quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Protestantes a favor das imagens?

No séc. XVI, a Reforma Protestante retomou a luta contra as imagens e passou a arrancar e destruir as obras sacras. Alguns historiadores indicam Martinho Lutero como o responsável por tal "violência", ao combater o culto aos santos. Entretanto, tomando contato com alguns livros , parece que a versão tradicional não condiz com a realidade, já que alguns protestantes tradicionais parecem não se posicionar contra o uso das imagens.

O teólogo e historiador luterano Martin N. Dreher, sustenta uma posição bem favorável ao uso das imagens. Seguem alguns trechos em sua obra, em especial do capítulo 5, entitulado "Palavra e Imagem":

"Na primavera de 1522 aconteceu, em Wittenberg, o início de uma das maiores catástrofes na história da humanidade. O conselho da cidade determinara a retirada das imagens das igrejas. Quando se começou a executar a decisão dos conselheiros municipais, a multidão reunida na frente da igreja da cidade invadiu o templo, arrancou as imagens das paredes, quebrou-as e terminou por queimar tudo do lado de fora. Em questão de minutos, uma paixão brutal destruiu o que para gerações de cristãos fora objeto de veneração religiosa. Onde os iconoclastas passaram, os templos ficaram como lavouras após uma chuva de granizo. Igual a uma epidemia o iconoclasmo se alastrava por todas as regiões. E o mais interessante é que são poucos os historiadores que se referem a ele, permitindo que o iconoclasmo continue a ser praticado até os nossos dias. O terrível disso tudo é que cristãos, munidos de machados e martelos, se levantaram contra objetos sacros, em locais consagrados, ante os quais até há pouco se haviam ajoelhado. Cristãos destruíram a linguagem da imagem que durante séculos havia orientado os cristãos. E o culpado pela destruição não foi o povo, mesmo que ele tenha realizado a ação; os culpados foram os pregadores que, a partir do púlpito, incitaram ao iconoclasmo. O mentor intelectual do iconoclasmo em Wittemberg foi Andreas Bodenstein, de Karlstadt. Ardoroso em sua maneira de ser, mas falho no tocante à reflexão sobre a consequência de seus atos, Karlstadt assumiu a direção do movimento reformatório em Wittemberg enquanto Lutero se encontrava no Wartburgo. No inverno de 1521/22, Karlstadt escreveu e publicou livreto com o título 'Da Eliminação das Imagens'. O livro é diminuto, tem poucas páginas, mas teve grandes consequências, provocando a destruição de muitas obras-de-arte. Segundo Karlstadt, não se pode tolerar imagens nas igrejas, pois afrontam o primeiro mandamento. Os 'ídolos de óleo' colocados sobre os altares, são invenção do demônio. Karlstadt tomou posição não somente contra esculturas, mas contra pinturas, a nova tendência na arte do Renascimento e da Reforma. Há autores que consideram Karlstadt o primeiro puritano. Assim, o emergente puritanismo seria responsável pelo iconoclasmo. Um outro momento parece ser importante para entender a onda iconoclasta: o biblicismo. Na Reforma se expressou a convicção de que somente a palavra havia de vencer. Para o mundo da Reforma, que tomava o cristianismo primitivo como norma e exemplo, não podia haver lugar para a imagem. Não é de se admirar que parte considerável do protestantismo tenha assumido as concepções de Karlstadt e que Calvino tenha em sua 'Institutas' um capítulo dedicado a todos os argumentos que podem ser usados contra as imagens. Quais as consequências desse fato? O século XVI não mais entendeu a linguagem das imagens e, por isso, as destruiu, produzindo consequências caóticas e cegueira. [...] Com a retirada das imagens do interior das igrejas protestantes destruiu-se o pensamento simbólico tão constitutivo para o cristianismo. E o pensamento simbólico é pensamento religioso propriamente dito. É na linguagem simbólica que se expressa a experiência do espiritual. Quando essa forma de pensamento não-conceitual deixa de ser usada ou é ridicularizada, produz-se a destruição de uma das disposições religiosas do ser humano. Quando se destruíram as imagens, destruiu-se o elemento que deixa o que é cristão transformar-se em sentimento. A imagem provoca e confirma o pensamento simbólico, sem o qual não se pode imaginar religiosidade viva. Observando imagens religiosas aprendemos a sentir simbolicamente. A melhor forma de introduzir crianças no mundo de concepções cristãs é através de imagens. Quando aprendemos a ver a imagem apenas como 'ídolo', destruímos a percepção para o pensamento simbólico. [...] Quando o ser humano não é mais capaz de pensar e de ver símbolos em uma tradição cristã viva, sua consciência religiosa fica esclerosada. [...] No início, Lutero tinha dificuldades com as imagens e afirmava que seria melhor se não existissem. [...] Mas quando Karlstadt deu início à onda iconoclasta, nela nada mais viu do que vandalismo, que estava prestes a destruir a liberdade evangélica e a reintroduzir a lei. Por isso, Lutero passou pouco depois a afirmar que imagens são memoriais e testemunhos e como tais devem ser toleradas. Além disso, chegou a afirmar que, se pudesse, mandaria pintar toda a Bíblia dentro e fora das casas. Sua postura em favor da pintura e das imagens tornou-se mais do que evidente desde a publicação dos catecismos (1529). As imagens movem a fé das crianças e dos simples. A fé cristã não se dirige, para ele, apenas aos ouvidos, mas também aos olhos das pessoas. A arte sacra deve ser meditada, e meditação não é pensamento lógico. Meditar é silenciar para que Deus possa falar. Nos últimos 500 anos, em razão do iconoclasmo, o pecado humano não tem deixado Deus falar; só fala o homem".

As palavras acima demonstram que o mundo protestante vem se abrindo para o uso das imagens. É interessante notar como a posição de Dreher é semelhante à da Igreja Católica, especialmente por repudiar o iconoclasmo e por reconhecer a importância que as imagens representam para o pensamento abstrato e catequético. Antes disso, em 1956, um congresso luterano lançou a questão: "por que admitir as impressões auditivas na catequese e rejeitar as impressões visuais? Estas parecem ainda mais eficientes do que aquelas".

Retirado do Veritatis Splendor

Comentários do blog:

Esse é um assunto já batido e refutado há muito tempo e desde que surgiu, mas ironicamente é o principal "argumento" dos protestantes brasileiros (em especial os pentecostais e neopentecostais). Isso acontece pois não percebem a diferença entre ter imagem, venerar, e idolatrar.

Por esse motivo não custa nada trazer algum texto novo sobre um tema antigo, como esse, onde há a defesa feita por um protestante em relação aos equivocos sobre o uso de imagens.

Mais textos do blog sobre o assunto:

http://porquecreio.blogspot.com/2010/07/os-catolicos-sao-idolatras-porque-quero.html
http://porquecreio.blogspot.com/2011/09/prova-biblica-para-o-culto-de-deus.html
http://porquecreio.blogspot.com/2011/02/imagens-outras-perspectivas.html
http://porquecreio.blogspot.com/2010/11/as-catacumbas.html (também de um protestante)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Enquanto isso...


No ventre de uma mulher grávida, dois gêmeos dialogam:

– Você acredita em vida após o parto?

– Claro! Deve haver algo após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.

– Bobagem, não há vida após o nascimento! Afinal, como seria essa vida?

– Não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que há aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comamos com a nossa boca.

– Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Além disso, andar não faz sentido, pois o cordão umbilical é muito curto.

– Sinto que há algo mais. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.

– Mas ninguém nunca voltou de lá. O parto apenas encerra a vida. E, afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.

– Bem, não sei exatamente como será depois do nascimento, mas, com certeza, veremos a mamãe e ela cuidará de nós.

– Mamãe? Você acredita em mamãe? Se ela existe, onde está?

– Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela não existiríamos.

– Eu não acredito! Nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que ela não existe.

– Bem, mas, às vezes, quando estamos em silêncio, posso ouvi-la cantando, ou senti-la afagando nosso mundo. Penso que após o parto a vida real nos espera; e, no momento, estamos nos preparando para ela.

(Autor desconhecido)