terça-feira, 31 de maio de 2011

As Escrituras e a Tradição

O texto a seguir são partes digitadas do vídeo que coloquei na última postagem onde um Ortodoxo defende a relação das Sagradas Escrituras com a Sagrada Tradição, refutando a heresia da "Sola Scriptura". Algumas partes foram cortadas para se referir somente ao assunto proposto. Outro detalhe importante: por ter sido feito por um ortodoxo, algumas partes da argumentação é mais importante e faz sentido para a Igreja Ortodoxa, e não para a Católica. Um exemplo, talvez o principal, são as traduções bíblicas. É claro que uma grande quantidade de traduções foi feita enquanto não houve o cisma, no entanto, muitos lugares de origem ocidental realmente não tiveram traduções bíblicas (por motivos diversos que podem ser tratados posteriormente), apesar de existirem traduções para a lingua vernácula antes da "reforma" protestante.

Entre a Escritura e a Tradição não há nenhum conflito ou contradição.  A falsa oposição entre elas apareceu apenas no século XVI quando o protestantismo proclamou o princípio da "Sola Scriptura", dizendo que a Bíblia é a única fonte de doutrina, suficiente para a salvação.

O significado inicial de Sola Scriptura, tal como Lutero entendeu, se refere a rejeição das supostas inovações Católicas - O próprio Lutero tirou da tradição Católica idéias de Santo Agostinho (A predestinação, o ensino sobre o Filoque, etc). Lutero, por exemplo, reconhecia o batismo dos bebês, apesar dos neoprotestantes considerá-lo antibíblico. Foram os discípulos neoprotestantes de Lutero que deram um caráter exclusivista para o princípio "Sola Scriptura", rejeitando qualquer idéia de Tradição. Apesar disso, protestantes e neoprotestantes também têm sua tradição, e espero que quem for honesto reconheça isso, pois é um fato. Eles interpretam a Bíblia a partir da perspectiva estrita de alguns pontos de doutrina que não estão escritos na Bíblia, de alguns livros, catecismos ou revistas publicados pela sua denominação ou da opinião de pessoas consideradas carismáticas. Assim, o princípio da Sola Scriptura, como veremos, não funciona, porque os critérios de interpretação da Bíblia estão fora dela. Se a Bíblia pudesse ser interpretada somente através dela seria impossível a aparição de inúmeras denominações e interpretações todas afirmando se basear "Somente nas Escrituras", mas, ao mesmo tempo, se contradizendo.

Apesar de terem sua tradição, os protestantes e neoprotestantes não reconhecem a Santa Tradição, trazendo contra nós falsos argumentos, que não se referem à Tradição, mas a "tradições humanas" como as chama a Bíblia. Em três lugares da Escritura, onde a tradição parece ser condenada, o Senhor se refere claramente aos "ensinamentos dos homens" (Mateus 15, 2-6; Marcos 7, 3-13 e Colossenses 2,8), E se os neoprotestantes preferem citar Mateus, eu vou citar Marcos 7, 8: ""Porque, afastando-se da Lei de Deus, vocês mantém as regras dos homens: lavar os copos e jarros, e muitos outros como estes.". Aqui podemos ver claramente não só a condenação de uma tradição, mas também o seu conteúdo: a lavagem de copos e garrafões e outros hábitos irrelevantes para a salvação. Mas quando nós falamos sobre a Tradição, nos referimos a outra coisa e quero que entendam claramente isso. Nós não consideramos parte da Tradição aquele elemento  que contradiz a Revelação e a Divina Escritura. Escritura e Tradição não podem ser vistas como duas fontes complementares de doutrina, mas como duas realidades que estão numa relação de mútua interioridade (cada uma contém a outra). Se fizermos uma analogia a Santíssima Trindade, podemos dizer que a Escritura e a Tradição são um só ser, esse ser é a Verdade única e imutável, e, ao mesmo tempo, elas são distintas. É por isso que a sua separação e contraposição pode ser comparada com a separação e contraposição das Pessoas da Santíssima Trindade. Vou expandir a idéia mais tarde e quero que entendam a analogia da Santíssima Trindade somente como uma comparação.

Como a Bíblia ensina, a nossa salvação trazida por Cristo foi realizada objetivamente pela paixão, morte e ressurreição de Cristo e, subjetivamente, pela nossa cooperação com Deus e a Igreja que ele fez, não com a base nas idéias pessoais ou de algum grupo, mas baseada na Sua Pessoa Divino-Humana (Mateus 16, 16; 1 Timóteo 3, 15-16). Ele prometeu que Sua Igreja sempre vai existir, por isso nem "as portas do inferno prevaleverão contra ela". (Mateus 16, 18). Quando Ele levantou ao céu, Ele prometeu que vai estar conosco até o fim do mundo (Mat 16, 16) e que o Espírito Santo será enviado no mundo para levar-nos a toda a verdade (Mateus 28, 20). Esta verdade é a respeito de Cristo e é o próprio Cristo (João 14, 6), que "ontem, hoje e sempre é o mesmo" (Hebreus 13, 8) e nossa fé nEle é a fé que tem sido dada para sempre aos santos (Judas 1, 3). Tendo isso em conta, é evidente que a verdade da fé não pode ser uma no primeiro século, outra no quarto, outra no século XVI e outra no século XXI. Ela deve ser a mesma até o fim do mundo. Quem admitir que a verdade pode ser mudada está longe da verdade, pois ele está contrariando as Escrituras. É por isso que consideramos que a verdade deve ser a mesma em todos os tempos e lugares e sua manutenção intecta é devida a presença eterna de Cristo e do Espírito Santo na Igreja do Deus Vivo, que é o "pilar e sustentáculo da verdade" ( 1 Tomóteo 3, 15). E se a verdade é uma só, também a Igreja só pode ser uma, porque uma cabeça não pode ter vários corpos, uma cabeça tem um só corpo (Efésios 1, 22-23; 2, 3-6). Deduzimos que a Igreja de Cristo e sua doutrina deve existir a partir do momento da sua criação até o fim do mundo, sem interrupção. Então, pode pretender ao nome de "Igreja de Cristo" só aquela assembléia cristã que tem existido, sem interupção e consideramos que essas condições só nossa Igreja corresponde a partir dos primeiros séculos, sendo a mesma Igreja dos apóstolos e dos primeiros cristãos. Foi nesta Igreja que a Bíblia foi escrita e interpretada junto com muitos outros
ensinamentos necessários para a salvação. Foi nela que o Espírito Santo guiou os santos bispos a estabelecer corretamente o canon bíblico (o número dos livros bíblicos, seus autores e sua ordem), rejeitando todos os apócrifos heréticos. E isso aconteceu a partir do século IV até mais tarde, quando a Igreja tinha as mesmas cerimônias e organizações.

Grandes diferenças entre a Igreja do século quando foi proclamado o canone bíblico e a nossa Igreja de hoje não existem. Nesta Igreja, a Bíblia era escrita, interpretada e transmitida adiante, com muitos outros ensinamentos baseados na mesma fé e pregação apostólicas. O principio da Sola Scriptura não existia e não tinah como existir. Os Santos Padres que estabeleceram o canon bíblico foram aceitando e difundindo muitos ensinamentos que não estavam claramente expressos na Bíblia, mas que foram retirados da Santa Tradição, e, mesmo assim, em acordo com a Bíblia:

- O texto e a cerimônia da Sagrada Eucaristia que não são mencionados na Bíblia.

- A tripla imersão no batismo, sugerida na Didaquê, escritura do primeiro século, que, muitas vezes era incluida no canon, sabemos que os protestantes de hoje batisam com uma só imersão, e seria interessante saber de onde tiraram isso.

- A veneração das reliquias, claramente mencionada no século II, vinculada ao martírio de S. Policarpo de Esmirna, discipulo direto de São João Teólogo.

- O sinal da cruz, confirmado no século II.

De onde os protestantes têm a Bíblia? Em que eles estão baseados, quando dizem que um Evangelho pertence a Mateus ou a Marcos? De onde eles sabem que existem 27 livros autênticos no Novo Testamento e não menos ou mais? Nós dizemos que todas essas informações e, às vezes, até a maneira de interpretar as Escrituras, eles plagiaram da Santa Tradição da nossa Igreja.

Daqui derivam outras perguntas: Por que tiraram apenas uma parte da Tradição da Igreja e com base em que critérios eles consideram que, no estabelecimento do Canon bíblico a Tradição da nossa Igreja foi correta e em outras, a mesma Tradição errou? E se esta Igreja errou em alguma coisa, tendo "mancha ou ruga" (Efésios 5, 27), então ela não é mais Igreja e o que Cristo estabeleceu foi derrotado pelo diabo e Cristo era um mentiroso, pois fez falsas profecias (Mateus 16, 18). E se o que Ele criou não foi destruído, então essa Igreja existiu e existe e é a ela que devemos pertencer, porque todas as outras supostas "igrejas" são mentirosas.

Quero detalhar alguns aspectos sobre a relação Escritura-Tradição-Igreja. Depois da descida do Espírito Santo sobre os apóstolos (Atos 2, 1-4), os cristãos perseveraram "na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações." (Atos 2, 42). A atividade de cada apóstolo não era limitada a pregação, porque os apóstolso não espalhavam Bíblais pelo mundo, como os protestantes fazem, mas eles espalhavam a Igreja de Cristo, em toda a sua integridade. "A sabedoria de Deus, de muitos tipos, foi dada a conhecer através da Igreja" (Efésios 3, 10), não através da Bíblia. E a Igreja incluiu e inclui batismo, eucaristia, sacerdócio, pregação e muitas outras coisas das quais, me desculpem, os protestantes, às vezes, nunca ouviram falar.

É claro que uma ênfase especial na missão dos apóstolos era dada a pregação da "palavra de Deus" e esta expressão se refere, em primeiro lugar, a pregação oral. (Atos 6, 2-7; 11,1; 13,7-44; 16, 32; 18, 11). a "Palavra de Deus" mão se referia a palavra escrita (as Escrituras), como os protestantes dizem, considerando apenas a Bíblia como "Palavra de Deus". As Escrituras mostram claramente que a pregação oral era a Palavra de Deus e ela "crescia e se multiplicava" (Atos 12, 21), ou seja, foi passada adiante em formas enriquecidas pela ação do Espírito Santo.

Outro aspecto extremamente importante e crucial na pregação da Palavra de Deus coexiste em que os apóstolos exortavam os seus discípulos a manter e passar adiante o que receberam do Senhor. Aqui aparece a noção de "Tradição", como revelação completa dada a Igreja através dos apóstolos e transmitida adiante sem alterações. Vejam alguns textos bíblicos que falam sobre esse significado da tradição (paradosis) e da necessidade de guardá-la: "Louvo-vos, irmãos, que vos lembreis de mim em todas as coisas, e mantenham as tradições como lhes entreguei. Porque as recebi do Senhor e o que recebi repassei para vós" (1 Coríntios 11, 2-23); "Irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa" (2 Tessalonissenses 2, 15); "Agora, o compando-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos apartei de todo irmão que anda desordenadamente, e não seguindo a Tradição que de nós recebeu" (2 Tessalonisenses 3,6); "Essas coisas, que vós aprendestes, recebestes, ouvistes, e vistes em mim, façam: o Deus da paz estará convosco" (Filipenses 4, 9); Não disse "o que lestes". Vemos que a transmissão da doutrina por meio oral e a retransmissão dela inalterada não era apenas uma alternativa para a palavra escrita, mas, na maioria das vezes, a única maneira de pregar o Evangelho, porque:

1) Cristo não escreveu nada (com exceção de algumas palavras na areia) e não ordenou aos apóstolos que escrevessem alguma coisa.

2) Assim como no Antigo Testamento, até Moisés, ninguém escreveu nada, também os Santos Apóstolos não escreveram nada nos quase 20 anos de pregação e São João escreveu seus cinco livros no final da sua vida, após 60 anos de pregação ora, que representa mais de uma geração. Surge a pergunta: Esse povo sabia que "Deus é amor" (1 João 4, 8)? A Epístola de S. João não estava escrita ainda.

3) Por causa de alguns problemas concretos de algumas comunidades, mas, sobretudo, por causa das heresias daquele tempo. os apóstolos escreveram apenas uma parte da doutrina, sem dizer ou deixar claro que o que eles escreveram continha tudo, mas pelo contrário, claramente mostraram que a atividade e, especialmente, a doutrina de Jesus, diretamente ou através dos apóstolos dada, é muito mais vasta, que "nem mesmo o próprio mundo poderia conter os livros que deveriam ser escritos". Em Atos 20, 35, São Paulo, que não conheceu diretamente a Cristo, apresenta um ensinamento dele que não aparece em nenhum dos quatro evangelhos: "Há mais felicidade em dar do que em receber". Mas o que chama a atenção é que, antes disso, em Atos 20, 31, São Paulo diz que, durante três anos, nunca parou, dia e noite, a exortar os seus apóstolos de Eféso, mas não encontramos na Bíblia o conteúdo dessas pregações sistemáticas durante três anos. E se essas pregações continham centenas de ensinamentos que vieram diretamente de Jesus, mas que não estão escritos no Evangelho, como o versiculo acima? Este caso não é o único, porque também não temos, na Bíblia, o conteúdo da pregação durante um ano e meio, de Corinto (Atos 18, 11), que não é o mesmo que o das duas epístolas aos Coríntios que temos. Certamente, São Paulo disse aos coríntios muito mais sobre a Eucaristia do que ele disse depois, em alguns versículos do capítulo 11, da primeira epístola. Podemos pensar o mesmo sobre a celebração do domingo, sobre o qual, nas epístolas, ele fala apenas um pouco (1 Coríntios 16, 2).

4) Mais do que isso, os apóstolos preferiam falar com os seus discípulos, diretamente, cara a cara, as epístolas sendo apenas uma alternativa para os casos em que a reunião e a conversa direta não eram possíveis. Vejam apenas dois exemplos, ambos a partir do final do século apostólico, em que vemos os apóstolos, mesmo naquela época, preferiam a palavra oral, não a escrita: "Apesar de ter mais coisas que vos escrever, não o quis fazer com papel e tinta, mas espero estar entre vós e conversar de viva voz, para que a vossa alegria seja perfeita." (2 João 1, 12) Se a alegria não era completa, também a graça não era completa, segundo São Paulo. "Tinah muitas coisas para te escrever, mas não quero fazê-lo com tinta e pena. Espero ir ver-te em breve e então falaremos de viva voz." (3 João 1,13-14).

5) Os apóstolos não podiam pretender aos primeiros cristãos ter ou ler a Bíblia, pois isso era técnicamente impossível. Foi apenas nos séculos II e III que as igrejas das cidades grandes começaram a recolher os livros do Novo Testamento adotando também a tradução grega do Antigo Testamento (Septuaginta), mas esse processo de colheita era muito difícil por causa do grande custo dos pergaminhos ou papiro e das grandes distâncias entre as igrejas. que tinham um certo livro herdado dos apóstolos. A possibilidade de algumas pessoas terem uma parte dos livros bíblicos era extremamente reduxida (também a maioria não sabia ler). Se aceitarmos a concepção errada dos protestantes podemos concluir que os primeiros cristãos não podiam ser salvos, já que não liam nem estudavam a Bíblia. E se é assim que aconteceu nos primeiros séculos e mais tarde com a Bíblia, então uma pergunta aparece: Como e de que forma os cristãos recebiam a palavra salvadora? A resposta é muito simples: na Igreja. onde os bispos ordenados e ajudados pelo Espírito Santo (Atos 20, 28) estavam passando de geração em geração o "tesouro" recebido pelos apóstolos (2 Timóteo 1, 13-14).

Essa sucessão apostólica incluía o direito de sacrificar a Eucaristia e o direito de pregar o Evangelho, realidades que nem a Igreja primária, nem depois, foram separadas. Irineu de Lyon, discípulo de S. Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de São João, que era o "apóstolo amado" do Senhor, disse: "A nossa fé está de acordo com a Eucaristia". Duas gerações depois de S. João, a fé e a Eucaristia estavam unidas. Assim também são hoje, na nossa Igreja. Não falei sobre a sucessão apostólica gratuitamente, porque, na Igreja, esta sucessão pode ser vista em toda parte e permanentemente. Lógica e teologicamente, está claro que a quebra desta sucessão sacramental e doutrinária significa a separação da Igreja Apostólica, cuja cabeça é Cristo. Ficaríamos felizes em ver esta sucessão no protestantismo também, mas não temos chance. Ao enfatizar o papel da sucessão sacramental, não quero dizer que os leigos não conheciam a "palavra de Deus", mas que a Bíblia era lida e pregada somente na Bíblia; Igreja é a comunhão de cristãos, reunidos em torno da Eucaristia e guiada pelo Espírito Santo, mas também o lugar concreto onde esses livros (que nem todos tinham mas que estavam a disposição de todos) estavam guardados.

O mito que diz que a Igreja proibia os leigos de lerem a Bíblia é uma grande mentira. Os protestantes também desinformam com outro mito: que a Igreja proibia a tradução da Bíblia para os outros povos. Havia a tradução siríaca, nos séculos 4-5, a tradução gótica, no século 9, a tradução eslava, no século 15, a tradução romena. Quando Lutero apareceu na face da Terra, todos o grandes povos antigos tinham a Bíblia traduzida em suas línguas.

Vou fazer algumas especificações sobre a natureza e o conteúdo da Tradição. Por Santa Tradição, entendemos a revelação completa, dada a Igreja, através dos apóstolos e passada adiante inalterada. Então, a Tradição não é um conjunto de ensinamentos ou costumes, mas a "respiração do Espírito Santo na Igreja", presente na doutrina da Igreja, na oração e na vivência dos seus membros. Nós já argumentamos que a Bíblia é apenas [uma parte] desta revelação a sua importância e autoridade não são devidas ao seu conteúdo exaustivo (como dizem os evangélicos, que a Bíblia contém tudo) mas ao fato de a Bíblia ser aquela parte ao fato de a Bíblia ser aquela parte da revelação que foi escrita diretamente pelos apóstolos, testemunhas oculares auditivas do Senhor e em sua base, todos os outros elementos da Tradição podem ser certificados. E por isso que a Bíblia tem autoridade: por ser uma fonte de primeira mão, não porque conteria tudo e fora dela não haveria nada. Então, a Bíblia não e não pode ser considerada auto-suficiente, separada da memória viva da Igreja, que é a Tradição. Tirar a Bíblia do contexto da Tradição Igreja é tirar um versículo do contexto de um livro bíblia. Assim como separar o versículo de um contexto pode levar a perdição, também separar a Bíblia da Tradição leva a perdição. Então, a Bíblia, como ela mesma diz, só pode ser interpretada através da Tradição. Vejam alguns trechos bíblicos sobre isso: "Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos falaram da parte de Deus conforme eram movidos pelo Espírito Santo" (2 Pedro 1, 20-21). Então, a Bíblia não se interpreta por si mesma ou em particular, como os protestantes dizem, mas sua interpretação só pode ser feita por "homens santos", "guiados pelo Espírito Santo". Para nós, eles são Santos Padres, que os batistas, Às vezes, plagiam, sem ter a coragem e sinceridade de dizer que certos ensinos pertencem a João Crisóstomo ou a S. Vasilios, mas nem mesmo a eles, mas ao Espírito Santo, que falou, através deles, devido a sucessão herdada dos apóstolos, mas também devido a santidade deles. Até o eunuco da Etiópia reconheceu que não poderia compreender corretamente o texto da Escritura sem guia (Atos 8, 31), especialmente porque, na Bíblia, há "muitas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis torcem, para sua própria perdição" (2 Pedro 3, 16).

A Tradição da Igreja não só nos deu a Bíblia, mas também a chave da sua significação, sem a qual é impossível não errar, atraindo a perda da alma. A Santa Tradição tem os seguintes elementos básicos:

1) A Bíblia, elemento infalível e com máxima autoridade, com base na qual as outras fontes são verificadas.

2) Os antigos símbolos de fé e confissões, incluindo os mártires (Mateus 10, 19-20). Cristo disse que na hora do martírio, não vão ser os cristãos quem falarão, mas o Espírito Santo falará através deles. Isso significa que eles serão revelados. E se os evangelistas foram revelados e são obedecidos, também os mártires devem ser escutados.

3) As decisões canônicas e dogmáticas dos Concílios Locais e Ecumênicos.

4) Os escritos dos Santos Padres, universalmente reconhecidos pela Igreja (por meio do principio "consensum patrum" = os escritos que não contradizem a Escritura e não se contradizem entre si, mas são baseadas no consenso teológico, como obra do Espírito Santo, que falou através deles, com palavras diferentes, mas da mesma forma.

5) Os vestígios liturgicos: ícones, hinografia, etc. Na Igreja primária, existia uma definição simples para os ícones: "A Bíblia dos analfabetos".

Os critérios em base do qual que os elementos 2, 3, 4, 5 são aceitos ou rejeitados na Tradição é o mesmo critério base do qual os livros bíblicos foram aceitos e pregados. Este critério foi formulado no século 4 por São Vicênio de Leryn: "A verdadeira Tradição é o que todas as pessoas acreditaram sempre e em todos os lugares". A ação do Espírito Santo consiste nesta concordância universal no espaço e no tempo, que faz da Tradição uma espécie de filtro, que só aceita o que é útil e em concordância com o ensinamento oral e escrito herdado de Cristo e dos apóstolos, rejeitando todos os escritos contrários a esses ensinamentos.

Esta revelação não é só informação, assim como também a Bíblia não é só informação e nem a Tradição é só informação, mas também espiritu=ação viva do Espírito Santo, na Igreja. O espírito da Tradição precede e dá valor à informação.

1) Através da Tradição, nos é transmitido o espírito apostólico da leitura e interpretação da Bíblia e, apenas depois, aparece a informação (o conteúdo dessas interpretações). Primeiro, foi transmitido o espírito da compreensão e formulação dos dogmas cristãos e, apenas depois, encontramos o conteúdo desses dogmas formulado na Tradição. Em conclusão, a Igreja poderá formular outros dogmas também, se for preciso. E o espírito da compreensão dos dogmas  que vai nos manter longe das formulações erradas e contraditórias. Os protestantes, tendo isso em conta, não foram e não são capazes de operar conforme a informação dos dogmas, porque não tem mais o espírito da Tradição dogmática. O espírito e modelo da oração foram transmitidas pelos apóstolos aos seus discípulos e gravitavam em torno da Eucaristia.

Muito antes da oficialização do cristianismo como religião (313) as orações e praticas litúrgicas dos cristãos eram semelhantes e, às vezes, idênticas, como o texto e forma das que vemos hoje, mesmo sem nem existirem na Bíblia. Tudo isso demonstra, mais uma vez, a ação do Espírito Santo na Igreja não somente através da letra da Bíblia mas também através da letra e espirito da Tradição da nossa Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.

terça-feira, 17 de maio de 2011

As escrituras e a Tradição descritas por um ortodoxo.

Bom, discordo dele quanto a questão da não validade dos sacramentos e sacerdócio Católico, entretante ele refuta as principais objeções protsetantes e demonstra, como várias vezes já foi demosntrado em outros meios, que a Sola Scriptura não faz sentido algum, pelo contrário, nem a Bíblia nem a Igreja desde o principio acreditava em algo do tipo.






domingo, 1 de maio de 2011

Quatro perguntas que os protestantes não conseguem responder de forma satisfatória.

Achei interessante essas quatro perguntas que encontrei enquanto fazia uma pesquisa na internet. Antes de me tornar católico já havia perguntado algo parecido. Originalmente são cinco, no entanto a primeira pergunta pode ser respondida de maneira parecida tanto por católicos quanto por protestantes.

Depois, tentei encontrar alguma resposta protestante. Não achei nenhuma. Pode ter passado desapercebido, ou posso não ter pesquisado da maneira correta, no entanto resolvi postar e ver se algum protestante quer tentar responder.

A resposta pode ser enviada da forma que desejar. Por e-mail (jonadabe.rios@hotmail.com), em seu blog (indicando o link nos comentários) ou até mesmo comentando diretamente aqui.

Vamos às perguntas:

1 - Por favor, diga-me porquê você aceita apenas uma parte da Bíblia (afinal, a lista de livros que compõem o Novo e o Antigo Testamento foi determinada ao mesmo tempo - aliás, junto com o título de Mãe de Deus para Nossa Senhora - e você aceita apenas parte do Antigo Testamento), e com que autoridade você o faz.

2 - Por favor, diga-me porque a Bíblia teria precisado de quase 1600 anos para ser entendida corretamente, se ela é teoricamente algo que qualquer um pode ler e entender.

3 - Por favor, explique como alguém pode saber se entendeu a Bíblia corretamente, se ele só pode confiar na Bíblia, e em mais nada; afinal existem cerca de 30.000 seitas protestantes no mundo, cada uma entendendo a Bíblia de maneira diferente e todas achando que estão certas.

4 - Por favor, prove usando apenas a Bíblia que ela é o que você considera que ela seja (ou seja, a única fonte de Verdade Revelada, composta pelos livros que você aceita, todos eles e só eles). Claro que todo mundo sabe que a Bíblia é Palavra de Deus, boa para o ensino, etc. e tal, mas por favor, tente provar que ela é a única fonte de Palavra de Deus, composta pelos livros que você aceita, todos eles e só eles.

Gostaria de avisar que não irei tentar responder raciocinios em circulos ou pregações. Um exemplo disso é quando se pressupõe a heresia da Sola Scriptura sem apresentar fundamentos. Assim, antes de tentarem defender a Sola Scriptura, peço que tenham um pouco de paciência (e para alguns, vergonha na cara), e leiam os seguintes artigos do Veritatis:


Caso a resposta dada leve em consideração os argumentos Católicos apresentados, terei o prazer de postar no blog antes de tentar responder.