quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Terry Eagleton - Reflexões sobre o neo-ateismo

Achei interessante um ateu admitir, no final do video, que possui crença. É dificil pra muitos ateus admitirem o fato de também possuirem crenças, isso porque possuem uma visão equivocada sobre o que é crer. Além da visão equivocada, muitos (na verdade suspeito que a maioria) possuem problemas volitivos, em vez de intelectuais. Junta isso com o "espantalho divino" que é convenientemente criado e uma falta de entendimento dos argumentos para a existencia de Deus (que leva a perguntas como "se tudo que existe possui uma causa, então qual é a causa de Deus?"), mais uma pitadinha de pedantismo, surge o neo-ateismo.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

"Reforma" protestante: Igreja deformada, sempre deformando.


Existem dois tipos de argumentações que normalmente são feitas e que mostram que o protestantismo não faz sentido. O primeiro tipo delas é mostrar que suas objeções não fazem sentido, o que na maioria das vezes é fácil, e, hoje, apesar dos empecilhos mais emocionais que racionais, estão vindo cada vez mais à tona. O que é ruim para a mentira pregada (mesmo que sinceramente) dos deformadores. Deformada, sempre deformando. No segundo tipo se encontram as incoerências do próprio protestantismo em relação à mensagem Cristã, o que mostra que é tudo, menos algo fundado por Jesus.

Dentre esses do segundo tipo, a questão da unidade da Igreja (característica intrínseca de sua natureza) têm despertado as pessoas, um dos principais fatores, hoje, é a clara necessidade de união, sendo que o protestantismo só causa o contrário. Mas mesmo que não houvesse a necessidade, é fato que Jesus declarou que a Igreja deve ser uma. As Escrituras também mostram que as divisões não estão de acordo com o propósito de Deus para a sua Igreja. Cientes disso, algumas pessoas têm tentado contornar o óbvio com desculpas toscas. Ao ler alguns artigos do CACP (Centro Apologético Cristão de Pesquisas, ou, como um amigo gosta de chamar: Centro Apologético “Cristão” de Pesquisas, CA”C”P), encontrei mais um exemplo desse desespero em um texto escrito pelo Sr. João Flavio Martinez. Por isso decidi escrever sobre o assunto, não tratando diretamente palavra por palavra do que o artigo diz, mas mostrando os equívocos além de explicar elementos que foram deixados de lado pelo autor do artigo. Mas antes gostaria de citar algumas perguntas que o Sr. Flávio colocou em sua introdução:

A suposta unidade do catolicismo é sinal de ortodoxia? Existe base lógica para condenar a diversidade nas igrejas evangélicas como sinal de heresia? Até que ponto essa unidade alegada pelo catolicismo é verdadeira? É realmente tão grave esta diversidade no protestantismo a ponto de não nos enquadrarmos na perícope de João 17.22? E a igreja cristã, sempre teve essa unidade que reivindica o catolicismo?

Ele tenta responder as perguntas de moto que fique evidenciado que a Igreja Católica não é Una. Acaba por distorcer as verdades nas Sagradas Escrituras (e da Sagrada Tradição) para convenientemente apoiar sua visão preestabelecida de que as divisões não significam que as diversas igrejas protestantes não estão contrário ao ensinamento apostólico. Pior, tenta argumentar que a Igreja desde sempre possuía divisões. Houve vários equívocos, dentre eles que não existia hierarquia na Igreja primitiva, mas dentre esses equívocos o pior é utilizar de sofismas para defender que a Igreja pode ter diversos ensinos doutrinários e ainda ser uma. Por isso antes de tudo, vamos ver o que as Escrituras ensinam sobre a unidade da Igreja, e a Igreja como um corpo. Não desejo distorcer as escrituras para que seja conveniente a minha visão. Ou seja, mesmo que a passagem se torne algo difícil de explicar diante das supostas divisões da Igreja Católica. Estaria disposto a admitir que assim como os protestantes não são um, a Igreja Católica não é una, se fosse verdade. É claro que aí seria admitir que Jesus errou, pois instituiu uma Igreja Una, onde as portas do inferno não prevaleceriam, mas que o inferno teria triunfado (o que não concordo).

A Igreja é comparada a um corpo, onde cada parte do corpo possui sua função. A mão é diferente dos pés, os pés são diferentes dos olhos e os olhos são diferentes do nariz. Ambos devem estar em perfeita união e concordância. Mas uma pessoa não possui apenas mãos e pernas, mas [uma] mente, um só pensamento. Então, apesar de cada parte do corpo possuir uma [função] diferente, todas essas partes fazem parte do [único] corpo que possui um [pensamento]. Não vários pensamentos divergentes e contraditórios (estamos falando do corpo em que Cristo é a cabeça), mas um só pensamento. Se Jesus Cristo é a Cabeça e Ele é Deus, então não pode haver pensamentos divergentes e contraditórios, pelo contrário, deve haver uma união assim como Jesus é um com o Pai. Uma Igreja que possui divergências doutrinárias não é [uma] Igreja, muito menos é uma [Igreja] de Deus. Pode ser igreja de homens ou do demônio, mas não de Deus.

Jesus disse que devemos ser um assim como ele é um com o Pai (João 17,22). “Como nós somos um”. Jesus demonstra nas Escrituras que é um com o Pai não só em amor, ou em pequenos detalhes, mas em propósito, vontade e, principalmente, ensino. Jesus não ensinava aquilo que seu Pai não havia ensinado, e também não ensinava aquilo contrário ao que seu Pai lhe dizia. Dessa forma, se a Igreja deve ser unida assim como Jesus é com o Pai, ela deve ser unida não somente em questões principais, esquecendo pequenos detalhes, mas até mesmo em questões doutrinárias mínimas (se é que qualquer questão de doutrina é mínima, sendo que a Verdade, que é Jesus, é o que importa, seja ela mínima ou não). Diante disso, vemos descrito por Lucas que "a multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma" Atos 4, 32. Antes de prosseguir, vejamos o que é colocado no texto sobre a Igreja como um corpo:

É uma unidade no Espírito, pois é a vontade de Deus para seu povo (Efésios 4.3 - João 17. 11,20,21).  Assim, a verdadeira igreja de Cristo é invisível e espiritual composta de todas as demais igrejas visíveis pelo vínculo da paz (Hebreus 12.23).  Contudo essa unidade não implica em uniformidade total. É um fato independente da diversidade exterior. A igreja é comparada a um corpo diversificado (I Coríntios 12.13-26) com diversos ministérios e dons; é a diversidade na unidade.  Um bom testemunho disso tem sido a “Marcha para Jesus”, um evento que é realizado no mundo todo e tem tido um crescimento vertiginoso a cada ano. Essa manifestação que inclui centenas de denominações evangélicas é um fato incontestável do que estamos falando.

Ainda comete a tolice de falar em relação a unidade que “com exceção das falsas igrejas (seitas), as igrejas evangélicas possuem de fato”. O que qualquer pessoa sabe que visita tais igrejas sabe que não é verdade. Nem mesmo a “marcha pra Jesus” (?), exemplo dado no texto, é sinal de unidade, pelo contrario, de conveniência, e, como está cada vez mais claro, politicagem. Tanto que nas próprias machas “para” existem evangélicos criticando essas posturas (o que é um sinal de bom senso). Alias, o próprio autor admite isso, falando que a unidade seria nos pontos principais que definem o que é ou não cristão, admitindo assim que, mesmo em questões aparentemente insignificantes (o que não concordo), não há essa unidade. Ou seja: um tipo de união totalmente subjetiva onde se tolera as diferenças mínimas de doutrina e pensamentos, todos considerados seguidores da Verdade, sendo que essa verdade é diferente em detalhes. O que conseqüentemente somos levados a concluir que não seguem A Verdade, pois várias verdades mesmo que diferentes em detalhes, não são uma única verdade, apesar de compartilharem de parte dEla. São diversas mentiras que compartilham características da Verdade, mas não a Verdade. Primeiro confunde a diversidade de [dons] e de [funções] com diversidade [pensamento] (doutrinas). Não dando atenção à exortação do Apóstolo Paulo: “guardai a concórdia com os outros, de sorte que não haja divisões entre vós; sede estreitamente unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar.” 1 Coríntios 1,10. O apóstolo (não esses supostos apóstolos descarados de hoje) fala, assim como já foi explicado através da conseqüência lógica das palavras de Jesus, que devemos estar unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar. Para não dar vazão a mais malabarismos, é bom destacar que esse “estreitamente” ligado não significa que apesar de deverem estar ligados em questões principais, podem discordar em questões não muito importantes, a não ser que alguém queira crer também que esse era o tipo de crença entre Jesus e o Pai a respeito de seus ensinos, a respeito da Verdade (que é o próprio Jesus).

Discordando do ensino apostólico, é dito que podemos discordar em questões negociáveis. Questões que definem quem ou o quê é cristão. Bom, gostaria que fosse sincero consigo mesmo: Se o batismo é apenas simbolismo ou um sacramento é importante ou não? É claro que é importante, mas a hipocrisia faz isso ser considerado negociável. Devemos negociar a Verdade? Jesus está presente no pão e vinho? Alguns protestantes ensinam que sim, outros que não, muitos (como eu antigamente) nem imaginava que a idéia de estar presente de fato no pão e vinho de forma que também é um sacramento. Isso é negociável? Não, não é negociável: a Verdade não é negociável. Mas as igrejas protestantes ensinam de forma diferente negociando a verdade. Parece até mesmo um novo tipo de mercadores da fé, onde não se visa o lucro, mas a conveniência. A Verdade é transformada em questões negociáveis ou não, onde em nome de uma suposta unidade de paz apenas essas diferenças são toleradas. Segundo o autor do texto, itens negociáveis não determinam se a pessoa é ou não cristã. Fico a me perguntar a partir de que padrão podemos determinar se uma pessoa é ou não cristã, e a partir de que padrão objetivo podemos saber quais são ou não os itens negociáveis de uma “verdade que diverge entre si” sendo que os apóstolos ensinaram constantemente o contrário, pois eles ensinaram sobre [uma] Igreja, e por ser [uma] é universal (Católica). Não toquei na questão a universalidade e unidade de crenças por acaso, e sim porque mais um equivoco (cada vez mais surgem equívocos sem tamanho) em relação a Igreja Católica. Ele dá a entender que há diversidade doutrinaria no catolicismo, sendo que não pode haver por definição, pois as crenças da Igreja Católica devem ser universais, por isso quem não possui uma crença contrária, pode ser qualquer coisa menos católico. Mas então, como pode possuir crenças universais se foram apresentadas tantas diferenças? A resposta é que as diferenças  não são em doutrinas estabelecidas, mas em costume e em doutrinas ainda não estabelecidas.  Para um melhor entendimento, decidi tratar em outro item.

- Diversidade na Igreja Católica?

Antes de explicar quais tipos de diferenças existem, penso que seja interessante fazer um resumo de como elas surgiram na história da Igreja. Essa questão então vai aos tempos apostólicos, quando as primeiras igrejas eram fundadas. Depois que os apóstolos fundaram várias comunidades cristãs, certos lideres eram instruídos, inclusive na forma de instruir os novos lideres. Eles possuíam uma mesma fé, passada de forma unanime pelos apóstolos, por isso a Igreja era uma, onde "a multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma”. É claro que algumas questões não estavam completamente desenvolvida, questões como a explicação e conciliação dos ensinos apostólicos. Com o passar do tempo essas comunidades cristãs passaram a expressar a fé de forma diferente, devido a sua cultura e língua. Mas eles não tinham diferenças nas doutrinas, pois acreditavam na Igreja Una, assim como dizem os credos, mas nas [expressões] dessa fé e sua forma de conciliar e explicar o que foi ensinado pelos apóstolos. Como algumas questões foram deixadas em aberto pelos apóstolos, surgiram aparentes divergências doutrinarias, e as vezes divergências de fato, entretanto todos sabiam a necessidade de ter um só pensamento, por isso eram feitos os concílios. Ambos observavam determinada doutrina, e se ela tivesse sido repassada pelos apóstolos aos seus sucessores (e assim por diante), então essa doutrina era aceita por ser Universal (católica). Essa era a forma de decidir os primeiros concílios e sínodos. Concílio, uma palavra que os protestantes poderiam aprender a usar. A forma de expressar era particular em cada igreja, mas a fé era universal (Católica). Os apóstolos também faziam isso, como é demonstrado em Atos 15. Os judeus tinham o costume da circuncisão, como determinava a lei, mas os gentios não precisavam seguir isso por conta da Nova Aliança, mesmo assim o costume dos judeus foi preservado, mesmo sabendo eles que não era algo necessário à Nova Aliança. Dessa forma é totalmente explicável que a questão doutrinaria possa divergir em sua expressão, ou até que ela seja conciliada posteriormente quando a questão se torna resolvida (como foi os exemplos, que não será necessário citar). Foi assim com a Divindade de Jesus, a Trindade, a Infalibilidade Papal e o Canon (não falo do Canon protestante retalhado).

Fica evidente que não é o tipo de diferença que existe nas igrejas evangélicas. É claro que nas Igrejas evangélicas existem aparentes diferenças, mas em outras há diferenças doutrinárias de fato que estão contrárias ao ensino apostólico, principalmente o da unidade que não se pode mais assumir.

No mais, Sr. João Flavio Martinez, gostaria que mostrasse de forma mais detalhada os “77 pais que comentaram este verso apenas 17 opinaram que se refere a Pedro”, e o fato deles terem comentado como não se referindo a Pedro significasse que eles não acreditavam nisso. Várias pregações, por exemplo, são feitas sobre determinados trechos bíblicos, o que não significa que o pregador não acredita na questão fundamental ensinada. Seria interessante também notar a diferença da Igreja Católica no México que não faz parte da Igreja Católica Apostólica Romana, e é sim mais uma seita como as igrejas protestantes que surgem a cada descobrimento da América.

Em resumo, a Igreja de Cristo deve ser uma, mas pode divergir em [expressões] da única fé que seguem (Romanos 14, por exemplo), mas não nas questões de fé (depois de terem sido resolvidas).

O protestantismo falha em ser um assim como o Pai é um com Jesus, e assim como os primeiros cristãos eram um: em vontade, crenças e amor (deixando de lado, assim, certos costumes). No entanto, se o Espírito de Deus tivesse dado inicio a “deforma protestante”, ambos reformadores saberiam das doutrinas que estavam erradas e não divergiriam tanto formando essa Babel Doutrinária onde a única coisa que concordam é que devem criticar a Igreja Católica a qualquer custo.

A Igreja de Cristo só pode logicamente subsistir na Igreja Católica, pois é este corpo em unidade que possui as características da Igreja que Jesus disse que as portas do inferno não prevaleceriam. Afinal, há um só Deus, um só Espírito Santo, um Senhor, uma só Igreja, e uma só fé.

Autor: Jonadabe Rios

domingo, 12 de dezembro de 2010

Entendendo a Inquisição I: – A Igreja após a queda de Roma

Antes de falarmos diretamente sobre Inquisição, é preciso que entendamos como a Igreja estabeleceu-se de maneira tão profunda na cultura européia.

É sabido por artigos anteriores que os primeiros católicos foram severamente perseguidos por Roma nos primeiros séculos da era cristã. Motivados pelo fato de os cristãos não aderirem aos cultos pagãos (em sua maioria a própria figura divinizada do imperador) e professarem uma fé universal (por isso católica) em Cristo Jesus, os romanos atiravam cristãos aos leões nos circos e arenas promovendo espetáculos que tinham intuito de promover entendimento e coibir a conversão ao cristianismo.

Porem, como disse o escritor Tertuliano, convertido ao cristianismo depois de muitos anos combatendo-o veementemente, “O sangue dos mártires é a semente dos cristãos”. Assim, cumpria-se cada vez mais a promessa de Nosso Senhor a Pedro, garantindo que as portas do inferno não prevaleceriam e nem prevalecerão sobre a Igreja (Mt 16,18).

O fruto desta Santa Resistência foi colhido apenas no século IV, quando o imperador Constantino no ano de 313 declarou licito o culto cristão e além disso o tornou religião oficial do Estado.

Porem, crises financeiras e muitas disputas internas e externas por poder faziam com que o império se enfraquecesse. Os frutos deste enfraquecimento foram diversas guerras internas que inicialmente dividiram o império romano em dois. O Ocidental, com capital em Roma e um Oriental, com capital em Constantinopla.

Este enfraquecimento fez com que diversas invasões de povos Bárbaros (palavra oriunda de blá-blá-blá, ou seja, povos que falavam línguas que não se compreendia em Roma) vindos de todas as direções e que avançavam aos poucos pelas fronteiras do Império Romano Ocidental.

Godos, ostrogodos, visigodos, suevos, francos, germânicos, eslavos (compreendendo centenas etnias e tribos diferentes), vândalos, saxões, anglos, unos são exemplos de tribos bárbaras que aos poucos foram conquistando a Europa, reduzindo assim as fronteiras até o ponto de tomarem a capital romana oriental em 476 dc, o bárbaro Odorico depôs Rômulo Augusto e proclamou-se “patrício” dos romanos.

Um longo processo de modificação do império teve inicio, sempre embaixo de guerras sangrentas, cruéis perseguições, massacres, intolerância que moldaram o que viria a ser a sociedade medieval dos séculos seguintes.

Você pode estar se perguntando, como a Igreja se enquadrou neste turbilhão de transformações politicas, sociais, ideológicas e religiosa.

Sem duvida nenhuma se hoje você está lendo este artigo, seja você católico ou não, deve muito a Santa Igreja de Cristo. O fato de ela ser Católica (professa a mesma fé da mesma maneira em todos os lugares, ou seja, universal) foi vital para que a sociedade ocidental que conhecemos hoje se estabelecesse.

Todos esses povos que citamos acima, estavam longe de viverem em harmonia entre si. É fato conhecido que inúmeras e violentas guerras entre estas tribos foram travadas e a ação pacificadora da Igreja foi fundamental para que a paz fosse estabelecida entre esses povos.

Outra coisa que é importante lembrar é que todos esses povos eram nômades, isto é, viviam em acampamentos temporários, consumindo os recursos de uma determinada região e quando estes se esgotavam, dirigiam-se para outro lugar, o que gerava conflitos com possíveis grupos que por acaso já estivesses na região. Não havia cultura entre esses povos. Arte e ciências eram extremamente escassas, assim como tratamentos de saúde, educação, e serviços básicos que os romanos já a muito gozavam.

Neste cenário, o conhecimento arreigado pela Igreja de agricultura, letras, ciências e medicina propiciaram que esses povos se fixassem em um local (sedentarismo), extinguindo a necessidade de deslocamentos e guerras por territórios provisórios.

Já no século III, um movimento maravilhoso surgiu no seio da igreja. O monaquismo (vida em regime monastico, ou seja, como um monge). Porem foi no século IV e V que o movimento se expandiu com força extraordinária, muito em função de um gigante da Igreja e com certeza uma das pessoas mais influentes e importantes da história humana. Este homem foi São Bento (480-547) que com sua humildade, cultura extraordinária e sua Regra propiciaram a crianção de um método simples e muito efetivo de evangelização e educação dos povos bárbaros, unindo-os pela fé no Cristo e na Santa Igreja.

Foram os Beneditinos (Monges Seguidores da regra de São Bento) que literalmente colonizaram a Europa, aplacando conflitos e divergencias sociais.

Em nossos dias, podemos ver que diversas cidades européias tem seu marco zero um mosteiro, uma paróquia ou uma catedral (Pariz – Notre-Dame; Londres –Canterbury; Cassino – Abadia Monta Cassino, dentre outras) . Isto acontecia pelo fato desses monastérios possuirem escolas, hospitais, artes e catequese acessíveis a todos os níveis sociais.

Os monges ensinaram os bárbaros o cultivo da terra, leitura, escrita, artes, mossonaria (arte de construir com blocos de pedra, tijolos e alvenaria), ciência naturais e exatas (engenharia, geometria e matemática).

Não é dificil assim vermos que toda sociedade a partir da alta idade média (476-1000 DC) foi construída sobre as bases fundamentais do cristianismo católico e sem ele, a sociedade bárbara iria se auto-destruir por seus métodos violentos e desumanos.

É importante ver que muitos destes resquicios, apensar dos grandes esforços da Igreja, continuaram por muitos e muitos séculos subsequentes, impelindo a Igreja a combater tais costumes de maneira veemente e incansável.

Ficamos por aqui. Espero que este artigo seja de muita utilidade para você amigo leitor intender a importância da Santa Igreja de Cristo para a história do mundo ocidental e os motivos pelo qual o Estado e a Igreja eram tão interligados. Afinal, sem a universalidade(catolicismo) da igreja, provavelmente o mundo seria bem diferente do que conhecemos hoje.

No próximo artigo, abordaremos o comportamento social, politico e judicial na Idade Média. Iremos abordar a mentalidade popular deste período, costume e ver descobrir por quê alguns métodos jurídicos e penais atribuídas de maneira erronea a Igreja na Inquisição eram na verdade costumes bárbaros cuja Igreja era veemente contrária e feroz combatente, ao ponto de excomungar reis e membros do alto escalão da nobresa da época.

Um abraço a todos e até o próximo artigo. Que o amor do Pai, a comunhão do Filho e a fortaleza do Espirito Santo estejam com todos vocês!!!

Fonte: www.veritatis.com.br

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Forma e peculiaridade da literatura de Israel

O Antigo Testamento é parte integrante de nossa Bíblia cristã. Justamente nos últimos anos ressurgiu mais e mais do esquecimento e tornou a assumir seu lugar incontestado na pregação.

É, todavia, sempre um segmento reduzido do grande todo do Antigo Testamento que se nos apresenta. E quem procura penetrar mais fundo neste livro e lê, inclusive, trechos maiores do Antigo Testamento, deparar-se-á constantemente com dificuldades. Essas são, muitas vezes, de caráter externo. Simplesmente não compreendemos muitas coisas, esbarramos em contradições ou em fatos que nós cristãos achamos estranhos.

Temos, p. ex., logo no início da Bíblia, dois relatos distintos sobre a criação. O leitor imparcial imediatamente notará que um não é mero complemento do outro; pelo contrário, os relatos apresentam duas exposições bem diferentes do processo da criação do mundo. O primeiro relato é bem sistemático na seqüência das obras dos sete dias. (Compreende o trecho de Gn 1.1 até a primeira frase de Gn 2.4, que forma o epílogo.) De acordo com este relato, tudo se originou aos poucos do nada caótico, mediante a vontade criativa e ordenadora de Deus Criador, a começar pelos elementos inânimes, passando pelo reino vegetal e animal até o ser humano. Conforme esse relato, Deus cria apenas através de sua palavra eficaz.

Bem diferente é o segundo relato. (Começa em Gn 2.4b: “Quando o Senhor Deus fez o céu e terra...”.) Aqui o estado caótico primitivo não é a água, mas a seca. No princípio da criação está o ser humano. Em seu redor são criados, então, o reino vegetal e o reino animal. Esse relato é bem mais ingênuo e plástico, representando, p. ex., a atividade criadora de Deus como a do oleiro que forma um vaso de barro. E em todo este conjunto é visado, exclusivamente, o espaço vital imediato do ser humano.

É evidente que aqui foram colocados lado a lado dois relatos de criação distintos que originalmente eram independentes. Originaram-se em tempos e de autores diferentes, que, com respeito à criação, foram movidos por interesses bem diferentes.

Já este exemplo nos pode mostrar que no caso do Antigo Testamento temos diante de nós um livro que cresceu paulatinamente. Em sua forma atual constitui o resultado de uma longa história. Foi chamado, certa vez, de “o livro que cresceu durante mil anos”. Nele encontramos reunidos os testemunhos de fé do povo de Israel, procedentes de muitos séculos.

Em cada geração se levantavam de forma nova as perguntas que resultavam da fé de Israel em um só Deus e seu agir na história com seu povo. E cada geração tinha que dar as suas próprias respostas. Tudo isso se documentou, nas mais diversas formas, nos textos agora reunidos no Antigo Testamento.

No início deste processo de crescimento está a palavra falada e transmitida oralmente. As histórias vivas e coloridas sobre os patriarcas, p. ex., foram, com certeza, contadas e recontadas através de muitas gerações antes de serem fixadas por escrito. Neste transcurso, naturalmente, também alteraram, amiúde, sua forma, assumindo novos traços característicos enquanto que outros perderam sua importância para uma geração nova. Ou ainda, vejamos as palavras dos profetas: foram pronunciadas em uma determinada situação histórica e depois transmitidas, também, oralmente antes de alcançarem sua forma literária final.

Algo semelhante também sucedeu com os textos restantes do Antigo Testamento. Somente aos poucos formaram-se coleções menores ou maiores de textos congêneres ou da mesma origem. O resultado final desta história movimentada são os diversos “livros” do Antigo Testamento, na forma como atualmente os encontramos na Bíblia.

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A história do Antigo Testamento se estende desde a imigração dos israelitas na Palestina, no século XIII a.C., até os últimos séculos antes da era cristã.

Os textos mais antigos são, com freqüência, cânticos ou ditos que facilmente se gravaram na memória e que, por isso, se conservaram por muito tempo. Um exemplo é a “canção de vitória” de Miriam, em Êx 15.21, que canta a destruição dos egípcios no mar. Outro é a canção de Lameque, em Gn 4.23-24, uma “fanfarronada” que fala de cruel vingança de morte; ou, então, a “canção do poceiro” em Nm 21.17-18, que se deve imaginar cantada durante a cavação de um poço. Mas também canções mais extensas, como p. ex., a magnífica canção de Débora em Jz 5, provêm de tempos muito mais remotos.

Tradições muito antigas estão conservadas também sob a forma de provérbios populares, como ocorre em toda parte do mundo. Citam-se tais provérbios explicitamente diversas vezes (p. ex. 1Sm 24.14; Ez 16.44), e ainda em muitas outras passagens podem ser descobertos durante a leitura. Os provérbios foram especialmente cultivados no Antigo Israel, quando, após a faina diária, as pessoas se reuniam junto ao portão. Os provérbios alcançavam forma artística na corte real, conforme relatam notícias do tempo de Salomão (1 Rs 5.11-12).

Já em tempos antigos passou-se a colecionar estes provérbios e cânticos. Prova disso são algumas passagens em que se citam tais coleções, das quais, porém, nada mais sabemos. Assim é mencionado, em Js 10.13 e 2Sm 1.18, o “livro do valente”, e em Nm 21.14, o “livro das guerras de Javé”.

Porém, desde os tempos mais antigos, circulavam também contos. Exatamente como em outros povos, trata-se, sobretudo, de “sagas” (lendas) que falam dos acontecimentos e vultos da história primitiva de Israel. O termo “saga” expressa que esta não é motivada por interesse histórico, querendo fixar exatamente a seqüência dos eventos. A saga apresenta em cores vivas o que é o característico da época e dos respectivos personagens, conforme se conservou vivo na consciência do povo. Por isso, as sagas são mais do que simples contos de eventos passados. Nelas o passado está presente como parte integrante da própria história daqueles que as narram e ouvem. Reconhecem, naquilo que Abraão, Jacó e Moisés experimentaram, uma representação de suas próprias experiências que tiveram e ainda têm. Israel entende sua história sempre como a história com Deus. E como Ele agiu com os patriarcas, livro a geração posterior do Egito e a levou para a terra prometida, assim Deus está agindo com seus povo em todos os tempos. Deste modo, estas sagas representam, com toda a sua vivacidade narrativa, muitas vezes, uma profunda profissão de fé.

Uma historiografia propriamente dita existiu em Israel mais ou menos desde o tempo de Davi. Ocupa-se, principalmente, com acontecimentos políticos. Assim, acham-se descritos, no 1º livro de Samuel, a origem do reinado e a ascensão de Davi; no 2º livro de Samuel trata-se da consolidação e expansão do reino de Davi e das tramas em torno do problema da sucessão no seu trono. Os livros dos Reis apresentam, a seguir, o governo de Salomão como o último período glorioso do Reino Unido, bem como a divisão em um Reino do Norte e um Reino do Sul e a queda paulatina até o fim total da existência política independente do povo de Israel.

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As sagas do Antigo Testamento têm muitas vezes uma intenção explicativa específica. Fala-se, nesse caso, desagas etiológicas (do grego aitia, causa). Assim, p. ex., a narração da queda dos primeiros seres humanos quer explicar a origem dos distúrbios na vida humana. A sinistra inimizade mortal entre o ser humano e a serpente, os incômodos de maternidade da mulher, aliás, em tensão misteriosa com sua inclinação para o marido, e a fadiga do trabalho do ser humano são as conseqüências da primeira desobediência humana a Deus (Gn 3.14-19). A narrativa da construção da torre de Babel (Gn 11) responde à pergunta pelo motivo da divisão da humanidade em uma pluralidade de povos e línguas tão diferentes. Outras sagas etiológicas explicam a peculiaridade de tribos e povos, conhecidos de Israel por serem seus vizinhos. A posição subalterna dos aborígenes cananeus não expulsos pelos ismaelitas é explicada como conseqüência de uma falta grave do pai, Canaã (Gn 9.25). A natureza selvagem e agressiva dos beduínos ismaelitas é atribuída, na saga, ao comportamento rebelde de sua mãe, Hagar (Gn 16.12) etc.

Freqüentemente, essas sagas etiológicas também querem explicar determinados nomes. Para este fim, faz-se uso de trocadilhos de palavras hebraicas, dificilmente traduzíveis para o vernáculo. No nome Isaque, em hebraico, ressoa a palavra “rir” (Gn 21.6); o nome de Jacó se assemelha ao som das palavras “calcanhar” (Gn 25.26) e “enganar” (Gn 27.36); o nome Israel é interpretado como “o que luta com Deus” (Gn 32.29[28]). Tais etiologias encontram-se a cada passo e mostram a intenção destas sagas de interpretar e compreender seu passado.

Uma forma especial de saga etiológica constituem os textos que tencionam justificar a santidade de um lugar. Assim exclama Jacó, após o sonho da escada ao céu: “Quão temível é este lugar! Aqui é a casa de Deus (Bet-El)!”, e erige lá um santuário (Gn 28.17ss). Por causa desta aparição da divindade em sonho, portanto, o lugar é sagrado. Algo semelhante ocorre com os santuários de Manre, onde três homens aparecem a Abraão (Gn 18), e de Peniel, onde Jacó teve que travar uma luta noturna (Gn 32.25ss).

Já em tempos mais remotos, “ciclos de sagas” formaram-se de várias sagas individuais que tratavam das mesmas pessoas. Assim, as ocorrências que sucederam entre Abraão e Ló foram contadas numa seqüência narrativa (Gn 13; 18-19); igualmente existia um ciclo de sagas de Jacó e Esaú (Gn 25.19ss; 27; 33), e outro de Jacó e Labão (Gn 29-31). Nestes dois últimos, pode-se ver nitidamente qual o processo que levou a estas coleções maiores. Os dois ciclos que tratam de Jacó foram estreitamente ligados entre si. Embora contivessem material muito heterogêneo, os narradores conseguiram plasmar uma imagem completa do personagem Jacó. Nisto se revela uma arte de contar mais desenvolvida. Sob aspectos literários, quase se poderia chamar este conjunto de “novela”. Ainda mais evoluída é a forma artística na história de José. Traço a traço é reconstituído o destino de José. Contudo, não se fala exclusivamente de José; entram em cena também diversos atores coadjuvantes. O resultado é uma contextura artística d vários fios magistralmente entrelaçados pelo narrador.

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Além de ditos, cânticos e sagas, foram transmitidas, desde os primórdios de Israel, também leis das mais diversas espécies. O seu conteúdo é muito abrangente: vai desde a exigência de adorar exclusivamente o Deus único até a regulamentação do dever de restituição em casos de danos causados por um animal; do mandamento do amor ao próximo até as prescrições exatas sobre o vestuário dos sacerdotes.

Mediante critérios externos e internos podem ser distinguidas, claramente, diversas classes de leis. Em primeiro lugar, há disposições que começam por “se” e expõem um “caso” com precisão (p. ex. Êx 21.18ss). Essas leis “casuísticas” tratam de casos litigiosos da vida diária e se destinam para o uso na comunidade judicial. Esta se reunia na praça junto ao portão sempre quando era preciso julgar um processo. Juízes profissionais não os havia, mas essa função era exercida pela totalidade dos cidadãos plenos, que também tinham direito a voz e voto. Ajuda importante neste julgamento representavam as sentenças casuísticas, que eram transmitidas de geração a geração. Um exemplo vivo de como funcionava a comunidade judicial encontramos no cap. 4 de Rute.

De natureza bem diferente são as sentenças que simplesmente expressam um mandamento ou uma proibição sem quaisquer condições ou restrições: “tu farás” ou “não farás” (p. ex. Êx 20.2ss). Este direito “apodítico” tem sua origem na esfera do culto. Era recitado de forma solene no culto, provavelmente por ocasião de uma festa que lembrava a renovação da Aliança entre Deus e o povo, estabelecida no monte Sinai. E nesta ocasião eram recitadas as leis apodíticas – especialmente o “Decálogo” – como sendo manifestação da vontade divina que estabelece esta Aliança.

O “direito casuístico” é congênere, segundo sua forma e seu conteúdo, ao direito usado em todo o Antigo Oriente; o paralelo mais interessante, com correspondências parcialmente literais, oferece o Código babilônico de Hamurábi (por volta de 1700 a.C.).

O “direito apodítico”, por outro lado, é genuinamente israelita; é compreensível somente a partir da peculiaridade da fé veterotestamentária e pertence a seus elementos mais antigos. Ambos os gêneros legais se fundem no Antigo Testamento.

 Outra espécie de norma legal ocupa-se com questões que afetam o culto. Assim, p. ex., são descritos minuciosamente os rituais que fazem parte do ato de sacrifício (Lv 1-5), são compilados, para uso por parte do sacerdote, detalhes técnicos sobre como oferecer o sacrifício (Lv 6-7), ou sobre pureza e impureza ritual ( Lv 11-15). Estes textos formam a base da instrução sacerdotal dos leigos sobre assuntos cultuais. Em geral, porém, provêm de épocas mais recentes do que as leis casuísticas e apodíticas.

No Antigo Testamento, as diversas leis foram conservadas em uma série de coleções. A mais antiga é o “Código da Aliança” (Êx 20.22-23.19). Reúne em si leis apodíticas e casuísticas. O Deuteronômio contém, igualmente, muitas leis antigas nos caps. 12-26, que foram entremeadas e ampliadas por frases explicativas e exortativas: aqui a lei é pregada! Uma coleção semelhante, todavia com determinações preponderantemente cúlticas, encontramos também na “Lei de Santidade” (Lv 17-26). Sua exigência básica está resumida na sentença: “Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (19.2). Finalmente, os caps. 1-16 de Levítico reúnem diversas coleções menores com disposições rituais.


Fonte: A formação do Antigo Testamento, ROLF RENDTORFF

domingo, 5 de dezembro de 2010

Afinal, qual a lógica da ressurreição?

Não pretendo tratar aqui a questão de como a ressurreição é possível e vai ser feita, já que se Deus existe e possui as características que a Teologia Cristã atribui, então não é impossível que ela ocorra. Algumas pessoas acham possível para Deus criar o mundo ex nihilo, espíritos com capacidades impressionantes e a possibilidade de reencarnações sucessivas de seres humanos, mas não a de uma “simples” ressurreição.

Parecem crer num Deus que possui a habilidade de criar a vida do nada, mas não consegue fazer com que essa vida que havia criado da matéria inanimada se torne animada mais uma vez.

É claro que na ressurreição o que ressurge nem sempre se refere ao material exato que a pessoa possuía ao morrer, e sim a forma que o faz [alguém], um “eu” diferente dos outros e com suas características pessoais, o que só é problema para seres limitados e não a um Ser do qual nada maior se pode imaginar. Nós, por exemplo, constantemente somos regenerados com um novo material quando possuímos algum ferimento.

Também não penso ser importante o que alguns citam como motivo para desacreditar na ressurreição questões como a idade das pessoas ressurretas. Isso, na minha sincera opinião, não passa de desculpas esfarrapadas pra quem quer arrumar um motivo pra dizer que possui algum porquê de não crer na ressurreição.

A questão principal não é essa. Se Deus prometeu ressuscitar os seres humanos, e prometeu que o que há de vir será muito bom, Ele sabe mais do que nós mesmos o que vai ser melhor (afinal, é o nosso Projetista), inclusive a idade, que não importa sabermos pra poder ver sentido.

As questões que realmente importam, e ultimamente tenho visto, são um pouco diferentes dessas primeiras (e bem mais importantes), e devem ser respondidas pressupondo que Jesus teria ressuscitado. Melhor, para um sentido completo, deve-se levar em consideração toda a história da salvação registrada nas escrituras. Não crer, apenas pressupor.

Mas afinal, qual é a lógica, ou melhor, o sentido da ressurreição? Além do sentido da nossa ressurreição futura, qual é o sentido da ressurreição de Jesus além da repetida conseqüência expiatória? Teria alguma importância para sua mensagem se Ele (Jesus) ressuscitou de fato ou não? O que é que os cristãos primitivos ensinavam? E o que o real significado da ressurreição de Jesus implica para nossas vidas e para o mundo?

Segundo os primeiros cristãos, o mundo havia decaído e estava corrompido. O mundo precisava de restauração e Deus prometeu restaurá-lo. De tempos em tempos surgia um sinal Divino dessa intervenção, seja pela mensagem dos profetas, ou por acontecimentos ligados a Israel que não estavam ligados necessariamente a essas mensagens proféticas. Nessa história, surge a esperança da ressurreição final dos mortos, onde Deus julgará cada pessoa e restaurará a natureza.

Antes da ressurreição de Jesus todos os seus discípulos, assim como os outros judeus, acreditavam que essa restauração se daria nesse dia da ressurreição final quando Deus irá restaurar o que criou.

Esse é o primeiro ponto sobre o sentido da ressurreição. Para Deus, o mundo em si não é ruim, e Ele não deixará sua criação à toa, pelo contrário, irá restaurá-la assim como ela estava no momento em que viu que era boa. Seria a Nova Criação de Deus, mas vamos tratar disso melhor adiante.

Diferente da expectativa dos judeus (incluindo seus discípulos), Jesus ressuscitou após a sua morte. Além do significado referente à morte expiatória, explicada pelo próprio Senhor depois de ressurreto, houve outro entendimento dos cristãos (passado por Ele ou pelo Espírito Santo) das conseqüências da ressurreição o Mestre. Esse entendimento foi sobre a antecipação em Jesus do que acontecerá com o mundo.

Se a Nova Criação de Deus começa na ressurreição e Jesus ressuscitou, então a Nova Criação de Deus já começou. Mas se todos os mortos ainda não ressurgiram isso significa que Ele é a finalidade, o futuro da humanidade apresentada no presente de modo que o presente possa ser transformado à luz desse futuro glorioso começado por Jesus Cristo.  Não só o futuro da humanidade, mas de toda a criação a ser restaurada (ou feita viva novamente), e a garantia disso tudo é esse futuro que já começou com Jesus ressuscitado.

Isso claramente cria uma responsabilidade que os cristãos têm negligenciado, principalmente por acreditarem em conceitos sobre o fim do mundo, “ir para o céu” (acredito em um estado intermediário, mas não como finalidade do homem) e esperar a volta de Jesus. Como N. T. Wright disse “Se Deus queria que o mundo acabasse e o Armagedom estava às portas, por que se preocupar com o fato de grandes empresas, como a General Motors, continuarem a lançar gases venenosos na atmosfera canadense? [...] Se a intenção de Deus é conduzir o mundo a sua destruição total, qual é o problema? Se o Armagedon está às portas, não faz diferença o (e suspeito que isso realmente faça parte da agenda) o fato de a General Motors lançar gases venenosos na atmosfera canadense”. [Surpreendido pela esperança, p 135 e 136]

Transformar o mundo presente à luz do futuro é feito cumprindo a mensagem de Jesus. Amar a Deus acima de todas as coisas, ao próximo como a si mesmo resume todo esse ensino. Amando a Deus conseqüentemente implica em amar o próximo, mas não só ele, e sim a sua criação. Assim, possuímos plena responsabilidade não só com as pessoas, mas com a natureza, e isso acaba com a acusação de que a crença cristã (principalmente na volta de Jesus) nos livra dessa responsabilidade, quando na verdade é o contrário.

É bom lembrar que esse Reino pregado por Jesus Cristo foi também ensinado como parábolas, como uma planta que sua semente é pequena, mas que cresce até dar frutos. Ou como uma farinha fermentada, e, talvez um dos exemplos mais esclarecedores, a Parábola do Joio e do Trigo.

Isso explica perfeitamente que, apesar das aparências, o Reino está a se manifestar e se manifestará completamente, assim como a semente pequena que dá uma grande árvore. Entretanto, enquanto não é manifesto totalmente, há joios no meio do trigo, o que faz algumas pessoas pensarem que Jesus não está a reinar.

É óbvio que os cristãos têm sido um tanto desastrosos, mas isso além de ser previsto, mostra mais uma vez que a “porta é estreita” e não serão muitos os que entrarão por essa porta.

É claro, também, que não estou a falar da salvação por obras, nem que somos salvos por agir dessa forma. Estou me referindo às conseqüências da ressurreição de Jesus para a humanidade e o cosmos, qual seu sentido, e como Deus, segundo a Teologia Cristã, não abandonará o mundo, ao contrário de outros tipos de pensamentos, onde esse mundo é mau em si (ou, em alguns casos, irrelevante, sem importância) e que seremos libertos quando sairmos desse corpo para algo melhor. Os discípulos de Jesus ensinaram também de algo melhor, mas esse algo melhor que faz parte da esperança primitiva é a restauração do mundo, “o Novo Céu e Nova Terra”, o cumprimento da promessa de que Deus não abandonaria o mundo, pois criou e viu que era bom.

Isso também me faz pensar na questão de Jesus como o Messias. Os primeiros cristãos não pareciam pensar que “Jesus ressuscitou, portanto é o messias”, mas que Ele é o Messias, cumpriu algumas profecias, ressuscitou para cumprir outros propósitos de Deus (alguns já foram mencionados) além das outras profecias que cumprirá nesse futuro que já pode ser experimentado de alguma forma no presente.

O significado da ressurreição não é apenas o que coloquei aqui, mas esse é um dos que considero como mais negligenciados. As Escrituras, assim como a Tradição Cristã, mostram seus outros significados e implicações para o Cristão e o Cosmos. Resta a quem desejar conhecer a mensagem cristã (principalmente o que faz parte da crença cristã primitiva) buscar entender melhor esse assunto. Acho interessante o que N. T. Wright mostra sobre essa visão, inclusive no livro “Surpreendido pela Esperança” (que tirei várias idéias para escrever esse texto).

Então, está aí uma pequena explicação, e uma boa dica de leitura.

Autor: Jonadabe Rios

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Palavra de Deus encarnada

José Antonio Pagola


Assim é chamado Jesus numa espécie de "prólogo" com o qual inicia o evangelho de João. Depois a expressão desaparece inclusive neste mesmo evangelho. Ninguém volta a falar assim nas primeiras gerações cristãs. No entanto, esta expressão servirá mais tarde para aprofundar a partir da fé cristã, o próprio núcleo do mistério encerrado em Jesus.

Na terminologia deste prólogo está ressoando a categoria grega de Logos, a fé judaica na "Palavra" de Deus e a meditação sapiencial sobre a "Sabedoria". Como se sabe, na cultura grega sente-se a realidade como impregnada de racionalidade e sentido; a realidade não é algo caótico e incoerente; nela há Logos; as coisas têm sua "lógica" interna. Por outro lado, de acordo com a fé judaica, Deus não tem imagem visível, não pode ser pintado nem esculpido; mas tem voz; com a força de sua "Palavra" cria o universo e salva seu povo. Por isso, segundo a tradição sapiencial de Israel, o mundo e a história humana não constituem uma realidade absurda, porque tudo é sustentado e dirigido pela "Sabedoria" de Deus.

Este precioso hino joânico realça sobretudo a fé judaica. A Palavra está já "no princípio" de tudo. Não devemos entender esta Palavra como algo criado. Esta Palavra é o próprio Deus falando, comunicando-se, revelando-se na criação e na história apaixonante da humanidade. Tudo é criado e dirigido por essa Palavra. Por toda parte podemos intuir suas pegadas. Nessa Palavra está a "vida" e a "luz verdadeira" que ilumina toda pessoa que vem a este mundo. No mundo há também trevas, mas "a luz brilha nas trevas".

Tudo isto é crido pelos judeus e pode ser aceito por muitas pessoas de cultura grega. O insólito é a audaz proclamação que vem em seguida: "A Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós". Agora podemos captar a Palavra de Deus feita carne neste profeta da Galiléia chamado Jesus. Não é fácil. De fato, ele veio ao mundo e o mundo não o reconheceu; nem sequer os seus o receberam. Mas em Jesus Cristo nos está sendo oferecida a "graça" e a "verdade". Ninguém pode nos falar como ele. Deus assumiu carne em Jesus. Em suas palavras, seus gestos e em sua vida inteira estamos nos encontrando com Deus. Deus é assim, como diz Jesus; olha as pessoas como Jesus as olha; acolhe, defende, ama, perdoa como Jesus o faz. Deus se parece com Jesus. E não é só isso. Jesus é Deus falando-nos a partir da vida frágil e vulnerável deste ser humano.