domingo, 1 de julho de 2012

Jesus é o Senhor

Sabe-se que desde muitos séculos os cristãos chamam Jesus de Senhor fazendo alusão a fé em sua divindade. No entanto, vários grupos e indivíduos tendem a argumentar que isso é bem posterior, que surgiu com Paulo ou que nem mesmo Paulo afirmou tais coisas.


Dentre eles posso citar as Testemunhas de Jeová e os muçulmanos, principalmente os que vêm fazendo um trabalho de divulgação do Islã (embora, geralmente, e provavelmente de forma sincera, sejam equivocadas quando se referem a Jesus, ao NT e aos primeiros cristãos). Diante disso resolvi escrever alguns artigos com algumas informações que refutam a maioria dessas alegações.

Comecemos por uma que é verdadeira: nem sempre a palavra KURIOS significa ADONAI. Isso pode ser visto em vários exemplos tanto nas escrituras dos hebreus quanto nas dos nazarenos, o AT e NT (que para os cristãos ambos são Palavra de Deus). KURIOS também era dirigido ao imperador e a outros lideres.

Diante disso, deve-se buscar algumas pistas para a interpretação, onde o sentido é de divindade, já que esse termo, assim como outros relacionados a Jesus, possuem mais de um significado (v. Cristologia do Novo Testamento, Oscar Cullmann, p. 257 a 309). O objetivo desse presente artigo é tratar de dois casos em que se referem explicitamente a Jesus como Deus.

Fp 2, 10-11: “Portanto Deus o elevou ao lugar mais alto e lhe deu um nome acima de todo nome, para que, em honra ao nome dado a ele TODO JOELHO SE DOBRE – no céu, na terra e debaixo da terra – E TODA LINGUA RECONHEÇA  que Yeshua, o Messias, é ADONAI – para a glória de Deus, o Pai.

Essa tradução do NT feita pelo judeu David Stern deixa claro, até mais que outros tradutores, que colocam apenas “SENHOR”, que Jesus é ADONAI. Segundo alguns, essa seria uma tradução tendenciosa e ilógica que simplesmente mostra as preferências teológicas do tradutor. Nada mais injusto que isso. Se formos ao AT, em Isaías, veremos que a IAHWEH, todo joelho se dobrará: “Diante de mim se dobrará todo o joelho, toda língua jurará por mim, dizendo: Só em IAHWEH há justiça e força” (45, 23-24).

Assim, temos em cerca de 61 e 62 d.C, uma alusão em carta de uma passagem que Deus fala de si mesmo, mas que agora é feita em referência a Jesus. A Deus todo joelho se dobrará, a Jesus também; toda língua confessará/jurará, a Jesus também.

Mais tarde veremos porque só depois da ressurreição foi “conferido” (charizomai) e como isso não contradiz seu senhorio desde a Eternidade. Basta aqui expor que é uma mensão a um texto do AT sobre Deus, e que na menção de Paulo há menção a “Deus Pai”. Vamos ao outro caso.

Hb 1, 10: “No principio, Senhor, firmaste os fundamentos da terra; o céu é obra de tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como roupas; e tu os enrolarás como um manto. Sim, eles serão trocados como peças usadas, mas tu permaneces o mesmo, os teus anos jamais terão fim.”

Para alguns isso seria pouca coisa. Só uma referência a vitória de Jesus, e que os anos dele jamais terão fim. No entanto, essa também é uma alusão do AT a Deus que é dito para Jesus. O Sl 102 (101) claramente aplica a IAHWEH. No mesmo livro há outras alusões, mas vou me ater as referências ao “Senhor”.

Mas por que, então, se diz que em determinado momento Jesus “foi feito” Senhor? Essa é uma forma comum de se declarar no presente, de forma litúrgica, o que se é por natureza. Isso pode ser visto até mesmo a respeito de Deus:

“O Senhor reina! Vestiu-se de majestade; de majestade vestiu-se o Senhor e armou-se de poder! O mundo está firme e não se abalará. O teu trono está firme desde a antigüidade; tu existes desde a eternidade. As águas se levantaram, Senhor, as águas levantaram a voz; as águas levantaram seu bramido. Mais poderoso do que o estrondo das águas impetuosas, mais poderoso do que as ondas do mar é o Senhor nas alturas. Os teus mandamentos permanecem firmes e fiéis; a santidade, Senhor, é o ornamento perpétuo da tua casa.” - Salmos 93:1-5

Deus sempre foi e é Majestoso e Poderoso, mas por que o texto diz que ele vestiu-se de majestade e armou-se de poder? Porque essa é uma forma litúrgica de se declarar hoje o que se é no “Eterno Hoje”, pois, como bem disse Oscar Cullmann, “se Cristo é um com Deus desde sua ressurreição é necessário que desde o princípio tenha estado unido a Ele”. Ora, se Deus é Eterno e imutável, e se os textos do AT aplicados a Deus como Senhor são transferidos para Jesus, só podemos concluir que Jesus é esse Senhor que é o único Senhor (1Co 8, 6). Se a Jesus é dado, ou seja, declarado aqui no tempo, reconhecido, o mesmo nome que é sobre todo o nome (assim como é feito no exemplo feito em relação a Deus), então podemos concluir que Jesus é Deus desde a Eternidade.

A partir daqui surgem algumas questões: por que só foi declarado depois que Jesus ressuscitou? Por que não é algo explicitamente dito por Jesus?

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