Quando se aborda a delicada questão do desenvolvimento religioso, tal como ele deve revelar-se e efetivamente se revela na Igreja, fica-se em presença de três tendências intelectuais – para não dizer três sistemas – dos quais dois representam extremos, deixando lugar, como sempre à via média, por onde atenta e tranquilamente se comprar em caminhar a sabedoria.
A primeira concepção: a Igreja, nos seus primórdios, era ou devia ser o que é hoje, salvo a amplitude.
Segunda concepção, situada no outro extremo: nos seus primórdios a Igreja não era e não devia ser nada do que é hoje; veio a sê-lo por força dos homens e das circunstâncias, por acidente, diria um filósofo, semelhante à bola de neve que engrossa rolando, corre para a direita e para a esquerda, e agrega a si os calhaus da estrada.
Terceira concepção, que se vai reconhecer, pois não podíamos deixar de explorá-la antes de defini-la – e sem ela tudo não teria passado de dispersão e acaso nos pensamentos que, pelo contrário, nos pareceram ligar tão fortemente os fatos da história; - a Igreja, nos seus primórdios, era um germe definido, e a este título, sob este aspecto, perfeitamente idêntica ao que é hoje. Como se eu dissesse: o frango é o ovo; o carvalho é a glande; porquanto, do ponto de vista da espécie, de um ou de outro só sai aquilo que deve sair, aquilo que portanto nele se achava contido de antemão. De que maneira ou de que outra? Decidi-lo-emos dentro em pouco; mas isso aí se acha em todo caso, certa e mui determinadamente; as circunstâncias exteriores não farão senão dar à ideia vital ensejo de se revelar o que é; as direções particulares, assim tomadas, darão ao produto último uma fisionomia em relação às circunstâncias atravessadas e as influências que elas comportam, mas sempre sob o governo da ideia vital, que detém todo o essencial.
Por aí se pode ver que, quanto à opção há pouco proposta, procedemos à maneira de Platão, que dizia com boa graça: “Quando me pedem optar entre duas coisas, faço como as crianças, tomo-as ambas”. Tomamos, com efeito, as duas opiniões precipitadas, completando-as e corrigindo-as uma pela outra.
Nos seus primórdios, a Igreja era o que é hoje? Exatamente, mas no estado envolvido, como que um germe. Nos seus primórdios, a Igreja não era nada, ou quase nada, do que ela é hoje? Realmente! Absolutamente não o era no estado desenvolvido, no estado de fenômeno histórico manifestado, evoluído; era-o, todavia, da outra maneira.
Esta decisão, ousarei dizer, aclara o debate tanto quanto ele pode aclarar-se, o que não significa completamente. Porquanto restaria definir o que é essa existência em germe com que queremos mimosear a Igreja. Confessarei, mesmo, que este o fundo do debate; porque ninguém estaria disposto a negar, em princípio, que, em relação à nossa, a Igreja de S. Paulo seja uma espécie de germe. Somente quando se quer precisar, diverge-se e, ao olhar bem a coisa, a divergência parece porvir de uma diferente concepção filosófica daquilo que se entende por germe.
Há quem imagine que um germe é propriamente a coisa a obter, salvo a estatura. Era a ideia de Anaxágoras, com suas partes similares, ou mínimas, pretenso ponto de partida das gerações. É o que a imaginação popular concebe, quando de bom grado imagina, num ovo um franguinho invisível, numa bolota num carvalho minúsculo com galhos dobrados, como um guarda-chuva em repouso na sua capa.
Mas isso é uma ideia de criança. Não é de admirar que, aplicada à Igreja por um subentendido inconsciente, ela pareça colocar-nos em má postura para com a história. Com efeito, ela nos obriga a achar na Igreja primitiva o que nela não se acha: um organismo diferenciado, munido de tudo o que hoje chamamos essencial, senão mesmo do acessório a que estamos acostumados. Como se devêssemos achar nessa igreja inicial, desempenhando o papel das partes mínimas de Anaxágoras, um pequeno cardinalato ou uma pequena congregação do Índex.
Felizmente, esta concepção a ninguém se impõe. Não é assim que Deus cria. Na natureza, ele nos mostra como procede isso. Analisai um grão, mesmo que seja ao microscópio, e nele não achareis uma arvorezinha. Não há nele nem galhos, nem folhas nem flores, nem, com maioria de razão, frutos; se os houvesse, sendo esses próprios frutos embriões de árvores, forçoso seria contivessem outros frutos, que por sua vez conteriam outros, e assim sem fim.
Mas num germe não há nada de tudo isso. O que há, mormente logo no início, é uma virtude preformativa, que se apoia em condições materiais definidas, mas definidas sobretudo como poder*, e não como realização obtida. Um ímpeto orgânico não é um desdobramento.
E que é então, com precisão? Grato ficaríamos a quem o dissesse. A esse pensador, a ciência poderia votar uma coroa mural: ele teria sido o primeiro a escalar a fortaleza de um grande mistério. Toda a natureza repousa nesse poder de desabrochamento, que se revela ocultando-se, como a própria Divindade.
Resignemo-nos. Mas é bastante dizer: a Igreja desenvolve-se através dos tempos como esses objetos de natureza que conhecemos, aos quais não opomos objeções, dos quais somos – entendo: os viventes.
E isso significa duas coisas que, dizia eu, corrigem uma pela outra as opiniões extremas. Isso significa que a Igreja é caracterizada, desde o início, segundo todos os caracteres íntimos que nela se revelarão mais tarde na forma histórica: assim o ovo ou o grão de uma certa espécie contém em si as características completas dessa espécie. E, por outra parte, isso significa que a Igreja, no início, não possui, nem precisa possuir, as formas históricas com que a agraciará o futuro: assim o ovo não contém nem bico, nem patas, nem penas.
Mister se fará, pois, que no curso da sua longa vida, se introduza constantemente na igreja o novo. Mister nunca se fará, porém, que nela se introduzam novidades. Esta distinção absolutamente não é verbal. É capital em toda a medida do possível. A nossa Igreja sempre viu um abismo entre essas duas coisas.
A novidade é o elemento estranho que permanece estranho, que se justapõe e não se assimila, porque é incapaz disto, ou porque a questão nem sequer se apresenta, de vez que o todo não passa de um magma sem ideia vital. Se a Igreja crescesse assim, seria a bola de neve de inda há pouco, a qual na partida quase nada absolutamente tem daquilo que terá mais tarde.
O novo é o elemento estranho que se assimila, porque é assimilável, porque era chamado ou aceito antecipadamente por propriedades concordantes com as suas, e porque lá estava, pois, contido em oco, se assim posso dizer, antes de fornecer o cheio. Assim os elementos cedidos à planta pelo ar, pela água e pela terra a ela se incorporam, e entram sob a sua lei de vida, deixando-a, pois, à sua essência.
A esta luz, abordaremos o exame dos fatos.
Eis os Doze agrupados em torno de Pedro, que, como a crítica cada vez mais reconhece, é mui verdadeiramente o personagem principal (princeps) da primitiva Igreja.
Como consequência da sua designação e como inicio da sua missão, Pedro foi o primeiro a ver Jesus ressuscitado, o primeiro a crer e a comunicar a sua fé aos outros. É por proposta dele que Judas é substituído, para que o número das testemunhas esteja completo, em acordo com o simbolismo universalista observado quando falávamos do estabelecimento da Igreja (At I, 13). Ele é que será o porta-voz de todos perante o Grande Conselho (At IV, 8). Relatando este último episódio (V, 29), dizem os Atos: “Pedro e os apóstolos”, fórmula evidentemente intencional. Até o fim continuar-se-á a dizer: Pedro, o Rochedo, nome simbólico, como se sabe, ao passo que os outros sobrenomes dados pelo próprio Jesus não sobrevivem, e embora esse nome absolutamente não esteja em uso nos meios hebraicos ou helênicos.
O grupo apostólico, com o das mulheres galileias, de que Maria, mãe de Jesus, é o vínculo, reuni-se num hyperôon, câmara alta que dá para um terraço, à moda oriental.
Em volta desse primeiro círculo, um segundo se estabelece, composto dos convertidos de Jerusalém: cerca de cento e vinte pessoas, no momento da morte de Jesus. Pela sua primeira pregação, Pedro agrega três mil (At II, 41). E em volta deles um terceiro grupo vai logo constituir-se: os Helenistas, cujo caráter particular muito contribuirá para o desenvolvimento ulterior da Igreja, ao mesmo tempo que para o seu êxito exterior. Estes dois efeitos condicionam-se um ao outro. Conquistando o que lhe é assimilável, o cristianismo toma consciência de si, como o vivente se desperta a si mesmo reagindo sobre o que seu meio lhe traz. A vida é um círculo.
O grupo de que eu falo difere muito, pelo espírito, dos Judeus de Jerusalém. Os Helenistas são Judeus, porém Judeus transplantados, que vivem ou viveram em terras de civilização greco-romana. A sua língua é o grego, em vez do aramaico ou do hebraico. A sua cultura e costumes são hauridos na gentilidade, em vez de terem permanecido locais. Eles são fiéis ao judaísmo, porém o encaram mais largamente. Donde, entre os Judeus formalistas de Jerusalém, a tendência para considerá-los como conformistas um pouco suspeitos, às vezes mesmo como traidores. E, inversamente, como sempre, tendência da parte dos Helenistas a olharem os Hebreus intransigentes como espíritos estreitos e casmurros.
Quando o Evangelho se apresenta a uns e outros, aceito com um mesmo coração – pois aqui falamos dos convertidos -, nem por isto é julgado com um mesmo espírito. Os Hebreus veem nele sobretudo uma reforma judia, e a ele se agregam como outros se agregam aos Essênios ou aos Fariseus. Os Helenistas saboreiam-lhe melhor a novidade, e puxarão no sentido de S. Paulo, quando vier a grande crise.
Um incidente de vida diária serve de ocasião à ampliação do quadro religioso constituído pelos Doze, e essa ampliação produz-se no sentido universalista, porque assim o quer o ímpeto evangélico.
Havendo-se elevado no grupo dos Helenistas uma queixa porque, dizem eles, suas viúvas são desprezadas nas distribuições cotidianas – e sem dúvida eles viam nisso uma parcialidade que lhes chocava o senso católico tanto e mais do que os seus interesses -, os Doze lhes fizeram justiça sob forma a mais elevada e significativa. Estabelecem diáconos, para presidirem às particularidades da vida comum, e escolhem estes indiferentemente dos grupos. É marcar uma etapa na constituição da hierarquia. É, ao mesmo tempo, afastar-se do princípio de uma religião nacional.
Na pessoa de Estevão – e o caso de Estevão será em breve legião – o papel de diácono vai forrar-se do de teólogo e apologista. Assim, insensivelmente, por meios de vida, opera-se uma diferenciação; a árvore cresce.
Os Doze, muito explicitamente, reservam-se o testemunho; Estevão e seus semelhantes encarregar-se-ão de sistematizar e de concluir. Estes dois papéis subsistirão. Enquanto o Apóstolo ou o sucessor de Apóstolo – bispo, papa, representante da tradição apostólica tomada como tal – testemunha e diz: este é o ensino de Cristo, o teólogo acrescenta: eis aqui, a meu juízo, o que dele se pode concluir, como se pode compreendê-lo, em que sistema de ideias se pode fazê-lo entrar; e o apologista diz: eis como se pode defendê-lo. É coisa inteiramente diversa. Dogma e teologia, dogma e apologia não se confundem.
Na época de que falamos, o dogma é chamado atestação. “Atestar”, ou “falar a palavra do Senhor”, é até então o papel dos Doze. Um pouco mais tarde, estabelecer-se-á entre os diáconos e os apóstolos uma dignidade intermediária: os Anciãos, ou Presbíteros, que terão voz deliberativa com os Doe e os ajudarão a reger o rebanho.
Nesse termo Presbítero, ou Ancião, de onde virá o termo sacerdote, acha-se inclusa uma filosofia. O sacerdote, na Igreja Católica, historicamente é o representante do passado; e é um ancião, ainda quando seja jovem, sendo, como é, o representante dos apóstolos e do Cristo histórico, cuja ação ele prossegue através do tempo. E, misticamente, é o representante não já somente da antiguidade cristã unida ao seu Cristo, mas do céu, quer dizer, da antiguidade absoluta, ou eternidade. Dessarte, ele é o ancião por excelência, o mais velho de todos.
Como se vê, a ampliação faz-se, mas a partir do centro, e sem nada tirar à ação do centro. É uma lei da vida que, quanto mais a diferenciação orgânica se amplia, tanto mais as funções centrais, em vez de cederem, assumem importância e mostram a sua necessidade. Pio XI* necessita de autoridade muito mais do que S. Pedro.
Aquilo que não vive esfarela-se ampliando-se; aquilo que vive concentra-se, porque então a diferenciação é obra de um princípio que procura revelar-se mais completamente, e não dissolver-se. Se a dissolução ameaçasse, logo um movimento de concentração enérgico, excessivo se preciso fosse – o excesso é melhor do que muito pouco quando se trata de viver – restabeleceria a unidade comprometida.
Em todas as épocas da história este duplo caráter aparece na vida da Igreja: larga expansão em todos os sentidos, e, de repente, horror quase medroso, ou cólera, ante toda novidade. Foi este o último caso que observamos sobre Pio X, por ocasião da crise modernista. Queriam ampliar a vida e o pensamento católicos num sentido de dissolução assinaladíssimo, hoje evidente aos olhos de toda crítica sincera. A autoridade central reagiu. É possível que a vaga em retorno tenha ido, em alguns, mas longe do que fora mister; mas agora o equilíbrio está reestabelecido, até nova crise.
No início em que estamos, o perigo é antes no outro sentido, e um modernista no sentido católico do termo, Paulo, é quem, sem se separar da autoridade dos Doze, pelo contrário, apoiando-se nela de maneira mais explícita, mas tirando-lhe o sentido humano, para além daquilo que ela até então compreendera da sua missão, imprime à nossa Igreja o surto mais decisivo que ela tenha recebido e seguido não somente nos primeiros tempos, mas, pode-se dizer, em todos os séculos.
Seja qual for a diligência que um humano possa fazer no curso de sua existência longa e acidentada, ele nunca fará uma semelhante à do dia do seu nascimento, quando, abandonando dolorosamente o meio interior em que vivia, corta as suas amarras e confia-se a uma natureza que ele ainda não sabe materna.
Muito tempo será ainda preciso para que a criança cesse de se volver para sua mãe em atitudes de naufrago, com gestos quase brutais, como se quisesse retornar às suas antigas condições de vida e fugir deste mundo, que a espanta, enquanto não a apaixona.
Esses gestos reencontram-se no nascimento da nossa Igreja. Paulo é o parteiro enérgico que clama o ar livre para a criança. Pedro é o pai que não somente consente, mas que quer e tem realissimamente a iniciativa, visto ser ele quem fala com autoridade. Tiago de Jerusalém, o “irmão do Senhor”, será o tio virtuoso, que por certo é benevolente para com a vida nova e para com os jovens doutores do progresso, mas cujo olhar é entretanto para o passado, como também as complacências. Quando Paulo vem a Jerusalém contar, com alegria, a difusão do Evangelho entre os Gentios, Tiago escuta e aplaude; mas, virando-se para o seu caro grupo de Judeus, acrescenta: “Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus creram, e todos são zeladores da lei” (At XXI, 17-21).
O centurião Cornélio foi o primeiro Gentio a tornar-se cristão sem incorporação ao judaísmo. O relato dos Atos que narra a sua conversão e batismo é uma das pátinas mais tocantes e mais elevadas que se possam ler (At X). Ora, é Pedro quem o admite, tanto é verdade que na Igreja nada se faz sem a autoridade. Torna-se, porém, necessária uma visão para decidi-lo. Ele consente, com um espanto que só a sua admirável caridade consegue vencer: “Agora, diz ele, reconheço que Deus não faz acepção de pessoas; mas que em toda nação lhe é agradável aquele que o teme e pratica a justiça”. Era uma descoberta!
Por trás do centurião, via acaso Pedro a humanidade que corria para Cristo? E porventura o “duc in allum”, ao largo! Ao largo! Que Jesus um dia lhe diria, estaria alerta no seu coração? Sim, mas a sua vista fraca só captava desse futuro aquilo que dele era preciso para a ação imediata. Paulo, este, verá imediatamente largos horizontes; lançar-se-á a eles com uma paixão que fará dele o general do Verbo, “dux verbi” (At XIV, 11). A sua cultura, a um tempo judaica e um tanto helênica, as suas aptidões filosóficas, a sua experiência, o caráter impressionante da sua conversão, o fato de haver ele sido, no inicio, um perseguidor violento, dão-lhe uma grande força. Sua alma de fogo e suas graças eminentes farão o resto.
Em face das conversões pagãs, ele não dirá como que em tom de escusa o que Pedro disse à assembleia dos irmãos, ao voltar de Cesareia onde batizou Cornélio: “Podia eu opor-me a Deus?”. Mas sim, num entusiasmo cuja expressão perde aos nossos olhos a sua tonalidade brilhante, precisamente porque somos nós os beneficiários dela, exclamará: Eis que segundo Cristo não há mais nem Judeu nem Gentio, nem Grego nem bárbaro, nem mulher nem homem, nem escravo nem livre, porque não sois mais do que uma só pessoa em Cristo (Gl III, 28; Cl III, 11).
A gente não imagina quantas noções tais palavras subvertiam nos homens daquele tempo. Na cabeça deles, era todo mundo antigo que ruía. Isso se parece com o discurso daquele que viesse um dia dizer, talvez: Não há mais nem Franceses nem Alemães, nem Ingleses nem Russos, nem Japoneses nem Americanos, nem Italianos nem Tchecoslovacos; não sois mais do que uma só pessoa em humanidade.
A assembleia, de Jerusalém, onde sob a presidência de Pedro, por iniciativa de Paulo e com a alta autoridade moral de Tiago, se reúne o primeiro dos nossos concílios, consagra esta situação. Aí fica combinado que não se imporá aos cristãos o fardo da lei judaica, nem muito menos a circuncisão, sinal de incorporação política. Fato duplamente decisivo. Ressalta dele que o judaísmo é reconhecido forma transitória do movimento religioso autêntico, forma doravante ultrapassada: êxodo moral que lembra o de Abraão deixando o seu território caldeu. E, em segundo lugar, proclama-se que a religião definitiva, a de Jesus, é transcendente às organizações temporais, alheia às questões de raça, de nacionalidade, de sexo ou de condição, católica em suma.
A catolicidade de direito datava de Cristo, homem universal; datava dos profetas messiânicos; datava do berço da humanidade; mas a catolicidade oficialmente reconhecida data do concílio de Jerusalém. A partir desse dia, é operado o corte com o passado. Nascida da sinagoga, e parecendo fazer corpo com ela como a árvore com o rochedo cuja silhueta ela continua sobre o céu, a Igreja manifesta a sua autonomia; a árvore estende os galhos para que as aves do céu possam vir.
Vê-las-emos acorrerem em multidão. Mas, para que elas achem a sua vida e o seu abrigo debaixo da sombra, cumpre que os botões ainda fechados desabrochem em palmas verdes. Contemplemos um pouco essa primavera da nossa Igreja. Tudo nela é modesto como na humilde e potente alquimia do vergel; mas o ouro dos frutos está contido no chumbo resistente da terra; vê-lo-emos revelar-se em riquezas novas enquanto o sol do Espírito brilhar no nosso céu.
I
A decisão do concílio de Jerusalém parecia clara; era o realmente, porém os espíritos são sempre mais complicados do que as fórmulas. Expulsai o natural, e ele volta a galope. Expulsai um preconceito pela porta, e ele se introduz pela janela. O episódio moral que motivara a reunião e que parecia regulado completamente, reproduz-se pouco depois sob forma nova, sofrivelmente insidiosa.
Admitir-se-ão os pagãos à vida cristã sem se lhe imporem as observâncias judaicas: eis o que está convencionado. Vai-se, porém, colocá-los no mesmo pé que os outros? Em Jerusalém, o povo está habituado às categorias. Há os prosélitos da Porta que só transpõem o primeiro recinto do Átrio; os prosélitos da Justiça, naturalizados e incorporados; e, nos dois extremos, os Judeus autênticos e os Goim ou impuros estrangeiros. Não se poderiam fazer duas categorias de cristãos, os verdadeiros, os puros, isto é, os Judeus ou judaizantes circuncidados, e os outros, isto é, os Gentios convertidos mas não incorporados ao judaísmo?
A comunidade de Jerusalém não se presta muito a essa divisão, porque nela os Gentios são uma minoria inteiramente insignificante, pouco em condições de reclamar o seu direito, e sem dúvida não se capacitando da significação geral do seu caso. Mas a comunidade de Jerusalém enxameou depressa; os seus primeiros pregadores fizeram maravilha, e especialmente em Antioquia Paulo e Barnabé estabeleceram uma comunidade florescente, composta em grande parte de pagãos convertidos. Lá, o problema apresenta-se com toda clareza, como um problema social.
Ora, mui naturalmente os partidários da distinção em duas categorias propuseram que o seu sistema tivesse aplicação à refeição dos ágapes. O banquete fraternal comportará dois serviços: os dos Judeus ou cristãos de primeira linha; e o dos Gentios, cristãos de segunda zona.
Tendo vindo visitar a comunidade de Antioquia, Pedro deve tomar partido e figurar numa das mesas. Opta primeiro sabiamente, em conformidade com as suas próprias palavras no concílio. Mas, ante as reclamações dos seus compatriotas, cede. Paulo é forçado a intervir para obrigá-lo a pôr suas ações em harmonia com a sua doutrina. A ordem não deixa por isso de triunfar. A direção do futuro está tomada. Não se deixará dividir-se o corpo de Cristo. O símbolo da unidade, a Eucaristia, não se prestará a uma interpretação particularista. A senda judaica é decididamente abandonada, e, enveredando positivamente pela grande estrada humana, vai a Igreja poder organizar-se deveras, desenvolvendo aos poucos o que nela está latente.
Três direções paralelas impõem-se a esse desenvolvimento. A crença, o governo, o culto exigem uma expansão progressiva conforme às exigências aumentadas da vida nova. O tempo provê a isso com uma regularidade que trás constantemente ao espírito a mesma imagem: o ímpeto natural dos seres.
As crenças do inicio eram substancialmente o que são hoje. A nossa teoria do germe que contém na partida, tudo o que dele sairá – sem o conter, mas contendo-o entretanto, a saber, em potência de futuro, e não em ato explícito, - aplica-se a cada aspecto da vida católica tanto quanto ao conjunto.
O Símbolo dos Apóstolos, que não data dos apóstolos, mas que lhes exprime a crença tal como ressalta dos primeiros documentos, faz-nos ver que é que se vive então. Não insisto nisto. Porém muitas precisões sobre a natureza do Deus-Trino, sobre a pessoa e o papel de Cristo, sobre o plano religioso do mundo, sobre a própria Igreja, ainda estão por precisar.
A autoridade, que decide à medida que os casos se apresentam, como se vê nos Atos e nas Epístolas, como se verá mais tarde nos concílios, tão laboriosamente preparados, a autoridade, digo, instrui-se nas suas próprias decisões, como um grão inteligente se instruirá em se olhar crescer, só imperfeitamente sabendo o que ele traz em si mesmo. Por isso, mesmo ao olhar da autoridade, que é a cabeça mas que não é o corpo todo, há um desenvolvimento, uma instrução dogmática da Igreja.
Ademais, a superedificação, como se exprime S. Paulo (epoikodomé), isto é, a teologia, de que já falei, elabora suas teses, e algumas iluminam largamente os horizontes da fé. O próprio S. Paulo contribui para isso com um poder construtivo e uma penetração de que não há muitos exemplos.
Não posso entrar na minúcia das doutrinas, a qual nos arrastaria a longe demais. A história dos dogmas é um assunto denso, que aliás não é o nosso, visto estar entendido que nós salientamos o milagre, não narramos.
O que nos interessa é notar até que ponto, em semelhante matéria, eram fáceis os desvios. As heresias, isto é, as escolhas arbitrárias nas doutrinas correntes, ao invés da aceitação exclusiva daquilo que pode quadrar com o depósito revelado, seja por modo de identidade, seja como desenvolvimento natural ou legítima interpretação: tal é o perigo. Desde o início mostra-se ele temível. Muitos lhe sucumbem. Paulo repreende-os com sua virulência maternal, Pedro com gravidade, e João, acostumado às grandes imagens, fala das profundezas de Satanás, prestes a tragar os que não sabem manter-se nas alturas de Jesus Cristo.
Nem por isso deixam eles de dizer, uns e outros: “Convém que haja heresias” (I Co XI, 19). E, sem dúvida, na boca deles isso é a expressão de uma fatalidade; mas essa fatalidade é também uma providência. Reagindo contra a introdução de um corpo estranho, o organismo religioso toma consciência de si mesmo; reconhece os seus verdadeiros elementos, pessoas e coisas, e assim se afirma. Ademais, nunca sendo o erro mais do que uma verdade desviada rejeitando o agente que o utiliza, provando assim a um só tempo a universalidade de uma doutrina que não exclui senão o mal, e a sua unidade sob a forma de uma ideia vital.
Resta o perigo de intoxicação pela admissão irrefletida de germes mórbidos. Esse perigo é tanto maior quanto é rudimentar a organização da Igreja, e quanto uma grande liberdade individual se desenvolve nela. Os oradores, os inventores de noções têm nela uma influência fácil, e os abusos da inspiração pessoal correm o risco de pôr a conta do Espírito Santo as piores divagações.
Para remediar essa situação, mister se faz necessariamente reforçar a autoridade central. Por isso, são os mesmos os documentos que denunciam heresias e que nos mostram em flagrante os primeiros desenvolvimentos da hierarquia católica.
A hierarquia inicial, já lhe enumeramos os elementos; encarnam-na os Doze com Pedro à frente; os diáconos prolongam-na; entre os dois, os Anciãos, ou Presbíteros, partilham-lhe as atribuições sob controle.
É para notar que essa organização, todavia tão rudimentar, nem sempre tem todos os seus efeitos. Pedro está longe de representar o papel disso a que chamamos o Papa; confunde-se as mais das vezes com os Doze, e nós salientamos esta expressão: Pedro e os Apóstolos, que frisa a um tempo o primado e a pouca diferenciação que ele adquiriu.
Mais tarde, o bispo de Roma não será também imediatamente o Primaz universal de hoje. Quase que é só no século III ou no IV que o primado papal é nitidamente diferenciado, e ainda aí se está muito longe da manifesta supremacia atual. “Quando o homem está numa idade muito tenra, diz graciosamente o P. Clérissae5, a voz é indistinta; porém, quanto mais o organismo se desenvolve e se robustece, tanto mais a voz se torna expressiva e assume o tom pessoal. É essa toda a razão e toda a história do exercício, progressivo mas, desde o início, formal e contínuo, da autoridade papal na Igreja”.
Da mesma maneira, no grupo primitivo os Doze não têm a situação disso a que hoje chamamos bispos. São ao mesmo tempo mais e menos do que bispos. Mais, porque o contato direto com o Senhor, cuja virtude eles conservam, lhes dá autoridade aos olhos de todos, e portanto estende o poder de cada um deles a todas as comunidades, em vez de ficar localizado, como hoje, numa Igreja particular. Menos, porque, sendo intensa a vida comum e pouco numerosos os problemas práticos, não se sente a necessidade de uma administração regular. A autoridade é discreta e as iniciativas muito grandes.
Num organismo social, quando a ideia vital em toda parte é ativa, realizando espontaneamente as finalidades que são a razão de ser dos órgãos diretivos, esses já não têm motivo para impor a sua especialidade. A autoridade perde por outro tanto a sua razão de ser, e isso vige na medida daquilo que o bem social exige ou ainda não exige. Numa aldeia em que toda a gente varre a frente da casa, não há necessidade de limpeza pública; mas esta é necessária numa grande cidade, porque os serviços de uma cidade excedem a competência e o poder dos particulares, ainda quando estes forem atentos como os outros ao bem comum. Assim, na Igreja, o desenvolvimento da autoridade segue o desenvolvimento do grupo e das crescentes necessidades do grupo.
Os bispos por excelência, os Doze, foram instruídos por Cristo; mas, uma vez ampliado o rebanho, mister se lhes torna um prolongamento de presença e de ação; vinda a morte, mister se lhes torna uma sucessão. O episcopado corresponde a essa necessidade. Episcopoi, isto é vigias a respeito da doutrina e da vida católica, os bispos, cuja instituição remonta à primeiríssima geração, são pois as testemunhas da dupla expansão da Igreja segundo o espaço e segundo o tempo.
Muito tempo será necessário para que as sés episcopais sejam estabelecidas na sua forma atual. Em certos lugares, o episcopado é exercido por vário, como por uma espécie de capítulo. Em muitos documentos, bispos, sacerdotes, apóstolos são termos que parecem confundidos. E sem dúvida é preciso discernir o que corre por conta da linguagem figurada, e também do que corre por conta dos termos coletivos, como quando dizemos os padres, para designar todo o clero de uma diocese, com o bispo à frente. Mas parece, mesmo, que flutuação nas expressões corresponde a uma certa flutuação das realidades. Digo isto sob o ponto de vista administrativo.
Ademais, vestígios de episcopado unitário fazem-se reconhecer em toda parte, ainda quando fosse só sob a forma de uma presidência mais ou menos importante, esboço do claro primado espiritual que será mais tarde o nosso episcopado.
Naturalmente, os primeiros de todos os bispos são estabelecidos diretamente pelos Apóstolos. Na segunda fase, são estabelecidos pelos discípulos imediatos dos Apóstolos, como Tito e Timóteo. É sempre a lembrança do Senhor que reina; sente-se o contato dela por meio desses primeiríssimos elos da cadeia das graças.
Na geração seguinte, enfraquecendo-se as recordações pessoais, a coletividade entra em jogo. As nomeações são feitas pelos bispos da província que se acham mais próximos, geralmente três, “com o sufrágio do povo”, diz S. Clemente, quer dizer, sem dúvida, um voto consultivo. Todavia, quando o povo inspira pouca confiança e se trata justamente de reconduzi-lo por uma boa escolha, prescinde-se dele: a prova de que a constituição da Igreja nos seus primórdios não é democrática, como por vezes se tem pretendido.
Desde o primeiro concílio geral (Niceia, 325), a eleição do bispo deve ser confirmada pelo metropolita; isto é, por uma autoridade central tornada nitidamente preponderante em seu domínio. Muito mais tarde, enfim, estando a centralização concluída e todos os órgãos da Igreja diferenciados, o poder de confirmação passará à Santa Sé, e o povo será excluído da eleição, por causa do caráter político que o seu voto assume, quando o sopro religioso dos primeiros tempos está acalmado.
Tal é o ponto de partida da hierarquia, tal o da doutrina. Quanto ao culto, vemo-lo começar e orientar-se segundo as mesmas leis. Nos primeiros dias, copia-se a sinagoga. Jesus praticara-lhe os ritos. Instituiu outros; mas do passado ao futuro, a transição deve ser natural, isto é, insensível.
As pessoas reúnem-se, pois, à maneira judia, particularmente no dia de sábado. Reza-se em comum; lê-se a Sagrada Escritura; participa-se dos ágapes, refeição frugal que tem lugar à noite, como na véspera da morte do Senhor, e que termina também pela eucaristia. Enfim, eles vivem juntos uma vida mística capaz de nos parecer hoje muito extraordinária, mas que o fervor do estado nascente faz então achar mui natural. Isso a que chamamos os carismas, ou dons do Espírito Santo, como o dom de profecia, de cura, o discurso de sabedoria ou de interpretação, etc., são manifestações correntes.
Insinuam-se nisso muitos abusos, como se pode ver pelas admoestações dos Apóstolos e pelas precauções com que eles cercam essas escapulas do sentimento religioso interior. Porém as almas haurem aí grandes recursos: alimentam a sua fé e inflamam o seu entusiasmo, efeitos bem necessários para resistir à invasão do mundo pagão e à ameaça permanente do martírio.
Quando a Igreja cresce, essas maneiras de viver, essencialmente intimas, dissipam-se pouco a pouco. No século II, elas ainda são correntes, como o testemunha Irineu o filósofo. No século III, rareiam; no IV, já não passam de uma reminiscência; declara-o Eusébio. A regularidade social sucede às espontaneidades transbordantes, e, se o Espírito não se revela menos, fá-lo de maneira menos exterior. Os dons cedem um pouco às virtudes, e os carismas à caridade.
Mesmo quanto à Eucaristia, os abusos e as dificuldades práticas levarão a reduzir, e depois a suprimir, os ágapes preparatórios. Se conservará somente o essencial: a consagração do pão e do vinho e o seu uso sacramental, até que mais tarde as mesmas considerações induzam a suprimir a participação no cálice.
As reuniões fazem-se primeiro em casas particulares, especialmente em câmaras altas, grandes peças do andar superior de que já falei. Só mais tarde haverá igrejas, e este termo, aliás, só a partir do século III será empregado para designar edifícios do culto.
No início, havia interesse religioso em que o culto não tivesse local oficial, a fim de bem lhe assinalar a interioridade, por oposição ao culto judeu que não podia passar sem o Templo. Nossos templos, os nossos, são símbolos e servos, dissemos; nós não somos escravos deles.
O pequeno rebanho constituído por cada grupo de fiéis mantém-se, pois, unido em torno do báculo apostólico. Eles se reúnem à noite, em lembrança da Ceia do Cenáculo, mas sem dúvida também em razão das ocupações do dia. Ademais, a noite é favorável aos surtos místicos, e as nossas primeiras comunidades são costumeiras neles.
A sua reunião prolonga-se, não raro, pela noite. A do sábado, ou “sabbat”, é seguida de uma liturgia que tem lugar pela manhã. É assim que se estabelece a passagem do sábado para o domingo, que muito cedo se torna o dia do Senhor.
Do mesmo modo, a Páscoa judia transforma-se em comemoração da Paixão e da Ressurreição de Jesus, com o simples inconveniente de acarretar discussões, por causa da divergência das datas.
Finalmente, o centro de atração religiosa dos cristãos, como dos Judeus, é primeiramente Jerusalém. Mas já que diferença! Para os Judeus, Jerusalém era o Templo; para os cristãos, é sobretudo o Calvário e a Câmara alta. Os Judeus sentiam-se ligados ao Sinédrio; os cristãos à comunidade dos Apóstolos, onde Pedro exerce o primado, onde as inspirações místicas parecem vir sobretudo de Tiago, o Irmão do Senhor.
Esse centro cedo se deslocará. A mãe não retém sempre o filho. Tendo conquistado a sua autonomia, a Igreja assinalará essa autonomia por um estabelecimento que deixará a Jerusalém o simples papel de antepassado. Roma propõe-se para recolher a sucessão do Oriente, como o zênite o sol liberto das brumas matinais.
E, para provar que aqui é realmente uma Providência que vela, a ruína de Jerusalém e a dispersão da sua comunidade ocorrem justamente no momento em que Roma tem tudo o que é de mister para lhe recorrer a herança, tudo, inclusive uma auréola de mártir em torno de uma tiara sangrenta. É em 66 que principia a crise de Jerusalém; é em 64 que a cabeça, virada para baixo, do apóstolo Pedro deixa cair a tríplice coroa que deve brilhar na fronte dos seus sucessores.
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Tal é, largamente indicada, a curva que toma a sua partida a evolução secular da Igreja. A continuação não fará senão revelar o melhor a direção imposta por um Pensamento senhor dos acontecimentos e dos homens, mas que dispõe deles suavemente, como diz a Escritura, posto que se estenda fortemente de uma extremidade à outra (Sabedoria VIII, 1).
Vida da Igreja, precisamente por ser uma vida, não procede de fora, mas de dentro. O Espírito de a dirige não lhe é exterior; vive nela, e é o mesmo que é imanente à história universal e à natureza total. Nada de admirar que tudo isso se encontre em sínteses harmoniosas e progressivas.
O vivente “Igreja” cresce sozinho. Cresce lentamente, com a colaboração de todo o seu meio, como o dizíamos do germe, ao qual o próprio Evangelho o compara (Mc IV, 31).
Não se lhe pode fazer disso uma objeção, como se a Igreja fosse uma obra de acaso. Este ponto de vista racionalista é tão estreito quanto o ponto de vista materialista, que só quer ver no nascimento de um animal um mero encontro de átomos, sob pretexto de que isso se faz sozinho, sem que ninguém vá dispor os membros no seio da mãe.
O próprio fato de realizar-se isso sozinho, deve-se concluir que há aí um princípio interno. Assim também, a fabricação da Igreja por si mesma com a colaboração do meio, é a prova de que a Igreja tem por princípio interno o Espírito de seu Cristo permanecido ativo nela. E é este o milagre.
O princípio vital chamado alma só pode revelar-se por tal organismo possuidor de tais caracteres: é por isso que ele se dá esses caracteres. Assim também, o Espírito divino comunicado aos homens por Jesus só pode manifestar-se na e pela Igreja tal como ela é, e ele o prova dando-a a si próprio, fabricando-a para si peça por peça, com movimento contínuo, sem nenhum plano definido antecipadamente em qualquer dos humanos que dela participam, e, no entanto, de tal sorte que no fim o resultado se mostre adequado à intenção inicial, o corpo adequado à alma, o meio ao fim, a rede universal à pesca universal que o Salvador propõe.
Para exprimir o caráter vivo, auto-evolutivo, e no entanto transcendente da nossa Igreja, reconhecendo que ela pode formar-se sozinha, após assente que ela traz a Deus em si, poder-se-ia utilizar com o esplendor a palavra familiar de La Fontaine:
Petit Poisson deviendra grand,
Pourvu que Dieu lui prête vie.
(O peixinho virá a ser grande
Desde que Deus lhe empreste a vida)
* Referência à época do aparecimento do livro.
5 – Le Mystere de L’Église, p. 73, Pierre Téqui editor.
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