sábado, 6 de março de 2010

Comentários sobre Bart Ehrman


          

 Uma conversa sobre a autenticidade do novo testamento surge sempre quando pedem as razões para considerarem o cristianismo relevante. Aparece normalmente, também, logo no inicio da conversa, a citação do autor Bart Ehrman e seu livro “O que Jesus disse? O que não disse? Quem mudou a bíblia e porque.”. Alguns estudiosos, como Daniel B. Wallace e H Wayne House dizem que o livro de Ehrman foi escrito para “o cético que quer motivos para não crer, que considera a bíblia um livro de mitos”.
            Isso é verdade, principalmente porque grande parte até mesmo nunca leu o livro, mas cita algumas afirmações dele de que a bíblia é cheia de erros. Então eu modificaria a afirmação pra ficar da seguinte forma: o livro e o autor (Bart Ehrman) são apelados por “céticos” que querem motivos para não crer, e que já consideram a bíblia um livro de mitos.
Isso é coisa de gente sensata? Outra pergunta que faço: alguém que quer realmente buscar a verdade e seguir as evidências onde elas o levarem, avalia somente um lado da moeda? Essa é outra coisa que se vê muito por aí na internet e me faz pensar na honestidade de algumas pessoas sobre esse assunto. Gostaria de colocar algumas considerações sobre o que ele escreveu, e, também colocar o comentário de alguns especialistas no assunto.
            Eu já havia feito alguns comentários sobre os argumentos de Erhman, mas quero colocar alguns outros. O comentário foi feito num texto de Oscar Cullmann sobre a formação do Novo Testamento, disse o seguinte:

“ [...] ao contrário da tempestade em copo d’água que autores como Bart Erhman fazem, os estudiosos do Novo Testamento sempre souberam que não existem os originais. Mas isso não impede que, com a critica textual, se possa estar muito próximo do que os escritores do Novo Testamento escreveram, garantindo assim sua autenticidade. O próprio Erhman dá um tiro no próprio pé ao tratar algo da crítica textual e mostrar que alguns escritores estavam errados através disso. Ora, se não existem os originais, como ele cansa de dizer, como saber que tal variação é a mais próxima?”

            Ehrman, em seu livro, falou muito sobre o mundo dos copistas, e alguns especialistas no assunto não deixaram de comentar o que ele disse. Wallace, que citei anteriormente, disse que:

“Ehrman mistura a informação padrão da critica textual com a própria interpretação; interpretação essa que não é de maneira alguma compartilhada por todos os críticos textuais, nem mesmo pela maioria deles. Ele, em essência, pinta um quadro muito sombrio da atividade de escrever, deixando o leitor desavisado presumir que não temos chance de recuperar a linguagem original do Novo Testamento.” [1]

            Outro fato que ele sempre cita é que, por causa dos erros desses copistas, as variações textuais do Novo Testamento são muito grandes. Ele diz isso na intenção do leitor pensa: “Nossa! Se existem tantas variações assim, pra que confiar na mensagem bíblica?”. Só que ele esquece (?) de afirmar, na mesma proporção, que a maioria esmagadora das variações são totalmente irrelevantes com as doutrinas cristãs e sua substância. Kurt Aland, outro critico, textual fala que:

“Os próprios críticos textuais, e, ainda mais, os especialistas do Novo Testamento, sem mencionar os leigos, tendem a ficar fascinados com as diferenças e esquecem quantas delas podem se dever ao acaso ou às tendências normais dos escrivães e quão raramente ocorrem variações relevantes – entregando-se ao risco comum de não ver a floresta por apenas fixar os olhos nas árvores.” [2]

            Waine House diz que “ a grande maioria das variações do Novo Testamento grego é mínima, como mudança de uma letra, mudanças envolvendo sinônimos, mudanças no uso de pronomes e mudanças na ordem das palavras, e nenhuma delas afeta a teologia principal.” [3]. Ele diz outra coisa sobre o argumento de Ehrman que chega a ser engraçado:

Podemos usar o próprio livro de Ehrman, Misquoting Jesus, como uma anedota para mostrar por que o número de variações pode exceder o verdadeiro número de palavras do texto. Na discussão sobre Lucas 3:22, o texto cita equivocadamente “Lucas 3:23”. Isso quer dizer que esse erro ocorre em todas as cópias de Misquoting Jesus. Como em fevereiro de 2005, Misquoting Jesus já vendera cem mil cópias; usando o método da critica textual e presumindo que o erro tenha continuado sem correção até essa data, isso representa que há cem mil erros em Misquoting Jesus. Se as edições subseqüentes desse livro corrigirem o erro e venderem cem mil cópias, isso quer dizer que haveriam duzentas mil “variações” em Misquoting Jesus. Isso se refere a um único erro em apenas uma edição. Talvez hajam mais erros, levando à possibilidade de mais variações.
Devemos duvidar da integridade de Misquoting Jesus por ter cem erros e por poder ter exponencialmente mais variações de leitura? De acordo com o argumento de Ehrman, sim. Talvez, não seja tão convincente declarar que “o Novo Testamento não é confiável” porque tem quatrocentas mil variações. Isso é especialmente verdade quando lembramos que o Novo Testamento grego contém cerca de 140 mil palavras. Isso quer dizer que em meio aos aproximadamente 5.735 manuscritos do Novo Testamento, permitindo as quatrocentas mil variações de Ehrman (que não estou promovendo), isso representa uma media de cerca de setenta variações por manuscrito, e a maioria delas é irrelevante para qualquer ensinamento da bíblia. À luz disso, o caso contra a confiabilidade do texto bíblico não parece tão devastador. [4]

Esses são alguns comentários e argumentos sobre o método que Ehrman utilizou pra dizer que não podemos confiar nas cópias do Novo Testamento. É claro que há problemas textuais e dificuldades bíblicas que precisam de resolução, entretanto o problema não é essa tempestade em copo d’água feita pela mídia sensacionalista e por muitos céticos.
            Esse texto se limitou a falar de algumas afirmações de Bart Ehrman, principalmente sobre sua metodologia. Em breve vou escrever algo sobre alguns dos argumentos do autor sobre algumas outras conclusões. Mas até aqui vimos que não se pode acreditar em tudo que falam, nem mesmo se na capa de um livro estiver escrita que o autor é “a maior autoridade em bíblia do mundo”. (?) Embora o livro contenha muita informação importante, ele só convence quem já está convencido de que não podemos confiar na bíblia.


Notas
[1] – Wallace, Daniel B. “The gospel According to Bart.” “The gospel.”
[2] – Aland, Kurt e Barbra. The text f the new testament. Trad. Rhodes Errol F. Grand Rapids, MT: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1981, p. 28,29.
[3] - O Jesus que nunca existiu, H. Wayne House, p. 248, 249.
[4] – IBID., p. 249, 250.

Autor: Jonadabe Rios 

14 comentários:

  1. Shalom!

    Parabenizo por este ótimo artigo. Ainda que os homens tentem desacreditar as Escrituras, eles nunca triunfarão!

    Já dizia o sábio: A Bíblia é entre os livros, aquilo que Cristo foi entre os homens.

    Um abraço, Pr Marcello

    http://davarelohim.blogspot.com/

    P.s>>> Muito agradecido pela postagem do banner do meu blog! O Eterno recompense teu feito - Rt 2.12 a

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  2. Você pretende que esse artigo seja uma resposta ao livro?

    Você apresenta um especialista que criticou o livro dizendo que a variação gerada pelos copistas poderia ter sido obra do acaso e não intencionalmente... E considera isso uma resposta?

    “Esses são alguns comentários e argumentos sobre o método que Ehrman utilizou pra dizer que não podemos confiar nas cópias do Novo Testamento.”

    Nenhum dos comentários abordou o método diretamente ou o desmentiu de fato, mas você baseado nesses comentários já pode dizer “vejam,como é frágil os argumentos dele"

    Eu digo que esse artigo foi escrito para as pessoas que já acreditam que a bíblia é inspirada e infalível e querem uma desculpa para não ler o livro do Bart Ehrman

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    1. Antonio,

      Sua análise foi ótima, realmente os seguidores da bíblia não conhecem história e acabam acreditando em tudo o que os seus pastores e padres dizem de textos pinçados do livro. A verdade histórica é que só depois do concílio de Nicéia, os vencedores daquele encontro impôs o dogma da trindande para os cristãos que o seguem hoje.

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  3. Pois é. Eu li o livro, e, apesar de não ser especialista no assunto, percebi alguns "tiros no pé" dele.

    E foi isso o que os outros que citei pecerberam. Na verdade eles foram mais além do que eu havia percebido.

    Eles trataram sim do método que Ehrman utilizou.

    Não é uma resposta ao livro em si, pois o mesmo tem muita informação boa e verdadeira. Como disse, é uma resposta a tempestade em copo d'agua feita por ele e pelos que o citam (alguns que indicam o livro nem mesmo chegaram a ler).

    Então, concorde ou não no que coloquei aí, não foi um artigo escrito pra pessoas que "já acreditam que a bíblia é inspirada e infalível e querem uma desculpa para não ler o livro do Bart Ehrman", mas o fiz como resposta as alegadas provas de Ehrman, pra quem leu ou deseja ler possa chegar a alguma conclusão.

    Mas fiquei curioso com o que você tem a dizer, penso que pra ter dito isso você deve ter uma refutação pra o que foi escrito em vez de somente fazer afirmações vazias e gratuitas.

    Abraços.

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  4. Muito blá, blá, blá para coisa alguma.

    A pergunta que nos devemos fazer é:


    PRECISAMOS DE ALGUM CONHECIMENTO DE 2000 ANOS ATRÁS QUE NÃO PODEMOS FAZER MELHOR HOJE?

    Claro que não e atrelar uma relação com um suposto criador atemporal a épocas antigas e a condições específicas soa ridículo até para uma criança um pouco mais esperta.

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  5. Claro que não né?

    O que deve importar é apenas algum tipo de conhecimento sobre as questões temporais, nada de importante nas questões últimas...

    A não ser que as evidências apontem para tal conhecimento dessas épocas antigas, aí a coisa complica para a arrogância de que por termos mais conhecimento que os antigos, o conhecimento deles é necessáriamente falso e irrelevante, principalmente de alguma revelação de Deus à humanidade que poderia ter acontecido...

    E se as evidencias apontarem para que esse conhecimento de 2 mil anos atrás seja verdadeiro, então precisamos sim desse conhecimento. E muito.

    Abraços

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  6. Duvido que quem escreveu esse post tenha lido algum livro do Bart Ehrman. Se leu, não prestou atenção.

    "Só que ele esquece (?) de afirmar, na mesma proporção, que a maioria esmagadora das variações são totalmente irrelevantes com as doutrinas cristãs e sua substância."

    Isso é simplesmente falso. Ehrman diz com todos as letras que a maioria das variações é sem importância.

    Ehrman tem um Phd em Princeton e publicou livros na editora pela Harvard Press. Ele é um dos poucos historiadores sérios que publica livros para leigos. Em vez de ficarmos gratos, publicamos posts de qualidade duvidosa.

    Bem, faz é John Paul Meier (historiador católico) que só publica para seus amigos historiadores.

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  7. Realmente ele não afirma isso [na mesma proporção] que diz que as "as variações textuais do Novo Testamento são muito grandes" dando outra percepção a algumas pessoas.

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  8. A Bíblia contêm a palavra de Deus e não é a palavra de Deus (ela contêm também citações de várias pessoas, inclusive há citações do Diabo na tentação). Eu desconheço um livro com mais sabedoria do que a Bíblia. Agora, dizer que a Bíblia não tem erros é só pra quem nunca a estudou. Apenas um exemplo:
    As passagens bíblicas de 2Samuel 24.12-13 e 1 Crônicas 21.11-12 relatam o mesmo fato: as três opções de castigo que o profeta deu pra Davi/Israel. No livro de Samuel, como uma das opções fala-se em sete anos de fome, já no livro de Crônicas menciona três anos de fome. São sete ou três anos de fome? É óbvio que existe um erro. Nenhum tribunal do mundo daria como verdadeiros os dois depoimentos(Samuel e Crônicas),um deles seria considerado falso. O Problema todo é que no debate das idéias as pessoas não estão mais procurando a verdade. Têm pessoas que vivem(R$) disso. Defendem suas idéias como quem torce para um clube de futebol. O ateu muitas vezes quer uma desculpa para viver a vida que quer e não ter o temor de que um dia prestará conta dos seus atos; e muitos cristãos não conseguiriam manter a sua fé se reconhecessem que a Bíblia têm erros. Eu amo a Deus e busco conhecê-lo. Estudo a Bíblia há muitos anos e as minhas dúvidas ou constatações de que existem erros na Biblia não invalidam as minhas certezas e experiências que já tive com Deus. Querem um conselho? Busquem a Deus em orações e leitura da Bíblia e leiam outros livros também (filosofia.......). Eu tenho feito isso e nenhum deles se compara com a Bíblia(na minha opinião, é claro)

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  9. Fui um homem de fé durante anos e anos. Fiz estudos aprofundados das escrituras - não só a judaico/cristã, mas muito além delas. Aprofundei na literatura budista, na hinduísta, xintoísta, islamismo, além das politeístas e monoteístas em geral. Fiz pregações, seminários e participei de vários debates, onde defendi fervorosamente as idéias da fé em todos os seus níveis. Mas, lá no fundo, após todos esses debates, seminários, palestras, pregações, sentia-me envergonhado de mim mesmo, pois ao mesmo tempo em que fazia tudo isso para levar a fé aos outros, por dentro me sentia um hipócrita, por não acreditar naquilo que eu passava, professava e exemplava. Sofri terrivelmente com isso, pois aos poucos me via um homem sem fé; aquilo tudo era conveniência, estado psico sócio cultural da minha formação, como a de tantos. Queria de alguma forma expressar o que realmente eu tinha dentro de mim - que a vida é fruto da sua própria ânsia, do caos, das expontaneidade, do evolucionismo. Lutei contra mim mesmo, acreditava que faltava mais vigilância, mais oração, mais persistência, até que, no alge dos meus 45 anos, resolvi "sair do armário", e assumir de vez minha incredulidade na fé divina em todas as suas variações. Não leio Herman ou Richard Daukins para concretar minha base na descrença, leio esses autores e outros porque estou lendo a mim mesmo. Não acato tudo, retenho o que há de melhor, e tem muito de melhor nessas obras, em especial em Herman. Não faço disso palanque, não promovo a incredulidade, não faço disso apologia, pelo contrário, o ser humano criou as religiões e seus Deuses por pura necessidade. Mas como não somos uniformes, ao contrário, seres complexos e únicos, decidi me apartar do grande rebanho dos crentes, e hoje, mais aliviado, assumo sem nenhum medo minha incredulidade - encontrei enfim o que pode ser o começo da verdade.
    ANDRÉ LUIZ

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  10. Pessoal,
    O trabalho de Bart Ehrman ainda não foi bem compreendido. Com o tempo, suas ponderações e de outros pesquisadores da área serão melhor interpretadas.
    Bart Ehrman não ataca o cristianismo. Ele questiona as bases teológicas do cristianismo oficial que se apoderou da mensagem de Jesus.
    Ao ler seu trabalho, a conclusão inevitável é que a grandeza do cristianismo está na multiplicidade das interpretações dos cristãos primitivos, apesar dele mesmo (Bart) não seguir mais o cristianismo.
    O cristianismo não pertence a nenhuma igreja ou filiação religiosa - católica, protestante, luterana, evangélica, etc.
    Analisemos esses trabalhos com transparência e honestidade.
    Abraço a todos.

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  11. Comprei o livro...vou ler... mas, nada vai
    abalar minha fé em CRISTO!

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  12. Já li o livro do Erhman e, apesar de especialista ele está passionalmente envolvido nas suas interpretações; conforme schleiermacher, as interpretações psicológicas do Dr Erhman saltam aos olhos. Talvez, uma espécie de vingança à sua perda de fé.

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  13. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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