primitivo, comecei imediatamente a ver problemas nas alegações históricas feitas no livro. Havia inúmeros erros, alguns ridículos, que não só eram óbvios para um especialista, mas também desnecessários para a trama. Se o autor tivesse apenas feito um pouco mais de pesqusia, teria sido capaz de apresentar um relato histórico mais preciso, sem compreometer de forma alguma a história que ele tinha para contar” Ehrman, Bart D. Truth and fiction in the da Vinci Code. New York: Oxford University press, 2004, p. xiii.
3 – Brown é simplesmente negligente aqui. Os pergaminhos do mar Morto não contêm evangelhos, mas são textos judaicos que não fazem menção a Jesus. A maioria deles foi escrita entre cinqüenta e cem anos antes de Jesus. Os “pergaminhos cópticos” são escritos gnósticos que incluem alguns ‘evangelhos’ entre muitas outras obras. Geralmente eles são chamados de Biblioteca Nag Hammadi e não são, de maneira alguma, pergaminhos, mas livros encadernados chamados códices.
4 – Ignatius, Epistle to the Ephesians, p. 19 (ANF 2.205)

5 – Mártir, Justino, The frist apology, p. 43 (ANF 1.184)
6– Clemente de Alexandria, Exhortation to the Heathen, p. 12 (ANF 2.205).
7 – Ferguson, Everett. Church history, Volume I: From Christ to Pre-Reformation. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2005, p; 191-95;
8 – Brannan, Rick. “Historic Creeds and Confessions” Ed.eletrônica. Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc., 1997, artigo 12.
9 – Ferguson, Everett. Church history, vol. 1: From Christ to Pre-reformation. P. 93

*** Em breve alguns comentários sobre certas alegações de alguns muçulmanos.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O fragmento muratoriano


Em 1740, foi publicada uma lista dos livros do Novo Testamento em latim por Lodovico Antonio Muratori, distinto antiquário e teólogo em sua época, a partir de um códice copiado no éculo VII ou VIII no mosteiro de Bobbio, na Lombardia, mas que depois veio a ser guardado na Biblioteca Ambrosiana (da qual Muratori fora, por algum tempo, curador), em Milão. Continua armazenada lá, sob o número de catálogo J 101 sup., fólios 10a-11a.

A data em que a lista foi preparada originalmente é muito debatida. Ela provém, mais provavelmente, do final do século II. O texto latino sofreu por ter sido copiado por um ou mais escribas que possuíam pouca habilidade de escrita. Há vários erros que clamam por emendas. Muitos estudiosos sustentam a idéia de que por trás do texto latino jaz um texto original grego que se perdeu. Todavia, no todo, parece que o latim era mesmo sua língua original, e que a lista data do tempo em que a igreja romana (que fora de língua grega desde sua fundação no século I) começava a tornar-se bilíngüe.

O documento é melhor entendido como uma lista de livros do Novo Testamento reconhecidos como portadores de autoridade escritural pela igreja romana da época. Além de listar os livros, faz várias observações sobre eles, refletindo a opinião contemporânea de alguns líderes eclesiásticos.

O manuscrito encontra-se mutilado na sua parte inicial. Uma vez que sua primeira frase completa menciona Lucas como “o terceiro livro do evangelho”, provavelmente mencionava os outros dois, e não é excessivamente especulativo supor que esses fossem Mateus e Marcos. Se for esse o caso, as primeiras palavras preservadas do manuscrito seriam as últimas de uma frase sobre Marcos: “... nestas, todavia, ele estava presente e assim as registrou”. A seguir o documento continua:

O terceiro livro do evangelho; segundo Lucas.

Depois da ascensão de Cristo, Lucas, o médico, a quem Paulo levara consigo como especialista legal, escreveu [o relato] em seu próprio nome de acordo com a opinião [de Paulo]. Ele próprio, todavia, não havia visto o Senhor na carne e, portanto, até onde podia seguir [o curso dos acontecimentos], começou a contá-lo a partir do nascimento de João.

O quarto evangelho é de autoria de João, um dos discípulos. Quando seus colegas de discipulado e os bispos o encorajaram, João disse: “Jejum comigo por três dias, e o que vier a ser revelado a cada um, seja isso contado aos demais”. Naquela mesma noite foi revelado a André, um dos apóstolos, que João, em seu próprio nome, deveria escrever tudo e que eles deveriam revisá-lo. Assim, embora haja indícios diferentes para os vários livros do evangelho, isso não faz diferença para a fé dos crentes, uma vez que em todos eles tudo foi declarado por um Espírito primário, com respeito à sua [de Cristo] natividade, paixão e ressurreição, sua associação com os discípulos e seu duplo advento – o primeiro em humildade, quando foi desprezado, e que já ocorreu; o segundo, resplendente em poder real, sua segunda vinda. Não é de espantar, portanto, que João apresente os detalhes com tanta freqüência também em suas cartas, dizendo a respeito de si mesmo: “O que vimos com nossos olhos, e ouvimos com nossos ouvidos, e as nossas mãos apalparam, isso vos escrevemos”. Dessa maneira ele alega não ter sido apenas espectador, mas também ouvinte, e também alguém que escreveu de maneira ordenada os fatos maravilhosos sobre nosso Senhor.

Os Atos de todos os apóstolos foram escritos em um livro. Dirigindo-se ao excelentíssimo Teófilo, Lucas inclui uma por uma as coisas que foram feitas em sua presença, o que ele deixa claro ao omitir a paixão de Pedro e também a partida de Paulo, quando se preparava para partir da cidade [Roma] para a Espanha.

Quanto às cartas de Paulo, elas mesmas demonstram aos que querem entender de que lugar e por que razão foram escritas. Em primeiro lugar, ele escreveu para os coríntios, proibindo cismas e heresias. Depois, aos gálatas, [proibindo] a circuncisão. Depois aos romanos, uma longa carta sobre a ordem das Escrituras e também insistindo que Cristo era seu tema primário. É necessário prestarmos um relato lógico de todas elas uma vez que o bendito apóstolo Paulo, seguindo a ordem de seu predecessor João, sem, contudo, nomeá-lo, escreve a sete igrejas na seguinte ordem: em primeiro lugar, aos coríntios, em segundo, aos efésios, em terceiro, aos filipenses, em quarto, aos colossenses, em quinto, aos gálatas, em sexto, aos tessalonicenses e em sétimo, aos romanos. E ainda que [a mensagem] seja repetida aos coríntios e aos tessalonicenses a título de advertência, apenas uma igreja é reconhecida como a que se espalhou por todo o mundo. Pois também João, ainda que escreva a sete igrejas em Apocalipse, fala a todas as igreja

s. Além disso, [Paulo escreveu] uma carta a Filemom, uma a Tito e duas a Timóteo em amor e afeição. Essas, porém foram santificadas para a honra da Igreja Católica no que tange à regulamentação da disciplina eclesiástica.

Diz-se ainda haver uma carta em nome de Paulo aos laodicenses e outra aos alexandrinos, [ambas] forjadas de acordo com a heresia de Marcion, e muitas que não podem ser recebidas na Igreja Católica, já que não convém que se misture veneno ao mel.

A carta de Judas, porém, e as duas que tem no sobrescrito o nome de João, são aceitas na [Igreja] Católica. Também a Sabedoria, escrita pelos amigos de Salomão em sua honra. Além dessas, recebemos o Apocalipse de João e o de Pedro, que alguns dentre nós não permitem que seja lido na igreja. Mas O Pastor foi escrito por Hermas na cidade de Roma, bem recentemente, em nossa época, quando seu irmão Pio ocupava a cátedra episcopal na igreja da cidade de Roma. Pode, portanto, ser lido, mas não distribuído ao povo na igreja, nem incluído entre os pofetas, cujo número está completo, nem entre os apóstolos no fim dos tempos.

Nenhum dos escritos de Arsino, ou Valentino, ou Miltíades, nós acolhemos. Esses compuseram um novo livro de Salmos para Marcion; [a estes] rejeitamos comBasílides [e] o fundador dos Catafrígios que veio da Ásia...

Retirado do livro "O Cânon das Escrituras" de F. F. Bruce.

domingo, 1 de abril de 2012

Ravi Zacharias e a aposta de Pascal.



"O filósofo francês Blaise Pascal não disse que estava apostando a fé. Em essência, ele dizia que há duas provas para a fé: a empírica – que se baseia na investigação – e a prova existencial – que se baseia na experiência individual. Negando a existência de Deus, Harris fica com apenas uma opção na sua busca de felicidade e sentido, a saber, a prova existencial de autorrealização.

Para o crente em Deus e discípulo de Jesus, há mais que a prova existencial, que é sujeita a circunstâncias e condições. Também temos a prova empírica da pessoa, do ensino e da obra de Jesus Cristo. Os ateus talvez reajam dizendo que para o naturalista, aquele que acredita tão somente na matéria, também há uma prova empírica. Em questões de moral e sentido, porém , eles não têm nada que olhar para um sistema moral além deles mesmos, e, se as premissas deles estão certas, a arena existencial é a única via legítima para a busca de sentido.

Pascal estava dizendo que, se a prova existencial para encontrar sentido na vida fosse a única opão que lhe restasse, a fome do seu coração tinha sido saciada em seguir Jesus e assim ele estava satisfeito. Numa pior hipótese, em que os ateus estejam certos e a morte é apenas o esquecimento, Pascal ainda tinha satisfeito a única prova que os ateus têm para crer e descobriu que sua relação com Jesus é satisfatória do ponto de vista existencial.

Como cristão, ele satisfazia tanto seu próprio teste para a verdade na pessoa de Jesus – a prova empírica – e a prova existencial proposta pelos ateus. É por isso que ele dizia que não podia ser perdedor, e jogo não era um jogo de azar em que ele pudesse perder, qual fosse o teste que ele empregasse."

Texto retirado do livro "A morte da Razão - Uma resposta aos neoateus"