segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Uma Igreja corrompida até o topo [Parte 3 - As condições da Inglaterra antes da Reforma] - Diane Moczar

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Veja aqui a Primeira Parte e a Segunda Parte.

Com sabe-se, o desenvolvimento das guildas na Idade Média e o importante papel econômico, social e político que tiveram nas novas cidades, fator decisivo para a renovação da Europa após a Idade das Trevas. O tema é investigado em profundidade pelo historiador católico Eamon Duffy em The Stripping of the Altars: Traditional Religion in England 1400-1580. Uma crítica ao livro feita pelo professor Christopher Harper-Boll, em Theology, enaltece esse estudo brilhante:

É uma leitura essencial para todos aqueles que desejam entender a religião no final da Idade Média e os meios pelos quais ela foi solapada contra os desejos da vasta maioria de seus praticantes.
 Esse é um ponto essencial: a religião católica das massas foi destruída contra sua vontade. A Reforma Protestante foi uma revolução, e como observa outro historiador, as revoluções nunca são feitas pelo "povo". Na Inglaterra, as mudanças trazidas pela revolução religiosa, longe de serem desejadas pelo povo inglês, foram amargamente ressentidas.

Foi o rei Henrique VIII quem primeiro rompeu com a Igreja Católica - porque esta não queria declarar a invalidade de seu casamento, o que permitiria que ele se casasse com Ana Bolena. Assim começou a "Igreja da Inglaterra" e o anglicanismo.

A necessidade de dinheiro e apoio levou Henrique a tomar medidas contra as guildas e os mosteiros. Sob o reinado de seu filho Eduardo, menor de idade, conselheiros protestantes proliferaram no governo e medidas ainda mais anticatólicas foram introduzidas. Após o breve reinado de Maria, a filha católica de Henrique, que suspendeu temporariamente a perseguição aos católicos mas foi incapaz de restaurar o país, veio a temível rainha Elisabete I. Apoiada por seu ministro ainda mais temível, William Cecil, e o seu sinistro "interrogador" e torturador Topcliffe, ela instituiu a perseguição em larga escala à Igreja e o confisco dos bens das famílias católicas desobedientes. Essa intensificação da violência da realeza contra tudo que era católico teve origem nos ataques de Henrique às guildas e aos mosteiros.

Além das funções econômicas, as guildas inglesas também tinham importantes funções espirituais e religioses, e todas as suas características estavam harmoniosamente incorporadas à vida de seus membros. No final da Idade Média, as guildas ainda operavam nas cidades e vilas da Inglaterra; no campo, havia numerosas "guildas" de caráter devocional. Essas irmandades preservavam práticas piedosas como, manter, na igreja da paróquia, a luz ante a imagem do santo padroeiro da guilda e rezar pelas almas dos associados falecidos. Membros contribuíam com quantias para os funerais e as missas para os mortos e também pagavam pelos funerais dos membros pobres. Também ajudavam com as despesas dos membros que estavam doentes ou que necessitavam de ajuda  financeira (provando que não fosse por culpa própria) e, às vezes, sustentavam as igrejas das paróquias.

Esses costumes e essas práticas religiosas estavam tão entrelaçados com a vida das pessoas comuns que, ao longo dos séculos, tinham se tornado parte delas. Em particular, as cerimônias e orações pelos mortos, as procissões - que assumiam caráter cívico para a cidade que as hospedava -, os costumes do Advento e as cerimônias da Semana Santa marcavam as estações do ano e davam a elas um caráter sagrado e uma importância que nenhum calendário secular poderia oferecer. Todos esses hábitos, e qualquer outro repleto de caridade católica, tornaram-se alvos da polícia litúrgica anglicana.

[Continua...]

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