Texto retirado de uma das publicações da "Raio de Sol", uma folha de propaganda católica da década de 30. Decidi transcrevê-lo para mostrar que as dificuldades da imprensa católica não é de hoje e que os mesmos problemas que enfrentamos eles também enfrentaram. Os medos também são semelhantes, e os sentimos na pele por causa da nossa iniciativa em publicar os livros de Dom Anscar Vonier. O bom, caríssimos, é que os meios de ajuda também não mudaram muito e são, inclusive, mais fáceis.
QUANTOS BENS TRAZ A BOA IMPRENSA! É um dos mais poderosos baluartes da sociedade e da Igreja. O bom periódico, a boa revista, o bom livro, os bons escritos... mas principalmente o bom diário, o bom periódico e a boa revista são de uma importância capital para defesa dos bons e derrota dos maus. Não me abalançarei a afirmar que é a arma principal, porque há muitas coisas principais e acima de tudo estará sempre a religião; digo, porém, afoitamente que a boa imprensa é principalíssima e capitalíssima.
A boa imprensa diz resolutamente a verdade a defende e propaga em todas as partes. O periódico, a revista, o livro são eloquentes pregadores e apóstolos do bem.
A boa imprensa desmascara o mal e lhe põe a calva à mostra, desacredita-o e o confunde e é benemérito apologista contra o erro.
A boa imprensa recomenda, enaltece e põe no lugar que lhes é devido os homens de bem, os que o merecem, os que são dignos de confiança e de recomendação e que se hão de dedicar à defesa dos interesses da boa causa.
A boa imprensa denuncia e desacredita os cidadãos perversos e perniciosos, revelando-nos suas más intenções, seus planos tenebrosos, seus sofismas, suas astúcias e perversidades.
A boa imprensa forma a consciência pública e dita as normas da honradez da religião, da moralidade, contribuindo para a formação do critério seguro e reto de proceder.
A boa imprensa é a única que está em alturas de opor resistência eficaz aos péssimos efeitos da imprensa má e anticlerical.
A boa imprensa é a tutela da ordem, defensora e amparo da verdade, escudo da justiça, da pátria, da autoridade e da religião.
A boa imprensa é absolutamente necessária na sociedade para defesa e triunfo do bem e destruição do mal.
Deves por este motivo estimar grandemente os bons escritores e jornalistas católicos, deves apreciar muitíssimo os bons periódicos, as boas revistas, os bons livros.
Não basta contudo estimar e apreciar os escritores e as publicações católicas; é necessário, é indispensável, é urgente e de boa justiça favorecê-los. Os maus favorecem a má imprensa; e tu, que fazes em prol da boa imprensa? Tu, meu amigo, que és cristão? Tu, que és honrado, que fazes a favor da imprensa honesta? Tu, que és amigo dos escritores e jornalistas honrados, que fazes pelos teus amigos?
Refletiste alguma hora em como esses beneméritos apóstolos têm renunciado a medrar e a enriquecer, entrando a combater nas fileiras do periódico católico, da revista católica, onde se medra pouco e se ganha menos ainda, em vez de se meterem nos arraiais da má imprensa, em que teriam maiores lucros e apetitosas propinas? Não reparaste talvez em como muitos deles, no louvável intuito de advogarem os teus interesses, que são os de tua religião, da moralidade e da ordem, sacrificam generosamente os seus próprios interesses? Pois então, meu caro amigo, agora é mostrares a tua gratidão e a nobreza do teu coração, favorecendo-os e estimando-os na prática.
Perguntar-me-ás: de que maneira? Indicar-te-ei aqui nove maneiras de favorecer na prática e eficazmente a boa imprensa, sobretudo os periódicos:
1 – Lendo-os. É o mínimo que da tua boa vontade podemos exigir. Escrevemos para defender os teus interesses; é portanto muito natural e justo que leias os escritos dos teus advogados. Dizes que não te interessam assuntos de religião. O fato é que lês artigos que tratam de religião quando algum periódico ou livro perverso a combate; e te recusas a ler um periódico ou um livro bom que a defende e explica?
2 – Comprando-os. É excelente método este, e se todos os católicos comprassem os jornais, revistas e livros, que escrevem os seus irmãos, certo é que destarte lhes prestariam poderoso auxílio. Fica receia que o seu trabalho seja balado e estéril, sobre ser penoso e caro, porque gastará tempo e dinheiro na impressão e não chegará talvez a refazer ao menos os gastos. Treme e hesita o jornalista, afana-se na sua tarefa ingrata, sacrifica-se, põe todo o seu empenho, o melhor dos seus recursos e do seu talento em procurar a prosperidade do seu periódico, e afinal não se livra de uns assomos de desalento, quando se lembra de que seus irmãos não o comprarão. Se nos fora lícito imprimir coisas luxuriosas, chulas, livres e intrigantes, então sim havíamos de encontrar ledores em barda!
3 – Assinando-os. Melhor que a compra avulsa é a assinatura, porque fornece recursos mais seguros ao periódico, que terá maior importância e vida quanto for mais avultado o número dos seus assinantes.
4 – Fazendo-lhes donativos. Não digo esmolas, ainda que alguns periódicos e periodistas receberiam com gratidão qualquer importância que se lhes desse, mesmo a título de esmola. Ponhamos porém a mira um pouco mais alto: gratificai os jornalistas e mais escritores, os periódicos e as revistas. Não dais dinheiro para outras obras pias? Obra muito pia, muito religiosa e muito cristã é a boa imprensa. Quantas vezes não acontece auxiliarem os católicos obras de caridade e beneficência duvidosas e suspeitas, e não desembolsarem um cetil para a grandiosa e importantíssima obra de caridade, misericórdia e beneficência e de muitos outros bens que em si encerra ou produz!
5 – Deixando legados. Não lestes alguma vez nos vossos jornais como algum inglês, algum norte-americano, algum francês ou alemão deixou determinado no seu testamento que se entregasse avultada quantia a certos escritores de livros, e sobretudo a bibliotecas e periódicos? E não eram doações de somenos importância: importavam bem sim em centenas e milhares de reais. Desta maneira se pôde ir adiante e sustentar eficazmente a boa imprensa.
6 – Fornecendo-lhes anúncios, comunicados, correspondências, artigos avulsos e outros subsídios de que vivem os periódicos. Não mandeis anúncios, nem correspondência, nem coisa alguma que forneça recursos aos periódicos anti-clericais; reservai tudo isso para a boa imprensa.
7 – Propagando a sua leitura e conseguindo novos assinantes. Nas rodas dos vossos amigos, nas vossas salas de visitas, nos vossos círculos, clubes, lazeres e reuniões, entre as pessoas que frequentais, procurai que se leia e se compre o bom jornal, a boa revisto, o bom livro.
8 – Falando a favor deles. Relevai os seus senões e deslises e ponde em relevo as suas boas qualidades; não imagineis que não haja defeitos e grandes defeitos nos jornais adversos e que os bons não tenham coisa que preste. Não vos excuseis com dizerdes que comprais de preferência o mau jornal por achardes a boa imprensa desenxabida e sem noticiário. As mais das vezes não vai grande diferença entre uns e outros, quando, pelo contrário, a instrução ministrada pelos bons jornais é infinitamente superior e mais sã que a dos jornais contrários. Pelo que diz respeito a escritores, a má imprensa pode limpar as mãos à parede, que os tem às vezes muito ordinários, reles e bisonhos, mas eles são frívolos e mangões se vão incensando mutuamente; a boa imprensa por outro lado tem nas suas fileiras escritores de escól, que não raramente riscam muito acima dos seus adversários, ou pelo menos não têm nada que invejar-lhes, mas a desgraça é que nos deixamos enganar e atordoar pelos zabumbas dos visinhos da frente. Se... fulano dos anzóis, por exemplo, não vendesse a sua pena libertina à imprensa perversa e não a prostituísse com o seu estilo pedantesco e sediço, com a sua perpétúa mania de bolsar blasfêmias, chalaças e injúrias contra Deus e a Religião, não seria certamente tão encomiado pela turba dos seus atuais aduladores. Se Galdós não fora um deles, mas antes houvesse posto a sua pena a serviço da boa imprensa, não seria hoje um dos seus da Mitologia literária. Autores há de mão cheia nos arraiais da Boa Imprensa, muito superiores a ele e muitíssimo mais dignos de admiração e de elogios.
9 – Auxiliando enfim a “agência de informações” católica.* É necessária e urgente. Entretanto favoreçamos por todos os meios os nossos periódicos “A Cruz”, “A união” e o nosso suspirado “Diário” católico. E o meu prezado leitor compre e espalhe as dúzias, centenas, aos milhares, estes “Raios de Sol”, certo de que exercerá assim um frutuoso Apostolado e uma grande obra de misericórdia, que lhe merecerá as bênçãos do céu e a gratidão de centenas e milhares de almas, em boa hora por eles iluminadas; faça-se apóstolo e Legionário da Boa Imprensa, não leia e não propague senão a Boa Imprensa.
* A imprensa católica atual é outra, e boa parte da antiga já não existe, mas não é difícil identificá-la.
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