segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O inferno é moralmente justo?

Se Deus é um Pai amoroso, por que ele mandaria pessoas para o inferno eternamente?

Esta é uma dúvida comum, algumas pessoas por isso deixaram de acreditar no inferno como eterno, e outra deixaram até mesmo de acreditar em Deus. Mas será que o inferno é realmente inconsistente com um Deus amoroso? Tem gente que acredita que sim, mas depois de observar os dois lados cheguei a conclusão de que o inferno é muito mais amoroso do que se a pessoa fosse aniquilidada, por exemplo.

Espere um minuto! O inferno, aquele lugar onde as pessoas ficam sendo torturadas por demônios, queimando, cheio de vermes e ranger de dentes é compatível com um Deus amoroso? Você só pode está ficando maluco! Não. Não estou ficando maluco, e se você está curioso (a) para saber o porquê da minha conclusão é só continuar lendo.


O que é o inferno?

Antes de continuar devemos ter em mente que o inferno não é um lugar onde as pessoas ficam queimando e sendo torturadas por demônios. Este pensamento é uma “herança”nossa que veio desde a idade média, certas pessoas ainda divulgam isso, seja em livros, em conversas e até mesmo nas igrejas. Tudo isso deve a tentativa de levar as pessoas para Deus por meio do medo, quando na verdade deveria ser por amor.

Quando a bíblia fala em “fogo”, “ranger de dentes’, “vermes” e “lago de fogo”, não fala literalmente, são figuras de linguagem que dizem que o inferno não vai ser um lugar bom, afinal, qual a pior coisa que pode acontecer ao ser humano? Estar afastado do ser mais belo, inteligente, maravilhoso e perfeito que existe: Deus. Se a humanidade foi criada para isso, a pior coisa é estar afastado do propósito da sua vida.

O inferno é a conseqüência das escolhas de uma pessoa em vida, e se essa pessoa escolheu viver longe de Deus, Ele com certeza irá respeitar esta opinião e coloca-lo num local onde ele continue a viver, mas longe da presença de Deus eternamente. Isso não vai ser bom, é claro, pois quem estiver lá vai se dar conta das besteiras que fez e se arrepender amargamente.

Agora que o mal entendido foi tirado, vamos ver algumas das objeções ao inferno. Tenha em mente que não vou abordar o que acho melhor, ou o que as pessoas acreditam ser o melhor, mas o que é moralmente correto.

Por que Deus condena as pessoas eternamente por erros temporais?

Como se avalia o tempo de punição de uma pessoa? Não é pelo tempo que ela demorou para cometer o ato. Um assassino pode ter demorado 10 segundos para matar, mas não é justo que ele seja preso por 10 segundos. Um ladrão pode ter demorado 15 minutos para roubar as pessoas, mas seria justo esta pessoa ser punida pelo tempo do erro cometido? Não. A condenação de algo deve à gravidade do ato cometido. E qual é o pior ato que uma pessoa pode cometer? J. P. Moreland disse algo esclarecedor sobre o assunto:

“A maioria das pessoas, porque não se importa muito com Deus, dirá que é maltratar animais, destruir o meio ambiente ou prejudicar outra pessoa. Sem duvida, todas essas coisas são horríveis. Mas empalidecem À luz da pior coisa que uma pessoa pode fazer, que é escarnecer, desonrar e recusar-se a amar a pessoa à qual devemos absolutamente tudo, o nosso Criador, o próprio Deus. Você precisa entender que Deus é infinitamente maior que qualquer outro ser em sua bondade, santidade, benignidade e justiça. Pensar que uma pessoa possa passar a vida toda ignorando-o invariavelmente, zombando dele constantemente pelo estilo de vida escolhido, sem a presença de Deus, ao dizer: ‘eu não ligo a mínima para o propósito pelo qual fui colocado aqui; não ligo a mínima para os seus valores e para a morte do seu Filho por mim; vou ignorar tudo isso. Este é o pecado supremo, que é a eterna separação de Deus.”

Lembre-se de que Deus é amor, porém é justo, e para um pecado mais grave deve haver a punição mais grave.

Por que Deus não dá uma segunda chance?

Dizer que seria justo Deus dar uma segunda chance às pessoas é pressupor que Ele não fez o possível para as salvar em vida. E é isso que dizem quando falam em reencarnação, se Deus desse uma segunda chance como dizem eles, significaria que Deus não respeita as escolhas das pessoas em vida, o que tornaria essa vida irrelevante.

Não podemos esquecer que temos a segunda chance agora, depois que Jesus morreu por nossos pecados. A bíblia diz que Deus faz o possível para salvar uma pessoa em vida, e com certeza Ele não mandaria ninguém para o inferno se ela, tendo algum tempo, mudasse de vida:

Joao 7
17 Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo
.

Apocalipse 3
20 Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.


Apocalipse 21
6 E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida.


Apocalipse 22
20 Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente cedo venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus.

“Deus mantém um equilíbrio delicado entre manter sua existência suficientemente evidente a fim de que as pessoas saibam que ele esta presente, e ao mesmo tempo, ocultar a sua presença o bastante para que as pessoas que queiram optar por ignorá-lo possam fazê-lo. Desse modo, a escolha do seu destino é realmente livre.” J. P Moreland

Esta condenação e conseqüência é moralmente correta e compatível com um Deus amoroso e justo que respeita a escolha humana.


C. S. Lewis disse algo muito interessante sobre o inferno:

Descreva para você um homem que foi alçado para a riqueza e o poder por uma trajetória contínua de traição e crueldade, explorando para fins puramente egoístas os gestos nobres de suas vítimas, rindo da simplicidade delas. Um homem que, tendo obtido sucesso dessa forma, usou-o para a satisfação da luxuria e do ódio e finalmente parte o único farrapo de honra entre os ladrões traindo seus próprios cúmplices, zombando nos últimos momentos da desilusão desnorteada deles. Suponha além disso, que ele faça tudo isso, não (como gostariamos de imaginar) atormentado pelo remorso nem por apreensão, mas comendo como um aluno do primário e dormindo como uma criancinha - alegre, um homem de face corada, sem nenhuma preoucupação no mundo, intrepidamente confiante até o fim de que só ele encontrou a resposta para o enigma da vida: que Deus e o homem são tolos de quem ele obtem o melhor. Esse seu caminho de vida é completamente bem-sucedido, satisfatorio e inatacavel [...]
Suponha que ele não se converta, que destino no mundo eterno você pode considerar para ele? Você pode realmente querer que esse homem, permanecendo o que é (e ele pode fazer isso se tem livre arbitrio) tenha confirmada para sempre sua atual felicidade - continue por toda a eternidade sendo perfeitamente convencido de que o seu riso está a favor dele? [...] Mais cedo ou mais tarde, a justiça deve ser declarada, a bandeira [da verdade] plantada nessa alma horrivelmente rebelde, mesmo que não resulte nenhuma conquista mais plena ou melhor. De certa forma, é melhor para a própria criatura, mesmo que ela nunca se torne boa, que se conheça como um fracassso, um erro [...] A exigencia de que Deus deve perdoar esse homem mesmo permanecendo o que é, baseia-se na confusão entre ser condescente e perdoar.

Ser condescente com o mal é simplismente ignorá-lo, tratá-lo como se fosse bom. Mas, para ser completo, o perdão precisa ser aceito assim como é oferecido: e um homem que não admite culpa não pode aceitar o perdão.
Acredito sinceramente que os condenados são, de certa forma, bem sucedidos, rebeldes até o fim; que as portas do inferno estão trancadas do lado de dentro [...] No final, a resposta a todos os que se opõem à doutrina do inferno é a pergunta: "O que você está pedindo que Deus faça?". Limpar os pecados passados deles e, a todo custo, dar-lhes um novo começo, alisando cada dificuldade e oferecendo toda ajuda miraculosa? Mas ele fez isso no Calvário. Perdoa-los? Eles não serão perdoados. Para deixá-los sós? Ai deles, temo que Deus faça exatamente isso. [C. S. Lewis, O problema do sofrimento]


Limpar os pecados passados deles e, a todo custo, dar-lhes um novo começo, alisando cada dificuldade e oferecendo toda ajuda miraculosa? Mas ele fez isso no Calvário.


Há somente duas espécies de pessoas no final: as que dizem a Deus: "Seja feita a tua vontade", e aquelas a quem Deus diz, no final: "Seja feita a tua vontade". Todas estas estão no inferno, pois o escolheram. Sem essa escolha pessoal não poderia haver inferno. Nenhuma alma que deseja séria e constantemente a alegria jamais a perderá. Os que procuram encontram. Aos que batem ser-lhes-á aberta [a porta]. (O grande divorcio)

Mas por que Deus não salva todas as pessoas, ou as aniquila? Se Deus salvasse todas as pessoas, estaria nos tratando como um meio para um determinado fim, sem respeitar nossas escolhas. E se aniquilasse não respeitaria as escolhas do mesmo modo. Novamente com J. P. Moreland:

“O inferno reconhece que as pessoas têm valor intrínseco. Se Deus ama o valor intrínseco, então tem de amparar as pessoas, porque isso significa que ele ampara o valor intrínseco. Ele se recusa a destruir uma criatura que foi feita à sua imagem. Assim, em ultima analise, o inferno é a única opção moralmente legitima. Deus não gosta disso, mas ele as põe de quarentena. Isso honra a liberdade de escolha. Ele só não quer revogar esta liberdade. Deus considera as pessoas tão valiosas intrinsecamente que enviou seu Filho, Jesus Cristo, para sofrer e morrer, de sorte que elas possam, caso queiram, passar a eternidade com ele nos céus.”

O inferno é como uma quarentena para o filho que não quer estar com seu pai. Se seu filho não lhe amasse, nem quisesse viver contigo, fazendo tudo que te desagrada sem se importar com o que pensa, se ele odiasse seu modo de vida, odiasse a sua casa, seus irmãos, sua família. Você tenta se reconciliar e ele não quer, não o ama, não liga pra o que sente, mas você continua o amando.


Seria amoroso você obriga-lo a viver com você mesmo ele não querendo? Seria humano? Você estaria respeitando sua vontade? Ou você estaria o tratando como um objeto para seu proveito?

Talvez para ele seria um inferno viver com você, mesmo você querendo o seu bem.

Quando uma pessoa tem um filho, sabe que pode ser um arquiteto, engenheiro, medico, professor, musico, mas sabe também que pode ser um ladrão, traficante ou assassino. Mas o que as pessoas fazem? Correm o risco para ter um relacionamento de amor.

Acredito que Deus fez o mesmo com a humanidade nos dando o livre arbítrio, e quem não quer ter este relacionamento, Ele respeita.

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