sábado, 24 de abril de 2010

Algumas objeções à ressurreição

A história não é uma ciência exata. Ela não nos dá certeza absoluta como a matemática, por exemplo.

Isso é verdade. Entretanto, por que alguém usaria esse fato para desvalorizar os fatos bíblicos, e não o relacionado a César, Lutero ou George  Washington? A história não é exata, mas é suficiente. Ninguém duvida que César tenha cruzado Rubicon, mas por que tantas pessoas duvidam que Jesus tenha ressuscitado dos mortos? As evidencias a favor deste último evento são muito mais forte do que as do primeiro.

Não  podemos confiar em documentos. O papel não prova nada. Tudo pode ser forjado.

Essa resposta é simplesmente absurda. Não confiar em documentos é o mesmo que não confiar em telesc´pios. Uma prova apresentada no papel é suficiente para a maior parte daquilo em que crmeos; por que deveríamos repentinamente suspeitar disso, considerando apenas as exceções à regra?

A ressurreição foi milagrosa. É o conteúdo da idéia, e não das provas documentais, que a tornam difícil de acreditar.

Finalmente temos uma objeção direta não às provas documentais, mais aos milagres. Essa é uma questão filosófica, e não científica, histórica ou textual.

Não são apenas os milagres em geral, mas esse em particular que é questionável. A ressurreição de um cadáver é destituída de refinamento, vulgar, literal e material. A religião deveria ser mais espiritual, intima e ética.

Se chamarmos de religião aquilo que inventamos, podemos transforma-la no que quisermos. Se ela é o que Deus inventou, então temos de aceitá-la como é, assim como temos que aceitar o universo que experimentamos em vez daquele que gostaríamos que existisse. Quanto à morte ser algo destituído de refinamento, vulgar, literal e material, lembramos que a ressurreição encara a morte como ela é e representa uma vitória sobre a mesma, em vez de meramente ficar mencionando abstrações inofensivas sobre espiritualidade. A ressurreição é tão “vulgar” como a lama, os insetos e as unhas dos pés.

Entretanto, uma interpretação literal da ressurreição ignora as profundas dimensões de significado encontradas nos reinos simbólico, espiritual e mítico, que ttêm sido profundamente explorados por outras religiões. Por que os cristãos têm a mente tão estreita de uma atitude tão exclusivista? Por que não podem perceber um simbolismo profundo na idéia da ressurreição?

Eles o fazem. Não é uma questão de escolher entre dois extremos. O cristianismo não invalida os mitos, o simbolismo; ao contrário, valida-os por encarná-los. Cristo foi um “mito que se tornou fato” – usando um substituto de um ensaio bastante pertinente de C.S. Lewis, God in the Dock [Deus no banco dos réus].

Por que deveríamos preferir um bolo de uma camada a de um de duas camadas? Por que recusar os aspectos histórico-literais ou mítico-simbólicos da ressurreição? Os fundamentalistas recusam os aspecto mítico-simbólicos, porque já perceberam o que os modernitas fizeram com eles: usaram-nos para excluir os aspectos histórico-literais.

Por que os mordenistas firezam isso? Que destino terrível os aguarda se eles seguirem as provas e os argumentos diversificados e abalizados que surgem dos dados?

A resposta não é obscura. O que os espera é o cristianismo tradicional, completo, com a adoração de Cristo como Deus, a obediência a Cristo como Senhor, a dependência de Cristo como Salvador, a confissão humilde do pecado e o esforço sincero de viver como Cristo em seu sacrifício, em seu distanciamento do mundo, em sua justiça, santidade e pureza de pensamento, de palavras e atos.

As evidências históricas são maciças o suficiente para convencer qualquer inquiridor disposto a analissá-las. Por analogia com qualquer outro evento histórico, a ressurreição apresenta provas perfeitamente cabíveis. Para desacreditá-la, temos de fazer uma exceção deliberada às regras que ussamos em todas as outras análises históricas. Por que alguém desejaria agir assim?

Pedimos ao leitor que faça a si mesmo essa pergunta e, e ousar, sonde sinceramente seu coração antes de responder.



Fonte: Manual de defesa da fé, p. 305-307. Peter Kreeft e Ronald K. Tacelli

Um comentário sobre “A Palavra”


A Palavra (gr. ho logos). A doutrina da Palavra apresentada por João foi formada por duas influencias. A Palavra é concebida como distintamente relacionada à Palavra do AT. E a concepção é influenciada aqui também pelo pensamento grego contemporâneo como preservado no final do século I.

O cristianismo teve seu berço no judaísmo. Mas o evangelista reconhece que as missões aos gentios necessitavam de uma apresentação de Cristo em termos que seriam compreendidos tanto por judeus quanto por gregos. Para o judeu, a “palavra” fazia coisas. Ele concebia a linguagem como algo vitalmente ativo.

Quanto mais verdadeiro então isso seria com relação à palavra de Deus! Foi a Palavra de Deus que trouxe a terra e os céus à existência (cf. Sl 33.6-9), de forma que os autores mais antigos do AT puderam falar sem hesitação do falar de Deus no ato de trazer À existência (cf. Gn 1,3,9,11,14,20,24,26). Além disso, a Palavra de Deus nunca retornou a ele como um eco infiel, mas sempre cumpriu o propósito para o qual tinha sido falada (Is 55.11), preeminentemente como poder de gerar vida (Is 55.3) e como uma compulsão sobre os seus mensageiros (Jr 23.29). Essa é uma pressuposição básica do AT. No entanto, sempre que certos trechos do AT sugeriam que algo de Deus pudesse ser visto pelos homens 9Ex 33.22,23; Is 6.1; Ez 1.1; Is 48.13, etc), ou que ele possuísse partes humanas, os targuns aramaicos posteriores removeram essas referencias, inserindo circunlocuções no lugar delas, geralmente menra, “a palavra”, que poderia estar por traz do emprego do logos de João. Deus agora foi visto na palavra que se tornou carne. Deve-se lembrar, também, que o livro de Provérbios, junto com outros livros da literatura sapiencial, personifica a Sabedoria e a representa como associada com Deus na criação do mundo (PV 8.22-31).

Para a mente grega, logos era também um termo significativo. A partir de Heráclito, quando pensadores começaram a formular uma doutrina do controle criativo intrínseco no Universo, o logos passou a ser um termo técnico entre os filósofos, particularmente os estóicos (como também Fílon).

Essa autoridade, escreve João, expressando a exata natureza da divindade e sua sabedoria na criação e salvação, é revelada em Cristo. Ele domina o poder eterno em virtude de sua divindade. Mas os seus atos são racionais e por isso reveladores. Ele é Deus. Ele é Cristo. Ele é Senhor. Por isso, ele pode da mesma forma fazer afirmações incomparáveis e promessas inigualáveis 9Hb 1.1; Cl 1.160. É principalmente essa idéia de Deus, ativo e imanente no mundo criado e revelado nos eventos na história, que está implícita no uso que João faz de “a Palavra”. Mas, sem dúvida, ele reconhece a concepção grega como a que comunica a racionalidade do Universo e que sugere uma mente pensante e intencional. João acrescenta a personalidade distinta às duas idéias, embora possa haver alusões À personalidade nos trechos de Provérbios.

Embora a Palavra não seja especificamente mencionada após o prólogo, não devemos perder de vista que sempre que Jesus fala ou age ele é a Eterna Palavra Encarnada. E como testemunho de Apocalipse (AP 19.13) dessa Palavra, João lembra os seus leitores de que o seu livro não é somente um tratado teológico, mais um testemunho de Cristo como aquele que é o único digno de receber glória e honra. “Adore a Deus! O testemunho de Jesus é o espírito de profecia” (Ap 19.10).

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Desafio da Páscoa de Dan Barker - II

Essa é a segunda parte da resposta ao desafio de Dan Barker. Confira a primeira parte.


A que horas as mulheres visitaram o sepulcro?
Há duas possibilidades: (1) a frase “ao despontar do sol” indica que era muito cedo (cf. Sl 104:22), e “ainda escuro” (Jô 20:1); (2) Maria veio sozinha primeiro, quando estava escuro e antes do sol nascer, e depois veio, após o sol nascer com as outras mulheres. “Em apoio a essa posição está o fato de que somente Maria é mencionada em João, mas em Marcos são citadas ela e as outras mulheres. Também Lucas (24:1) diz que era “alta madrugada”, quando as mulheres (não apenas Maria) foram lá. Ainda, Mateus (28:1) fala que foi “ao findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana” que “Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro”. Somente João menciona Maria estando lá sozinha “sendo ainda escuro”.

Quem eram as mulheres?
Já foi respondido.

Qual era seu propósito?
* Mateus: Ver o sepulcro (28:1)
* Marcos: Já tinham visto o sepulcro (15:47), trouxeram especiarias (16:1)
* Lucas: Já tinham visto o sepulcro (23:55), trouxeram especiarias (24:1)
* João: O corpo já tinha sido tratado antes delas chegar. (19:39,40) * Marcos: Já tinham visto o sepulcro (15:47), trouxeram especiarias (16:1)
* Lucas: Já tinham visto o sepulcro (23:55), trouxeram especiarias (24:1)

As discrepâncias nesse sentido já foram conciliadas, mas tenho algo mais a dizer.

Essas duas primeiras, de Mc 15:47 e Lucas 23:55, foram logo depois da morte de Jesus, para levar o corpo e limpá-lo. Já que o sábado ia chegar, pararam o trabalho, e esperaram para voltar depois e levar as especiarias, como relatado em Marcos 16:1 e Lucas 24:1.

Depois elas foram ver o sepulcro novamente, como relatado em Mateus 28:1, Marcos 16:1 e Lucas 24:1 (que por sinal, no caso de Marcos e Lucas, são casos diferentes. Ele faz confusão da visita anterior quando levaram Jesus morto, e a outra visita quando trouxeram as especiarias)

Como disse, parece muita vontade de achar erro onde não tem.Quem quiser, leia por si mesmo o texto dos quatro evangelhos começando pelo sepultamento de Jesus, e verá que não é nada disso que Barker diz.

O sepulcro estava aberto quando chegaram?
Também já foi respondido.

Quem estava no sepulcro quando chegaram?
Levando em consideração que foram várias idas ao sepulcro, podem ter sido todos eles em momentos e para pessoas diferentes. Já que Mateus não disse que havia apenas um anjo, e Mateus provavelmente deu atenção ao anjo que falou com as mulheres, enquanto João falou dos anjos que elas viram. Os homens citados podem ser muito bem explicados dizendo que os anjos apareceram com aparência de homens. Sobre a quantidade deles, a mesma explicação de Mateus e João faz sentido (Marcos relata o que se dirigiu a elas).

João não cita Maria madalena indo com as outras mulheres, só relata que depois de ir sozinha ficou um tempo chorando e Jesus falou com ela. Os anjos falaram com ela também, antes de Jesus. Se ler o texto de João, os anjos falaram com ela mas ela não sabia que eram pois estava de cabeça baixa chorando. Primeiro ela vê o sepulcro aberto, mas nem chega a entrar, corre para falar com os outros, e veja o que acontece depois com ela. Vou copiar essa parte:

Tornaram, pois, os discípulos para casa.
11 ¶ E Maria estava chorando fora, junto ao sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-se para o sepulcro.
12 E viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras? Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14 E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.
15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o hortelão, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).

Chorando, abaixada para o sepulcro, ouve dois anjos perguntando, mas ela não reconhece. Ainda ela acha que roubaram o mestre dela, pois ela não tinha voltado com as mulheres. Jesus fala com ela e só depois percebem isso.

Onde esses mensageiros estavam?
Essa pergunta não faz nem muito sentido. Lucas não fala que havia dois em pé, mas que pararam junto delas. Eles podem muito bem ter parado sentados. Sobre João, é bom lembrar que foi a aparição a Maria, diferente das outras aparições citadas.

O que o(s) mensageiro(s) disse(ram)?
Eles disseram isso tudo, já que são relatos de testemunhas e aparições diferentes. Alguns dizem que a questão fica complicada por causa da reação de Maria Madalena que é diferente nos relatos. Mas isso seria, no maximo, em Mateus, Marcos e Lucas, porque, como já deve ter percebido, a aparição com Maria madalena em João é diferente, pois é anterior a das mulheres.

As mulheres contaram o que aconteceu?
Os relatos dizem que primeiro elas viram o sepulcro vazio, depois Jesus foi visto. E só depois que Jesus foi visto, a caminho (quando elas ainda não tinham contado), que elas falaram aos discípulos:

E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém porque temiam.
E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios.
E, partindo ela, anunciou-o àqueles que tinham estado com ele, os quais estavam tristes, e chorando.

Quando Maria retornou do sepulcro, ela sabia que Jesus tinha ressuscitado?
Como foi visto, a primeira aparição foi a de João. Então também não faz sentido essa pergunta.

Quando Maria viu Jesus pela primeira vez?
Como já devem ter percebido, João fala da primeira ida de Maria. Então não há nenhuma contradição aí.

Jesus podia ser tocado depois da ressurreição?
O motivo que Jesus não pode ser tocado em um dos registros foi que ele ainda não havia ascendido aos céus com seu corpo. Por isso Jesus, na primeira aparição a Maria não permite, mas nas outras ele o permite.

Depois das mulheres, para quem Jesus apareceu primeiro?
Isso já foi tratado. Mas é bom lembrar: Uma coisa é o primeiro relato da aparição que foi registrada, outra coisa seria afirmar que a primeira aparição registrada é também a primeira aparição cronologica. Mas isso os evangelhos não fazem.

Onde Jesus apareceu primeiro para os discípulos?
A mesma coisa. Jesus apareceu várias vezes para vários discípulos. Mais uma vez a confusão entre os fatos cronológicos e os relatos escritos.

Os discípulos acreditaram nos dois homens?
Ambos os relatos falam que eles apenas creram quando Jesus apareceu, e não porque eles falaram.

Marcos 16
13 E, indo estes, anunciaram-no aos outros, mas nem ainda estes creram.
14 ¶ Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados à mesa, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado.

Lucas 24
35 E eles lhes contaram o que lhes acontecera no caminho, e como deles fora conhecido no partir do pão.
36 ¶ E falando eles destas coisas, o mesmo Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja convosco.

O que aconteceu na aparição?
Novamente: Não foi na aparição, foram nas aparições.

Jesus ficou por um tempo na Terra?
Levando em consideração, novamente, que foram aparições diferentes em momentos diferentes. Sim, ficou por um tempo na terra.

Onde aconteceu a ascensão?
- Mateus, João e Paulo: Sem ascensão.
R: O fato de não relatarem a ascenção não significa que não houve, somente que s[o significa aí que eles não relataram.

Uma explicação interessante que encontrei é que “Betânia ficava na encosta a leste do Monte das Oliveiras, que está a leste de Jerusalém. Lucas, que escreveu essas duas passagens, (cf. At 1:1), não viu nenhuma contradição quando se referiu a esses dois lugares como o local da ascenção de Jesus. Ele pode inclusive ter começado sua ascenção no monte, indo para o leste sobre Betânia, ao ir desaparecendo da vista deles.”


O que se parece é que há uma vontade, que chega a ser desesperada, de arrumar uma desculpa para não crer na bíblia, quando o verdadeiro motivo é outro. 

Desafio da Páscoa de Dan Barker - I


Esta é a primeira parte de uma resposta ao desafio de Dan Barker sobre a páscoa que encontrei no blog Insanidade Coletiva. Segundo ele os eventos narrados no Novo Testamento se contradizem e não dá pra saber o que realmente aconteceu. Eu não concordo. Por quê? É só ler o que escrevi, aí pode ver se concorda ou não comigo.

É bom lembrar como o Novo Testamento foi formado. Com isso vários equívocos vão ser tirados. Por quê? Porque os evangelhos são tradições escritas do que antes era tradição oral das comunidades cristãs. Nem todas as comunidades ficavam juntas e conheciam a tradição das outras, e todos eles contam detalhes diferentes pois algumas poderiam não ter conhecido as testemunhas oculares das outras comunidades. Só isso explica algumas discrepâncias. No entanto as diferenças são apenas em detalhes, não no elemento principal, a substancia da mensagem.

Depois que os discípulos tiveram experiências físicas e visuais com o Jesus ressurreto, eles começaram a sua pregação. Cada dia aumentava o numero de cristãos. Vários deles haviam se convertido porque ouviram de testemunhas oculares, e outros ainda eram essas testemunhas. Eles se reuniam em comunidades diferentes e passavam essas histórias para os outros sobre o que lembravam. Os escritores desses evangelhos faziam parte dessas comunidades diferentes, e com testemunhas diferentes além de fontes diferentes. Além do que chamam de fonte “Q”, hoje levantam a possibilidade da existência da fonte “M” para Mateus e “L” para Lucas. O livro de Raymond Brown sobre a comunidade de João (A comunidade do Discípulo amado, o nome do livro), é um exemplo. Nesse livro o autor cita um especialista sobre o livro de João (e isso tem muita coisa parecida com os outros textos do Novo Testamento):

D. Moody Smith percebeu isso muito bem (que o autor da epistola não foi testemunha ocular): Se a comunidade joanina que produziu o evangelho se viu a si mesma em comunidade tradicional com Jesus, podemos perceber  no ‘nós’ dos prólogos não só do evangelho como também da epístola, não é a testemunha ocular apostólica em si, mas uma comunidade que, apesar disso, entendeu que era herdeira de uma tradição baseada em alguma testemunha histórica de Jesus”. (p. 33)

O próprio Brown, em uma nota diz que “o evangelho não foi com certeza escrito por uma testemunha ocular de ministério” (p.34). O que coloquei entre parêntesis, além das paginas para conferir o contexto, foi um acréscimo meu pra entender melhor o que ele falava.

Lucas, por exemplo, nunca afirmou que foi testemunha ocular do evento. É só ler os primeiros versículos do livro:

Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, Segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra, Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio; Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.

Marcos também não era um apostolo, e escreveu o que sua comunidade tinha como tradição oral e o que ouvia de Pedro. Paulo era testemunha do Jesus ressurreto, mas não foi testemunha ocular da mesma forma que os outros discípulos, por isso muito do que ele dizia era parte dessa tradição. Isso se dá também com Mateus.

Alguns detalhes, segundo ele, não podem ser conciliados, mas quero destacar uma coisa que percebi nos relatos: Eles não afirmam que a aparição de Jesus às mulheres ou aos apóstolos escrita por eles foram as primeiras. São as primeiras que eles citam, mas isso não significa que foram as primeiras cronologicamente. Por isso que não há muito o que responder sobre essa questão.

O primeiro exemplo:
Um dos primeiros problemas que achei está em Mateus 28:2, depois que duas mulheres chegam na sepultura: "E eis que houvera um grande terremoto; pois um anjo do Senhor descera do céu e, chegando-se, removera a pedra e estava sentado sobre ela." (Vamos ignorar o fato que nenhum outro escritor mencionou este "grande terremoto.") Esta estória diz que a pedra foi removida depois que as mulheres chegaram, na presença delas.
Já o Evangelho de Marcos diz que isto aconteceu antes da chegada das mulheres: "E diziam umas às outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro? Mas, levantando os olhos, notaram que a pedra, que era muito grande, já estava revolvida."
Lucas escreve: "E acharam a pedra revolvida do sepulcro." João concorda. Sem terremoto, sem pedra rolando. É três votos contra um: Mateus perde. (Ou então os outros três estão errados.) O evento não pode ter acontecido antes e depois que elas chegaram.

Ele diz que a resposta não é possível pois “todas a passagem está no tempo aorístico (passado), e ele é, em contesto, como um simples relato cronológico. Mateus 28:2 começa,"E eis que houvera" e não "E houve". Se este verso pode ser embaralhado tão facilmente, então o que nos impede de botar a enchente antes da arca, ou a crucificação antes da natividade?”

É bom destacar que “Houvera” é passado mais que perfeito, ou seja, um fato que passou em relação a outro fato do passado. Isso se encaixa na explicação de que o sepulcro abriu antes delas chegarem. O texto não diz que “as mulheres chegaram ao sepulcro e a pedra foi retirada”, por isso não há problema em dizer que foi enquanto elas estavam a caminho do sepulcro. Não vejo como o mesmo pode ser feito no exemplo do dilúvio ou com a “crucificação antes da natividade”.

Isso se encaixa perfeitamente nos outros relatos: A pedra foi removida enquanto as mulheres estavam a caminho. Quando chegaram lá, encontraram-na aberta, receberam a ordem de contar isso aos outros discípulos, no caminho Jesus apareceu e por isso o adoraram.

Barker diz que “João não concorda”, quando João apenas não cita o que aconteceu, e ele mesmo disse anteriormente que isso não desmente uma história. O segundo exemplo é das aparições de Jesus. No desafio ele diz que:

Marcos concorda com o relato de Mateus sobre a mensagem dos anjos sobre Galiléia, mas conta uma estória diferente sobre a primeira aparição. Lucas e João relatam mensagens diferentes dos anjos e então contradizem radicalmente Mateus. Lucas mostra a primeira aparição na estrada para Emaús e então em uma sala em Jerusalém. João diz que isto aconteceu mais tarde, naquela noite em uma sala, menos Tomé. Estas mensagens angelicais, localizações e viagens durante o dia são impossíveis de reconciliar.

Há alguns problemas nessas afirmações. Primeiro, uma coisa é dizer a aparição citada foi a primeira relatada em cada livro, outra coisa é dizer que o livro fala que aquela foi a primeira aparição cronológica de Jesus.

Quando João não cita a aparição de Jesus aos dois discípulos indo para Emaús, e o primeiro relato citado de sua aparição aos demais (além das mulheres) foi o de Maria e as outras mulheres, não quer dizer que a aparição aos discipulos não aconteceu e que a primeira relatada seja a primeira cronológica.

Isso só significa que ou João não tinha conhecimento da aparição aos dois discípulos, ou não achou importante. Não que ela não aconteceu e que a outra foi a primeira. A mesma coisa nos outros livros.

Jesus dá a ordem aos discípulos para irem a Galiléia, e, pelo texto, essa aparição foi para os onze. Mateus e Marcos concordam com isso. Lucas cita outra aparição de Jesus, a alguns discípulos (que não eram dos onze, mas que viram o relato das mulheres e não creram) que iam para Emaús. Eles não acreditaram na mensagem das mulheres, mas sabiam dela:

"É verdade que também algumas mulheres dentre nós nos maravilharam, as quais de madrugada foram ao sepulcro; E, não achando o seu corpo, voltaram, dizendo que também tinham visto uma visão de anjos, que dizem que ele vive. E alguns dos que estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam dito; porém, a ele não o viram."

É bom lembrar que eles não estavam em Emaús, mas foram a caminho de lá depois que ouviram o relato das mulheres. Assim que estes discípulos viram Jesus, eles voltaram, e relataram para os outros. Enquanto eles falavam, Jesus apareceu. E isso é relatado também em João.

Por isso o que Barker diz sobre as aparições não faz o mínimo de sentido:

Lucas diz que a aparição pós-ressurreição aconteceu em Jerusalém, mas Mateus diz que ela aconteceu na Galiléia, entre sessenta e cem milhas de distância!

Pois nenhum dos livros diz que só houve uma aparição, e nem que a aparição relatada foi a primeira cronologicamente, ou que uma omissão signifique que não aconteceu (como disse, ou que não sabia, ou que não achou importante relatar).

O que Barker fez foi criar um espantalho e criticar esse espantalho como se fosse o relato em si. O que é muito conveniente em vez de avaliar os textos como realmente são, e os relatos como testemunhas de tradições diferentes que falam do mesmo acontecimento. Não é difícil pensar que algumas tradições não sabiam de alguns fatos ocorridos, já que testemunhas oculares diferentes relatam isso.

Ele também cita o terremoto. Como um acontecimento como esse não foi registrado? Alguns dizem. Há algumas possibilidades pra o que aconteceu: (1) Só a comunidade de Mateus ficou sabendo disso, pois nem Marcos, que foi o primeiro a escrever, nem Lucas tinham conhecimento dessa fonte e tradição utilizada por Mateus. (2) As outras comunidades sabiam, mas omitiram porque não consideravam importante para a mensagem que eles queriam passar. João, por exemplo, queria passar a mensagem de que Jesus é Deus e é maior que João Batista. Além disso, esse não é o único relato miraculoso que é citado em um evangelho e omitido em outro por algum motivo (como o primeiro). (3) Isso foi um desenvolvimento da comunidade de Mateus pra simbolizar algo.

Quanto a afirmação de que o texto de Mateus impede que Maria tenha sido a primeira testemunha tenho algo a dizer pois relato de Mateus se encaixa totalmente com o de João.

O texto diz que:
Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia.
Isso não parece ser sobre a profecia de Jesus, se não seria como “havia predito”. Marcos também fala que primeiro havia aparecido a Maria madalena:
E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios. (v 9)
Parece que nem Maria Madalena tinha acreditado realmente nas experiências que teve.

Pra concluir a primeira parte, a lista cronológica das aparições:

1 – Maria (Jô 20:10-18)
2 – Maria e mulheres (MT 28:1-10)
3 – Pedro (1 Co 15:5)
4 – Dois discípulos (Lucas 24:13-35)
5 – Dez apóstolos (Lucas 24:36-49; Jô 20:19-23)
6 – Onze apóstolos (Jo 20:24-31)
7 – Sete apóstolos (Jô 21)
8 – Todos os apóstolos (MT 28:16-20; Mc 16:14-18)
9 – 500 Irmãos (1 Co 15:6)
10 – Tiago (1Co 15:7)
11 – Todos os apóstolos (At 1:4-8)
12 – Paulo (At 9:1-9; 1Co 15:8)

É bom lembrar que as tradições dessas aparições não foram registradas somente nos evangelhos, por isso em outros documentos do primeiro século, que depois fizeram parte do Canon cristão, testemunham parte delas. Em alguns desses relatos, os discípulos viram, ouviram e tocaram (se ofereceu para ser tocado), outros apenas viram e tocaram.

Norman Geisler, na Enciclopédia Apologética, faz o seguinte comentário:

1.    “Maria Madalena” visitou o túmulo de Jesus no domingo de Manhã, “estando ainda escuro” (Jô-20.1). (É possível que outra pessoa estivesse com ela, já que diz “sabemos” [Jô 20.2])
2.    Ao ver que a pedra fora rolada (Jô 20.1), ela correu de volta para Pedro e João em Jerusalém e disse: “não sabemos onde o colocaram” (v. 2).
3.    Pedro e João correram até o túmulo e viram os lençóis vazios (Jô 20.3-9); depois, os discipulos [Pedro e João] voltaram pra casa” (v. 10). Mas Maria Madalena seguiu Pedro e João para o túmulo.
4.    Depois que Pedro e João partiram, Maria Madalena, que permanecera junto ao túmulo, viu dois anjos “onde estivera o corpo de Jesus” (Jô 20.12). Então Jesus apareceu a ela (Mc 16.9) e disse que voltasse aos discipulos (Jô 20.14-17).
5.    Quando Maria Madalena Saía, as outras mulheres chegaram ao túmulo com aromas para embalsamar o corpo de Jesus (Mc 16.1). “Tando começo o primeiro dia da semana” (Mt 28.1). As mulheres do grupo, incluindo a “outra Maria” (Mt 28.1), a mãe de Tiago (Lc 24.10), Salomé (Mc 16.1) e Joana (Lc 24.1,10), também viram a pedra que fora rolada (Mt 28.2; Mc 16.4; Lc 24.2; Jô 20.1). Ao entrar no túmulo, viram “dois homens” (Lc 24.4), um dos quais falou com elas (Mc 16.5) e lhe disse para voltar para a Galiléia, onde veriam Jesus (Mt 28.5; Mc 16.5-7). Esses dois homens eram na verdade anjos (Jo 20.12).
6.    Enquanto Maria Madalena e as mulheres saíram para contar aos discípulos, Jesus apareceu para elas e lhes disse para irem à Galiléia avisar seus “irmãos” (Mt 28.9,10). Enquanto isso, “os onze discípulos foram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes indicara” (Mt 28.16; Mc 16.7).
7.    Maria Madalena e “as outras” (Lc 24.10) voltaram naquela tarde para os onze e “a todos os outros” (Lc 24.9), agora reunidos na Galiléia a portas trancadas “por medo dos judeus” (Jô 20.19). Maria Madalena disse-lhes que vira o Senhor (v. 18). Mas os discípulos não acreditaram nela (Mc 16.11). E não acreditaram na história das outras mulheres (Lc 24.11).
8.    Ao ouvir essa notícia, Pedro levantou-se e correu novamente para o túmulo. Ao ver os lençóis (Lc 24.12), ficou maravilhado. Há diferenças notáveis entre essa visita e sua primeira visita. Aqui Pedro está sozinho, mas da primeira vez João estava com ele (Jô 20.3-8). Aqui Pedro fica realmente impressionado; da primeira vez, apenas João “viu e creu” (Jô 20.8);

O fato de os relatos não concidirem perfeitamente é esperado de testemunhos independentes autênticos. Na verdade, se os registros fossem perfeitamente harmoniosos na superfície, poderíamos suspeitar de conclúio. Mas o fato de que os vários eventos e a ordem geral são claros é exatamente o que devemos esperar de um registro confiável (verificado por grandes mentes legais que analisaram os registros dos evangelhos e os comprovaram como tal). Simon Greenleaf, o famoso advogado de Harvard que escreveu um livro didático sobre evidência legal, converteu-se ao cristianismo devido à analise minuciosa dos testemunhos dos evangelhos do ponto de vista legal. Ele concluiu que “cópias que fossem universalmente recebidas e que influenciassem tanto quanto os quatro evangelhos, seriam recebidas como evidencia em qualquer tribunal de justiça, sem a menos hesitação”. (The testimony of the ressurrection, p. 9-10).

Há evidencia positiva surpreendente de que os registros evangélicos são autênticos. Há um numero maior de manuscritos para o NT que para qualquer outro livro do mundo antigo. Na realidade, mesmo considerando os critérios de credibilidade do grande cético David Hume, o NT é aprovado. Assim, não há razão para rejeitar a autenticidade dos registros do NT com base na sua suposta desordem. Dado o fato de que há cinco grandes registros das aparições pós ressurreição de Jesus (Mt 28; Mc 16; Lc 24; Jô 20-21; At 9; 1Co 15), cheios de registros de testemunhas oculares, não há duvida sobre a realidade da sua ressurreição.


Uma vez que o relato cronológico faz sentido, vamos ver as supostas discrepâncias. As outras “contradições” podem ser explicadas da mesma forma, mas isso vou colocar em outra postagem.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Debate sobre a ressurreição.

Video legendado sobre um debate entre Wiliam Lane Craig e Bart Ehrman sobre as evidencias históricas da ressurreição de Jesus.


Uma coisa eu achei interessante: Os historiadores nao podem inferir sobre Deus, tanto negativas quanto positivas. Portanto, a situacao que nos encontramos quanto as evidencias historicas da ressurreição de Jesus faz com que as pessoas, tanto historiadores ou não, possam chegar a uma conclusão de qual é a melhor explicação e deixar o metodo histórico de lado, já que não se pode fazer julgamentos quanto a isso metodologicamente. Por isso, mesmo que alguem nao acredite que Jesus ressuscitou, deve reconhecer que a ressurreição é a melhor explicação para as evidencias que possuimos.

Segue o debate:



























sábado, 3 de abril de 2010

Morto-vivo em um sonho...



Esta noite sonhei que estava na casa de minha avó conversando com outra pessoa e um velho. Esse velho era podre, de pele podre e acabada, como se fosse um pedaço de parede cinza já soltando seus cacos de tinta seca. Era como um zumbi. Um morto-vivo.

Esses “cacos” escondiam seus olhos. Eu tentava vê-los, mas era sem luz dentro dele. Por causa de alguma luz de fora eu percebia que os olhos eram tão podres quanto o seu corpo, cheios de feridas, mas ele parecia estar acostumado com isso. Até da boca dele, de tão acabado que estava, saía sujeira, um tipo de pó, quando falava.

Confesso que, de tão imundo que aquele velho era, eu só conversava só por conveniência. O rapaz que estava conosco fazia questão de dizer mostrar que não sentia nojo daquilo, tanto que as vezes beijava-o e constantemente segurava na mão daquele velho.

Nessa conversa citamos a parábola do filho pródigo (sem contar), O velho de corpo miserável nos disse que nunca ouvira falar nessa parábola. Decidimos contar, mas ele sempre mudava de assunto, e a pessoa que estava do meu lado também mudava.

Eu tentava começar dizendo: “a parábola do filho prodigo diz...”, mas era interrompido pelos dois. Tive uma leve impressão de que o velho não queria ouvi-lo, pois já conhecia a parábola.

Depois te tanto mudarem de assunto, acabei entrando nessa e perdi a vontade de contar a parábola. Passou um tempo em meio as conversas e o velho morreu. Colocamos ele em uma caixa de papelão que parecia um caixão, mas ainda discutíamos se ele estava vivo ou morto mesmo.

Com isso eu acordei, fui beber água, e só depois de acordar vi um problema: aquele velho morreu sem ouvir a parábola, e, talvez, ele já tivesse escutado, mas tivemos aquela oportunidade e nos deixamos levar em conversas tolas.

Eu aprendi algo com esse sonho. Postei para que aprendessem também.

Madrugada de 03/04/2010 - Sábado

Sonhado por: Jonadabe Rios