terça-feira, 1 de setembro de 2009

Evidencias pré-nicenas da divindade do Logos.

Quem, em um debate sobre a divindade de Jesus, nunca ouviu que a ela foi criada e imposta no Concílio de Nicéia? Acredito que poucos. Por isso decidi colocar alguns escritos pré-nicenos sobre a divindade do Logos.



Justino Mártir (100 - 165 d.C.)


... mesmo que eu não pudesse demonstrar que o Filho do Criador do universo preexiste como Deus e que nasceu como homem de uma virgem, nem por isso deixa de ser provado que Jesus é o Cristo de Deus. Pelo contrário, já está totalmente demonstrado que ele é o Cristo de Deus, seja qual for a sua natureza [...] Com efeito, amigos, há alguns de vossa descendência que confessam Jesus como o Cristo, mas afirmam que ele é homem nascido de homem. Não estou de acordo com eles, mesmo que a maioria dos que pensam como eu dissessem isso. De fato, o próprio Cristo não nos mandou seguir ensinamentos humanos, mas aquilo que os bem-aventurados profetas pregaram e ele próprio ensinou. (Justino, Mártir, Santo Justino de Roma: I e II apologias, Dialogo com Trifão: dialogo com Trifão. São Paulo: Paulus, 1995, p. 180. [Patrística, v. 3]).


Amigos, apresentar-vos-ei outro testemunho das Escrituras sobre um principio anterior a todas as criaturas que gerou, certa potência racional de si mesmo, que é chamada pelo Espírito Santo Glória do Senhor, às vezes Filho, outras Sabedoria, ou ainda Anjo de Deus, Senhor, Palavra. Ela mesma se auto-denomina Chefe do exército, ao aparecer em forma de homem a Josué, filho de Nave. Todas essas denominações lhe são atribuídas por estar a serviço da vontade do Pai e por ter sido gerada pela vontade do Pai. (Justino, Mártir, op. Cit., p. 204)


Trifão discorda de Justino:

Vós, que procedeis das nações, podeis reconhecê-lo como Senhor, como Cristo e como Deus, conforme o indicam as Escrituras. Vós que, a partir do seu nome, viestes a ser chamados de cristãos. Nós, porém, que servimos ao próprio Deus que fez este mundo, não temos nenhuma necessidade de confessá-lo ou de adorá-lo. (Ibid., p. 208)


Seria melhor dizer que este Jesus nasceu homem dos homens, e que se demonstra pelas escrituras que ele é o Cristo. Deveríeis crer que ele mereceu ser escolhido para Cristo por ter vivido de maneira perfeita conforme a lei. Contudo, não venhais com monstruosidades, a não ser que queirais provar ser tão estúpidos como os gregos. (Ibid., p. 214)


Estás tentando demonstrar algo incrível e pouco menos impossível, isto é, que Deus poderia suportar, nascer e tornar-se homem. (Ibid., p. 216)



Irineu de Lião (130 – 202 d.C)


... e a vinda, o nascimento pela virgem, a paixão, e a ressurreição dos mortos, a ascensão ao céu, em seu corpo, de Jesus Cristo, dileto Senhor nosso; e a sua vinda dos céus na glória do Pai, para recapitular todas as coisas e ressuscitar toda carne do gênero humano; a fim de que, segundo o beneplácito do Pai invisível, diante do Cristo Jesus, nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, todo joelho se dobre nos céus, na terra e nos infernos e toda língua o confesse; e execute o juízo de todos (Irineu de Lião: Sistemas gnósticos, Teorias Gnósticas e sua reputação, Doutrina cristã, Continuidade entre Antigo e Novo Testamento, Escatologia cristã. São Paulo: Paulus, 1995, p. 62. [Patrística, v. 4]).


Com isso afirma claramente que se realizou a promessa feita aos pais, do nascimento do Filho de Deus da Virgem e que justamente este é o Cristo Salvador, anunciado pelos profetas, sem distinguir, como os hereges, um Jesus nascido de Maria e um Cristo descido do alto. Mateus poderia dizer de outra forma: “A geração de ‘Jesus’ deu-se assim...”. mas o Espírito Santo, ao prever esses interpretes perversos e ao precaver-nos contra as suas fraudes, disse por meio de Mateus: “A geração de ‘Cristo’ deu-se assim...” e acrescentou que ele é o Emanuel, para que não o julgássemos simples homem [...] e para que sequer suspeitássemos que um era Jesus e outro o Cristo e soubéssemos que é uma única e idêntica pessoa. (Ibid., p. 316)


Pode-se ver, de tudo isso, que todas as coisas previstas pelo Pai são realizadas com ordem e tempestividade, no tempo prefixado e conveniente, por nosso Senhor, único e idêntico, rico e multímodo, porque obedece à vontade rica e multíplice do Pai e é ao mesmo tempo Salvador dos que se salvam, Senhor dos que estão submetidos ao seu poder, Deus das coisas criadas, Unigênito do Pai, Cristo profetizado e Verbo de Deus, encarnado quando veio a plenitude do tempo em que o Filho de Deus se deveria tornar Filho do homem. (Ibid., p. 322)


Além disso, os que dizem ser homem pura e simplesmente, gerado por José, permanecem na antiga escravidão da desobediência e morrem nela, porque ainda não unidos ao Verbo de Deus Pai, não recebem a liberdade por meio do Filho, como ele próprio diz: “Se o Filho vos emancipar, sereis verdadeiramente livres”. Ignorando o Emanuel, nascido da virgem, são privados do seu dom, que é a vida eterna, e não recebendo o Verbo da incorruptibilidade, permanecem na carne mortal, devedores da morte, sem o antídoto da vida. [...] Desprezam esse nascimento sem mancha que foi a encarnação do Verbo de Deus, privam o homem da sua elevação a Deus e manifestam ingratidão para com o Verbo de Deus, que se encarnou por eles. Esse é o motivo pelo qual o Verbo de Deus se fez homem e o Filho de Deus Filho do homem. (Ibid., p. 336)


Já demonstramos pelas Escrituras que nenhum dentre os filhos de Adão é chamado Deus e Senhor, no sentido absoluto da palavra; e que somente ele, à diferença de todos os homens de então, foi proclamado, na plena acepção do termo, Deus, Senhor, Rei eterno, Filho único e Verbo encarnado, por todos os profetas, pelos apóstolos e pelo próprio Espírito; é realidade que pode ser constatada por todos os que atingiram ainda que ínfima parcela da verdade. [...] Por um lado, ele é homem sem beleza, sujeito ao sofrimento, montado num burrinho, dessedentado com vinagre e fel, desprezado pelo povo, descido à região da morte; por outro, é o Senhor santo, o Conselheiro admirável, sobressaindo pela beleza, o Deus forte, que há de vir sobre as nuvens como juiz universal. Tudo isso foi prenunciado pelas Escrituras sobre ele. (Ibid., p. 337)


Por isso, ao perdoar pecados sarou um homem e ao mesmo tempo revelou claramente UEM ele era. Com efeito, se somente Deus pode perdoar pecados e se o Senhor os perdoava sarando um homem, está claro que ele era o Verbo de Deus, feito Filho do homem, porque recebera do Pai o poder de perdoar os pecados, como homem e como Deus; como homem participou dos nossos sofrimentos e como Deus perdoa as dívidas que tínhamos com Deus, nosso Criador. (Ibid., p. 564 e 565)



Além desses, podem ser citados Tertuliano e Orígenes, os dois mostrando que a crença na divindade de Jesus é anterior ao concílio de Nicéia. Outros exemplos podem ser vistos nas catacumbas cristãs (indico “As catacumbas de Roma”, de Benjamin Scott).

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