terça-feira, 29 de junho de 2010

Dinheiro de sangue.



Enquanto isso a RECORD apioa o "direito" da mulher de matar bebês tratando-os como mero objetos de "direito e escolha" das mulheres da mesma forma que direito a voto, por exemplo, com a descaração de chamar isso de "decidir o que fazer com seu corpo". Aborto é mais do que decidir o que fazer com o corpo (como engordar, emagrecer, etc.), é decidir tirar a vida de um ser humano.

E ainda seu lider tem a cara de pau de dizer que é do "Reino de Deus". Tá mais pra o reino de mamom e moloque!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Filho do Hamas

O testemunho impressionante de Musab Hassan Youssef, filho do xeque Hassan Youssef, um dos fundadores do Hamas. Musab hoje é cristão.



História dos escritos neotestamentarios - Final

 Parte 1, 2, 3.



Como vimos, os cristãos sempre deram importância aos textos escritos pelos apóstolos, tanto que liam várias vezes em suas comunidades, e utilizavam essas escrituras para aprender, ensinar e preservar sua tradição.

Ao contrário do que muita gente pensa, o Canon não foi escolhido arbitrariamente. Na verdade, “escolhido” não é o melhor termo que se pode dar, porque os textos foram considerados inspirados desde o inicio, e os apócrifos descartavam a si mesmos, pois não mostravam a mesma autoridade dos que hoje são canônicos.

É verdade que nem todos os textos do Novo Testamento foram aceitos de primeira pela comunidade cristã, mas quero destacar o seguinte: todos os escritos do Novo Testamento que temos hoje eram lidos nas comunidades cristãs, os que são considerados apócrifos são os que eram lidos em casa, ou em outro local, não nas igrejas (Apócrifo significa oculto, não porque eram escondidos, mas porque não eram lidos publicamente). Por isso eles excluíam a si mesmos e não foram canonizados.

Textos esses, que continham muitas vezes ensinamentos heréticos, que se distanciavam muito do que os apóstolos pregavam. Isso pode ser visto quando Paulo adverte os cristãos de Tessalonica contra falsos ensinos (“Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto.” 2Ts 2:2).

Esse testemunho da tradição é incrível, pois, diferente do que várias pessoas afirmam hoje em dia, os livros não foram escolhidos por Papas ou em algum concílio. Eles foram confirmados em certos concílios, isso é verdade, mas só fizeram reafirmar uma tradição cristã que já existia. Ou seja, eles só declararam em concílio o que já era declarado nas comunidades cristãs. David E. Payne, comenta que

O cânon muratório dá testemunho desses dois interesses; procedente de Roma perto do final do século II, ele apresenta uma lista de livros do NT e relata algumas coisas acerca da sua origem e autenticidade. [...] Quase na mesma época, data o testemunho de Ireneu. As suas opiniões são especialmente interessantes, pois era muito viajado e estava familiarizado com os pontos de vista de lideres eclesiásticos de mais de uma região. [...] Da primeira parte do século II, vem o testemunho de Tertuliano (de Cartago e Roma) e de Orígenes (de Alexandria e Cesaréia). [...] O bispo de Alexandria, Atanásio, numa carta que anunciava a data da Páscoa, apresentou uma lista dos exatos 27 livros com os quais estamos famiarizados. Trinta anos mais tarde, o Sínodo de Cartago ratificava essa lista. (Comentário bíblico NVI, p. 1397)

Marcião foi conhecido por considerar inspirados uma lista de escritos de Paulo e o Evangelho de Lucas. Ele descartava qualquer tipo de influencia judaica, pois considerava o Deus do Antigo Testamento diferente e menor do Deus apresentado por Jesus, além de dizer que os outros apóstolos eram falsos apóstolos, pois, segundo ele, eram judaizantes. Percebendo o perigo dessas doutrinas, os lideres ortodoxos perceberam a importância de garantir que as palavras inspiradas aos apóstolos fossem tratadas com o devido cuidado, para não excluir, assim como fez Marcião, o que os demais cristãos consideravam palavras dotadas de autoridade apostólica.
Sobre os quatro evangelhos, F. F. Bruce comenta:

Os evangelhos de Marcos, Mateus e João parecem ter sido identificados inicialmente com três centros primitivos do testemunho cristão – Roma, Antioquia e Éfeso. A obra dupla de Lucas não foi escrita originariamente para o uso na igreja, mas como obra de apologética para os membros mais imparciais da classe média e oficial de Roma. Mas logo depois da publicação do Quarto Evangelho, os quatro evangelhos canônicos começaram a circular como uma coleção e continuaram assim desde então. [...] Tanto autores católicos quanto gnósticos mostram não somente familiaridade com o evangelho quádruplo, como também reconhecimento de sua autoridade. O Evangelho da verdade valentiniano (c. 140 – 150 d.C.), trazido à luz recentemente entre os escritos gnósticos de Chenoboskion no Egito, não pretendia suplantar os quatro canônicos, cuja autoridade ele pressupõe; é antes uma série de meditações acerca do “verdadeiro evangelho” que está conservado nos quatro (e em outros livros do NT). – (Comentário Bíblico NVI, p. 1496 e 1497, Editora Vida)

Na verdade, o conceito de “evangelhos” não era ensinado no primeiro século. Os cristãos apenas falavam de “evangelho”, e este era relatado por testemunhas oculares diferentes que meditaram nas palavras de Jesus e resolveram relata-las. Não posso deixar de destacar uma coisa no comentário de F. F. Bruce: não só a Igreja Católica reconhecia a autoridade dos quatro evangelhos, muitas vezes os evangelhos apócrifos e seitas gnósticas, como vimos no Maniqueísmo, reconheciam a autoridade desses escritos.

Alguns argumentam que o Canon bíblico foi definido pela igreja para poder dar suporte às suas doutrinas, e, assim, dominar a população. Isso não faz sentido por alguns motivos.

Primeiro, porque uns dos critérios para decidir quais livros eram inspirados foi a universalidade deles. Ou seja, os livros que eram lidos nas igrejas de forma universal, e aceitos pela maioria, se não todos, dos cristãos, como vimos anteriormente. Segundo, porque parte dos mesmos ensinamentos da tradição católica é relatada nos livros apócrifos, por isso, o argumento não sustenta a si mesmo se avaliarmos a fundo quais seriam os ensinamentos que a igreja católica queria impor. A assunção de Maria e a tradição de que José, esposo de Maria, era viúvo e tinha outros filhos são registrados em livros apócrifos, e seria de grande valia colocar como canônicos pra sustentar a virgindade perpétua de Maria, que até hoje causa controvérsias, tanto que nem todos os católicos dão tanta credibilidade a esses ensinamentos. Ao contrario dos apócrifos, os livros canônicos não citam, ou apenas fazem uma alusão indireta, o que a tradição católica tem como verdade. A mesma coisa se pode dizer pela questão política, pois os escritos canônicos ensinam que devemos honrar mais a Deus e seu reino do que aos homens e seu reino corruptível. Outro exemplo é o evangelho de Bartolomeu, quem em uma oração, é feita uma referencia à “Trindade consubstancial”. (Os evangelhos perdidos, darrell l bock, p. 110)

Entretanto, esse procedimento era feito em outras seitas e/ou religiões para apoiar suas idéias, como Santo Agostinho relata nas confissões:

Já me tinham começado a mover, em Cartago, os discursos de um certo Elpidio, que falava na presença dos maniqueístas e disputava contra eles, propondo passagens da Sagrada Escritura a que eu não podia facilmente resistir. A resposta deles parecia-me fraca. Mesmo assim, não a expunham em público, mas em segredo, afirmando que a Sagrada Escritura tinha sido falsificada no Novo Testamento por certas pessoas que quiseram inserir a lei dos judeus na fé cristã. E contudo eles não alegavam nenhum exemplar que não fosse apócrifo! (Confissões, Santo Agostinho, p. 111,Editora Universitaria São Francisco, 2006)

O que se pode ver é que, na falta de argumentos utilizando os escritos universalmente aceitos, apelavam para (1) a afirmação de que os textos das escrituras foram adulterados para “inserir a lei dos judeus na fé cristã”, (2) apelavam para a utilização de um livro apócrifo, que eram cheios de histórias fantasiosas (e é bom lembrar do significado de “apócrifo” visto anteriormente), em respostas também apócrifas, ou seja, escondidas. Talvez não tivessem coragem de responder publicamente.

Segundo o maniqueísmo, havia uma luta eterna entre o bem e o mal. A tarefa do ser humano é libertar o bem dentro de si do mal seguindo os preceitos maniqueístas. Também ensinavam que Jesus não tinha um corpo material, além de não ter morrido. Ensinamento parecido com os ensinamentos gnósticos. Santo Agostinho dizia que as os maniqueístas afirmavam que as nossas atitudes são conseqüências da luta entre o bem e o mal para tirar a responsabilidade dos nossos atos. Como esses ensinamentos não tinham base bíblica, precisavam apelar a outros escritos.

Além do maniqueísmo, pode-se citar outros tipos de gnosticismo, também o ebionismo e o marcionismo. Movimentos esses que, ora excluíam alguns livros ora utilizavam os apócrifos para apoiar suas crenças. Muitos destes eram escritos especialmente para isso, colocando nomes de apóstolos para garantir que tenham algum tipo de autoridade. Marcião (fundador do marcionismo) chegou a retirar trechos do Evangelho de Lucas (o único que considerava inspirado) para apoiar suas idéias anti-judaicas.

Por isso o argumento que em um momento supostamente mostrava que a Igreja Católica escolheu os livros por interesse, com uma analise detalhada no próprio argumento, o que se mostra é o contrário, que, mesmo com doutrinas apoiadas pelos apócrifos, a igreja não definiu o Canon com o interesse de apoiar suas tradições orais.

Para concluir, quero colocar um trecho do livro de Bengt Hagglund, onde ele confirma a tradição dos Pais Apostólicos em relação aos textos do Novo Testamento, principalmente em comparação com os escritos sagrados dos judeus:

Os Pais Apostólicos também testificam em termos insofismáveis que os quatro evangelhos e os escritos dos apóstolos estavam começando a ser reconhecidos como Escritura Sagrada com a mesma autoridade do Antigo Testamento, mesmo que o Novo Testamento ainda não tivesse alcançado sua forma final em sua época. Quase todos os livros que chegaram a ser incluídos no Novo Testamento são citados ou referidos nos Pais Apostólicos. A tradição oral que se originara com os apóstolos também era considerada como tendo autoridade decisiva para a fé e praxe congregacionais

Sem a tradição cristã não haveria o que chamamos hoje de livros inspirados por Deus, e é provável que estes livros não existissem. Tal importância nenhum cristão pode negar, a não ser que tenha objeções emocionais e não racionais à Igreja Católica.

Com o objetivo de preservar a tradição oral dos ensinamentos de Jesus, alguns apóstolos ou seus discípulos, que muitas vezes eram testemunhas oculares ou conheciam estas testemunhas, escreveram o que chamamos de Novo Testamento. E com o objetivo de preservar os escritos apostólicos e sua doutrina dos ensinamentos que não provinham de Jesus, os primeiros cristãos colocaram um “limite” do que era inspirado ou não. Limite do que era ensinamento de Jesus e o que provavelmente, ou com total certeza, não era.

Quero destacar que hoje, com os apócrifos, podemos saber como eram os movimentos cristãos e gnósticos nos primeiros séculos d.C. Por isso, mesmo não considerando inspirados e autênticos, é importante estudar tais textos. Principalmente porque grande parte das heresias atuais não passam de cópias das heresias primitivas. E a atitude que todo cristão sincero deve tomar diante destes ensinamentos contrários aos de Jesus é a preservação da sã doutrina. E pouca coisa mudou em relação a isso. Como religiões que aceitam os escritos neotestamentários, no entanto, para poder dar apoio de suas doutrinas, fazem uso de textos e livros que não foram escritos pelos apóstolos, porém considerada com mesma autoridade, mesmo com ensinamentos contraditórios.

Isso acontece muitas vezes porque as pessoas não querem acreditar no que as evidencias apontam, mas no que a sua vontade se inclina. Para muitos, é melhor acreditar que somos salvos por nossas próprias obras do que por meio da obra redentora e do poder de Jesus Cristo, Deus-homem.

A igreja nos dias de hoje ainda tem o papel de preservar a palavra escrita e inspirada. Com conflitos doutrinários parecidos com os primeiros, os cristãos atuais estão exercendo papeis parecidos com os antigos preservadores dos escritos cristãos e que reconheceram a sua autoridade apostólica.

Alguns dizem que “a história é contada pelos vencedores”, alegando que dessa forma os “vencedores” contaram apenas a sua versão da história, pensado que assim podem invalidar todo o esforço da tradição para escrita e preservação do Novo Testamento, ou que, de alguma forma, a história foi mal contada.

Isso muitas vezes é verdade, no entanto agora sabemos que não era só a tradição católica que atestava a autenticidade e autoridade inspirada dos textos do Novo Testamento. Vários movimentos e manuscritos gnósticos pressupunham isso. E mesmo que nenhum movimento diferente da Igreja Católica os reconhecesse, o fato dos vencedores contarem a história não significa necessariamente que eles manipularam-na. Com critérios históricos podemos saber de grande parte dos acontecimentos.

Sobre esse assunto, é bom lembrar que os textos mais antigos sobre o cristianismo são os que estão contidos no Novo Testamento. E os cristãos primitivos os aceitavam porque, pela tradição, continham autoridade apostólica, e não porque tinha nome de apostolos ou seus discipulos, como alguns dizem. Outra cosia a se lembrar é que até mesmo evangelhos e escritos que não eram tradicionais, ou seja, que vieram da tradição apostólica, aceitavam a autoridade de vários textos do Nnovo Testamento.

Darrel L. Bock, em um estudo sobre os cristianismo primitivo comenta sobre algumas das possibilidades que existem diante das evidências históricas que possuímos. Entre elas existe a de que a diversidade existiu, no entanto não possuímos provas reais de como era (ou seja, quem diz isso afirma por opinião pessoal, preconceito ou vontade de crer nisso, e não por evidencias históricas); ou então que os textos (que são bem posteriores aos textos primitivos) que possuímos vieram de realidades anteriores, a outra alternativa, e a que faz mais sentido diante das evidências é a seguinte:

Não temos evidências da diversidade primitiva porque a fé primitiva na verdade não era tão diversificada. A maioria dos oponentes nas obras primitivas nada mais eram que pequenos pontos na tela. Eles não tinham qualquer poder duradouro, nem existiam em um número suficiente para que pudessem durar. Eles se esvaíram, sem jamais terem se estabelecido como alternativas críveis. Se fosse esse o caso, teríamos no século II uma repentina profusão de textos alternativos, que é o período em que os primeiros começaram a aparecer. Assim, realmente se confirma a idéia há muito sustentada de que a tradição veio primeiro e a visão alternativa veio depois. (Os evangelhos perdidos, 244)

No entanto, mesmo que a segunda opção seja verdadeira, devemos lembrar que os textos do Novo Testamento datam no primeiro século, enquanto os textos alternativos datam, no mínimo, no inicio do segundo século. Ou seja, os textos do Novo Testamento fazem parte da tradição ligada a Jesus e os apóstolos, diferente dos textos alternativos. Darrel conclui dizendo que:

A ortodoxia não é um produto de teólogos do século II. Aqueles teólogos certamente desenvolveram e aprimoraram o ensinamento tradicional, acrescentando carne a ossos e estrutura a idéias básicas. Contudo, o cerne das idéias com as quais trabalhavam e que refletiam em suas confissões está presente nas obras mais antigas da fé. Essas obras abraçam o que os apóstolos passaram adiante. As obras que encontramos no Novo Testamento também testificam dessa fé. É por isso que elas foram reconhecidas como fontes especiais desse ensinamento, sendo vistas até mesmo como inspiradas por Deus. (Ibid. 253)

Alguns podem se perguntar sobre os textos do Antigo Testamento considerados apócrifos pelos protestantes e canônicos por outros segmentos cristãos. Este é um assunto que não será tratado nesse livro da mesma forma que o Canon do Novo Testamento.

O que se pode observar é que no Canon neotestamentario houve controvérsias, e livros aceitos hoje pela igreja que não eram aceitos por todos, mas que, aos poucos, foram aceitos devido as comprovações de sua autoridade apostólica. Se houve discordância desses livros, não se pode argumentar que por haver discordância em alguns livros deuterocanonicos do AT estes deveriam ser retirados. Mas isso será tratado mais adiante.

Quero dizer que, em minha opinião, isso não influencia a substancia principal do cristianismo, que é o evangelho de Cristo Jesus. Jesus Cristo é a Palavra de Deus, o Logos Divino, o próprio Senhor Deus que se fez carne, revelou-se aos seres humanos nos ensinando a viver e nos reconciliando com Ele por meio da sua morte na cruz. Por isso, hoje somos salvos mediante a graça de Jesus e justificados pela fé. Também que Jesus ressuscitou, de fato, dos mortos, como o primeiro dos que vão ressuscitar, e como prova de que falava a verdade. Além de que a nova criação de Deus já começou. Hoje podemos ter participação no seu Reino, e plena comunhão com o Pai, Filho e Espírito Santo, esperando com esperança o dia da ressurreição. Isso é mais importante, e o motivo que agradecemos a Deus constantemente pelo seu amor.

domingo, 13 de junho de 2010

História dos escritos neotestamentarios - Parte III

 Parte 1, 2, 4.



A tradição cristã teve um papel muito importante para a preservação do Novo Testamento. Hoje percebemos que os copistas algumas vezes acabaram modificando palavras, intencionalmente ou não, mas eles são os responsáveis pelos manuscritos que temos hoje. É importante lembrar que mesmo com os erros que estes copistas cometeram, deve-se levar em consideração que nenhuma doutrina essencial ao cristianismo foi afetada, afinal a maioria das variantes textuais são diferenças ortográficas, ordem de palavras e, como disse, acréscimos de palavras. Muitas vezes, por exemplo, algum copista colocava ao lado do texto algum comentário, e outro, sem perceber, copiava o texto junto com o comentário como se fizessem parte do que o autor escreveu. Também ocorria de saltarem alguma linha, ou pularem certas letras ou palavras. Isso aconteceu principalmente porque a maioria dos copistas não eram profissionais, nem sabiam realmente ler o texto em grego. Isso era muito comum naquela época. No livro O pastor de Hermas se pode ver um exemplo desse tipo de cópia. Depois de dizer para uma anciã que não consegue lembrar de tudo que ouviu, pede o livro para fazer uma cópia:

Eu o tomei e fui para outra parte do campo, onde copiei todo o conjunto, letra por letra, mesmo não sabendo distinguir as sílabas. E, ao final, quando completei as letras do livro, ele foi de repente arrebatado de minha mão; mas não vi por quem (O pastor, 5,4)

Norman Geisler comenta que:

Embora nem todos os copistas do Novo Testamento fossem escribas treinados profissionalmente, eles foram capazes de transcrevê-lo com tanto cuidado que a precisão desse processo ficou demonstrada pela nossa capacidade de determinar o texto original com um grau de precisão muito grande mais elevado do que qualquer outro livro da antiguidade

É bom lembrar que nem todos os copistas eram iletrados, e que, quando se fala de copistas profissionais, se referimos a pessoas treinadas e pagas para isso. É claro que dentre os fieis existiam pessoas letradas e que voluntariamente faziam as cópias. Mais tarde os monges também recebiam um tipo de treinamento para copiar o Novo Testamento, embora não fossem pagos para isso.

Outra forma de preservação textual que observamos hoje são as citações dos pais da igreja. De fato, somente com as citações dos pais da igreja poderíamos reconstruir grande parte do Novo Testamento. Por isso, através desses manuscritos feitos por esses copistas, as citações dos pais da igreja, também incluindo traduções para outras línguas como Etíope, Eslavo, Armênio, Copta e latim, e os estudos atuais podemos ter certeza de que a doutrina cristã foi bem preservada na sua forma escrita. Como o objetivo aqui não é provar a autenticidade (para isso existem vários estudos), penso que até aqui o que foi colocado é importante para o assunto tratado no livro.

Como podemos ver, mesmo com todos os problemas enfrentados na escrita e preservação, a tradição teve grande importância para (1) preservar a tradição oral do primeiro século, pois Jesus ensinou seus apóstolos e outros discípulos, estes além de ter ensinado outras pessoas com um ministério parecido, colocaram seus ensinamentos por escrito (2) registrar essa tradição oral em textos que eram lidos nas comunidades cristãs e desde o inicio foram considerados inspirados da mesma forma que o Antigo Testamento; (3) copiar o Novo Testamento de forma que hoje, através de sérios estudos, podemos garantir sua autenticidade. Portanto, quem nega a tradição diz que o Novo Testamento não é importante, e afirmar que somente as escrituras têm primazia é a mesma coisa que afirmar que a tradição apostólica é a única verdadeira e importante quando se trata de ensinamentos cristãos.

Isso é um passo importante, pois vimos que a tradição posterior só vai ser considerada apostólica realmente se dar continuidade a esses ensinamentos e não contradizê-los. Até porque existem tradições diferentes em algumas religiões, onde dizem que o Novo Testamento foi adulterado. Os muçulmanos, por exemplo, dizem que o que possuímos hoje sobre Jesus foi adulterado pelos cristãos convertidos do paganismo, que incorporaram crenças pagãs, como a divindade de Jesus e a Trindade, mas que não era originalmente o ensino de Jesus nem os primeiros cristãos acreditavam nisso, mas que só posteriormente estes ensinos foram decretados no Concílio de Nicéia. Certa vez assisti a um filme que mostrava o evangelho segundo os muçulmanos. Vários ensinos mostrados nesse evangelho são muito posteriores ao primeiro século e a tradição cristã mais antiga, e muito diferente também. O problema, não só nesse ensino, mas em outros também, é que querem interpretar a vida de Jesus com um pensamento pré estabelecido do que Jesus não poderia ter dito, e isso impede que se avaliem as fontes antigas com imparcialidade. Eles acabaram por aceitar como textos não adulterados pelos cristãos, não aqueles que a critica textual e um estudo sério apontam, mas os que claramente vão de encontro com sua doutrina. Citei o islã como um exemplo, porém existem muitas outras tradições religiosas que seguem este mesmo caminho. Caminho que, por preconceito e pressuposições, ignoram o que as evidencias apontam.

Quanto a esse pensamento de que os cristãos, após algum tempo, inseriram doutrinas diferentes da que Jesus ensinava e que a igreja primitiva acreditava (principalmente quando se trata da Divindade de Jesus e a Trindade), se dá pra perceber que isso não passa de um mito muito divulgado.

Mais tem algo que precisa ser tratado, e é outro ponto importante: como o Canon do Novo Testamento foi desenvolvido? Os cristãos escolheram arbitrariamente, ou os textos tiveram sua relevância e inspiração expostas de outra forma?

Autor: Jonadabe Rios

quinta-feira, 10 de junho de 2010

História dos escritos neotestamentarios - Parte II

 Parte 1, 3, 4.



Os evangelhos, as cartas apostólicas e o Apocalipse são datados entre 45 a 100 AD. Os evangelhos são anônimos, eles não se identificam como de “Mateus”, “Lucas”, “Marcos” ou João, isso foi atribuído desde a tradição antiga a eles. O evangelho que, hoje, temos mais certeza do seu autor é o de Lucas, pois foi endereçado ao “excelentíssimo Teófilo”, o mesmo que os Atos dos Apóstolos foi enviado. Esse “Teófilo”, por conta do seu significado (aquele que ama a Deus), por vezes é interpretado não como um individuo, mas a todo o cristão.

No entanto, mesmo não tendo total certeza de quem escreveu os evangelhos, a tradição primitiva é uniforme quando se trata disso, e mesmo com as diversas disputas teológicas que existiram desde o começo da igreja, não há disputa referente a isso. Craig Bloomberg cita outros motivos que reforçam a idéia de que é improvável que a igreja tenha atribuído a esses escritores para dar mais credibilidade:

Marcos e Lucas nem sequer pertenciam ao grupo dos 12. Mateus sim, mas era odiado porque fora coletor de impostos; portanto, depois de Judas Iscariotes (que traiu Jesus!), seria ele a figura mais abominável. Compare isso com o que aconteceu quando os fantasiosos evangelhos apócrifos foram escritos muito depois. As pessoas atribuíram sua autoria a personagens conhecidos e exemplares: Filipe, Pedro, Maria, Tiago. Esses nomes tinham muito mais prestígio que os de Mateus, Marcos e Lucas. Respondendo então à sua pergunta, não haveria por que conferir a autoria a esses três indivíduos menos respeitáveis se não fossem de fato os verdadeiros autores.

Sobre o evangelho de João diz que:

Não há dúvida quanto ao nome do autor: era João mesmo. A questão é que não se sabe se foi João, o apóstolo, ou se foi outro.

Já vimos, de inicio, a importância da tradição para preservar os nomes dos escritores dos evangelhos. O mesmo ocorre nas epístolas, embora algumas não se saiba realmente o autor. No entanto, o mais importante aqui não é a atribuição dos nomes de quem escreveu os evangelhos e as cartas, mas que de fato eles são documentos escritos do que os cristãos do século I acreditavam e do que os apóstolos ensinavam.
Lucas, como disse na introdução, se informou minuciosamente dos fatos ocorridos. Ele fala que utilizou de fontes orais e escritas, bem mais antigas, de pessoas que presenciaram tudo e que também se importaram em registrar. Paulo também fala de uma tradição que ele recebeu e que ele ensinou, e também escreveu (1 Coríntios 11:2; 2 Tessalonicenses 2:15; 3:6). E em 1Corintios 15 Paulo fala de um evangelho anunciado, que recebeu e que eles também receberam, continua afirmando que “primeiramente vos entreguei o que também recebi”, relatando uma tradição bem mais antiga que a primeira carta aos Coríntios (que foi escrita provavelmente por volta de 55 A.D.). É importante notar que Pedro, testemunha ocular e apóstolo de Jesus Cristo, considerava verdade cristã o que Paulo escrevia (2 Pedro 3:15).

A mesma coisa se pode perceber sobre os outros escritos do Novo Testamento, que, como foram escritos por contemporâneos, e, na sua maioria, testemunhas oculares de Jesus, eles se tratam, de fato, da tradição cristã mais antiga que temos registrado. Várias descobertas arqueológicas mostram que eles eram realmente do primeiro século, algumas delas mostram que se pode confiar no Novo Testamento como registro histórico, mas isso não é importante nesse momento.

Por fim, é importante destacar que naquela época a tradição oral tinha muito valor, mais até que o que estava escrito, e que, por várias testemunhas oculares ainda estarem vivas pelo fato de que foram registrados no primeiro século, qualquer erro que pudesse acontecer eventualmente, seja ensinado oralmente ou passado por escrito, estas várias testemunhas iriam corrigir. O que possivelmente pode ter acontecido com algum dos relatos que Lucas se baseou, avaliando o que escreveram e conferindo com quem presenciou tudo. É bom lembrar o cuidado que tinham ao preservar a tradição oral. Como a cultura palestina daquela época era basicamente oral, as pessoas desenvolviam desde cedo uma grande capacidade de memorização de textos e ensinos de sua tradição judaica. Isso influenciou muito a tradição oral cristã.

É importante ressaltar que a tradição oral daquela época é muito diferente e superior do que se passa oralmente em nossos dias. Hoje, por conta dos novos meios de comunicação e registros de informações, os fatos passados oralmente não têm muita importância. Diferente do que era para as pessoas da época.
Os judeus, por exemplo, gravavam partes completas da Tora, outros a gravavam de forma completa. Sabe-se que quando os copistas faziam uma cópia, passavam para algum rabino que tinha memorizado a Tora para conferir e corrigir algum erro, ou comparavam com a que eles mesmos tinham memorizado. Além disso, a população contava histórias de forma poética e musical, o que facilitava mais ainda essa memorização. Quando não tinham nada pra fazer, basicamente um treino de memória era feito, pois participavam de reuniões onde se contava histórias já memorizadas, passando isso pela sua tradição. Caso alguém tivesse uma tradição diferente, ou algum detalhe errado do que ouvira, outros que sabiam o corrigia.
De qualquer forma, a tradição oral não pode ser comparada com o jogo do “telefone sem fio”, como alguns fazem pra invalidá-la. Ainda hoje há casos de pessoas que memorizam histórias de cordel inteiras na segunda vez que a escutam. Craig Bloomberg diz que

“O Império Romano do século I continha somente culturas orais. Toda informação importante circulava de boca em boca. A maioria das pessoas que vivia no império era analfabeta. Os homens judeus tinham uma instrução muito maior do que o resto da população, porque muitos deles freqüentaram a escola em sinagogas locais, desde os cinco anos de idade até os doze ou treze. Eles teriam aprendido o suficiente para serem capazes de ler as Escrituras em hebraico, mas poucos teriam meios para possuir suas próprias cópias.” (Questões cruciais do NT, p. 31)

Além dessa rigorosa tradição oral (que não existia somente entre os judeus, como se pode notar), há outra possibilidade que Bloomberg observa:

“Em primeiro lugar, existe evidência de que os rabinos permitiam que os indivíduos tomassem nota depois dos ensinamentos, para facilitar o aprendizado e a memorização. Embora esta noção tenha sido satirizada, não é, de maneira alguma, irracional imaginar alguns dos discípulos de Jesus rabiscando lembretes para si mesmos depois de um dia de exposição ao seu ministério de ensinamento, para ajudá-los a recordar os pontos principais. Algo semelhante a isso parece ter sido o processo utilizado em Qumran, para preservar os ensinamentos do seu ‘Professor de Justiça’ anônimo. Em segundo lugar, o costume de Pedro, João e Tiago no livro de Atos, e nas epístolas, de realizar viagens ou fazer localização geográfica, mostra que a Igreja Primitiva desejava assegurar a exatidão daquilo que era pregado ou ensinado (Veja especialmente At 8; 15; 21; Gl 1 – 2). A igreja rescem-nascida não era uma entidade amorfa e descontrolada como muitas vezes é retratada; mas, ao contrário, era uma comunidade ‘impulsionada por objetivos’ com uma reconhecida liderança e mecanismos de responsabilidade.” (Ibid., p. 32)

Juntando o grau de importância da tradição oral com o registro dessa tradição passada em várias comunidades cristãs, que poderiam conferir e comparar o que estava escrito com o que haviam recebido, além do registro da própria comunidade de sua tradição oral (como é o caso de alguns evangelhos), ora lida em sua própria comunidade, ora copiada e repassada em outras comunidades apostólicas, dá pra notar a importância que os cristãos davam ao registrarem uma tradição mais antiga, e foi o que aconteceu com o que chamamos de Novo Testamento.

Eles presenciaram, pesquisaram, conferiram minuciosamente e registraram o que acreditavam ser a verdade cristã. As escrituras são o reflexo da tradição antiga, e não o contrário. Além disso (e por isso, também), no inicio, os cristãos não viam a necessidade de registrar, na forma atual, pois esperavam naqueles tempos o retorno de Jesus. Porem, com o tempo passando, perceberam essa necessidade, pois a importância que davam a isso foi tão grande que eles pretenderam preservar os escritos para a posteridade. Mas como isso aconteceu?

Autor: Jonadabe Rios 

terça-feira, 8 de junho de 2010

História dos escritos neotestamentários - Parte 1

 Parte 2, 3, 4.



Estarei escrevendo um pouco sobre a história do Novo Testamento e parte da tradição cristã. Acho esse tema muito importante pois irá mostrar que algumas pessoas estão equivocadas quando falam sobre a confiabilidade e autenticidade desses textos. Não digo só os céticos, mas de alguns cristãos que parecem acreditar que o Novo Testamento foi ditado letra por letra por Deus, e que foi dado tudo prontinho, o que não é verdade.

Eu acho impressionante a história da igreja primitiva, principalmente sobre o surgimento dos textos canonicos. Espero que gostem também.

Parte I

Os discípulos de Jesus, tanto judeus quanto gentios, testemunharam o fato principal da história da salvação humana. Jesus, o Messias prometido nas escrituras judaicas nos mostrou qual era sua principal missão aqui: Morrer para a remissão dos nossos pecados. Além disso, como o profeta semelhante a Moisés, Jesus nos deixou diversas explicações e novos ensinamentos com uma autoridade diferente dos demais mestres, “porquanto os ensinava como tendo autoridade; e não como os escribas.” (Mateus 7:29). Howley declara que “durante seu ministério terreno, o Senhor mostrou a consciência do seu relacionamento singular com Deus, de sua própria autoridade. Em contraste com os mestres daquela época, ele afirmou com segurança a verdade das suas palavras, e seu direito de dizer: ‘Eu vos digo...’.”. Mas além de cumprir sua missão redentora, Jesus afirmou que, após sua ressurreição, passou a possuir o senhorio total. Ele está reinando agora, ele é o Senhor. Cesar era considerado o senhor, mas os cristãos afirmavam corajosamente que só Jesus Cristo é o senhor, essa foi uma das principais causas dos martírios. Entretanto, quanto mais eles sofriam perseguições, mais eles faziam questão de declarar o senhorio de Jesus, seja verbalmente, ou por escrito, mas principalmente com seu exemplo de vida.

    Seus discípulos fizeram questão de registrar o que aconteceu. Eles davam total importância às palavras e ensinamentos de Jesus que registraram o que até o momento fazia parte de sua tradição oral. Hoje esse conjunto de ensinamentos de Jesus escritos pelos seus discípulos são chamados de Novo Testamento. São textos que, além de explicar certas passagens do Antigo Testamento, nos falam do que aconteceu no seu tempo, das palavras de Jesus enquanto estava na terra, da causa e solução para o pecado. É um registro do que os cristãos primitivos consideravam ser a história da redenção. E isso foi realmente necessário, pois com o surgimento de heresias e outros tipos de controvérsias, se fez necessário o controle e precisão escrita.
    F. F. Bruce comenta que:

Durante os primeiros aproximadamente trinta anos após a morte e ressurreição de Cristo, não se sentiu grande necessidade de um relato escrito do seu ministério. Enquanto estivessem vivas testemunhas oculares dos eventos salvificos que pudessem falar com segurança do que tinham visto e ouvido, o testemunho de viva voz era suficiente. Até o tempo em que a boa nova foi contada por homens e mulheres que não tinham tido contato direto com Cristo nos dias da sua vida no corpo, eles sempre podiam apelar para a autoridade daqueles que tinham conhecimento de primeira mão. E essa atitude mental demorou para se extinguir. Ainda em 130 d.C., Papias, bispo de Hierápolis na Frigia, nos conta quanto era zeloso em conversar com aqueles que tinham conhecido os apóstolos e seus colaboradores, e como lhes perguntava o que os apóstolos realmente haviam dito, pois sentia que dessa forma estava em contato muito mais próximo com os fatos originais do evangelho do que poderia estar pela leitura de um registro escrito. (Comentário Bíblico NVI, p. 1486, Editora Vida)

Algumas pessoas falam que os ensinos de Jesus estão registrados somente nos evangelhos. Embora a maioria dos ditos estejam contidos nos evangelhos, isso não é verdade. Muitos dizem essas coisas pra poderem ignorar certos ensinamentos constrangedores (como se o que Jesus ensinou não fosse constrangedor). Mas tanto os evangelhos quanto Atos dos Apóstolos e as cartas apostólicas são tradições do primeiro século do que estes apóstolos, ou seus discípulos, afirmavam ter recebido diretamente de Jesus, ou, no caso de alguns discípulos, terem aprendido pelos apóstolos. É bom lembrar que alguns dos evangelhos são mais recentes do que parte das cartas apostólicas.

Os evangelhos foram escritos com propósitos diferentes entre si e entre os outros documentos cristãos. Alguns foram para relatar palavras que Jesus teria dito e que seus discípulos e oponentes também teriam afirmado. Mas isso se vê também nos outros textos. Quando Paulo fala da Santa Ceia, ele diz o seguinte:

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.”

Não há diferença nenhuma no que o que os evangelhos atribuem a Jesus e o que Paulo atribuiu a Jesus, no que diz respeito à afirmação de ter recebido isso de Jesus. Ambos afirmam que estas eram palavras (não necessariamente exatas) de Jesus. Ele diz que recebeu do Senhor, e passou para a comunidade. Depois, relata o que, segundo essa tradição, foram palavras de Jesus. Existem outras partes, como Hb 2:3; At 10:39,49; At 4:18:20; 1Jo 1:1,2. No Novo Testamento, pra quem lê atentamente, partes assim não são incomuns.

Também é bom lembrar que Jesus passou alguns anos ensinando os apóstolos e outros discípulos com sua doutrina. Como ele ensinou em diversos lugares e cidades, é lógico crer que ele repetiu doutrinas e parábolas. Essas doutrinas e parábolas foram registradas nos evangelhos, mas vários desses ensinamentos diretos de Jesus, pelo que os apóstolos afirmavam, estão contidas nessa tradição primitiva que foi depois registrada em documentos e lida nas comunidades cristãs. Por isso é razoável concluir que, segundo a tradição cristã, tanto os evangelhos quanto os outros documentos cristãos contém ensinos que as comunidades da época afirmavam ser de Jesus.

Atualmente podemos saber que o Novo Testamento foi preservado de forma extraordinária, e que são escritos autênticos do primeiro século com objetivos e destinatários diferentes, mesmo não possuindo os registros originais, mas diversas cópias manuscritas. Mas isso não impede que, com a critica textual, se possa estar muito próximo do que os escritores do Novo Testamento escreveram, garantindo assim sua autenticidade. Alguns autores, como Bart Erhman, com seu famoso livro “O que Jesus disse? O que Jesus não disse?” [1], insistem em dizer, com ajuda da mídia sensacionalista, que não possuímos os originais e o que temos são “só cópias, de cópias”, como se isso fosse alguma novidade. Ora, se não existem os originais, como ele cansa de dizer, como saber que tal variação é a mais próxima? Norman Geisler escreve que “Embora haja muitas releituras variantes nos manuscritos do NT, há uma multidão de manuscritos disponíveis para a comparação e correlação dessas leituras para chegar à leitura correlata. Por meio do estudo comparativo intensivo das leituras em 5.686 manuscritos gregos (existem cerca de 24.000 cópias, completas ou parciais, de outras línguas, incluindo o grego), os teólogos eliminaram cuidadosamente erros e adições de copistas ‘bem intencionados’ e discerniram quais manuscritos são mais precisos.”. [2] Trataremos um pouco sobre este assunto.

Hoje o debate está na confiabilidade dos escritos, ou seja, se o que eles escreveram é historicamente verdadeiro e não apenas parábolas cristãs que a igreja primitiva atribuiu a Jesus. Isso principalmente quando se trata do Jesus histórico.

Alguns textos foram escritos para comunidades cristãs especificas, porém com o ensino relevante para as demais igrejas, outras não se sabem os destinatários, no entanto sabemos que circulavam nas igrejas e eram atribuídos a algum apóstolo ou discípulo seu. Como Norman Geisler disse, “nesse momento, precisamos esclarecer um conceito errado muito comum sobre o NT. Quando falamos nos documentos do NT, não estamos falando de um único texto, mas de 27 textos. Os documentos do NT são 27 documentos diferentes, escritos em 27 rolos diferentes, por nove autores, num período de 20 a 50 anos. Esses textos específicos desde então foram reunidos em um único livro que hoje chamamos de Bíblia. Desse modo, o NT não é uma fonte única, mas uma coleção de fontes.” (Não tenho fé suficiente para ser ateu, p. 230)

    Sabemos também que eles trocavam liam as cartas em suas comunidades, e passavam umas para as outras o que os discípulos de Jesus escreveram. Paulo fala aos colossenses que “quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também.” (Cl 4:16).

Essa tradição de considerar o Novo Testamento como palavra de Deus foi preservada e é ensinada pelos pais da igreja, e dá pra perceber que eles davam o mesmo valor atribuído ao Antigo Testamento. E isso, como foi visto, fez parte da tradição posterior:

Clemente de Roma, em sua Epístola aos coríntios (c. 95-97), chama os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) “Escrituras”. Ele emprega também as expressões “disse Deus” e “Está escrito”, a fim de indicar passagens do Novo Testamento (cf. caps. 36 e 46). Inácio de Antioquia (110 d.C.) escreveu sete cartas, nas quais fez numerosas citações do Novo Testamento. Policarpo (c. 110-135), um dos discípulos do apóstolo João, fez muitas citações dos livros do Novo Testamento em sua Epístola aos filipenses. Ás vezes, esse autor introduz tais citações como “dizem as Escrituras” (cf. cap. 12). A obra denominada O pastor, de Hermas (c. 115-140), foi escrita em estilo apocalíptico (visões), semelhante ao de Apocalipse, com inúmeras referências ao Novo Testamento. O didaquê (c. 100-120), ou Ensino dos doze apóstolos, como às vezes é chamado, registra muitas citações livres do Novo Testamento. Papias (c. 130-140) inclui o Novo Testamento num livro intitulado Interpretação dos discursos do Senhor, mesma expressão usada por Paulo em referencia ao Antigo Testamento, em Romanos 3:2. A chamada Epístola de Diogneto (c. 150) faz muitas alusões ao Novo Testamento sem um título. (Introdução bíblica, Norman geisler e Willian nix).


    Em que época, como, por quem e para quem (ou quais comunidades), eles foram escritos? Como sabemos que o Novo Testamento é um registro dos cristãos do primeiro século? E de que forma essa tradição escrita foi preservada?


Notas

1 - Que recomendo a leitura, mas não somente essa, pois penso que a sua conclusão foi forçada.
2 - Enciclopedia apologetica, p. 650


Autor: Jonadabe Rios

Já decidimos! O testemunho de duas iranianas.

Maryam, 27, e Marzieh, 30, foram presas pela primeira vez no dia 5 de março de 2009, por abandonarem o islamismo. As autoridades iranianas as mantiveram na solitária da prisão de Evin, desprovidas de tratamento médico, vendadas e passando por longos períodos de interrogatório. Recentemente, foram transferidas para uma cela lotada. No momento da audiência, o promotor público, Haddad, perguntou para Maryam e Marzieh sobre a religião delas e disseram para elas desistirem de sua crença em Cristo. Quando ele questionou se eram cristãs, elas responderam: “Nós amamos Jesus.” Então, ele repetiu a pergunta, e elas disseram: “Sim, nós somos cristãs.”

Quando o promotor afirmou: “Vocês eram muçulmanas e se tornaram cristãs”, elas responderam: “Nós nascemos em famílias muçulmanas, mas não somos muçulmanas.”

Durante o interrogatório, quando elas fizeram referência a como Deus as confrontou pelo Espírito Santo, o promotor disse: “É impossível Deus falar com os seres humanos.”

Então, Marzieh perguntou: “Você está questionando o poder soberano de Deus?”

Ele respondeu: “Você não é digna de que Deus fale com você.”

Marzieh disse: “Não é você, e sim Deus, que deve dizer se sou digna ou não.”

Antes que a audiência acabasse, o promotor disse para que elas pensassem na opção de retornar ao islamismo, mas Maryam e Marzieh responderam: “Nós já nos decidimos.”

Depois disso, elas foram enviadas de volta para a prisão até decidirem desistir de sua religião. Apesar de a acusação pedir a mesma sentença dada em casos de apostasia, o juiz não pronunciou nenhum veredito.

Cinco meses de abuso e maus tratos causaram danos à saúde de nossas irmãs. Elas perderam peso e não receberam atendimento médico. Marzieh sofreu de dores na coluna, infecção dentária e fortes dores de cabeça.

"Não negaremos nossa fé. Se vamos sair da prisão, queremos fazê-lo com honra", elas disseram ao juiz.

Em 18 de novembro de 2009, Maryam e Marzieh foram libertadas da prisão. No entanto, a provação ainda não tinha terminado para as duas. Apesar de soltas, as acusações que sofriam ainda não haviam sido descartadas e, em abril, Maryam e Marzieh foram convocadas para outra audiência.

Após um mês de espera ansiosa por um veredito, finalmente a notícia de que em 23 de maio de 2010 todas as acusações contra Maryam e Marzieh foram retiradas.

Mesmo assim, elas fugiram para um país desconhecido, onde teriam a liberdade de praticar sua fé, depois de terem sido avisadas pelas autoridades judiciárias muçulmanas do Irã de que qualquer futura atividade cristã no Irã seria severamente punida.

"Somos muito gratas a todos que oraram por nós. Eu não tenho nenhuma dúvida de que Deus ouviu as orações de Seu povo. Eu acredito que nossa prisão e subsequente liberdade estavam no tempo e plano de Deus, e que tudo foi para a Sua glória. Mas as orações do povo encorajaram e nos sustentaram nesse momento tão difícil."

E pensar que tem crente desistindo da fé e do chamado porque ninguém lhe deu "bom dia"...


Fontes:
Resumo da ópera; Portas abertas; IRANIAN.COM

Outros relatos:

- http://porquecreio.blogspot.com/2010/01/ex-muculmano-que-conheceu-jesus.html
- http://porquecreio.blogspot.com/2010/01/conversao-de-um-muculmano-cristo.html

Penso que a conversão de alguns cristãos ao islamismo que ocorrem aqui no Brasil e em alguns outros países se deve a falta de entendimento das bases cristãs. Mas é questão de tempo pra que isso mude.