sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Entrevista a Mark A. Gabriel - A natureza do Alcorão


Um ótimo livro sobre o assunto:

http://www.ministeringtomuslims.com/downloads/Jesus%20and%20Maome.pdf

Mark A. Gabriel é um ex-professor de história na Universidade de Al-Azhar, Cairo.

Em breve estarei postando alguns textos sobre o Islã.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Revolução protestante e a suposta corrupção da Igreja Católica

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Segue em sequência os artigos de Diane Moczar sobre a revolução protestante e a suposta corrupção da Igreja Católica na Idade Média como motivo para isso. Em seguida, para quem se interessar, coloco alguns outros textos sobre o assunto:

- Uma Igreja corrompida até o topo?
- Heresias no período pré-Reforma
- Condições na Inglaterra antes da Reforma
- A devastação protestante na Inglaterra
- A devastação protestante no continente
- Outras consequências da Reforma

Outros textos sobre o tema:

- Lutero, "católico"? Nem sonhando!
- "Reforma" protestante e o papa Lutero

Uma Igreja corrompida até o topo [Final - Outras consequências da Reforma] - Diane Moczar

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As explicações para o surgimento e a sobrevivência das novas religiões são, geralmente, políticas. Na Inglaterra, Henrique VIII e, em grande parte, Elisabete I, uniram seu poder político, sua riquesa e influência internacional ao controle da religião. Isso também aconteceu no continente europeu, onde muitos príncipes alemães ligaram-se ao movimento da Reforma para beneficiarem politicamente a si e ao território que representavam. A nova religião protestante dos holandeses seria um dos movimentos da rebelião contra os seus governantes católicos espanhóis. "No século XVI", escreve Cameron, "religião se tornou política de massa".

As consequências culturais e psicológicas de longo prazo causadas pela Reforma na Europa e Inglaterra não são nosso tópico aqui, mas vale a pena lembrar que elas foram tão devastadoras que até alguns protestantes modernos lamentaram a atitude de seus antepassados. Walsh, em The Thirteenth, Greatest of Centuries, cita um dramaturgo alemão discutindo a ruptura cultural causada pela Reforma:
Eu, como protestante, muitas vezes lamentei o fato de termos adquirido nossa liberdade de consciência, nossa liberdade individual, a custos tão altos. A fim de dar espaço a uma vil e pequena planta de vida pessoal, destruímos todo um jardim ornamental e derrubamos uma floresta virgem de ideias estéticas. Jogamos fora o jardim de nossas almas o solo fértil que vinha sendo cultivado por milhares de anos, e então passamos a arar sobre terrá estéril.
A referência à "vida pessoal" aqui apresenta outra característica da Reforma e a razão por que teve êxito: é o subjetivismo essencial do protestantismo, exemplificado no seu princípio de julgamento privado. Cameron observa que os reformistas triunfaram em "sujeitar a doutrina ao debate público; as pessoas eram, de fato, convidadas a escolher as ideias religiosas que as agradavam". Eis o nosso subjetivismo moderno: apoio a minha religião não porque reconheço que é a única fundada por Cristo, mas porque me agrada.

Essa mudança brusca de perspectiva espiritual teve um preço. O pastor protestante David Hartman, no The New Oxford Review, de 28 de setembro de 1989, escreve:
Até mesmo para um pastor protestante como eu é difícil levantar a hipótese objetiva de que o estado dos afazeres humanos no seu todo tenha sido melhorado pela Reforma. 'Uma das maiores tragédias da História', observa o historiador Paul Johnson, 'e a tragédia central do cristianismo - foi a ruptura da harmoniosa ordenação de mundo que havia se desenvolvido na Idade Média sobre uma base cristã'.
Felizmente, do outro lado da revolta protestante viria a verdadeira reforma, inadequadamente conhecida por "Contra-Reforma". Pierre Janelle observa que a Contra-Reforma "dificilmente poderia ter triunfado, caso a cristandade estivesse realmente corrompida na sua alma; mas não estava (...) A Europa cristã era rica em fé, caridade e devoção" - e daria à luz outra grande era da Igreja.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Uma Igreja corrompida até o topo [Parte 5 - A devastação protestante no continente] - Diane Moczar

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Primeira Parte / Segunda Parte / Terceira Parte / Quarta Parte

Em outros lugares da Europa, novas áreas protestantes sofreram rupturas similares. A qualidade das instituições públicas regrediu em relação aos níveis medievais. O médico e autor americano James J. Walsh observa que os escritores modernos são tentados a admitir, com base nos deploráveis hospitais e asilos do seu tempo (começo de 1800 a 1900), que os hospitais medievais devem ter sido muito piores. A suposição é a de que quanto mais se volta no tempo, mais ignorantes e bárbaras tendem a ser as condições.

A pesquisa de Walsh revela, no entanto, que isso não é verdade. Ao analisar a medicina da Idade Média, ele encontrou grandes avanços na educação médica, nos estudos clínicos, na farmacologia e nos regulamentos de saúde baseados nos novos conhecimentos da época. Ele recorda avanços e experimentos em diversos tipos de cirurgias: óssea, plástica, obstétrica, cardíaca e intestinal, assim como o tratamento de ferimentos à bala (um novo problema, causado pela invenção da pólvora). Há até menção ao uso de anestesia, sobre o qual havia alguma controvérsia: alguns cirurgiões utilizavam-na e outros não a aprovavam. (A prática acabou sendo de lado e a técnica se perdeu até ser retomada nos tempos modernos).

Quanto aos hospitais, Walsh afirma que os piores da História - muito inferiores aos medievais - foram aqueles construídos no século XIX. Esses prédios, sujos, escuros e superlotados eram locais deprimentes para uma pessoa doente. Os hospitais medievais, por outro lado, abertos a pacientes pobres ou ricos, eram construções atrativas, espaçosas, com largas janelas; geralmente construídas em jardins e próximos a uma fonte de água para saneamento. Os pacientes eram tratados por religiosos dedicados, instruídos em medicina; os ricos pagavam por seus remédios e traziam a sua própria comida e vinho, mas os pobres não pagavam por nada. As paredes dos compartimentos ou quartos eram cobertas com pinturas ou outras decorações para que os pacientes tivessem algo atrativo para olhar. Instituições para doentes mentais eram também muito avançadas; elas não eram, de modo algum, os "ninho de cobra" retratados nas histórias de horror do começo da modernidade. Na Europa do Norte, os loucos eram geralmente alojados em hospitais ligados aos mosteiros em áreas rurais. Os pacientes recebiam quartos espaçosos e tratamento amável. A Espanha era considerada particularmente avançada no tratamento dos loucos, e os pacientes frequentemente melhoravam, a ponto de poder retornar à sociedade.

A Reforma causou um efeito devastador nos hospitais e em todas as outras formas de serviço social, como vimos nos casos dos mosteiros e das guildas. Um autor de história da enfermagem observa que o conhecimento e a técnica desta profissão haviam sobrevivido somente nas ordens religiosas. Consequentemente, coube ao Estado protestante sustentar os pobres, doentes, órfãos e loucos dentro de suas fronteiras, mas isso levou tempo, e as instituições públicas resultantes deixaram muito a desejar, quando comparadas ao que a Igreja havia oferecido por séculos, por amor a Deus.

Quanto à educação, o teólogo Erasmo de Roterdã, que originalmente era simpático a alguns dos objetivos "reformistas", escreveu: "onde reina o luteranismo, há o fim das letras". Ele referia-se ao fechamento de escolas e universidades, quando os professores perseguidos foram obrigados a fugir. O desaparecimento de todas essas instituições, quando as ordens religiosas que as comandavam foram reprimidas, causou grandes dificuldades. Por fim, elas também foram restabelecidas como instituições estatais. Um estudante alemão ou inglês subitamente impossibilitado de conseguir seu diploma ou uma pessoa doente expulsa de um hospital da Igreja teriam dito que as condições eram muito melhores antes da Reforma que depois.

Havia também os tesouros monásticos de arte e arquitetura, cujo valor é incalculável. Um hospital seria com o tempo substituído, apesar de não ter a mesma qualidade do seu predecessor, mas as impagáveis janelas de vidro e as preciosas relíquias (para não dizer nada do seu ainda mais precioso conteúdo) quebradas pelas multidões protestantes não poderiam mais ser reproduzidas. As tumbas de reis católicos também pereceram. Quando os mosteiros foram atacados na Inglaterra, multidões estavam prontas para saqueá-los e há relatos desses vândalos usando manuscritos das bibliotecas destruídas para limpar suas botas - manuscritos que um monge pode ter levado a vida inteira para copiar e ilustrar. Artisticamente, então, as áreas protestantes da Europa eram também muito piores depois da Reforma do que antes.

[Continua...]

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma Igreja corrompida até o topo [Parte 4 - A devastação protestante na Inglaterra] - Diane Moczar

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Primeira Parte / Segunda Parte / Terceira Parte

Como a devoção a Nossa Senhora era muito forte na Inglaterra, o Rosário certamente teria de ser reprimido. Há a história da polícia litúrgica de Elisabete que, ao visitar a igreja de uma vila, deparou-se com uma senhora rezando o Rosário. Um dos caçadores de "superstição" agarrou o rosário e o quebrou, empurrando para fora a senhora, que reclamava. Os moradores reuniram-se em volta do agressor, o atacaram e, possivelmente, o mataram. Incidentes como esses ocorreram esporadicamente por toda a Inglaterra, mas o povo católico não conseguiu conter as autoridades por muito tempo.

A Reforma inglesa arruinou as guildas. Henrique VIII confiscou seus fundos e Elisabete decretou estatutos com o intuito de prejudicá-las. Em 1547, durante o reinado de Eduardo VI, filho de Henrique, que subira ao trono com 9 anos, Thomas Cranmer, o arcebispo apóstata, e seus associados protestantes tomaram medidas para estabelecer o protestantismo na Inglaterra com mais firmeza do que Henrique havia permitido, e um dos seus alvos era as guildas.

Estima-se que, entre 1530 e 1540, milhares de guildas foram reprimidas e tiveram seus recursos, incluindo a terra (caso a tivessem), confiscados. O efeito desmoralizante da perda das suas irmandades queridas e organizações profissionais foi devastador para os associados da época.

A longo prazo, o desaparecimento dessas associações resultou na inexistência de organizações que atendessem aos pedidos dos trabalhadores explorados e atenuassem o sofrimento de suas vidas miseráveis, no início da Revolução Industrial do século XVIII.

As guildas não foram os únicos alvos escolhidos para arrecadar os fundos que Henrique VIII necessitava - em parte para subornar apoiadores para sua nova igreja. Os mosteiros deviam ser "visitados" para se ter certeza de que não eram corruptos. Caso o fossem, deveriam ser reprimidos, a fim de manter a pureza da vida religiosa, é claro. O cardeal Wolsey já havia "dissolvido" por volta de 29 estabelecimentos religiosos em 1520. Em 1535, foi Thomas Cromwell, vigário de Henrique, que intensificou e completou o roubo e a destruição da vida monástica inglesa.

Os mosteiros estavam corrompidos? Certamente havia alguma corrupção moral em alguns deles, como houve em todas as épocas da História, mas se poderia lidar com isso facilmente por meio de uma análise caso a caso. Outras visitas durante o mesmo período, por autoridades locais, também foram muito destrutivas. Contudo, o objetivo de Henrique e de seus súditos não era acabar com a verdadeira corrupção; se assim fosse, eles esperariam encontrá-la nas casas religiosas maiores e mais ricas, em vez das menores e mais pobres. As maiores, no entanto, gozavam de maior influência política e Cromwell estava relutante em atacá-las primeiro. Os "visitantes" enviados por Henrique e Cromwell, em 1535, se dirigiram para as cerca de quatrocentas pequenas casas religiosas conhecidas como "mosteiros lesser". Esses visitantes faziam um escândalo ao procurar por corrupção moral (encontrando poucas confissões; as quais eram obtidas, em grande parte, sob pressão) e tentavam persuadir os jovens religiosos a abandonar suas vocações. Ao mesmo tempo, pregadores eram enviados, em uma campanha de propaganda, para atacar e depreciar a vida monástica.

Em fevereiro de 1535, o parlamento dissolveu os mosteiros restantes. A poucos foi permitida a sobrevivência e, surpreendentemente, os internos - os mesmos monges e freiras cujas reputações haviam sido difamadas - eram, agora, declarados religiosos exemplares. (O ato do parlamento também especificou que os habitantes dos mosteiros maiores estavam imunes à repressão. O falso objetivo de combater a corrupção moral logo desapareceu). As casas menores foram saqueadas e seus fundos e terras tomados para a coroa; Henrique ficou contente, mas não estava satisfeito. Ainda restavam os mosteiros maiores e mais ricos. A revolta no norte da Inglaterra na peregrinação da Graça, em outubro de 1536, motivada parcialmente pelo desejo de salvar os mosteiros restantes e também preservar a fé na Inglaterra, adiou os planos de Henrique, mas não por muito tempo. Logo, os bens e as terras de todos os mosteiros estavam em suas mãos; e ele usava a terra como suborno para sua corte, comerciantes, advogados e outros.

Além da perda espiritual da Inglaterra - em pregação, ensino e oração (sem mencionar a heresia, a supressão do Santo Sacrifício e a perda das almas) -, o que dizer das escolas, dos hospitais, dos orfanatos, das hospedarias, das casas para as viúvas e de outros serviços que os mosteiros prestavam? O escritor protestante William Cobbett, no século XIX, declarou que a dissolução dos mosteiros teve o efeito de causar não apenas a pobreza, mas fazer da "miséria" uma condição permanente das classes baixas inglesas. A educação universitária também sofreu, já que os estudantes pobres não mais recebiam o apoio oferecido pelos monges. A distância entre as classes alta e baixa aumentou. Os camponeses foram levados à miséria pela perda das terras dos mosteiros, onde tinham permissão para cultivar e pastar os animais.

Nas cidades, o clero secular também se envolveu no ensino e em outros serviços para os pobres, serviços estes pagos pelo dízimo que recolhiam - aquele dízimo que foi tão criticado pelos pretensos "reformistas". Como observa Euan Cameron, um estudioso e professor protestante, em seu excelente livro de 1991, The European Reformation:
Se o clero secular de Londres tivesse desistido do seu dízimo e vivido de caridade (como encorajavam alguns freis carmelitas em 1460), muitas atividades valiosas, incluindo a educação e assistência aos pobres, seriam prejudicadas.
O resultado foi o triunfo do protestantismo na Inglaterra e a aceitação da sua propaganda no lugar da ultrapassada fé católica e seus costumes. Para citar Duffy uma vez mais,
No final de 1570, seja qual fosse a tendência natural e nostalgia dos idosos, uma geração crescia educada com a ideia de que o papa era o anticristo e a missa era uma palhaçada. Uma geração que não valorizava o passado católico como seu próprio passado, mas valorizava outro país, outro mundo.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Uma Igreja corrompida até o topo [Parte 3 - As condições da Inglaterra antes da Reforma] - Diane Moczar

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Veja aqui a Primeira Parte e a Segunda Parte.

Com sabe-se, o desenvolvimento das guildas na Idade Média e o importante papel econômico, social e político que tiveram nas novas cidades, fator decisivo para a renovação da Europa após a Idade das Trevas. O tema é investigado em profundidade pelo historiador católico Eamon Duffy em The Stripping of the Altars: Traditional Religion in England 1400-1580. Uma crítica ao livro feita pelo professor Christopher Harper-Boll, em Theology, enaltece esse estudo brilhante:

É uma leitura essencial para todos aqueles que desejam entender a religião no final da Idade Média e os meios pelos quais ela foi solapada contra os desejos da vasta maioria de seus praticantes.
 Esse é um ponto essencial: a religião católica das massas foi destruída contra sua vontade. A Reforma Protestante foi uma revolução, e como observa outro historiador, as revoluções nunca são feitas pelo "povo". Na Inglaterra, as mudanças trazidas pela revolução religiosa, longe de serem desejadas pelo povo inglês, foram amargamente ressentidas.

Foi o rei Henrique VIII quem primeiro rompeu com a Igreja Católica - porque esta não queria declarar a invalidade de seu casamento, o que permitiria que ele se casasse com Ana Bolena. Assim começou a "Igreja da Inglaterra" e o anglicanismo.

A necessidade de dinheiro e apoio levou Henrique a tomar medidas contra as guildas e os mosteiros. Sob o reinado de seu filho Eduardo, menor de idade, conselheiros protestantes proliferaram no governo e medidas ainda mais anticatólicas foram introduzidas. Após o breve reinado de Maria, a filha católica de Henrique, que suspendeu temporariamente a perseguição aos católicos mas foi incapaz de restaurar o país, veio a temível rainha Elisabete I. Apoiada por seu ministro ainda mais temível, William Cecil, e o seu sinistro "interrogador" e torturador Topcliffe, ela instituiu a perseguição em larga escala à Igreja e o confisco dos bens das famílias católicas desobedientes. Essa intensificação da violência da realeza contra tudo que era católico teve origem nos ataques de Henrique às guildas e aos mosteiros.

Além das funções econômicas, as guildas inglesas também tinham importantes funções espirituais e religioses, e todas as suas características estavam harmoniosamente incorporadas à vida de seus membros. No final da Idade Média, as guildas ainda operavam nas cidades e vilas da Inglaterra; no campo, havia numerosas "guildas" de caráter devocional. Essas irmandades preservavam práticas piedosas como, manter, na igreja da paróquia, a luz ante a imagem do santo padroeiro da guilda e rezar pelas almas dos associados falecidos. Membros contribuíam com quantias para os funerais e as missas para os mortos e também pagavam pelos funerais dos membros pobres. Também ajudavam com as despesas dos membros que estavam doentes ou que necessitavam de ajuda  financeira (provando que não fosse por culpa própria) e, às vezes, sustentavam as igrejas das paróquias.

Esses costumes e essas práticas religiosas estavam tão entrelaçados com a vida das pessoas comuns que, ao longo dos séculos, tinham se tornado parte delas. Em particular, as cerimônias e orações pelos mortos, as procissões - que assumiam caráter cívico para a cidade que as hospedava -, os costumes do Advento e as cerimônias da Semana Santa marcavam as estações do ano e davam a elas um caráter sagrado e uma importância que nenhum calendário secular poderia oferecer. Todos esses hábitos, e qualquer outro repleto de caridade católica, tornaram-se alvos da polícia litúrgica anglicana.

[Continua...]

domingo, 23 de setembro de 2012

Uma Igreja corrompida até o topo [Parte 2 - Heresias no período pré-Reforma] - Diane Moczar

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Veja aqui a primeira parte.

A persistência de uma heresia tampouco era algo novo. Os cátaros, patarinos e outros grupos que restaram dos séculos medievais não tinham sido totalmente extintos. Não havia mais fanáticos jejuando até a morte, pois haviam se tornado "perfeitos" demais, mas ao longo dos séculos XIV e XV houve pessoas que persistiram em algumas das ideias desses hereges medievais.

Os "homens pobres" do século XII, na área da França ao redor de Lyon, que seguiam certo Valdo, mais tarde conhecido como Pedro Valdo, era um desses grupos. Valdo se converteu à vida espiritual e decidiu livrar-se da sua considerável riqueza para viver na pobreza de acordo com os ensinamentos dos Evangelhos. Outros que buscavam a perfeição se juntaram a ele e começaram a pregar. Logo tomaram o caminho errado, em razão da sua falta de instrução; eles interpretaram mal certas passagens das Escrituras e acabaram por negar ensinamentos relacionados à existência do Purgatório e orações aos mortos, entre outras questões.

Buscando legitimidade de maneira astuciosa,, esses "valdenses" diziam fazer parte de uma genealogia que ia até o começo da Igreja, apesar de não existir nenhum indício de tal linhagem. Eles proibiram os juramentos - o que pode indicar influência cátara - e recusavam-se a parar as pregações, quando recebiam ordens para fazê-lo.

O relato to inquisidor Bernard Gui, ao interrogar um membro dessa seita, mostra o quão irritantes e sutis eles podiam ser: "Questionado sobre quem ele [o valdense] considerava um bom cristão, respondeu, 'aquele que acredita no que a Santa Igreja o ensina a acreditar'. Quando perguntado sobre o que entendia por 'Santa Igreja', ele respondeu, 'Meu Senhor, aquilo que vós dizeis e acreditais ser a Santa Igreja'. Caso fosse perguntado se acreditava que a 'Santa Igreja é a Igreja Romana sobre a qual governa o papa, e depois dele, os prelados', ele responderia, 'acredito', querendo dizer que acreditava no que o questionador acreditava". Se fossem obrigados a declarar as verdades d fé sob juramento, os valdenses utilizavam vários estratagemas, tais como gaguejar no juramento ou inserir e omitir palavras, para que no final não tivessem feito juramento algum. Um valdense admitiu francamente que iria jurar para escapar de um processo e, depois, faria penitência.

Excomungados, os valdenses continuaram suas atividades fora da Igreja e apoiaram os esforços protestantes do século XVI, enquanto se espalhavam pela maioria dos países da Europa Ocidental e Oriental. As ideias valdenses sobre pobreza extrema, traduções da Bíblia em vernáculo e pregações de leigos, apareceram na Inglaterra, no final do século XIV, po pensamento de John Wycliffe e seus discípulos, Quando Wycliffe (ou Wyclif), um professor da Universidade de Oxford, começou a negar a transubstanciação, ele alienou alguns de seus seguidores (chamados de lollardos), assim como autoridades da Igreja, mas escapou da excomunhão. O Lollardismo, que mais tarde se ligou a movimentos políticos agressivos, parece ter sobrevivido até o século XVI, mas não foi um fator decisivo na continuação da heresia de Wycliffe. A heresia seria, surpreendentemente, propagada no outro extremo da Europa, na Boêmia; um casamento real foi o veículo pelo qual ela viajara até lá.

Ana da Boêmia era esposa do rei ingês Ricardo II. Após a morte dela, em 1394, os seus súditos retornaram a sua terra natal, trazendo com eles as novas ideias de John Wycliffe, que haviam absorvido durante sua permanência na Inglaterra. Aparentemente, foi com base nelas, ou nos estudantes boêmios que haviam estudado na Inglaterra, que um jovem clérigo bocêmio chamado João Huss se familiarizou - e ficou muito intrigado - com as ideias de Wycliffe. Ordenado padre em 1400, com 31 anos, e defensor de uma reforma na Igreja, Huss provavelmente sabia que muitas das proposições de Wycliffe haviam sido condenadas. Ele, porém, traduziu algumas de suas obras para o tcheco e propagou-as, embora tenha depois as submetido à avaliação de autoridades da Igreja.  situação foi agravada pelo Cisma do Ocidente e pelas tentativas de terminá-lo por meio de um concílio. No fim, Huss foi excomungado por heresia.

As condições da Boêmia eram politica e religiosamente complexas, e os seguidores de João Huss, como os lollardos da Inglaterra, por vezes recorriam à violência. O próprio Huss era famoso em seu país por seu patriotismo - ele apoiou o nacionalismo boêmio contra a influência alemã -, e por seu ardor pela reforma e pela fé (como ele a entendia). Finalmente, seguindo o conselho de Sigismundo, o Sacro Imperador Romano-Germânico, Huss decidiu colocar seu caso perante o Concílio de Constança, em 1415. No concílio, o papa João XXIII retirou sua excomunhão, mas o proibiu de celebrar missa até que seu caso fosse resolvido. Huss declarou que estava pronto para retratar cada um de seus erros, mas, inacreditavelmente, continuou celebrando a missa e pregando - uma provocação deliberada ao papa. A despeito do salvo-conduto emitido pelo Imperador, Huss foi capturado, preso e julgado. Os boêmios e os poloneses protestaram contra as irregularidades do aprisionamento e da violação do salvo-conduto, mas o julgamento prosseguiu. Huss negou ter escrito algumas das afirmações das quais era acusado e defendeu outras - incluindo proposições que Wycliffe também havia apoiado. Tendo recusado a retratação, foi condenado e queimado na fogueira. Opiniões sobre a legitmidade do julgamento e da execução são divididas. Alguns argumentam que o salvo-conduto não visava proteger Huss contra a perseguição legal e a punição. De qualquer modo, as consequências do caso seriam graves.

Podemos ver aqui o surgimento de uma das características d Reforma, que não foi um movimento estritamente religioso: é o nacionalismo, que desempenharia papel importante no crescimento da maior parte das novas religiões protestantes. Huss imediatamente se tornou um herói boêmio, frequentemente invocado nas Guerras Hussitas, dos hereges (e patriotas) boêmios contra os imperadores católicos que tentavam controlar o país e a heresia.

Em 1512, o papa Julio II convocou o Quinto Concílio Geral de Latrão, em grande parte para lidar com várias disputas políticas dentro e fora da Igreja. Ele morreu em 1513, e seu sucessor, Leão X (Medici), continuou o concílio, a fim de realizar objetivos pessoais. O concílio se reuniu somente 12 vezes. Embora tenha feito alguns bons regulamentos e apontado a necessidade de reformas, não foi de modo algum a ponta de lança que poderia ter sido. Por uma coincidência misteriosa, as sessões terminaram em 1517, apenas alguns meses antes de Lutero aparecer na cena religiosa. Levaria trinta anos até que outro concílio - o grande Concílio de Trento - fosse tratar do desafio do protestantismo e estimular o movimento por uma verdadeira reforma católica.

Havia, portanto, um consenso na Igreja antes da Reforma Protestante - como provavelmente houve ao longo de muitas épocas na história da Igreja -, de que algumas coisas deveriam ser corrigidas porque estavam em mau estado. Entretanto, não existia um consenso entre os católicos, no período anterior à Reforma, sobre a desmontagem da Igreja e a criação de uma nova.

[Continua...]

sábado, 22 de setembro de 2012

Uma Igreja corrompida até o topo [Parte 1] - Diane Moczar

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Sobre a autora: Diane Moczar, ph.D, ensina História na Nothern Virginia Community College. Entre as suas obras, destacam-se: Islam at the Gates, sobre a guerra da Europa contra os turco-otomanos, e Ten Dates Every Catholic Should Know.





A mentira: a Reforma Protestante foi necessária, pois a Igreja Católica estava inteiramente corrompida por imoralidade e falsa doutrina.


A mentira apresentada neste capítulo, assim como outras mentiras históricas, já foi refutada por pesquisas de estudiosos católicos e não católicos. O problema é que a pesquisa erudita, cuidadosamente conduzida e amparada por numerosas notas de rodapé não é muito atrativa ao leitor comum. Há, no entanto, algumas obras sobre o assunto – de protestantes e católicos, - que são de leitura mais fácil e expõem o tema de modo imparcial. Algumas serão mencionadas neste capítulo, outras estão incluídas na bibliografia indicada no Apêndice 2.

Para resumir, a versão popular desta mentira é a seguinte: A reforma era inevitável. (Até mesmo o historiador de arte Sir Kenneth Clark, em sua série de filmes Civilisation, diz, “ela tinha que vir”). No século XVI, a situação na Igreja Católica era intolerável e alguém tinha de fazer alguma coisa. Felizmente, apareceram benfeitores da humanidade como Martinho Lutero, João Calvino e Henrique XVIII, dispostos a cumprir a tarefa de purificar o cristianismo que, há séculos, vinha sendo corrompido pela ganância e superstição dos católicos.

O clero católico era ignorante e moralmente corrupto; vivia em concubinato ou até mesmo em libertinagem e vendia indulgências pelos pecados (ver as cartas dessas indulgências em Contos de Cantuária [ Lisboa, Publicações Europa-América, 1992], de Geoffrey Chaucer). Os mosteiros eram fossas de iniqüidades. Nos níveis mais altos, os clérigos compravam e vendiam seus cargos e influências políticas e eclesiástica. Os papas levavam vidas imorais, em grande luxo, preocupados principalmente com questões políticas. Viviam como príncipes mundanos. Os leigos eram miseráveis ignorantes, prejudicados pelos dízimos e tributos infligidos pelo clero e devotos de superstições que lhes eram ensinadas sobre o pretexto de doutrina. Dificilmente poderiam viver como seres humanos racionais, em razão da sua preocupação com relíquias e com pós-morte e de práticas arcaicas como a Missa.

Entretanto, a corrupção da Igreja era mais evidente na sua doutrina. A vida dos sacerdotes não apenas não se assemelhava em nada à vida dos apóstolos, mas o que eles ensinavam não se baseava nas Escrituras. Indulgências, por exemplo, certamente não estão na Bíblia; todavia, foram uma grande fonte de lucro para o clero corrupto. A Igreja Católica como um todo, com sua misteriosa liturgia, sacramentos mágicos e doutrinas incompreensíveis, não tinha semelhança alguma com aquelas simples comunidades cristãs sobre as quais lemos na Bíblia. Já que, então, a Igreja Católica era incapaz de reformar a si mesma – o concílio chamado de reformista, realizado no século XVI (Quinto Concílio de Latrão) não realizou absolutamente nada -, era o momento de os cristãos devotos, que sabiam o que significava o verdadeiro cristianismo, iniciarem uma mudança radical e uma limpeza completa.

Essa é a história da grande Reforma contada pelos protestantes. Como escreveu um historiador protestante francês, E. G. Leonard, em The Reformation: Revival or Revolution, editado por W. Stanford Reid:
“(...) os protestantes afirmaram por muito tempo, e ainda o fazem ocasionalmente, que a Reforma foi uma reação contra a falta de moral dos padres e os abusos do papado; essa visão baseia-se em um escrito tardio de Lutero, no qual ele afirma que sua revolta começara a partir do momento em que, durante sua visita a Itália, descobriu o horror das práticas vergonhosas de Roma.”
Will Durant, no volume sobre a Reforma da sua obra História da Civilização, aproveita a oportunidade para pintar uma imagem sensacionalista de corrupção generalizada dentro do clero e ainda acrescenta, de maneira maliciosa e astuta,
“precisamos ser justos com aqueles padres luxuriosos e levar em conta que o concubinato sacerdotal não era devassidão, mas sim uma rebelião quase geral contra a regra do celibato, imposta pelo papa Gregório VII a um clero que não a queria.”
Ele chama o celibato de “uma regra arbitrária desconhecida dos apóstolos e do cristianismo oriental”.

Jack L. Arnold, do Third Millenium Ministers, resume de forma sucinta em seu website[1] a descrição convencional do protestantismo evangélico sobre a Era da Reforma:
“A Igreja Católica Romana estava teologicamente doente e sua teologia havia gerado uma corrupção atroz. Estava espiritualmente exausta, debilitada e quase sem vida. Roma se afastara dos ensinamentos da Bíblia e estava mergulhada em heresia.”
Em outro site, www.justforcatholics.org, lemos sobre aquela época: “a Igreja Católica desceu ao fundo dos infernos em matéria de corrupção, ganância, superstição, arrogância e imoralidade”.

Essa visão parece estar consolidada de tal modo na psique moderna que se torna imune a qualquer relato diferente. E não são apenas os interessados em perpetuar as 33 mil ou mais seitas que foram criadas desde a Reforma, todas trazendo o selo “cristão”, que continuam a papaguear a coleção de mentiras listadas anteriormente. Até mesmo trabalos acadêmicos são frequentemente contaminados. Isso levou um crítico literário, ao analisar os melhores estudos recentes sobre a Reforma (The European Reformation, do professor Euan Cameron), a observar que: “é revigorante encontrar uma obra que não comesse com a premissa de que o protestantismo era inevitável ou até mesmo desejado pelos leigos.”

Quanto aos pastores e fiéis das seitas protestantes, eles estão naturalmente predispostos a aceitar a versão da História que lhes é ensinada por seus livros e semináros e, depois, transmitirem-nas ao seu rebanho. Anos atrás, perguntei a uma aluna minha onde ela havia aprendido uma determinada mentira sobre a Igreja, que escrevera em um trabalho, e ela respondeu que fora na escola dominical. Expliquei-lhe pacientemente os fatos, mas foi em vão. Da mesma maneira que muitos protestantes, ela simplesmente “sabia” que a Igreja Católica estava corrompida antes de Lutero e companhia, e as provas em contrário simplesmente entravam por um ouvido e saíam pelo outro.

Suponho que muitos protestantes se prendem a essa idéia porque ela justifica a sua existência. Se a Igreja Católica não fosse (e continua sendo, é claro) tão corrupta e maléfica, qual seria a razão para se criar novas igrejas? Os secularistas, naturalmente, alegram-se em comprar qualquer versão da História que denigra a Igreja. Em razão do estreitamento mental dessas pessoas, o estudo imparcial da Igreja Católica pré-Reforma é muito raro.

E quanto aos católicos? Aqui, a situação é também muito ruim. Os mitos reformistas são parte da cultura americana, e apenas uma minoria de católicos não foi afetada por eles. A má formação também tem culpa: vinte anos atrás, quando eu havia começado a dar aulas, alguns de meus alunos católicos diziam ter aprendido mais sobre religião comigo que nas escolas católicas ou em aulas de educação religiosa. E eu acredito neles; a qualidade da catequese e educação histórica nas escolas católicas e outras instituições passaram por um declínio abissal nos anos 1960 e ainda apresenta um nível muito irregular. Os católicos de hoje estão dispostos a acreditar em qualquer bobagem sobre a Igreja que encontrem em livros didáticos, na mídia ou no ar que respiram.

Se, portanto, protestantes e católicos compram as mesmas mentiras sobre a Reforma, o que podemos fazer? Primeiramente, devemos ter certeza de que conhecemos os fatos. Em seguida, precisamos entender a razão pela qual poucos avanços são feitos na luta contra as mentiras da História – não somente nessa questão – e tentar lidar de maneira caridosa com os obstáculos que encontramos.

O fenômeno complexo conhecido por Reforma não veio do nada. Foi precedido por mil e quinhentos anos de civilização cristã, desde as primeiras comunidades de fiéis dentro do Império Romano, passando pela lenta conversão da Europa bárbara, até chegar à desenvolvida civilização da Idade Média. Como discutimos anteriormente, o período medieval viu o esplêndido desenvolvimento da cultura, da educação, dos serviços sociais, das instituições políticas e econômicas, e contou com grande número de santos que atuaram em diversos âmbitos da vida. *

Os conturbados séculos que precederam a Reforma

Os dois séculos anteriores ao século XVI, o século da Reforma, foram pontuados por desastres de vários tipos. A Guerra dos Cem Anos havia minado a energia de duas grandes potências, Inglaterra e França. Havia devastado particularmente a França, outrora o centro do pensamento e cultura europeus. Mudanças climáticas no começo do século XIV trouxeram penúrias deliberantes, e a estas se seguiu a grande pandemia famosa até os tempos modernos: a Peste Negra, que trouxe consigo discórdia social e declínio moral. De acordo com um cronista da época, após a praga seguiu-se uma baixa na qualidade (assim como na quantidade, em muitos locais) do clero e os religiosos. Conforme a doença se espalhava, os padres e os religiosos, bondosos e dedicados, cuidavam dos doentes e enterravam os mortos – contraindo assim a doença e morrendo logo depois. Os não tão dedicados, no entanto, fugiram para áreas isoladas, onde conseguiam sobreviver. Eles retornaram quando a praga havia acabado para ocupar a vaga deixada pelos padres heróicos que haviam morrido.

O papado também passou por crises sucessivas durante aquele período negro. Primeiro foi a amarga disputa entre o papa Bonifácio VIII – que não foi um exemplo brilhante de pontífice – e a coroa francesa, sobre a tributação do clero, o que levou a um confronto entre o papa, uma delegação francesa e um grupo de inimigos políticos italianos do papa. Qual deles (provavelmente os italianos) realmente colocou as mãos no velho pontífice e o agrediu no escritório de sua casa de férias? Não se sabe, mas ele retornou a Roma muito abalado e morreu pouco tempo depois do incidente. O papa seguinte, um francês, nunca saiu da França e estabeleceu a corte papal em Avignon, onde ela permaneceu por quase setenta anos. A mudança fazia sentido por certos ângulos, mas não havia como fugir do fato de que esse sucessor de Pedro havia deixado Roma; a cristandade estava escandalizada. (Lembre-se de que a guerra, a praga e a desagradável mudança climática ocorriam na mesma época).

Em Avignon, o governo da Igreja foi muitas vezes dirigido com eficiência, mas a situação anômala impediu a realização de grandes planos como a convocação de um concílio para lidar com os formidáveis problemas da época. Como observa o historiador Christopher Dawson, em The Dividing of Christendom, a eficiência do sistema de tributação implantado pelo papado de Avignon andou de mãos dadas com o declínio de seu prestígio e poder dentro da cristandade, pois o papado aumentava escandalosamente sua riqueza e crescia em secularismo. Por fim, em grande parte por causa do “puxão de orelhas” (palavras do papa) de Santa Catarina de Sena, o papa Gregório XI retornou a Roma, em 1337. Agora a vida e a atividade da Igreja poderiam voltar ao normal – exceto pelo fato de que a guerra ainda estava em curso, os turcos invadiam as regiões costeiras e o deslocamento do papado continuava a afetar muitas áreas da vida européia.

A volta à normalidade não ocorreu. O papa morreu logo após o retorno a Roma, e o papa eleito em seguida foi rapidamente rejeitado por um grupo de cardeais – que tinha segundas intenções -, após terem visto o tipo de reformista rígido que ele seria. Eles decidiram que não o queriam e elegeram outro papa. Assim, começou o Grande Cisma do Ocidente, que continuou até o século seguinte, produzindo dois e, por vezes, três demandantes do trono papal, cada um com suas próprias cortes e grupos de cardeais. Poucos na Europa sabiam quem era o verdadeiro papa e havia santos em lados opostos da disputa. Além do mais, como observa Dawson, o escândalo do papado de Avignon não fora eliminado; pelo contrário, era duplicado ou até triplicado, dependendo do número de cortes “papais” que existissem ao mesmo tempo.

No início do século XV, a situação deu sinais de melhora. A Guerra dos Cem Anos terminou com Joana d’Arc ajudando a expulsar os ingleses e com a vitória dos franceses após a morte dela (os ingleses voltaram para casa, a fim de iniciar a Guerra das Rosas), e o Concílio de Basiléia finalmente acabou com o Cisma do Ocidente. Alguns membros do concílio, no entanto, começaram a argumentar que, por terem resolvido o problema dos reis papas (ao escolher um deles), o concílio era agora a autoridade última da Igreja: essa foi a heresia do conciliarismo. Demorou para que fosse eliminada. O Concílio de Basiléia também teve de lidar com o movimento herético que estava em curso na Boêmia, resultado das pregações do reformador João Huss, que, por sua vez, fora influenciado pela heresia do teólogo inglês John Wycliffe.

Não surpreende o fato de os papas seguintes, novamente em Roma e tentando retornar à normalidade, terem preferido lidar, em especial, com questões locais, particularmente a tentativa de recuperar e governar os territórios da Santa Sé, o que fazia parte da sua tarefa de líderes italianos. Seduzidos pelas glórias da Alta Renascença e sua cultura mundana, eles queimaram críticos severos como Girolamo Savonarola, e mesmo com seus expendidos corpos diplomáticos não estavam tão conscientes quanto seus predecessores medievais a respeito do que estava sendo fermentado na Alemanha, Boêmia, Inglaterra e na própria Itália.

E quanto as condições dos leigos católicos na maioria da Europa, durante os anos anteriores à reforma? Não é claro como a vida dos católicos foi afetada pelo Cisma do Oriente. Certamente, a liderança e os serviços sociais fornecidos pelas dioceses locais sofreram com o fato de que, durante muitas décadas, ninguém sabia com certeza quem era o verdadeiro papa. Instituições paralelas eram por vezes montadas por requerentes rivais ao trono papal, mas a falta de unidade deve ter comprometido a operação eficiente de todas essas instituições de educação e bem-estar, que estavam entre as grandes conquistas estabelecidas pela Igreja. Tal como no período negro do século X, os católicos na Europa pré-Reforma reclamavam da ignorância e imoralidade de muitos padres, da influência demasiada de autoridades políticas em assuntos da Igreja, da mundanidade de boa parte do alto clero (que estava apenas imitando alguns papas) e da falta de continuidade da reforma. Para a maioria, as coisas não haviam chegado ao ponto em que estavam no século X, mas a crescente alfabetização e a invenção da máquina de impressão, na metade do século XIV, permitiram que a discórdia se espalhasse mais amplamente. Enquanto isso, havia hereges individuais propagando seu próprio tipo de “reforma”, líderes políticos locais que desejavam controlar as finanças eclesiásticas e a tendência dos monarcas a se libertarem das restrições impostas pela Igreja (por vezes, de maneira abusiva, deve-se admitir) sobre suas ações.

Essas eram queixas constantes, como também as reclamações sobre os pesados dízimos e outras taxas que várias instituições da Igreja arrecadavam dos fiéis. É possível que circunstâncias como a Peste Negra e as revoltas subseqüentes tenham, de fato, aumentado a necessidade da Igreja por dinheiro, a fim de atender à crescente demanda de serviços de bem-estar, mas isso não foi culpa da Igreja ou dos leigos.

A despeito de todos esses problemas, no período pré-Reforma ainda haviam santos, incluindo Santa Catarina de Sena, Santa Brigite da Suécia e o grande pregador São Vicente Ferrer. Se houve um santo para a época, foi Vicente. Durante mais de vinte anos ele cruzou toda a Europa, pregando e lutando por almas. Chama a si mesmo de “o Anjo do Julgamento” e advertia que o fim do mundo viria caso as pessoas não se arrependessem de seus pecados. Muitos se converteram durante as suas pregações. Nesse período, instituições da Igreja ainda cuidavam dos pobres e doentes e educavam os mais jovens nas escolas. Os sacramentos ainda eram ministrados por padres que, no geral, faziam seu trabalho adequadamente, mesmo que não fossem tão letrados quanto deveriam. Pregadores de ordens monásticas ainda atuavam e, se trapaceiros eclesiásticos, como o Pardoner de Geoffrey Chaucer, tentavam vender indulgências e outros favores espirituais aos ingênuos, isso não era algo novo na História.

[Continua...]

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* Em breve postarei uma lista sobre esse desenvolvimento.

Texto retirado do livro "Sete mentiras sobre a Igreja Católica" da historiadora Diane Moczar, editora Castela.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

A origem do Alcorão

Fiz uma lista dos artigos escritos por Norman Geisler que respondem algumas alegações dos muçulmanos sobre a origem do Alcorão e que postei aqui. Tenham bom proveito:

"Examinai tudo: abraçai o que é bom." (1 Tessalonicenses 5, 21)


Vale ressaltar que os textos acima são introdutórios. Há muito mais o que dizer sobre o assunto.

Outros artigos sobre o Islã podem ser vistos aqui:

- Jesus um profeta do Islã? (Parte 1 / Parte 2)
- Vídeo de massacre realizado por muçulmanos fanáticos. (ou seja, nem todos muçulmanos são fanáticos. Apesar disso, é bom ficar de olho. Veja o artigo "As duas faces do Islam")

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A origem do Alcorão - Conclusão

Para quem ainda não leu, veja o importante texto sobre as duas faces do Islã clicando aqui.

Os artigos anteriores sobre o assunto podem ser vistos aqui: Primeira parte / Segunda parte / Terceira parte / Quarta parte / Quinta parte / Sexta Parte / Sétima Parte



Além de não existir evidência da origem divina do Alcorão, há fortes indicações de que sua origem não é divina.

Falibilidade. Deus não pode cometer erros ou mudar de idéia. Porém, como visto, o Alcorão reflete tal falibilidade em várias ocasiões. (Comentário do Blog: Isso principalmente dentro do próprio conceito do Islã sobre a inspiração, em que as palavras seriam ditadas)

Fontes puramente humanas. Conforme descobertas de estudiosos reconhecidos pelo islamismo, o conteúdo do Alcorão pode ser rastreado em sua origem até obras judaicas ou cristãs (geralmente dos apócrifos judaicos ou cristãos) ou fontes pagas. Arthur Jeffry, no livro técnico e erudito The foreign vocabulary of the Qu’ran [O vocabulário estrangeiro do Alcorão], demonstra com habilidade que "não só grande parte do vocabulário religioso, mas também a maior parte do vocabulário cultural do Alcorão não são de origem árabe" (Jeffry, p. 2). Algumas das fontes de vocabulário são as línguas etíope, persa, grega, siríaca, hebraica e copta (ibid., 2-32).

St. Clair-Tisdall, em The sources of lslam [As fontes do Islã], também revela que certas histórias alcorânicas sobre o AT dependem do Talmude. A influência do Talmude pode ser vista nas histórias alcorânicas de Caim e Abel, Abraão e os ídolos, e a Rainha de Sabá. A influência direta dos apócrifos cristãos pode ser vista na história dos sete adormecidos e nos milagres da infância de Jesus, e doutrinas zoroastristas aparecem em descrições das huris (virgens) no paraíso e no sirat (a ponte entre o inferno e o paraíso; Tisdall, p. 49-59, 74-91). Práticas como a de visitar a Caaba, os vários detalhes da peregrinação à Meca, incluindo visitas aos montes Safa e Marwa, e o lançamento de pedras contra uma coluna que simboliza Satanás, eram práticas pré-islâmicas da Arábia paga (Dashti, p. 55,93-4,164).

O brilhantismo de Maomé. Como mencionado acima, Maomé pode não ter sido analfabeto, e mesmo que não tivesse treinamento formal, foi uma pessoa inteligente e talentosa. Não há razão que impeça que uma mente criativa seja a fonte dos ensinamentos do Alcorão que não têm antecedentes humanos conhecidos.

O biógrafo de Maomé, Haykal, identifica uma possível fonte das "revelações" de Maomé na sua descrição da imaginação fértil dos árabes: "Vivendo como ele sob o vazio do céu e movendo-se constantemente à procura de pasto ou comércio, e sendo constantemente forçado a excessos, exageros, e até mentiras que a vida do comércio geralmente implica, o árabe é dado ao exercício da sua imaginação e a cultiva sempre para o bem ou para o mal, para paz ou para guerra" (ibid., p. 319).

Possíveis fontes satânicas do Alcorão. Também é possível que Maomé tenha recebido suas revelações de um espírito maligno. Ele mesmo a princípio acreditava que suas "revelações" vinham de um demônio, mas foi encorajado por sua esposa Khadija e pela prima dela, Waraqah, a acreditar que a revelação vinha de Deus. Isso é contado em mais detalhes no artigo MAOMÉ, SUPOSTO CHAMADO DIVINO DE (na Enciclopédia Apologética). Seja pelo próprio brilhantismo, por outras fontes humanas ou por espíritos malignos finitos, não há nada no Alcorão que não possa ser explicado sem a revelação divina.

Conclusão.

Apesar das evidências acima contra qualquer origem divina do Alcorão, é interessante que autores muçulmanos tenham se negado a abordar a questão das origens humanas do Alcorão, mas simplesmente repitam afirmações dogmáticas sobre sua fonte divina. Na verdade, raramente encontra-se reconhecimento de problemas, muito menos uma apologia, entre os estudiosos muçulmanos.

Fontes


A. A. ABDUL-HAQQ, Sharingyourfaith with a muslim.
H. AHMAD, Introduction to the study ofthe holy Quran.
M. M. A. AJÍJOLA, Muhammad and Christ.
AL-RUMMANI, em A. Rippin e J. Knappert, orgs.,
Textual sources for the study oflslam.
M. Ali, The religion of lslam.
Y. ALI, The Holy Quran: translation and commentary.
M. BUCAÍLLE, A Bíblia, o Alcorão e a ciência.
W. SLCLAIR-TISDALL, A manual ofthe leading Muhammedan objections to christianity.
K. CRAGG, Contemporary trends in íslam, em J. D. Woodberry, org.s Muslims and Christians on the Emmaus road.
A. DASHTI, Twenty-three years: a study of the prophetic career ofMohammad.
M. FOREMAN, An evaluation of islamic miracle claims in the life of Muhamma, tese não publicada(1991).
M, B. FOSTER, The Christian doctrine of creation and the rise of modern science, Mind (1934).
N. L. GEISLER e A. SALEEB, Answering Islam: the Crescent in the light ofthe cross.
E. GIBBON, The history ofthe decline and fali of the Roman empire.
J. P. GUDEL, TO every muslim an answer: Islamic apologetics compared and contrasted with christian apologetics. H. HANEEF, What everyone should know about Islam and muslims
M, H. HAYKAL, The life of Muhammad.
A. JEFFRY, ed., Islam: Muhammad and his religion.
L. B. JONES, Thepeople ofthe mosque.
J. W. MONTGOMERY, Faithfounded onfact.
___ Mudjiza, em The encyclopedia of Islam.
G. NEHLS, Christians ask muslims.
J. B. Noss, Marís religions.
W. PALEY\Evidences ofchrístianity.
C. G. PFANDER, The Mizanu’l Haqq (The balance of truth).
A. A. SHORROSH, Islam revealed: a christian Arabs view of Islam.
H. SPENCER, Islam and the Gospel of God.
C. WADDY, The muslim mind.
W. M. WATT, Muhammad: prophet and statesman.
A. N. WHITEHEAD, Science in the modern world.


Comentários do Blog:


Os muçulmanos possuem um conceito de inspiração bem diferente do que os cristãos ao longo do século possuíam. No entanto tentam argumentar contra a Bíblia usando o mesmo conceito que eles dão ao Alcorão, o que é errado. Se querem criticar a inspiração da Bíblia, critiquem o que os cristãos primitivos acreditavam dela, não o conceito islâmico de inspiração para o Alcorão ou um fantoche criado por vocês.


Esse artigo não leva em consideração o que os cristãos acreditam da Bíblia, apenas mostra que as evidências são contrárias ao que os muçulmanos pretendem afirmar do Alcorão, e, principalmente, as "evidências" que apresentam não são evidências de fato.


Em breve pretendo publicar alguns outros artigos em resposta a certas alegações islâmicas.


No mais, é bom lembrar que esses textos são apenas introdutórios. Há muito o que se comentar sobre o assunto.

sábado, 14 de julho de 2012

A origem do Corão (7) - Argumento da difusão rápida do islamismo.


Os artigos anteriores sobre o assunto podem ser vistos aqui: Primeira parte / Segunda parte / Terceira parte / Quarta parte / Quinta parte / Sexta Parte.


Argumento da difusão rápida do islamismo. Alguns estudiosos islâmicos indicam a rápida difusão do islamismo como prova de sua origem divina. De acordo com um apologista muçulmano: "a difusão rápida do islamismo mostra que o Altíssimo o enviou como revelação final para o homem" (Pfander, p. 226). O islamismo ensina que está destinado a ser a religião universal. Há vários problemas sérios com esse raciocínio.

Primeiro, pode-se questionar o tamanho e o crescimento rápido como testes definitivos da verdade. A maioria nem sempre está certa. Na verdade, a história tem demonstrado que geralmente a maioria está errada.

De acordo com o próprio teste o islamismo não é a religião verdadeira, já que o cristianismo tem sido e ainda é a maior religião do mundo em número de adeptos — fato embaraçoso para os muçulmanos. Além disso, mesmo que o crescimento rápido fosse usado como teste da verdade de um sistema, o cristianismo, não o islamismo, provaria ser a religião verdadeira. Pois ele cresceu mais rápido no princípio, com sua mensagem simples e sob forte perseguição romana, que o islamismo pela força militar. Na verdade, não só conquistou a partir de suas raízes judaicas milhares de convertidos em poucos dias e semanas (At 2.41; 4.4; 5.14), mas alcançou o Império Romano pela força espiritual nos seus primeiros séculos.

Certamente, as cruzadas cristãs (séc. XII a XIV) também usaram a espada, proibida por Jesus para espalhar sua mensagem (Mt 26.52). Mas isso foi bem depois de o cristianismo ter conquistado o mundo sem ela. Em comparação, o islamismo não cresceu pela mera força da sua mensagem, mas apenas depois, quando usou a espada. Na realidade, o cristianismo primitivo cresceu mais quando o governo romano estava usando a espada contra os cristãos durante os três primeiros séculos.

Há razões perfeitamente naturais para a difusão rápida do islamismo, diz Shorrosh. O islamismo glorificava o povo, os costumes e a língua árabes. Incentivava a conquista e o saque de outras terras. Utilizava a habilidade de lutar no deserto. Oferecia uma recompensa celestial pela morte e absorvia muitas práticas pré-islâmicas na cultura árabe. Mesmo se indicarem razões mais positivas, como melhorias morais, políticas e culturais, parece não haver razão para supor qualquer coisa além de causas naturais para a difusão do islamismo. Finalmente, houve incentivos naturais para muitos convertidos. Os soldados receberam a promessa do paraíso prometido como recompensa por morrer na difusão do islamismo. E o povo que não se submetesse era ameaçado de morte, escravidão, ou com impostos. Não há necessidade de apelar ao sobrenatural para explicar o crescimento do islamismo sob essas condições.

O estudioso Wilfred Cantwell Smith especifica o dilema islâmico. Os muçulmanos acreditam que o islã é a vontade de Deus e é destinado a dominar o mundo, então seu fracasso deve ser indicação de que a vontade soberana de Deus está sendo frustrada. Mas os muçulmanos negam que a vontade de Deus possa ser frustrada. Portanto, logicamente eles devem concluir que tal domínio não é a vontade de Deus. O biógrafo de Maomé, M. H. Haykal, erra quando responde que os seres humanos são livres, e qualquer derrota ou retrocesso devem ser atribuídos a eles (Haykal,p. 605). Se Deus realmente quisesse a supremacia do islamismo, sua vontade divina teria sido frustrada, por meio da liberdade humana ou sem ela. Pois o islamismo não é e jamais foi, desde a época da sua criação, a religião mundial dominante numérica, espiritual ou culturalmente. Mesmo que o islamismo tivesse um surto repentino de sucesso e ultrapassasse todas as outras religiões, isso não provaria que é de Deus. Logicamente, todo esse sucesso demonstra que foi bem-sucedido, não necessariamente que é verdadeiro. Pois mesmo depois que algo é bem-sucedido, ainda podemos perguntar: É verdadeiro ou falso?

Argumento que Deus fala na primeira pessoa. Os muçulmanos apelam para o fato de que Alá fala na primeira pessoa como evidência de que o Alcorão é a Palavra de Deus. Na Bíblia, Deus geralmente é mencionado na segunda ou terceira pessoa, do ponto de vista humano. No entanto, nem todo o Alcorão fala de Alá na primeira pessoa, de forma que por essa lógica apenas as partes na primeira pessoa seriam inspiradas. Nenhum muçulmano diria isso voluntariamente. Além disso, em grande parte da Bíblia Deus fala na primeira pessoa, mas os muçulmanos não admitem que essas passagens sejam palavras de Deus, principalmente quando Deus abençoa Israel, dando a eles a terra da Palestina como herança.

A verdade é que tanto o Alcorão quanto a Bíblia têm passagens que falam de Deus na primeira e na terceira pessoas. Assim, os muçulmanos não podem usar isso como prova singular da origem divina do Alcorão.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Como refutar o protestantismo, com 10 simples passos, usando os métodos de alguns protestantes.

Esse texto é uma brincadeira feita como crítica a alguns protestantes desonestos que sempre encontro. É bom deixar claro que nem todos protestantes são desonestos, mas que esse texto é uma forma de mostrar a incoerência de alguns deles, principalmente os mais intolerantes. ("Católicos" de plantão... aguardem a sua vez rsrsrs)

Eu sei que vai ter gente que vai me amaldiçoar até altas horas, mas tudo bem rsrsrs....

1 – Modifique o significado dos símbolos religiosos que são comumente usados.

Não tenha dó nem piedade. Você está certo, e você sabe o significado correto, não a pessoa que usa e/ou criou tal símbolo. A cruz sem Jesus é um exemplo. Diga que eles usam a cruz sem Jesus lá porque eles, por influência do Islamismo, não acreditam que Jesus foi morto (e por tanto não poderia ter ressuscitado). Isso é óbvio, se Jesus não está lá na cruz, é porque não foi crucificado. E estas influencias se expandem mais ainda por evangelhos apócrifos, como o de Barnabé.

Mas tenha um coisa em mente: ignore todo o significado que eles dão para a cruz sem o crucificado. O que importa é falar mal, e o significado que você dá (você sabe tudo!). Então se disserem que eles usam a cruz vazia porque acreditam que Jesus ressuscitou, diga que a cruz vazia não significa isso, e sim o túmulo vazio. Então, que andem com um ninho de João-de-barro amarrado no pescoço, ou um túmulo vazio pintado ou esculpido em suas igrejas, porque Jesus ressuscitou no túmulo e não na cruz. A cruz vazia só representa o sepultamento de Jesus, que ele foi tirado de lá.

Viu como é fácil usar o Protestantism Method? Esse é só um exemplo, existem vários outros que você pode mudar o significado e sair por aí criticando, como aqueles vitrais sem forma, todos quadrados, que podem representar o caos, ou o fogo desenhado em algumas roupas, que podem representar o fogo do inferno. A idéia é mudar o significado. Não é difícil, e você verá como é engraçado vê-los tentando mostrar o real significado enquanto você não se importa que o significado quem dá é quem usa.

2 – Cite versículos bíblicos a como se entendesse da Bíblia e como se os versículos de fato falam alguma coisa contra o que você quer criticar.

Deve-se ter o trabalho de citar vários, mesmo que fora de contexto, desde que aparentem contrariá-los. Cite, por exemplo, que há um só mediador entre Deus e os homens, e que ninguém pode tomar esse lugar de Jesus, e, por esse motivo, é heresia e idolatria os grupos de intercessão.

3 – Decore textos bíblicos longos e mencione-os fora de contexto.

Isso é muito eficiente. Nem todos possuem uma boa memória (principalmente hoje em dia onde poucos exercitam, e os novos meios de comunicação não ajudam). Portanto, cite textos decorados. Se seu oponente souber, siga a segunda instrução. Provavelmente ele não terá como conferir e você sairá de um grande conhecedor da Bíblia. A quantidade de textos decorados vai do tempo perdido que você terá achando que decorar textos para repetir significa que os entendeu.

4 – Mude o significado das palavras e ações.

Esse é bem simples: invente que os protestantes adoram seus líderes, e idolatram os pregadores ungidos. Motivos: alguns deles geralmente se ajoelham para receber alguma intercessão, muitos se colocam sob a autoridade e a mão desses líderes para intercederem diante de Deus. Ora, todos nós “sabemos” que há um só mediador entre Deus e os homens certo? Então. Mencione isso e outros versículos, e diga que eles são idólatras. Claro que eles vão dizer que o fato de se ajoelhar não é necessariamente idolatria, e que quem intercede está intercedendo a Deus por meio de Jesus, mas seja firme: sua chatice e intransigência fará com que o oponente desista e ache coisa melhor para fazer (o que é bom, pois vai aumentar o seu ego e alguns ignorantes acharão que você está certo).

5 – Conte seu testemunho.

Fale como você era protestante e vivia fornicando atrás do pano, ou se masturbando imaginando a irmãzinha ou que tomava cerveja escondido. É claro que esses casos são isolados e isso aconteceu porque você nunca foi um protestante sério, mas mencione isso como se todos os protestantes fossem hipócritas como você era, ou como se todos não fossem pecadores. Em suma: finja que sua melhora moral se deu porque deixou de ser protestante, e que os protestantes geralmente são assim (principalmente os que são só de nome, porque já é modinha)

6 – Ofereça CD ou DVD de testemunhos.

Se você não tiver sido protestante, e se sua vida foi boa como protestante, ofereça CDs de testemunhos. Pode ser de “Tio Chico”, ex-cantor gospel, ex lider de ministério de dança, ex qualquer coisa.

7 – Desvie o assunto.

Quando você não tiver mais o que falar de um assunto, pule para outro fingindo que possui alguma ligação. Veja esse exemplo de conversa:

Espírita: Mas vocês protestantes adoram seus pastores, e colocam eles como mediadores no lugar de Jesus.
Protestante: Eles não estão no lugar de Jesus. Acontece que a Bíblia ensinou a intercedermos uns pelos outros. Interceder não significa adorar ou colocar no lugar de Jesus..
Espírita: Não... E aqueles grupos de dança também... tudo agora é gospel... só falta ter maconha gospel! Isso tudo são motivos que me fazem não ser protestante...

É importante que você ignore todas as tentativas de voltar ao assunto.

8 – Negue os fatos.

Quando algum protestante lhe mostrar fatos históricos, diga apenas que “essa é a versão da história dele”, que “a história foi modificada pelos protestantes” ou simplesmente que “isso não é verdade”. Não precisa refutar com documentos, só negar.

9 – Quando responderem todas as objeções, diga que o que importa é estar na “presença de Deus”.

Quando você não tiver mais o que responder, diga que religião não salva ninguém, e que tudo não passa de “placa de igreja” porque o que importa é sentir aquele frio na barriga, êxtase ou emoção que surge quando se ouve aquela música melosa, que geralmente chamam de “presença de Deus”, e ignore que Jesus disse para amarmos a Deus também como todo o ENTENDIMENTO, e que até o presente momento você estava criticando o protestantismo por estar errado (se o que importa é “a presença de Deus”, pra que começou a criticar? Ignore isso também). Diga também que Deus não é propriedade de ninguém, o que importa é "aceitar Jesus" (sem definir o que é), que assim a vida é maravilhosa e rosada, e por aí vai...

10 – Quando tudo isso falhar volte a primeira crítica já refutada que você fez.

Tiro e queda. Fazendo isso ou você vence pelo cansaço, ou você vai fazer o protestante se irritar e até xingar, o que vai aparentar mais ainda que você tem razão e como ele é um ímpio que precisa ir para sua comunidade sentir aquele frio na barriga, levantar a mão, e entrar pra sua religião.

Dica extra: nunca leia nenhum texto protestante sério. Afinal, para que ler? Você sabe tudo!



quarta-feira, 4 de julho de 2012

Vícios - A preguiça


Acabei de ler esse texto em meu e-mail. É muito bom, e por isso decidi postá-lo aqui.

***

O preguiçoso, conforme o senso comum, é aquele indivíduo avesso a atividades que mobilizem esforço físico ou mental. De modo que lhe é conveniente direcionar a sua vida a fins que não envolvam maiores esforços.

A Preguiça é definida como aversão ao trabalho, negligência. Este sentimento faz com que as pessoas desqualifiquem os problemas e a possibilidade de solução destes. A preguiça não se resume na preguiça física, mas também na preguiça de pensar, sentir e agir. A crença básica da preguiça é "Não necessito aprender nada", levando a um movimento freador das idéias e ações dentro das organizações que, no cotidiano, é traduzido pelo "deixa para depois".

“Paciência não é preguiça nem indolência, é a tranquilidade de saber esperar o momento oportuno, mas sem deixar de ser ativo!”

**A preguiça fecha os nossos olhos para as possibilidades.**


DICAS PARA VENCER A PREGUIÇA

Preguiça é a inimigo número 01 da produtividade, compromete seu tempo e saúde, e tornam-se facilmente uma
barreira para conquistar metas de longo prazo, aquelas realmente importantes.
Entenda a preguiça como uma batalha psicológica entre você e a inércia e, se quiser crescer, vai ter que vencer a
preguiça. Aqui vão algumas dicas úteis para esta caminhada.
1. Exercite-se
Você pode se sentir preguiçoso se não tiver energia suficiente para seu dia a dia. Uma rotina de exercícios físicos
deixa o corpo disposto e alerta, menos propenso a 'baixas' energéticas.
2. Durma
Como você pode se sentir motivado e entusiástico se não dorme o suficiente? Problemas de sono muitas vezes
decorrem de maus hábitos.
3. Determine um prazo curto para começar
A parte mais difícil de muitas tarefas é começar. Determine um prazo curto (5 a 15 minutos) para começar, de
qualquer maneira. Se precisar refazer o início depois, o tempo necessário certamente será menor que a eterna
protelação.
4. Visualize os benefícios
A preguiça se alimenta também da nossa visão do problema, e ver só as dificuldades da sua execução torna mais
difícil começar a resolvê-lo. Imagine todos os benefícios que terá ao concluir seu dever, e será bem mais fácil
colocar mãos a obra.
5. Estabeleça prêmios
Estabeleça para si mesmo um prazo para cumprimento da tarefa e um prêmio pela sua consecução. Entra como um
bônus no pacote de benefícios.
6. Pense nas conseqüências do não cumprimento
Outro motivador para se vencer a preguiça é visualizar as conseqüências negativas de se entregar à inércia. Se os
benefícios não são o suficiente para motivá-lo, pense no prejuízo financeiro, profissional ou emocional que vai ter se
não fizer o que deve.
7. Encontre parceiros.
Todos nós temos baixas em nossa motivação, e pessoas com interesses em comum podem ser o melhor apoio
quando a vontade própria não é o suficiente.
8. Divida a tarefa em partes administráveis
Às vezes, a visão obscura que temos de um problema nos impede de definir por onde começar. Se estiver diante
de uma questão complexa ou trabalhosa, divida o processo em etapas menores, administráveis, com prazos para
início e conclusão para cada uma.
9. Faça uma coisa de cada vez
Não é da nossa natureza (embora esteja se tornando de nossa cultura) ser multitarefa. Organize seu pensamento e
dedique-se a uma tarefa de cada vez. A concentração beneficia enormemente a criatividade e nosso potencial para
resultados.
10. Descreva seu processo
Você se sentirá mais motivado se perceber com clareza como sua produtividade varia de acordo com a freqüência
com que se entrega à preguiça. Uma maneira de visualizar este processo é registrar seu progresso diariamente,
anotando quantas metas se propôs, quantas atingiu e como foi seu estado energético e emocional neste dia.
11. Lembre-se do que realmente interessa.
A preguiça se alimenta de desculpas que damos a nós mesmos: 'é muito cedo', 'é muito tarde', 'estou muito
cansado', 'eu mereço esta folga'. Ás vezes realmente é verdade, e precisamos relaxar e descansar o corpo. Mas há
uma voz interna, auto-crítica e ciente de nossos estados emocionais, que nos diz se estamos realmente cansados
ou nos entregando à preguiça.
Nas horas críticas, esta voz é a nossa mais sábia conselheira.
Baseado no texto: 16 powerful tips to overcome laziness.
Pronto entao é isso.

CONSEQUÊNCIAS DA PREGUIÇA

Uma das formas mais comuns da preguiça é justamente a repugnância pelas alturas espirituais e morais. Quer-se é viver bem, mas sem exageros de esforço nem loucuras de idealismo. Ser bom, ser um “cristão médio”, com a "sua"  medida de religião, vá lá. Mas levar o cristianismo a sério e em plena coerência com a fé, isso considera-se fanatismo! Tirando as inúmeras desculpinhas que os preguiçosos podem tirar manipulando o próprio Evangelho a seu gosto.

É muito interessante verificar que a sabedoria dos antigos, já desde os primeiros séculos do cristianismo, ao enfocar a preguiça, contemplava quase que exclusivamente o seguinte conteúdo: a resistência a atingir a altura espiritual e moral própria de um filho de Deus, de um cristão.

Na linguagem clássica cristã, o vício capital da preguiça era designado com o nome de acédia (ou acídia). A acédia é fundamentalmente uma tristeza, uma tristeza ácida e fria – daí o nome –, que invade a alma ao pensar nos bens espirituais – na virtude, na bondade, no amor a Deus e ao próximo –, precisamente porque não são fáceis de alcançar nem de conservar. Exigem esforço, renúncia, sacrifício. E o egoísmo e o egoísta se defendem.

A repugnância que sente por tudo quanto é abnegação e doação generosa vai criando depósitos azedos no coração, e acaba transferindo para Deus e para os próprios bens árduos que Deus pede uma fria antipatia, que pode terminar em aversão: “um tédio que acabrunha”, diz Santo Tomás de Aquino. Esta aversão primeiramente contra o esforço que é carregar verdadeiramente a Cruz, avança contra o esforço que é buscar as virtudes, indo de encontro contra o próprio Deus e todos seus filhos que desejam ser virtuosos.

A preguiça detesta o que o amor abraça, entristece-se com o que alegra o amor.

Observa Santo Tomás que os pecados carnais são mais vergonhosos que os espirituais porque nos rebaixam ao nível do animal; contudo, os espirituais, os únicos que se compartilham com o demônio, são mais graves, porque vão diretamente contra Deus e nos afastam Dele.

Conseqüências da Preguiça Espiritual


- Desistência das tarefas religiosas necessárias para a nossa salvação e santificação. 
- As más tendências tendem a aumentar pouco a pouco, manifestando-se por numerosos pecados veniais que nos dispõem a cometer graves faltas.
- Busca de consolações materiais, prazeres inferiores com a finalidade de fugir da tristeza e desgosto, pela privação da alegria espiritual através da sua própria negligência e preguiça.
- Tristeza maligna que oprime a alma, dela nascem a malícia, o rancor sobre o seu próximo, desencorajamento, torpor espiritual mesmo pelo esquecimento de preceitos e, finalmente, procura de coisas proibidas, que levam à curiosidade, loquacidade, inquietude, instabilidade e agitação infrutífera. Desta forma a pessoa chega a uma cegueira espiritual e a um progressivo enfraquecimento da vontade.

Todo pecado capital será vencido pelos constantes exercícios espirituais, penitências, mortificações e óbvio constante busca dos Sacramentos da Penitência (Confissão) e da Eucaristia. Também gostaria e reforçar que contra todos os pecados capitais temos um grande trunfo, o Santo Rosário!

UM MAIS QUE EXCELENTE ARTIGO SOBRE OS PECADOS CAPITAIS

Como ensina São Gregório Magno e, depois dele, Santo Tomás, os pecados capitais de vanglória ou vaidade, preguiça, inveja, ira, gula e luxúria não são os mais graves de todos, pois maiores são os de heresia, apostasia, desesperação e de ódio a Deus; mas são os primeiros a que se inclina nosso coração, levando-nos a nos afastar de Deus e a cometer outras faltas ainda mais graves. O homem não chega à perversão absoluta de uma vez, mas pouco a pouco. Examinemos primeiro, em si mesma, a raiz dos sete pecados capitais. Todos eles se originam no amor desordenado de si mesmo ou egoísmo, que nos impede de amar a Deus sobre todas as coisas e inclina a nos apartarmos dele. É evidente que pecamos, i. e., que nos desviamos de Deus e nos afastamos dele cada vez que tendemos para um bem criado, indo contra a vontade divina.

Isto é a conseqüência fatal de um amor desordenado de nós mesmos, que vem a ser a fonte de todo pecado. Por conseguinte, não só é necessário moderar esse amor desordenado ou egoísmo, mas também é preciso mortificá-lo, para que o amor ordenado ocupe seu lugar. Enquanto o pecador em estado de pecado mortal se ama a si sobre todas as coisas, praticamente antepondo-se a Deus, o justo ama a Deus mais que a si e deve, além disso, amar-se em Deus e por Deus; amar seu corpo de tal maneira que sirva à alma, não lhe obstando a vida superior; amar a alma convidando-a a participar eternamente da vida divina; amar sua inteligência e vontade, de modo que participem mais e mais da luz e do amor de Deus. Este é o sentido profundo da mortificação do egoísmo, do amor e da vontade próprios, opostos à vontade de Deus. Além disso, não deve permitir que a vida descenda, mas, pelo contrário, que ascenda em direção daquele que é fonte de todo o bem e de toda a beatitude.

O amor desordenado de nós mesmos leva à morte, como diz o Senhor: “O que ama (desordenadamente) a sua vida perdê-la-á; e quem aborrece (ou mortifica) a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna” (João 12, 25). Desse desordenado amor, raiz de todos os pecados, nascem as três concupiscências de que fala São João (I João 2, 16) quando diz: “Porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, e concupiscência dos olhos, e soberba da vida; e isto não vem do Pai, mas do mundo”.

Observa Santo Tomás que os pecados carnais são mais vergonhosos que os espirituais porque nos rebaixam ao nível do animal; contudo, os espirituais, os únicos que se compartilham com o demônio, são mais graves, porque vão diretamente contra Deus e nos afastam dele. A concupiscência da carne é o desejo desordenado do que é ou parece útil à conservação do indivíduo ou da espécie, e deste amor sensual provêm a gula e a luxúria. A concupiscência dos olhos é o desejo desordenado do que agrada a vista, o luxo, as riquezas, o dinheiro que nos proporciona os bens terrenos; dela nasce a avareza. A soberba da vida é o desordenado amor da própria excelência e de tudo aquilo que pode ressaltá-la; quem se deixa levar pela soberba, erige-se a si em seu próprio deus, a exemplo de Lúcifer. Daí se vê a importância da humildade, que é virtude capital, tanto quanto o orgulho é fonte de todo pecado. São Gregório e Santo Tomás ensinam que a soberba é mais que um pecado capital: é a raiz da qual procedem mormente quatro pecados capitais: vaidade, preguiça espiritual, inveja e ira. A vaidade é o amor desordenado de louvores e de honras; a preguiça espiritual se entristece pensando no trabalho requerido para santificar-se; a ira, quando não é uma indignação justificada e sim um pecado, é um movimento desordenado da alma que nos inclina a rechaçar violentamente o que nos desagrada, de onde se seguem as disputas, injúrias e vociferações. Estes pecados capitais, sobretudo a preguiça espiritual, a inveja e a ira, engendram tristezas amargas que afligem a alma e são totalmente contrários à paz espiritual e ao contentamento, ambos frutos da caridade. Não deve o homem apenas contentar-se em moderar tais germes de morte, senão também mortificá-los. A prática generosa da mortificação dispõe a alma para outra purificação mais profunda que Deus mesmo realiza, com o fim de destruir completamente os germes de morte que ainda subsistam em nossa sensibilidade e faculdades superiores.

Mas não basta considerar as raízes dos sete pecados capitais; é preciso analisar suas conseqüências. Como conseqüências do pecado se entendem geralmente as más inclinações que os pecados deixam em nosso temperamento, mesmo depois de apagados pela absolvição. Entretanto, também pode entender-se como conseqüências dos pecados capitais os demais pecados que têm sua origem neles. Os pecados capitais assim se chamam porque são um como princípio de muitos outros; temos, em primeiro, inclinação para eles e depois, por meio deles, para outras faltas às vezes mais graves.

É dessa forma que a vanglória gera desobediência, jactância, hipocrisia, disputas, discórdia, afã de novidades, pertinácia. A preguiça espiritual conduz ao desgosto das coisas espirituais e do trabalho de santificação, em razão do esforço que exige, engendrando a malícia, o rancor ou a amargura contra o próximo, a pusilanimidade ante o dever, o desalento, a cegueira espiritual, o esquecimento dos preceitos, a busca do proibido. Igualmente, a inveja ou desagrado voluntário do bem alheio, bem que temos como mal nosso, engendra o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria do mal alheio e a tristeza por seus triunfos.

Por sua vez, a gula e a sensualidade geram outros vícios e podem conduzir à cegueira espiritual, ao endurecimento do coração, ao apego à vida presente até à perda da esperança da vida eterna, ao amor de si mesmo até ao ódio de Deus e à impenitência final.

Freqüentemente, os pecados capitais são mortais. Podem existir de uma maneira muito vulgar e baixa, como em muitas almas em pecado mortal, ou bem podem também existir, nota São João da Cruz, em uma alma em estado de graça, como outros tantos desvios da vida espiritual. Por isso se fala às vezes da soberba espiritual, da gula espiritual, da sensualidade e da preguiça espiritual. A soberba espiritual inclina, por exemplo, a fugir daqueles que nos dirigem reprimendas, ainda quando tenham autoridade para isso e no-las dirijam justamente; também pode levar-nos a guardar-lhes certo rancor em nosso coração. Quanto à gula espiritual, poderia fazer-nos desejar consolos sensíveis na piedade, até o ponto de buscarmos nela mais a nós mesmos que a Deus. É o orgulho espiritual a origem do falso misticismo. Felizmente, diferentemente das virtudes, estes vícios não são conexos, ou seja, pode-se possuir uns sem os outros, e muitos são até contrários entre si: assim, não é possível ser avaro e pródigo ao mesmo tempo.

A enumeração de todos estes tristes frutos do exagerado amor de si deve levar-nos a um sério exame de consciência e nos ensina, ademais, que o terreno da mortificação é muito extenso, se quisermos viver uma vida cristã profunda.

O exame de consciência, longe de apartar-nos do pensamento de Deus, aponta-nos para ele. Deve-se inclusive pedir-lhe luz para enxergar um pouco a alma como o próprio Deus a vê, para enxergar o dia ou a semana que passaram como se os víssemos escritos no livro da vida, à maneira de como os veremos no dia do Juízo Final. Por isto temos de repassar cada noite, com humildade e contrição, as faltas cometidas de pensamento, palavra, ação e omissão. No exame deve-se evitar a minuciosa investigação das menores faltas, tomadas em sua materialidade, pois semelhante esforço poderia fazer-nos cair em escrúpulos e esquecer coisas mais importantes. Trata-se menos de uma completa enumeração das faltas veniais que da investigação e acusação sinceras do princípio de onde geralmente procedem.

A alma não deve se deter em demasia na consideração de si mesma, deixando de olhar para Deus. Pelo contrário há de se perguntar, tendo os olhos fitos em Deus: como julgará Deus este dia ou semana que agora termina? Foi este dia meu ou de Deus? Busquei a ele ou a mim? Desse modo, sem turbação, a alma julgar-se-á desde um plano elevado, à luz dos preceitos divinos, tal como se julgará no último dia. Mas, como diz Santa Catarina de Sena, não separemos a consideração de nossas faltas do pensamento da infinita misericórdia. Olhemos nossa fragilidade e miséria ao lume da infinita bondade de Deus que nos alevanta. O exame, feito deste modo, longe de desalentar-nos, aumentará nossa confiança em Deus.

Por contraste, a visão de nossos pecados nos esclarece o valor da virtude. O que melhor nos revela o valor da justiça é a dor que a injustiça produz. A imagem da injustiça que cometemos e o pesar de tê-la cometido devem nos despertar a “fome e sede de justiça”. Por contraste, é necessário que a fealdade da sensualidade nos revele a beleza da pureza; que a desordem da ira e da inveja nos faça compreender o alto valor da mansidão e da caridade; que as aberrações da soberba nos ilustrem acerca da elevada sabedoria da humildade.

Peçamos a Deus inspirar-nos um santo aborrecimento do pecado, que nos separa da divina bondade, da qual tantos benefícios recebemos e esperamos para o porvir. Esse santo ódio do pecado não é, de certa forma, senão o outro lado do amor de Deus. É impossível amar profundamente a verdade sem detestar a mentira, amar de coração ao bem, e o soberano Bem que é Deus, sem que por sua vez detestemos o que nos separa de Deus.

A maneira de evitar a soberba é pensar com freqüência nas humilhações do Salvador e pedir a Deus a virtude da humildade. Para reprimir a inveja, temos de rogar pelo próximo, desejando-lhe o mesmo bem que para nós desejamos. Aprendamos igualmente a reprimir os movimentos da ira, afastando-nos dos objetos que a provocam, trabalhando e falando com doçura. Esta mortificação é absolutamente indispensável. Pensemos que temos que salvar nossa alma e que ao nosso redor há muito bem a se fazer, sobretudo na ordem espiritual. Não esqueçamos que devemos trabalhar pelo bem eterno dos demais e empregar, para consegui-lo, os meios que o Salvador nos ensinou: a morte progressiva do pecado, mediante o progresso nas virtudes e principalmente no amor de Deus.



Fonte: Trecho do livro "As três idades da vida interior"; tradução: Permanência