sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O nome de Deus, segundo as escrituras sagradas judaicas.

Recebi esse texto de uma amiga, que fala sobre o nome de Deus segundo o judaísmo. Muito bom.



A mensagem primordial das Escrituras Sagradas Judaicas é sobre a existência do SER Primeiro; o ETERNO, que não somente é o responsável pelo início de toda a existência material; mas que continuamente a mantém existindo.

Mas não é pretensão das Escrituras Sagradas – por motivos óbvios - nos descrever “quem” ou “o quê” é Deus. Antes, as Escrituras relatam fenômenos e acontecimentos provocados pelo SER, para que possamos aprender a perceber Sua existência e participação em nosso mundo. O conhecimento acerca de Deus vai sendo revelado gradualmente através das Escrituras, desde o primeiro livro, Bereshit; até sua expressão máxima, na Revelação do Sinai. Somente então, são outorgados Mandamentos, tais como: “Somente guarda-te a ti mesmo, e guarda muito tua alma, para que não esqueças as coisas que os teus olhos viram ...(Devarim 4:9).

O objetivo das Escrituras Sagradas é demonstrar ao homem que ele possui uma razão de ser e uma missão a cumprir neste mundo. Ele tem origem e destino definidos, cujo caminho deve trilhar pela senda que lhe é mostrada através da Lei Divina para sua completa realização. Seu dever é “vencer a si mesmo” subjugando seus instintos animalescos à seu sentido espiritual. Deve procurar a vitória da mente sobre o corpo, do espírito sobre a matéria. O êxito em sua missão proporcionará que todo o mundo seja retificado ao seu estado original, modelo do Éden construído por Deus. É dever de cada ser humano, construir seu próprio Éden neste mundo, fazendo que a Divina Presença tenha lugar em nossa dimensão.

Embora a Divindade seja em essência um mistério, as Escrituras nos instruem sobre o que é “compreensível” sobre Deus, descrevendo-nos Seus “atributos” de forma antropomórfica, para que possamos ter uma idéia em mente sobre o SER Primeiro, e assim sejamos capazes de Lhe dirigir nossas orações e intenções. São estes “atributos” que nos revelam as características da ação divina no mundo material e nos orientam sobre o mecanismo do universo em que vivemos.

Tais informações chegaram até nos por meio da Tradição Judaica, que tanto nos preservou as Escrituras Sagradas, como também a Jurisprudência de todos os seus mandamentos, revelando o significado de todas as suas passagens. De uma mesma fonte temos tanto o texto, como a exegese, tanto as palavras como o sentido; tanto o corpo como a alma do Judaísmo. A fidelidade da Tradição Judaica é verificada, não somente pelo seu sucesso inigualável em preservar por séculos os manuscritos sagrados que contém os relatos da revelação divina, como também; com a mesma fidelidade, preservar a interpretação destes manuscritos, transmitindo geração após geração, tal qual foram recebidos desde o princípio. Tanto as Escrituras Sagradas são dignas da confiança do leitor, como a Tradição Judaica que preservou estas mesmas Escrituras. E esta Tradição, é a fonte da qual extraímos todo o conhecimento necessário para viver o Pacto Divino, tanto com Israel, como com todos os povos do mundo; para plena retificação deste mundo.

A terminologia das Escrituras Sagradas serviu de modelo aos sábios judeus em todos os tempos, sempre por meio de antropoformismos. Termos são emprestados de conceitos humanos e do mundo empírico, procurando explicar o espiritual. A razão disto é que somente por tais palavras o ser humano pode atingir a compreensão de qualquer significado desejado. As formas de conceitos espaço-temporais são impostas sobre a mente humana, pois este vive num mundo espaço-temporal. É por esta precisa razão que a Torá, os Profetas, os Escritos Sacros; e todos os sábios que desenvolveram o Judaísmo posteriormente, procuram sempre o modelo antropomórfico de linguagem pelo que ficou estabelecido, “a Torá fala na língua dos homens”.(Talmud, Tratado de BeraHot 31b)

Portanto os sábios se abstiveram de termos abstratos e conceitos espirituais, que seriam até mais apropriados à Deus, pois assim não compreenderíamos adequadamente, nem as palavras ditas; nem os conceitos propostos. Pelo antropoformismo, pelo menos a primeira parte está garantida. As palavras e idéias sobre Deus devem ser de tal forma, que sejam facilmente captadas pela mente do ouvinte, capaz de projetar imediatamente o tema tratado em sua mente; no sentido material. Então, procede-se em investigar o conhecimento oculto, cuja apresentação inicial é apenas uma metáfora de sua realidade; e esta realidade, tão sublime, tão acima da compreensão humana em sua plenitude, começa aos poucos a se desnudar em nosso pensamento. Jamais alcançamos a compreensão plena. Cada pessoa absorve do conhecimento da verdade, aquilo que é especificamente capaz.

Em meio a tudo isso, devemos ter sempre em mente o tempo todo, que para serem compreendidos, os termos antropomórficos devem ser expurgados de toda conotação temporal, espacial ou corpórea. Isso implica que todas as referência, noção e conceito antropomórfico, literalmente falando, não podem ser atribuídos a Deus, como estabelecido claramente pelas Escrituras, Ieshaiáhu 40:18 - 25

יח וְאֶל-מִי, תְּדַמְּיוּן אֵל; וּמַה-דְּמוּת, תַּעַרְכוּ לוֹ.

18. A quem, pois, podeis comparar o ETERNO? Ou a que O podeis assemelhar?

כה וְאֶל-מִי תְדַמְּיוּנִי, וְאֶשְׁוֶה--יֹאמַר, קָדוֹשׁ.

25. A quem, pois, Me podereis comparar como se Eu fosse igual? – diz o Santíssimo.

Este princípio primordial foi referido por Maimônides, como a terceira de sua composição dos 13 princípios fundamentais da fé judaica.

Ao mesmo tempo, entretanto, devemos perceber que a terminologia antropomórfica usada pelas Escrituras Sagradas, e pelos seus comentaristas, não são arbitrárias, simplesmente por estarem protegidas pelas qualificações mencionadas. Ao invés disso, foram cuidadosamente selecionadas possuindo, portanto; profundo significado.

O relacionamento Deus x Mundo é explicado por meio da doutrina das Sefirot.

Sefirot é a forma plural da palavra hebraica ספירה Sefirá, que literalmente significa era, época, esfera, cálculo, contagem. Da mesma construção, forma-se a palavra ספיר Sapir, Safira; que mais reflete o sentido do termo, segundo o trecho em Shemot 24:10:

י וַיִּרְאוּ, אֵת אֱלֹהֵי יִשְׂרָאֵל; וְתַחַת רַגְלָיו, כְּמַעֲשֵׂה לִבְנַת הַסַּפִּיר, וּכְעֶצֶם הַשָּׁמַיִם, לָטֹהַר.

10. e eles visionaram o Elohim de Israel, e debaixo de Seus pés havia como uma obra de pedra de safira, tão límpida como a visão dos céus.

Elohim

O primeiro atributo que aparece nas Escrituras Sagradas Judaicas é o termo hebreu Elohim. Sendo uma “referência à Divindade” é muito comum que seja traduzido em Português diretamente como “Deus”, quando não “deuses” por ser plural. Porém, literalmente Elohim significa: forças, poderes, autoridades. Trata-se da forma plural do termo אל Él, também traduzido como Deus, mas com o mesmo significado de Elohim no singular. Este termo aparece nada menos que 580 vezes nas Escrituras. É importante notar que nenhum dos atributos de Deus é uma “descrição” do Seu SER até porque isso é tecnicamente impossível. Trata-se de “referências” ou indicações, com as quais poderemos conceber alguma idéia acerca da Divindade. Tais referências apontam para uma “atividade”, ou “ação” de causa divina em nosso mundo, e isto nos proporciona reconhecer a existência de Deus em nosso mundo. A primeira vez que o termo Elohim aparece, é no primeiro versículo do primeiro livro das Escrituras, Bereshit:

א בְּרֵאשִׁית, בָּרָא אֱלֹהִים, אֵת הַשָּׁמַיִם, וְאֵת הָאָרֶץ.

1. No princípio ao criar Elohim os céus e a terra...

Eis o princípio fundamental sobre o qual repousa toda fé nas Escrituras Sagradas. Jamais poderemos descrever a essência da Divindade, e portanto; o profeta Moshê ע''ש nos leva o mais próximo possível desta noção; nos leva às forças multifacetadas que se lhe manifestaram em visão, no momento em que o universo veio à existência. Eis o esplendor da Divindade, perceptível pela nossa inteligência: As forças universais que regem a existência de todas as coisas, sem as quais nada pode existir; as leis que chamamos “naturais”; todas as misteriosas formas de energia espalhadas pela vastidão universal, todos os fenômenos da matéria, suas leis inalteradas e constantemente em transformação, eis aí o testemunho de que nosso universo é obra de Deus. As substâncias que compõem a existência nos parecem ser as mais variadas e distintas formas possíveis. Fortes contrastes encontramos em todos os elemento que nossos químicos listaram na tabela periódica, cada elementos singular em sua composição, embora sejam todos constituídos da mesma substância. Esta diversidade química foi por eles testemunhada na natureza, nas variadas formas de minerais e vegetais, dos tecidos em todas as espécies de animais. Mas todas as múltiplas manifestações da matéria na natureza são intimamente relacionadas; e se mostram apenas sob forma transformada da outra. Moshê vislumbrou além da matéria neste mundo. Ele pode perceber a infinitamente maior variedade de substâncias e transformações pelo universo vasto que viu surgir. A visão que lhe foi concedida lhe permitiu contemplar galáxias em formação, lhe permitiu enxergar os detalhes da formação de cada e toda partícula, e suas milhares de transformações até sua forma atual. Moshê vislumbrou toda a glória do ETERNO, seu testemunho dela foi: No princípio, ao criar Elohim os céus e a terra. Neste único verso, ele nos demonstra a profunda realidade sob a qual existimos: Somos todos frutos da Inteligência Suprema, o ETERNO o SER Primeiro.

Portanto, Elohim remete-nos à manifestação Divina nas leis universais que mantém a existência universal. Todo e qualquer fenômeno, tanto neste mundo; como em qualquer ponto no universo, demonstra a atividade e presença do SER Criador. Toda vez que este termo aparece nas Escrituras nos indica que o fenômeno descrito ocorreu por meio das leis universais, e que por meio de tais fenômenos Deus demonstra em maior ou menor grau a realidade da Sua Presença, de acordo com o mérito do receptor da revelação.

- ETERNO – O Tetragrama

O Tetragrama Sagrado aparece nas Escrituras, 4681 vezes. É considerado por muitos o ‘nome próprio’ de Deus, embora seja impossível dar nome a algo que nos seja completamente desconhecido em essência. Não se pode “nomear” à Deus, nem se pode compara Deus à um objeto material, dizendo que se este tem nome então Deus também deve ter. Isso significa “limitar” a essência do SER, para manipular supostas explicações sobre sua existência, e contradizer as definições das Escrituras sobre Deus. Longe disso, as Escrituras jamais nos apresentam “nomes” próprios para Deus, mas “atributos” da Sua manifestação, que nos servem de veículo para que nossa mente se una à Divindade nas mais variadas situações. Esta é a essência do termo hebraico, שם lê-se SHEM, que além de nome, significa: renome, fama, reputação; memorial, titulo. Fica evidente que, se referido ao SER primeiro, o significado puramente material não pode ser aplicado. Logo, tal como todos os demais, este título divino, nos remete a mais uma faceta de Sua manifestação em nosso mundo, dando-nos a conhecer um pouco mais da Sua realidade.

Embora o Tetragrama apareça desde o livro de Bereshit, vamos nos voltar para o momento no qual o ETERNO revela a essência deste título à Moshê: Shemot 3:13 ao 15:

יג וַיֹּאמֶר מֹשֶׁה אֶל-הָאֱלֹהִים, הִנֵּה אָנֹכִי בָא אֶל-בְּנֵי יִשְׂרָאֵל, וְאָמַרְתִּי לָהֶם, אֱלֹהֵי אֲבוֹתֵיכֶם שְׁלָחַנִי אֲלֵיכֶם; וְאָמְרוּ-לִי מַה-שְּׁמוֹ, מָה אֹמַר אֲלֵהֶם. יד וַיֹּאמֶר אֱלֹהִים אֶל-מֹשֶׁה, אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה; וַיֹּאמֶר, כֹּה תֹאמַר לִבְנֵי יִשְׂרָאֵל, אֶהְיֶה, שְׁלָחַנִי אֲלֵיכֶם. טו וַיֹּאמֶר עוֹד אֱלֹהִים אֶל-מֹשֶׁה, כֹּה-תֹאמַר אֶל-בְּנֵי יִשְׂרָאֵל, יְהוָה אֱלֹהֵי אֲבֹתֵיכֶם אֱלֹהֵי אַבְרָהָם אֱלֹהֵי יִצְחָק וֵאלֹהֵי יַעֲקֹב, שְׁלָחַנִי אֲלֵיכֶם; זֶה-שְּׁמִי לְעֹלָם, וְזֶה זִכְרִי לְדֹר דֹּר.

13. Disse Moshê à Elohim, eis que eu vou aos filhos de Israel, dizer a eles que o Elohim de seus antepassados me enviou a eles, e me dirão, ‘qual é o nome dele?’; o quê eu devo responder? 14. Disse Elohim à Moshê, Serei O Que Serei...E disse, assim dirás aos filhos de Israel, “Serei” me enviou a vós. 15. E disse mais Elohim à Moshê, assim dirás aos filhos de Israel, o ETERNO Elohim dos vossos antepassados, Elohim de Avraham, Elohim de Itzhak, e Elohim de Iáacov, me enviou a vós; este é meu nome para sempre, esta é minha lembrança de geração em geração.

Vemos aqui que o Criador respondeu a Moshê, que deve ser referido como אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה Serei o que Serei. Depois, ELE mesmo simplifica para אֶהְיֶה Serei. E finalmente, declara à Moshê, que deve ser evocado por יהוה אֱלֹהֵי אֲבֹתֵיכֶם IHVH Elohim dos vossos antepassados. O termo Serei, está na forma ativa simples, no futuro, sendo parte do primeiro corpo do verbo היה (להיות - Ser). Os sinais vocálicos da primeira menção do termo Serei o que Serei, são as que permanecem na sua segunda menção abreviada, אֶהְיֶה Serei. A intenção, pode ser percebida analisando o sentido literal da frase אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה, ou seja: אֶהְיֶה Serei אֲשֶׁר o qual é אֶהְיֶה Serei. Isso indica que o conjunto das quatro letras, o Tetragrama, deve ser pronunciado de acordo com os sons vocálicos que regem a palavra אֶהְיֶהSerei ou seja:

Temos aqui o NOME no sentido óbvio de atributo e a LEMBRANÇA no sentido de referência com a qual o profeta Moshê anunciaria a revelação Divina a Israel e a toda humanidade. As quatro consoantes Hebraicas que formam o Tetragrama são a contração dos termos היה אהיה הווה FuiSereiSou, cuja palavra em Português que melhor o expressa é: ETERNO.

Deus está além do tempo e do espaço. Além da matéria. Além do ser. ELE é o SER Primeiro, portanto é a Própria Existência Verdadeira. Rambam, no Livro da Sabedoria, comenta que o profeta Irmiáhu alude a isso quando diz: (Irmiáhu 10:10)

י וַיהוָה אֱלֹהִים אֱמֶת,

Mas só o ETERNO Elohim é verdade! ...

ELE é a única verdade. Todas as outras formas de existência dependem DELE para vir a ser, enquanto que ELE – bendito seja – não depende delas na Sua Existência; que portanto, é Absoluta e Inigualável.

ETERNO, portanto, remete-nos à transcendência Divina, Sua total Imaterialidade e Incorpórea Existência Absoluta. Daí as constantes advertências contra qualquer tentativa de representar o ETERNO sob quaisquer formas materiais, seja por meio de trabalhos artísticos, ou mesmo pelo pensamento. A resposta Divina à Moshê, Eu Serei o que Serei; é a definição última do ETERNO para toda pessoa que O procura: Sua Presença será percebida por aqueles que O buscam. Mas Sua transcendência jamais será completamente revelada aos seres humanos.

Cabe explicar o porque a apropriada proibição relacionada a pronúncia do Tetragrama, tal como ele é escrito. Está Escrito:

טו וַיֹּאמֶר עוֹד אֱלֹהִים אֶל-מֹשֶׁה, כֹּה-תֹאמַר אֶל-בְּנֵי יִשְׂרָאֵל, יְהוָה אֱלֹהֵי אֲבֹתֵיכֶם אֱלֹהֵי אַבְרָהָם אֱלֹהֵי יִצְחָק וֵאלֹהֵי יַעֲקֹב, שְׁלָחַנִי אֲלֵיכֶם; זֶה-שְּׁמִי לְעֹלָם, וְזֶה זִכְרִי לְדֹר דֹּר.

15. E disse mais Elohim à Moshê, assim dirás aos filhos de Israel, o ETERNO Elohim dos vossos antepassados, Elohim de Avraham, Elohim de Itzhak, e Elohim de Iáacov, me enviou a vós; este é meu nome para sempre, esta é minha lembrança de geração em geração.

Comentando a frase “este é meu nome para sempre”, Rashi (Rabi Shelomo ben Itzhak זצק''ל ) observa:

A palavra “para sempre”, לעלם neste verso é escrita חסר וי''ו sem um ו (letra Váv), que normalmente pertence a esta palavra. [Isso não é um erro, mas ao invés disto] pretende ensinar, “oculte [o NOME]; de modo que ele não seja pronunciado da forma com é escrito.” Isso porque לעלם LeOlam “Para sempre” teve seu Váv omitido propositalmente, para lermos לעלם LeAlem “Ocultar”, aprendendo das Escrituras o dever de não pronunciar o NOME tal como escrito. Tais explicações, nas quais Rashi se baseia; constam no Shemot Rabah 3:7, e no Talmud, Tratado de PessaHim 50ª. Baseados nestas revelações, nunca devemos pronunciar o NOME com o qual nos referimos à Transcendência de Deus, ou seja; o Tetragrama, tal como ele é escrito. Ao invés disso, nós pronunciamos outras referências à Sua Majestade, como אדוני Adonai, Senhor.

Toda coisa que existe, e que se admita não haver existido antes; não pode escapar destas duas possibilidades: Ou fez a si mesma, ou algo a fez.

Do mesmo modo, toda coisa sobre a qual admitamos que fez a si mesma (primeira hipótese) não pode escapar destas outras duas possibilidades: Ou fez a si mesma antes de existir ou fez a si mesma depois de existir. Ambas são impossíveis.

Pois se dissermos que fez a si mesma após existir, nada fez; pois não existe a necessidade de fazer a si mesma já existindo; e objetivo nenhum foi atingido. Caso, por outro lado dissermos que fez a si mesma antes de existir, neste tempo nada era; e do nada, nada provém; nem ação nem cessar de agir. Não pode pois fazer nada. É impossível portanto, que uma coisa faça a si mesma. Isto confirma a primeira premissa mencionada.

A demonstração da segunda premissa é a seguinte: Toda coisa que tenha um fim, teve um começo; ou seja, o efeito de um causa deve possuir uma causa primeira. Pois é evidente, que o que não tem começo não pode ter fim, e é inconcebível que uma coisa que não tem princípio pudesse atravessar o infinito; para alcançar um ponto, no qual seus efeitos sejam observáveis ao homem. Todo efeito que nos é observável, nos faz saber que é precedido por um princípio primordial, uma causa primeira sem causa precedente. Quando observamos os efeitos de uma causa nas coisa que existem no mundo, podemos concluir que tiveram um começo, antes do qual não houve outro começo; uma causa primeira para a qual não exista outra causa; pois uma infinita série de causas é algo impossível.

Além do mais, é óbvio que qualquer coisa que seja parte de um todo, o todo é a soma de suas partes. Que o infinito tenha “partes” é inconcebível; pois uma parte é uma quantidade separada da outra, a menor quantidade sendo medida da maior; como notado por Euclides (filósofo grego) no começo do seu livro sobre Geometria.

Vamos imaginar uma coisa, que é tida como infinita, e que nós tomamos qualquer uma de suas partes. O que sobra, sem dúvida será menor ou menos do que o que era antes. Agora, caso o que sobrou continua infinito, assim um infinito é maior que o outro infinito; o que é impossível. Caso o que sobrou é finito, e nós recolocarmos a parte tomada dele (a qual também é finita) o todo será pois infinito. A mesma coisa seria pois finita e infinita, e isto seria uma contradição impossível.

Concluímos pois, que é impossível que tomemos uma parte do que é infinito, e que quer que tenha uma parte é certamente finito.

Agora, de todas as pessoas que existiram no mundo, caso nós isolássemos em nossas mentes, uma parte delas – por exemplo, os que viveram entre os tempos de Noah e os tempos de Moshê (Moisés) Nosso Mestre – eles constituiriam uma parte de todo o povo que já viveu no mundo. Desde que todo o mundo é finito, as causas deste também devem ser limitadas em número. Disto prossegue-se que, este mundo tem uma causa primeira, antes da qual não há outra; e por esta razão, as séries de causas necessariamente vieram a um fim com a primeira causa, como explicamos.

A demonstração da terceira premissa é a seguinte:

Toda coisa que é composta, sem dúvida consiste de mais de um componente. Estes componentes são parte de sua natureza. Assim pois, aquele que os colocou em composição deve preceder a coisa composta, tanto por natureza como por tempo.

Agora, o que é eterno não tem causa, e o que não tem causa não tem princípio, e o que não tem princípio, não tem fim. O que não é eterno, foi trazido a existência, pois entre o que é eterno e o que foi trazido a existência, nada pode ser dito, como sendo nem eterno nem trazido à existência.

Conseqüentemente, toda coisa que é composta não é eterna, pois teve princípio, e portanto; teve que ser trazida a existência. Desde que a terceira premissa foi confirmada, todas as três premissas são agora estabelecidas.


2 comentários:

  1. gosto muito das escrituras sagradas judaica, mas gostaria de entender por que não há comentários sobre o novo testamento

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