quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ressurreição de Jesus - Transformação - Parte 5



"E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes?

E ele respondeu: Sim, Senhor; tu sabes que te amo.

Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.

Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me?

Disse-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo.

Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.

Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me?

Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo.

Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. Na verdade, na verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias: mas, quando já fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde tu não queiras. E disse isso signi­ficando com que morte havia ele de glorificar a Deus. E, dito isso, disse-lhe: Segue-me.

E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, £ que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que dissera: Senhor, quem é que te há de trair? Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e deste que será?

Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu. Divulgou-se, pois, entre os irmãos o dito de que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?"

— João 21.15-23

"Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela. Porque dele disse Davi:

'Sempre via diante de mim o Senhor,

porque está à minha direita,

para que eu não seja comovido;

por isso, se alegrou o meu coração,

e a minha língua exultou;

e ainda a minha carne há de repousar em esperança.

Pois não deixarás a minha alma no Hades,

nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção.

Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida;

com a tua face me encherás de júbilo.'

Varões irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta e sabendo que Deus lhe havia pro­metido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção. Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ou vis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz:

Disse o Senhor ao meu Senhor:

Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés.

Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo."

Atos 2.22-36

O que aconteceu em resultado da ressurreição não tem precedente na história humana. No espaço de poucas centenas de anos, um peque­no grupo de crentes aparentemente insignificante teve sucesso em virar um império inteiro de cabeça para baixo. Como já se disse com proprie­dade: "Eles enfrentaram o aço brandido do tirano, a juba ensangüentada do leão e os fogos de mil mortes",1 porque estavam totalmente conven­cidos de que eles, como seu Mestre, iriam ressurgir da sepultura em um corpo glorificado e ressurreto.

Ainda que seja concebível que os discípulos tivessem enfrentado tortura, vilipendio e até morte cruel pelo que fervorosamente criam ser verdade, é inconcebível que tivessem estado dispostos a morrer pelo que sabiam ser mentira. Ninguém apregoou este argumento com mais eloqüência que o Dr. Simon Greenleaf, o majestoso Professor de Direito, em Harvard. Greenleaf foi indubitavelmente a maior autoridade ameri­cana em evidências de direito comum do século XIX. Seu livro, A Treatise on the Law ofEvidence (Um Tratado sobre a Lei das Evidências) ainda é considerado um dos trabalhos mais importantes sobre evidências legais. Em 1846, ele escreveu:

As grandes verdades que os apóstolos declaram foram que Cristo tinha ressurgido dos mortos, e que somente pelo arrependimento de pecados e fé nEle os homens podem ser salvos. Eles afirmam esta doutrina a uma voz, em todos lugares, não apenas durante os maiores esmorecimentos, mas diante dos terrores mais apavorantes que podem ser apresentados à mente humana.

Seu mestre perecera recentemente como malfeitor, pela sentença de um tribunal público. Sua religião procurou subverter as religiões do mundo inteiro. As leis de todos os países eram contra os ensinos dos seus discípulos. Os interesses e paixões de todos os governantes e dos grandes homens do mundo estavam contra eles. A moda do mundo estava contra eles.

Ao propagar esta nova fé, mesmo da maneira mais inofensiva e tran­qüila, eles poderiam esperar nada mais que desprezo, oposição, insulto, perseguições implacáveis, açoites, prisões, tormentos e mortes cruéis. Contudo, eles propagaram zelosamente esta fé; e todas estas misérias eles suportaram impavidamente — não, alegrando-se. A medida que um após o outro era morto de forma miserável, os sobreviventes davam prosseguimento à obra ainda com mais vigor e resolução. Os anais da guerra militar quase não oferecem exemplo de igual constância heróica, paciência e coragem impassível. Eles tinham todo o motivo possível para revisar minuciosamente os fun­damentos da fé e as evidências dos grandes fatos e verdades que defendiam, e estes motivos eram impingidos em sua atenção com a freqüência mais melancólica e maravilhosa. Era, então, impossível eles terem persistido em afirmar as verdades que narravam, não tivesse mesmo Jesus ressurgido dos mortos e não tivessem eles conhecido este fato tão certamente quanto conheciam algum outro fato.*

* O livro The Testimony of the Evangelists (O Testemunho dos Evangelistas) contém esta nota:

Se se presumisse que as testemunhas tivessem sido influenciadas de modo desfavorável, isto não lhes destruiria o testemunho em termos de fato; apenas depreciaria o peso do seu julgamento em termos de opinião. A regra da lei sobre este assunto foi declarada pelo Dr. Lushington nestas palavras: "Quando você examina o testemunho de testemunhas estreitamente relacionadas com as partes e não há nada muito peculiar que tende a lhes destruir o crédito, quando elas de­põem os meros fatos, seu testemunho deve ser crido; quando elas depõem no que tange a termos de opinião, então deve ser recebido com suspeita". (Dillon versus Dillon, 3 Curteis, Eccl. Rep., pp. 96, 102.)

Se fosse moralmente possível eles terem sido enganados neste assunto, todo motivo humano operava para os levar a descobrir e admitir o erro. Ter persistido em tão grosseira falsidade, depois de terem se inteirado dela, não só era encontrar, para o resto da vida, todos os males os quais o homem pode infligir do nada, mas também suportar a angústia da culpa interior e da consciência; sem esperança de paz futura, sem testemunho de boa consciência, sem expectativa de honra ou estima entre os homens, sem esperança de felicidade nesta vida ou no mundo vindouro.

Semelhante conduta nos apóstolos teria sido totalmente irreconciliável com o fato de que eles possuíam a constituição comum de nossa natureza comum. Contudo, a vida que tiveram mostra que eles eram homens como todos os outros de nossa raça; controlados pelos mesmos motivos, animados pelas mesmas esperanças, afetados pelas mesmas alegrias, subjugados pelas mesmas tristezas, sacudidos pelos mesmos medos e sujeitos às mesmas paixões, tentações e fraquezas como nós. E seus escritos evidenciam que eles foram homens de entendimento vigo­roso. Se, então, o testemunho deles não fosse verdade, não haveria motivo possível para esta invenção.2

Os Doze

Como Greenleaf tão habilmente comunica, os doze3 foram transfor­mados completamente pela ressurreição.

Pedro, que outrora ficou com medo de ser exposto como seguidor de Cristo por uma jovem, depois da ressurreição foi transformado em um leão da fé e sofreu morte de mártir.4 De acordo com a tradição, ele foi crucificado de cabeça para baixo porque se sentiu indigno de ser crucificado da mesma maneira que seu Senhor.5

Tiago, o meio-irmão de Jesus, que antes odiava tudo o que seu irmão defendia, depois da ressurreição se chamou "servo [...] do Senhor Jesus Cristo" (Tg 1.1). Ele se tornou líder da Igreja em Jerusalém e, em cerca de 62 d.C, foi martirizado por causa de sua crença.6 Eusébio de C^saréia descreve como Tiago foi lançado do pináculo do templo e subseqüentemente apedrejado.7

O apóstolo Paulo foi igualmente transformado. Em outro tempo per­seguidor incessante da igreja crescente, se tornou o principal ganhador de adeptos entre os gentios. Sua transformação radical é sublinhada em sua carta aos filipenses:

Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como estéreo, para que possa ga­nhar a Cristo e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé; para conhecê-lo, e a virtude da sua ressurreição, e a comunicação de suas aflições, sendo feito conforme a sua morte; para ver se, de alguma maneira, eu possa chegar à ressurreição dos mortos (Fp 37-11).

Pedro, Tiago e Paulo não estavam sós. Como o filósofo J. P. Moreland mostra, em semanas depois da ressurreição, não apenas um judeu, mas uma comunidade inteira de pelo menos dez mil judeus estava disposta a deixar as próprias tradições sociológicas e teológicas que lhes tinha dado identidade nacional.8

Tradições

Entre as tradições que foram transformadas depois da ressurreição encontram-se o sábado, os sacrifícios e os sacramentos.

Em Gênesis, o sábado era uma celebração da obra de Deus na cria­ção (vide Gn 2.2,3; cf. Êx 20.11). Depois do Êxodo, o sábado se expan­diu para uma celebração da libertação de Deus da opressão do Egito (vide Dt 5.15). Em conseqüência da ressurreição, o sábado foi mudado uma vez mais. Tornou-se uma celebração de "descanso" que temos por meio de Cristo que nos livra do pecado e da sepultura (vide Cl 2.16,17; Hb 4.1-11). Em memória da ressurreição, a igreja primitiva cristã mudou o dia de adoração do sábado para o domingo. Deus proporcionou à igreja primitiva novo padrão de adoração pela ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana, suas subseqüentes aparições no domingo e a descida do Espírito Santo no domingo.9 Para a emergente Igreja Cristã, a armadilha mais perigosa era não reconhecer que Jesus era a substância que cumpriu o símbolo do sábado.

Para os crentes judeus, o sistema sacrificai também foi radicalmente transformado pela ressurreição de Cristo. Desde os dias de Abraão, os judeus foram inteirados da obrigação de sacrificar animais como símbolo da expiação do pecado. Contudo, depois da ressurreição, os seguidores de Cristo de repente deixaram de sacrificar. Eles reconheceram que a nova aliança era melhor que a antiga aliança, porque o sangue de Jesus Cristo era melhor que o sangue de animais (vide Hb 8—10). Entende­ram que Jesus era a substância que cumpriu o símbolo dos sacrifícios de animais. Ele era "o Cordeiro [sacrificai] de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29).

Como o sábado e o sistema sacrificai, os "sacramentos" judaicos da páscoa e do batismo foram profundamente transformados. No lugar da refeição pascal, os crentes celebraram a Ceia do Senhor. Moreland salienta que Jesus tinha acabado de ser morto de modo grotesco e humilhante, contudo os discípulos se lembravam com alegria do corpo partido e do sangue derramado de Cristo. Só a ressurreição pode explicar isso! Imagine os devotos de John F. Kennedy reunindo-se para comemorar seu assassinato às mãos de Lee Harvey Oswald. Eles podem celebrar suas confrontações com o comunismo, suas contri­buições aos direitos civis ou seu carisma cativante, mas nunca seu assassinato brutal.10

De modo semelhante, o batismo foi transformado radicalmente. Os convertidos gentios ao judaísmo eram batizados em nome do Deus de Israel.11 Depois da ressurreição, os convertidos ao cristianismo também foram batizados em nome de Jesus Cristo (vide At 2.36-41).12 Assim, os cristãos compararam Jesus com o Deus de Israel. Só a ressurreição pode explicar isso.13

Hoje

A cada dia, pessoas de todas as línguas, tribos e nações são batizadas em nome do Cristo ressurreto. Recentemente, diante do jardim da tum­ba em Jerusalém, encontrei um turista que não fazia idéia da significa­ção da ressurreição. Expliquei-lhe que Cristo se encapsulou em carne humana para restaurar a relação com Deus quebrada por nosso pecado, que Cristo viveu a vida perfeita que nós nunca poderíamos viver e que Ele morreu por nossos pecados, foi sepultado e, no terceiro dia, ressus­citou dos mortos. Também lhe expliquei que esta não era mera fantasia, mas o fato mais bem atestado da história antiga. Depois de comunicar o feito que demonstra o fato da ressurreição, este jovem deu o passo final e pessoalmente experimentou o Cristo ressurreto. Reconhecendo que era pecador, ele se arrependeu dos seus pecados e recebeu Jesus Cristo como Deus e Salvador de sua vida.

Hoje, ele conhece o Cristo não só por evidências, mas também por experiência. Cristo ficou mais real para ele do que a própria carne nos seus ossos.





Notas

1. Fonte desconhecida.

2. Simon Greenleaf, The Testimony ofthe Evangelists: The Gospels Examined by the Rules ofEvidence (Grand Rapids: Kregel Classics, 1995; publicado originalmente em 1874), pp. 31, 32.

3. Vide 1 Coríntios 15.5, onde os apóstolos originais, exceto Judas, são menciona­dos como os doze (cf. João 20.24).

4. Vide Clemente de Roma (c. 30-100 d.C), Primeira Epístola aos Coríntios, cap. V; Tertuliano (c. 160-225 d.C), Sobre a Prescrição contra os Heréticos, cap. XXXVI; Eusébio (c. 260-340 d.C), História Eclesiástica, Livro II, p. XXV.

5. Vide Eusébio, História Eclesiástica, Livro III, p. I, onde Eusébio cita Orígenes (c. 185-254 d.C.) concernente à crucificação de Pedro.

6. Kenneth Barker, editor geral, The NIV Study Bible (Grand Rapids: Zondervan, 1985), p. 1.879.

7. Eusébio, Livro II, p. XXIII. Cf. Josefo, Antigüidades Judaicas, 20:9:1; vide John P. Meier, A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus, vol. 1 (Nova York: Doubleday, 1991), pp. 57-59.

8. Strobel, The Case for Cbrist, p. 251.

9. Norman Geisler e Thomas Howe, When Critics Ask (Wheaton: Victor Books, 1992), p. 78. Vide Mateus 28.1-10; João 20.26ss; Atos 2.1; 20.7; 1 Coríntios 16.2.

10. Argumentação adaptada de Lee Strobel, The Case for Cbrist, pp. 251, 253.

11. "Esperava-se que os prosélitos que entravam no judaísmo se despissem da roupa anterior, se submetessem à circuncisão e tomassem banho completo, depois do que eram considerados membros da comunidade judaica. O rito era reconheci­mento de mácula e da aceitação da lei como agente purificador." (Carl F. H. Henry, editor, Basic Cbristian Doctrines [Grand Rapids: Baker Book House, 1971], p. 256.)

12. Vide também Mateus 28.19; Atos 8.16; 10.48; 19.5; Romanos 6.3-5; 1 Coríntios 6.11.

13. Adaptado de Strobel, The Case for Cbrist, p. 253.


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