sábado, 5 de fevereiro de 2011

Jesus cumpriu a Lei? parte 3

A Mishná e o Talmude apresentam, como se ensina habitualmente, uma abordagem legal da Lei. Isto é geralmente verdadeiro no que diz respeito ao detalhe, mas não se aplica necessariamente quando está em jogo uma compreensão radical. Talvez o exemplo mais marcante figure na tentativa de R. Simlai, no terceiro século (bMak. 24ª), de reduzir a um único, em estágios sucessivos e em termos exclusivamente não haláhicos, os diversos mandamentos de Moisés:

Foram dados a Moisés seiscentos e treze mandamentos ... Veio Davi e os reduziu a onze. Ois está escrito: Salmo de Davi. Senhor, quem pode hospedar-se em tuas tendas? Quem pode habitar em teu monte sagrado? (1) Quem anda com integridade (2) e pratica a justiça (3) e fala a verdade no coração (4) e não calunia com sua língua (5) e não faz mal a seu próximo (6) e não difama seu vizinho (7) despreza o ímpio com o olhar (8) mas honra aos que temem o Senhor(9) é responsável por seus juramentos sem se retratar (10) não empresta dinheiro com usura, (11) nem aceita o suborno contra o inocente. Aquele que assim fizer jamais vacilará, (Sl 15,1-5) ... Veio Isaías e reduziu os mandamentos a seis, como está escrito; (1) Aquele que pratica a justiça (2) e fala o que é reto; (3) despreza o ganho da opressão, (4) recusa-se a aceitar suborno, (5) tampa os ouvidos para não ouvir falar em crimes de sangue, (6) e fecha os olhos para não ver o mal (Is 33,15) ... Veio Miquéias e os reduziu a três, como está escrito: O Senhor te mostrou, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige de ti: 91) apenas praticar a justiça, (2) e amar a bondade, (3) e caminhar humildemente com teu Deus (Mq 6,8)... Veio novamente Isaías e os reduziu a dois, como está escrito: Assim diz o Senhor: (1) Praticai a justiça (2) observai o que é direito. Veio Amós e reduziu a um, como está escrito: Assim falou o Senhor à casa de Israel: procurai-me e vivereis (Am 5,4).

Enquanto os sábios rabínicos são retratados como especialistas práticos nos detalhes mais finos daquilo que é proibido ou permitido, melhor dizendo, a maneira correta de implementar a Torá, e apenas menos frequentemente como moralistas ou teólogos, o traço mais importante na atitude de Jesus é uma preocupação abrangente com o propósito final da Lei que ele percebia, de forma primária, como essencial e positiva, não como uma realidade jurídica mas como uma realidade ético-religiosa, revelando o que pensava ser o comportamento justo e divinamente ordenado para com os homens e para com Deus. [48]

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