quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ressurreição de Jesus - Parte 1

Texto retirado do livro "Ressurreiçãp - Uma poderosa defesa do principal acontecimento do Cristianismo" de Hank Hanegraaff




"E, havendo-o crucificado, por cima da sua cabeça, puseram escrita a sua acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS. E os que passavam blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Tu, que vais destruir o templo e, em três dias, o vais reedificar, salva-te a ti mesmo; se és o Filho de Deus, desce da cruz'.

E da mesma maneira também os príncipes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, e fariseus, escarneciam — e o mesmo lhe lançaram também em rosto os salteadores que com ele estavam crucificados.

E, perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz, dizendo: 'Eli, Eli, lema sabactâni', isto é, 'Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?'

Depois, sabendo Jesus que já o complô da páscoa estava quase ter­minando, disse: 'Tenho sede'.

Como se tivesse recebido uma deixa, um amigo não identificado de José de Arimatéia se apressou, empapou uma esponja com uma poção para dormir, enfiou-a numa vara e a ofereceu para Jesus beber.

E, quando Jesus a tomou, gritou: 'Está consumado'. E, inclinando a cabeça, desmaiou.

Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados. Mas, vindo a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas. Contudo, um dos soldados lhe furou o lado com uma lança.

Visto que a noite se aproximava, José de Arimatéia foi atrevidamente a Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. Ele tirou o corpo de Jesus, o envolveu em lençóis com especiarias e o colocou num túmulo talhado na rocha.

Lá, José e o judeu não identificado fizeram esforços febris para trazer Jesus de volta à vida.

Tragicamente, a lança romana causou a morte de Cristo e ocasionou a virtual destruição do complô da páscoa. Jesus recuperou a consciência só o suficiente para clamar: 'Não me deixes morrer em vão. Engana meus discípulos para crerem que eu venci a morte e a sepultura'. Com estas palavras, ele curvou a cabeça e morreu. Imediatamente José e o judeu não identificado levaram o corpo de Jesus e se livraram dele.

Durante os próximos quarenta dias, o judeu não identificado apareceu aos discípulos e mediante muitas maquinações convincentes os iludiu, fazendo-os crer que ele era o Cristo ressuscitado. Começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que se achava em todas as Escrituras acerca do Messias — como ele deveria sofrer, morrer e res­suscitar. Os corações dos discípulos ardiam neles quando eles criam na mentira. Até hoje, o complô da páscoa criado por Jesus, José e o judeu não identificado continua iludindo milhões de pessoas, fazendo-as crer que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos." Mitologias 27.35-50*

Em 1965, Hugh Schonfield publicou um volume de 287 páginas intitulado The Passover Plot (O Complô da Páscoa).1 Neste best-seller desembestado, Schonfield sustenta que Jesus "deliberadamente maqui­nou" sua crucificação e subseqüente ressurreição. De acordo com o livro, 'Jesus tramou ser preso na noite anterior à páscoa, plenamente ciente de que seria pregado à cruz no dia seguinte, mas tirado antes do pôr-do-sol de sábado em concordância com a lei judaica. Ele sobreviveria à agonia de não mais de três horas na cruz".2 Em vez de ter sofrido tormento fatal, Jesus somente desmaiou.

Para assegurar a retirada segura de Jesus da cruz, José e um judeu não identificado prepararam um plano no qual Jesus não receberia "o vinagre tradicional, mas uma droga que o deixaria inconsciente e o faria parecer morto. Ele seria retirado da cruz em um transe semelhante à morte, levado por cúmplices ao túmulo, onde seria reanimado e então 'ressuscitaria'".3 Assim, o sepulcro estava vazio não por causa de ressur­reição, mas de ressuscitação.

Esta nova interpretação da vida e morte de Jesus prendeu a imagina­ção do mundo. Revistas e ministros imediatamente a aplaudiram como talvez o livro mais importante publicado em uma década. A revista Time afirmou: "Schonfield [...] não desacredita o Cristo. Ele argumenta que Cristo realmente era o Messias — o Filho do Homem, como Ele pensava ser, mas não o Filho de Deus —, que fora predito pelos profe­tas judeus de antigamente, e o que já é bastante glória".4 O erudito da Bíblia William Barclay disse que O Complô da Páscoa é "um livro de enorme aprendizagem e erudição, meticulosamente documentado".5 Isto apesar do fato de que o próprio Schonfield admitiu que é "uma recons­trução imaginativa da personalidade, metas e atividades de Jesus, no qual personagens como o judeu não identificado surgem do nada."6


A Teoria do Desmaio

Ainda que os críticos do cristianismo histórico proclamem veemen­temente as virtudes de Schonfield e sua erudição, O Complô da Páscoa é pouco mais que uma regurgitação recente de teorias de desmaio, que eram populares na primeira metade do século XIX. Como mostra o notável e investigativo jornalista Lee Strobel em The Case for Christ (Em Defesa de Cristo), a hipótese do desmaio é uma lenda urbana que continuamente é ressuscitada.7

Apesar do fato de que a teoria do desmaio seja cabalmente refutada pela academia,8 ainda é regurgitado ad nauseum na arena pública. Os teoristas do desmaio repudiam a ressurreição afirmando que Jesus nunca morreu na cruz; Ele somente desfaleceu e depois foi reavivado. Um fluxo infindável de histórias imaginativas emana desta tese básica.

Em 1929, D. H. Lawrence fantasiou que, depois de sobreviver à crucificação, Jesus acabou parando no Egito. Lá, ele se apaixonou pela sacerdotisa ísis.9 Em 1972, Donovan Joyce publicou The Jesus Scroll (O Pergaminho Jesus).10 O filósofo cristão Gary Habermas explica que, na interpretação de Joyce da história, Jesus foi reavivado por um médico que fora plantado de antemão no sepulcro. O médico foi ajudado por ninguém mais que o tio de Jesus, José dtí Arimatéia. Na reconstrução fantástica de Joyce, Jesus é um "defensor de oitenta anos de Massada que morreu enquanto lutava contra os romanos durante a revolta judaica de 66-73 d.C." Nesta autobiografia enfeitada, Jesus se casa com Maria Madalena, é um zelote revolucionário que guerreia contra os romanos e no fim de seus dias se aposenta como monge em Qumran.11

Em 1992, Barbara Thiering produziu versão ainda mais ultrajante da teoria do desmaio.12 O historiador Edwin Yamauchi ressalta que Thiering, que é professora na Universidade de Sydney, Austrália, usa o Novo Testamento como "comentário codificado" para reinterpretar os Rolos do Mar Morto. No conto emocionalmente instigante de Thiering, Jesus é crucificado junto com Simão, o Mago e Judas em Qumran, absorve veneno de cobra para fingir que morreu, ao se recuperar se casa com Maria Madalena e, mais tarde, se apaixona pela Lídia de Filipos. Apesar do fato de que a reconstrução revoltante de Thiering é destituída de harmonia ou argumento, recebe revisões delirantes em ampla variedade de foros públicos, variando de rádio a televisão.13


A Teoria dos Gêmeos

A teoria do desmaio não é a única noção moderna que os críticos do cristianismo usam para explicar a ressurreição. Outra é a teoria dos gêmeos.14 Em certo debate ocorrido em 1995 com o apologista cristão William Lane Craig, o filósofo Robert Greg Cavin defendeu que Jesus tinha um irmão gêmeo idêntico, a quem ele deu o nome de Hurome.15 Hurome é separado de Jesus no nascimento e não o vê até o tempo da crucificação. Ao se achar por acaso em Jerusalém, ele vê sua imagem refletida na cruz e percebe que o Jesus de Nazaré, de quem ele ouvira tanto falar, era seu irmão gêmeo idêntico. Imediatamente ele forja uma missão messiânica para Cristo e a executa roubando o corpo e fingindo ser o Cristo ressuscitado.16 Durante o debate, Craig resume assim a ver­são de Cavin da história:

Jesus tinha um irmão gêmeo idêntico desconhecido que personificou Jesus depois da crucificação, deste modo convencendo as pessoas de que Ele ressuscitara dos mortos. Lembre-se do filme Dave, Presidente por um Dia — no qual o sósia presidencial assume a presidência norte-americana quando o presidente verdadeiro entra em coma —, pois a teoria de [Cavin] é um tipo da teoria de Dave da ressurreição. O irmão gêmeo desconhecido de Jesus roubou o corpo de Jesus do túmulo e personificou Jesus diante dos discípulos. Agora, se você está se perguntando por que ninguém sabia que Jesus tinha um ir­mão gêmeo, é porque na teoria de [Cavin], Maria e José não sabiam que seu verdadeiro filho fora acidentalmente trocado por um inte­grante de um par de gêmeos idênticos. Assim, a pessoa que chama­mos Jesus não era realmente filho de Maria, e seu irmão gêmeo foi criado independentemente dEle.

Craig também afirma que teorias como a dos gêmeos podem dar gran­de comédia, mas ninguém deve levá-las a sério — particularmente nin­guém como Cavin, cuja pesquisa o forçou a concordar que Cristo foi fatalmente atormentado, que o sepulcro estava vazio, que os discípulos foram convencidos de que Jesus lhes aparecera e que, em conseqüência da ressurreição, suas vidas foram totalmente transformadas.



A Teoria Muçulmana

Outras hipóteses usadas para explicar a narração bíblica da ressurreição emanam de religiões mundiais, como o islamismo. De certa perspectiva muçulmana, Jesus nunca foi crucificado e, assim, nunca ressuscitou.17 Como explica o filósofo cristão Norman Geisler, os muçulmanos ortodoxos sus­tentam tradicionalmente que 'Jesus não foi crucificado na cruz, mas que Deus fez outra pessoa parecer como Jesus e esta pessoa foi crucificada por engano no lugar de Cristo. E as palavras 'Deus o ressuscitou para si' significa freqüentemente que Jesus foi levado vivo para o céu, sem morrer".18

Há vasta gama de opiniões no mundo muçulmano sobre quem Deus colocou no lugar de Jesus. Possíveis candidatos variam entre Judas Iscariotes, Pilatos, Simão Cireneu ou até alguém do círculo interno de Cristo. Alguns muçulmanos defendem que um dos discípulos se ofere­ceu para assumir a semelhança de Cristo, ao passo que outros advogam que Deus, sem querer, fez com que um dos inimigos de Cristo assumisse sua aparência. Norman Geisler e Abdul Saleeb citam Baidawi, erudito do século XIII, cujos escritos são considerados santo pelos muçulmanos sunitas, como um c&so em questão:

Relata-se que um grupo de judeus insultou [Jesus], [...] depois os ju­deus se reuniram para o matar. Em conseqüência do que, Alá o infor­mou que ele seria levado para o céu. Então [Jesus] disse aos discípu­los: "Quem de vocês está disposto a ter minha imagem estampada em si, e ser morto e crucificado e entrar no paraíso?" Um deles aceitou, e Alá lançou a semelhança de [Jesus] nele, e ele foi morto e crucificado. Também se diz que foi ele quem fez o papel do hipócrita para com [Jesus], e saiu para conduzir os judeus até ele. Mas Alá lançou a seme­lhança de [Jesus] nele, e ele foi levado, crucificado e morto.19

Geisler e Saleeb também argumentam que "a teoria que afirma que Judas tomou o lugar de Cristo na cruz foi recentemente popularizada no mundo muçulmano pelo Evangelho de Barnabé" .2Q

Os muçulmanos também discordam entre si sobre o que aconteceu com Jesus. A maioria "sustenta que Jesus escapou da cruz sendo levado para o céu, que voltará à terra e desempenhará papel central nos acon­tecimentos futuros. Baseado em algumas alegadas declarações de Maomé, os muçulmanos acreditam que, logo antes do fim dos tempos, Jesus voltará à terra, matará o Anticristo (al-Dajjal), matará todos os porcos, quebrará a cruz, destruirá as sinagogas e igrejas, estabelecerá a religião do islamismo, viverá por quarenta anos e depois será enterrado na cidade de Medina ao lado do profeta Maomé".21


A Teoria da Torre de Vigia

Outras teorias relativas à ressurreição de Jesus Cristo podem ser en­contradas no âmbito dos cultos. Por exemplo, as Testemunhas de Jeová são famosas por negar não só a deidade de Jesus Cristo, mas também sua ressurreição.22 O argumento que fazem é que Jesus foi criado por Deus como o arcanjo Miguel,23 que durante sua curta permanência na terra Ele se tornou meramente humano e que depois da crucificação foi recriado como criatura espiritual imaterial. Como diz a organização Tor­re de Vigia: "O Rei Cristo Jesus foi morto na carne e ressuscitado em uma criatura espiritual invisível. Portanto, o mundo não o verá mais. Ele foi preparar um lugar divino para seus co-herdeiros, 'o corpo de Cristo', porque eles também serão criaturas espirituais invisíveis".24

As Testemunhas de Jeová afirmam que uma ressurreição física não teria sido tremendo triunfo; teria sido uma humilhação desesperada. De acordo com a opinião deles, significaria que depois de reinar como o arcanjo Miguel, Jesus foi reduzido a um ser humano e não recuperou seu estado anterior como criatura espiritual exaltada. Assim, de acordo com a Sociedade Torre de Vigia: "Jesus não levou seu corpo humano ao céu para eternamente ser um homem no céu. Tivesse Ele feito isso, essa ação o teria deixado abaixo dos anjos. [...] Deus não pretendia que Jesus fosse humilhado assim para eternamente ser um homem de carne. Não, mas depois de Ele ter sacrificado sua humanidade perfeita, Deus o elevou à vida imortal como criatura espiritual gloriosa".25

Para explicar o sepulcro vazio, as Testemunhas de Jeová argumen­tam que o corpo físico de Jesus foi descartado e destruído. Nas palavras da Torre de Vigia: "O corpo humano de carne, que Jesus Cristo entre­gou para sempre como sacrifício de resgate, foi jogado fora pelo poder de Deus".26 Em vez de se levantar dos mortos, "o corpo de carne de Jesus Cristo foi jogado fora na terra pelo Deus Todo-poderoso, e não levado para o céu por Jesus".27 Na opinião do fundador da Torre de Vigia, Charles Taze Russell, o corpo que foi pendurado na cruz "se dissolveu em gases" ou está "preservado em algum lugar como o maior memorial do amor de Deus".28

Devemos observar que as Testemunhas de Jeová tentam explicar as aparições pós-ressurreição de Cristo sugerindo que "os corpos nos quais Jesus se manifestou aos discípulos depois de haver voltado à vida não eram o corpo no qual Ele foi pregado no madeiro. Eles foram mera­mente materializados para a ocasião, assemelhando-se em uma ou duas ocasiões ao corpo no qual Ele morreu, mas na maioria das ocasiões foi irreconhecível pelos seus discípulos mais íntimos".29 Se as Testemunhas de Jeová estiverem com a razão, Jesus enganou os discípulos fazendo-os pensar que Ele ressurgira fisicamente da sepultura e aparecendo em uma variedade de corpos dessemelhantes. Nas palavras deles: "Ele apa­receu em corpos diferentes. Ele apareceu e desapareceu da mesma maneira que os anjos tinham feito, porque foi ressuscitado como criatura espiritual. Foi só porque Tome não acreditaria que Jesus apareceu num corpo semelhante ao qual Ele tinha morrido".30


O Maior Feito ou Fraude Gigantesca?

Se os devotos do âmbito dos cultos, os partidários de religiões mun­diais ou os estudiosos liberais estiverem certos, a narrativa bíblica da ressurreição é ficção, fantasia ou fraude gigantesca. Por outro lado, se o cristianismo for efetivamente de confiança, a ressurreição é o maior feito na história humana. Como fala o apologista cristão Josh McDowell: "Depois de mais de 700 horas de estudar este assunto e investigar ple­namente seu fundamento, cheguei à conclusão de que a ressurreição de Jesus Cristo é um dos embustes mais perniciosos, malévolos, insensí­veis jamais impingidos na mente dos homens OU é o fato mais fantásti­co da história".01

Wilbur Smith ressalta que, desde o princípio, a igreja cristã presta testemunho unanimemente do fato imutável da ressurreição de Cristo. Diz Smith: "É o que podemos chamar uma das grandes doutrinas funda­mentais e crenças da igreja, e assim penetra na literatura do Novo Tes­tamento, de forma que se você selecionasse toda passagem na qual haja referência à ressurreição, teria uma coletânea de escritos tão mutilada que o que ficasse não podia ser entendido".32

O livro de Atos é um clássico caso em questão. Em Atos 1, Matias é escolhido para substituir Judas como testemunha da ressurreição. Em Atos 2, Pedro, em sua poderosa proclamação no Dia do Pentecostes, estrondeia: "Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixa­da no Hades, nem a sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas" (At 2.29-32).

Em Atos 3, num lugar chamado alpendre de Salomão, Pedro disse aos homens de Israel: "O Deus de Abraão, e de Isaque, e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto. Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressusci­tou dos mortos, do que nós somos testemunhas" (At 3.13-15). Em Atos 4, lemos que os sacerdotes, o capitão da guarda do templo e os saduceus ficaram tão transtornados com a pregação de Pedro e João, que eles os lançaram na prisão por "[anunciarem] em Jesus a ressurreição dos mor­tos" (At 4.2). Em Atos 5, os apóstolos enfrentam açoite por testemunha­rem que Deus "ressuscitou a Jesus" (At 5.30).

Em Atos 10, Pedro, num grande ajuntamento de pessoas na casa de Cornélio, testifica da ressurreição, ao dizer: "E nós somos testemunhas de todas as coisas que [Jesus] fez, tanto na terra da Judéia como em Jerusa­lém; ao qual mataram, pendurando-o num madeiro. A este ressuscitou Deus ao terceiro dia e fez que se manifestasse, não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus antes ordenara; a nós que comemos e bebemos juntamente com ele, depois que ressuscitou dos mortos" (At 10 39-41).

Em Atos 13, a atenção pública passa de Pedro para Paulo. Depois de sair de Perge, Paulo vai para Antioquia da Pisídia. Lá, no sermão que ele dá na sinagoga este perseguidor que virou prosélito proclama que o povo de Jerusalém e seus soberanos pediram que Pilatos condenasse Jesus à morte, apesar do fato de eles não acharem nenhuma prova para o crucificarem. Diz Paulo:

E, havendo eles cumprido todas as coisas que dele estavam escritas, tirando-o do madeiro, o puseram na sepultura. Mas Deus o ressuscitou dos mortos. E ele, por muitos dias, foi visto pelos que subiram com ele da Galiléia a Jerusalém, e são suas testemunhas para com o povo. E nós vos anunciamos que a promessa que foi feita aos pais, Deus a cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Meu filho és tu; hoje te gerei. E que o ressuscitaria dos mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. Pelo que também em outro Salmo diz: Não permitirás que o teu santo veja corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi, no seu tempo, servido conforme a vontade de Deus, dormiu, e foi posto junto de seus pais, e viu a corrupção. Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu (At 13.29-37).

Em Atos 17, encontramos Paulo em Atenas, pregando apaixonada­mente as boas novas sobre Jesus e a ressurreição. Depois que um grupo de filósofos epicureus e estóicos o trouxe a uma reunião do Areópago, Paulo se levantou e discursou para a multidão como se segue:

Varões atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; por­que, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: ao deus desconhecido. Esse, pois, que vós honrais não o conhecendo é o que eu vos anuncio.

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação, para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.

Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam, porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos.

E, como ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disso te ouviremos outra vez (At 17.22-32).

Muitas outras passagens semelhantes poderiam ser citadas de Atos dos Apóstolos do Dr. Lucas. Basta dizer que Wilbur Smith estava abso­lutamente certo. Sem a ressurreição, não só Atos, mas toda a Bíblia seria um documento desfigurado privado de definição. A ressurreição mudou tão radicalmente a vida dos seguidores de Cristo que foi enta­lhada em seus túmulos e descrita nas paredes das catacumbas. "Pene­trou profundamente na hinologia cristã; tornou-se um dos temas mais vitais dos grandes escritos apologéticos dos primeiros quatro séculos; era o tema constantemente discorrido com delongas nas pregações no período pré-niceno e pós-niceno. Entrou imediatamente na fórmula de credos de igreja; está no nosso Credo dos Apóstolos; está em todos os grandes credos que se seguiram."33

Smith também observa que "a mensagem das boas novas ou evange­lho não era 'Siga este Mestre e faça o melhor que puder', mas, Jesus e a Ressurreição'. Não se pode tirar isso do cristianismo sem radicalmente alterar seu caráter e destruir sua própria identidade".34 Paulo, junto com os demais apóstolos, deixou claro como cristal que não existe meio-termo. A ressurreição é história ou embuste, milagre ou mito, fato ou fantasia. Diz Paulo:

E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé. E assim somos também considerados como falsas teste­munhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não res­suscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados (1 Co 15.14-19).

Pré-evangelismo/Pós-evangelismo

É precisamente por causa da importância estratégica da ressurreição que cada cristão tem de estar preparado para defender sua historicidade. A apologética — a defesa da fé — tem um propósito dual. Por um lado, a apologética envolve pré-evangelismo. Na América pós-cristã, poucas pessoas estão cônscias de que a crença na ressurreição não é um salto cego no escuro, mas fé fundamentada em fato. É histórica e comprobatória. Portanto, é defensável. Por outro lado, a apologética envolve pós-evangelismo. Durante uma era na qual a ressurreição está sob assédio, saber como defender sua fidedignidade serve para fortalecer nossa fé.

A ressurreição não é meramente importante para a fé cristã histórica; sem ela, não haveria cristianismo. É a doutrina singular que eleva o cristianismo acima de todas as outras religiões do mundo. Pela ressur­reição, Cristo demonstrou que não fica numa fila de iguais com Abraão, Buda ou Confúcio. Ele é totalmente inigualável. Ele tem o poder de entregar sua vida e de tomá-la de volta.

Por causa de sua centralidade ao cristianismo, os que levam o nome sagrado de Cristo nos lábios devem estar preparados para defender a fide­dignidade da ressurreição. Para tornar o processo memorável, devemos manter como lembrança duradoura que, longe de ser fraude gigantesca, a ressurreição é o maior feito nos anais da história registrada. Como veremos nos capítulos seguintes, esse feito é um fato inegável da ressurreição.






NOTAS


1. Hugh J. Schonfield, The Passover Plot: A New Interpretation ofthe Life and Death of Jesus (Nova York: Bernard Géis Associates, 1965).

2. Ibid., lapela da capa I.

3. Ibid., lapela da capa IV.

4. Ibid., capa IV.

5. Ibid.

6. Ibid., p. 13.

7. Lee Strobel, The Case for Christ (Grand Rapids: Zondervan, 1998), pp. 192, 193-

8. Gary R. Habermas, The Historical Jesus: Ancient Evidence for the Life of Christ (Joplin, Missouri: College Press Publishing Company, 1996), p. 73; J. P. Moreland, Scaling the Secular City: A Defense of Christianity (Grand Rapids: Baker Book House, 1987), p. 171.

9. D. H. Lawrence, Love among theHaystacks and OtherStories (Nova York: Penguin, 1960), p. 125, conforme citado em Strobel, The Case for Christ, p. 192.

10. Donovan Joyce, The Jesus Scroll (Nova York: New American Library, 1972), con­forme citado em Strobel, The Case for Christ, p. 192. Além de citar as hipóteses do desmaio de D. H. Lawrence, Donovan Joyce e Barbara Thiering, Strobel tam­bém cita Baigent, Leigh e Lincoln que escreveram Holy Blood, Holy Grail (Nova York: Delacorte, 1982), p. 372, onde afirmam que Pôncio Pilatos foi subornado para permitir que Jesus fosse tirado da cruz antes de supostamente ter morrido.

11. Habermas, The Historical Jesus, pp. 90, 91.

12. Barbara Thiering, Jesus and the Riddle of the Dead Sea Scrolls: Unlocking the Secrets of His Life Story (São Francisco: HarperSanFrancisco, 1992).

13. MichaelJ. Wilkins ej. P. Moreland, editores,Jesus UnderFire:Modem Scholarship Reinvents the Historical Jesus (Grand Rapids: Zondervan, 1995), p. 210.

A hipótese do desmaio e a teoria dos gêmeos são apenas duas das muitas narrati­vas naturalistas para os dados bíblicos que cercam a ressurreição de Cristo. Mas todos os relatos naturalistas começam com uma propensão contra o sobrenatu-1 ral. Relatos naturalistas surgem do ambiente de anti-sobrenatural fomentado pelo trabalho influente do filósofo David Hume (1711-1776) nos seus famosos argumentos contra milagres. Excelente apresentação e refutação da posição de Hume podem ser encontradas em R. Douglas Geivett e Gary R. Habermas, In Defense ofMiracles: A Comprehensive Case for God'sActions in History (Downer's Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1997).

15. A soletração deste nome é incerta — derivado de fita de áudio (vide nota 16).

16. William Lane Craig e Robert Greg Cavin, "Dead or Alive? A Debate on the Resurrection of Jesus" (Anaheim, Califórnia: Simon Greenleaf University, 1995), fita de áudio.

17. VideQufzn 4.157-159-

18. Norman L. Geisler e Abdul Saleeb, Answering Islam: The Crescent in Light ofthe Cross (Grand Rapids: Baker Book House, 1993), p. 65.

19. Ibid., p. 65.

20. Ibid. O Evangelho de Barnabé tem a pretensão de ser outro registro do século I da vida de Cristo, mas é, de fato, uma invenção medieval recente sem relação com o Jesus histórico (vide ibid., pp. 295-299).

21. Ibid., pp. 65, 66 (vide pp. 64-67).

22. Para excelente apresentação das doutrinas das Testemunhas de Jeová e uma refutação delas levando em conta o cristianismo bíblico histórico, vide Walter Martin, TheKingdom ofthe Cults, edição de aniversário revista, atualizada e ampliada (Mineápolis: Bethany House Publishers, 1997), cap. 5.

23. Concernente a identificar Cristo com o arcanjo Miguel, as Testemunhas de Jeová afirmam que "as Escrituras identificam a Palavra (Jesus em sua existên­cia pré-humana) como a primeira criação de Deus, o seu Filho primogênito", e também afirmam que "o nome de Miguel se aplica ao Filho de Deus antes de ele deixar o céu para se tornar Jesus Cristo e também depois do seu retorno. Miguel é o único ser identificado por 'arcanjo', que significa 'anjo-chefe' ou 'anjo principal'". Em vez de ser o criador de todas as coisas, Jesus é reduzido ao estado de sócio minoritário e criador de todas as outras coisas. (Em Colossenses 1.15ff da Nova Tradução Mundial, a Torre de Vigia insere a palavra outro quatro vezes para destacar este ponto.) (Aid to Bible Understanding [Brooklyn: Watchtower Bible and Tract Society, 1971], pp. 918, 1.152.) Para inteirar-se de uma defesa da deidade de Cristo e da doutrina bíblica da Trindade contra os constructos cultuais, vide James R. White, The Forgotten Trinity (Mineápolis: Bethany House Publishers, 1998).

24. Let God Be True (Brooklyn: Watchtower Bible and Tract Society, edição revista, 1952), p. 138.

25. Ibid., p. 41.

26. Things in Which It Is Impossible for God to Lie (Brooklyn: Watchtower Bible and Tract Society, 1965), p. 354.

27. Ibid, p. 355.

28. Studies in the Scriptures, Series II (Allegheny, Pensilvânia: Watchtowei; Bible and Tract Society, 1908), p. 129.

29. TheKingdom Is atHand (Brooklyn: Watchtower Bible and Tract Society, 1944), p. 259. Cf. Reasoningfrom the Scriptures (Brooklyn: Watchtower Bible and Tract Society, 1985), p. 334.

30. From Paradise Lost to Paradise Regained (Brooklyn: Watchtower Bible and Tract Society, 1958), p. 144.


31. Josh McDowell, The New Evidence That Demands a Verdict (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1999), p. 203-

32. Wilbur M. Smith, Therefore Stand: Christian Apologetics (Grand Rapids: Baker Book House, 1965), pp. 369, 370; conforme citado em McDowell, The New Evidence That Demands a Verdict, pp. 206, 207.

33. Ibid, p. 207.

34. Ibid.

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