“Ou Deus quer abolir o mal, e não pode; ou ele pode, mas não quer; ou ele não pode e não quer. Se ele quer, mas não pode, ele é impotente. Se ele pode, e não quer, ele é cruel. Mas se Deus tanto pode quanto quer abolir o mal, como pode haver maldade no mundo?”
O problema do sofrimento vem sendo apresentado por muitos céticos como uma prova da inexistência de Deus, ou então, dizem eles, Deus é um sádico cósmico. Acredito que esta é uma questão que deve ser resolvida de maneira satisfatória. Pois, se o Deus cristão é realmente todo poderoso e bondoso, por que existe tanto sofrimento para as pessoas? Por que os maus muitas vezes vivem bem e os bons acabam sofrendo? Por que uma pessoa morre de sede quando Deus, sendo todo poderoso, poderia com facilidade mandar água para esta pessoa? Estas perguntas tem sido desafiadoras para os cristãos.
Ao contrário do que muita gente pensa, até mesmo a bíblia faz estes questionamentos. Jó, quando enfrentou o mal em sua vida, questionou. Existem inúmeras passagens bíblicas com perguntas parecidas, bem como algumas respostas para isto.
A questão do sofrimento não é um argumento contra a existência de Deus, na verdade, como Antony Flew disse, pode pesar contra, mas não é uma prova. Diante disso eu pergunto, se existem tantas evidências em favor da existência de Deus, por quê considerar apenas um questionamento que pesa contra como uma prova conclusiva? Na verdade tais pessoas tratam este assunto de forma emocional, pois, se analisarmos bem esta questão, ela pode ser respondida, não sei se de maneira satisfatória para alguns, e pode até ser um argumento a favor da existência de Deus. Muitos cristãos eruditos vem tentando respondê-la, acredito que seus argumentos podem explicar o porque do sofrimento. É este assunto que quero propor. Se Deus é bom, por que existe tanto sofrimento?
Vamos observar que Deus é Onipotente (Tem o poder de fazer tudo que é logicamente possível), Onisciente (Tem conhecimento de tudo), Onipresente (Está em todos os lugares). Outra característica Divina é a eternidade. Este é um ponto importante, pois, sendo Ele eterno, a sua percepção das coisas são atemporais. Nós sabemos dos acontecimentos em parte, mas Ele sabe por completo. Uma vez perguntaram:
Suponhamos que existisse um homem neste país que pudesse controlar os ventos, as chuvas e os raios. Suponhamos que houvéssemos elegido-o para governar tais coisas, e que ele tivesse permitido que estados inteiros secassem e definhassem ao mesmo tempo em que desperdiçava água com chuvas no oceano. Suponhamos que permitisse que ventanias destruíssem cidades e transformassem milhares de corpos de homens e mulheres em rubros despojos amórficos; que permitisse que relâmpagos ceifassem a vida de mães e bebês. O que diríamos? O que pensaríamos deste selvagem?
Ainda assim, de acordo com os teólogos, este fado representa exatamente a vontade Deus.
O que pensaríamos de um homem que decide não proteger seus amigos quando possui plenos poderes para fazê-lo? Por que o Deus cristão permitiu que seus inimigos torturassem e incinerassem seus amigos, seus adoradores?
Quem é suficientemente ingênuo para pretender explicar tais coisas?
Faz sentido que um homem infinitamente bondoso e infinitamente poderoso permita que inocentes sejam encarcerados, acorrentados em calabouços e vejam suas vidas passarem por entre suspiros cansados e paredes úmidas?
Se Deus governa o mundo, por que a inocência não é um escudo perfeito? Por que a injustiça triunfa?
Quem pode responder a essas perguntas?
Suponhamos ainda que este ser é maior que todos nós. Suponhamos que a diferença entre nós e este ser é imensa, tanto que as vezes não conseguimos entender o que ele realmente quer. Com isto, suponhamos que este ser que governa todas as coisas esteja permitindo certo mau num curto período de tempo para que haja um bem maior longo ou infinito.
Peter Kreeft expõe isto com uma figuração:
“Pois bem. Então um urso preso em uma armadilha e um caçador que, movido pela simpatia, quer liberta-lo. Tenta conquistar a confiança do urso, em vão, e em conseqüência tem de dar um tiro de tranqüilizante no urso. O urso, no entanto, pensa que isso é um ataque e que o caçador esta tentando mata-lo. Não compreende que isso está sendo feito por compaixão. A fim de tirar o urso da armadilha, o caçador tem de empurra-lo mais para dentro da armadilha de modo a libertar a pressão da mola. Se o urso nesse momento estivesse semiconsciente, ficaria ainda mais convencido que o caçador era seu inimigo e estava querendo causar-lhe dor. Porém, o urso estava errado. Chega a essa conclusão incorreta porque não é ser humano. Como pode alguém estar certo de que essa não é uma analogia entre nós e Deus? Eu creio que Deus faz o mesmo conosco às vezes, e nos não podemos compreender por que ele o faz, mais que o urso pode compreender as motivações do caçador. Do mesmo modo que o urso poderia ter confiado no caçador, nós podemos confiar em Deus.” [Em defesa da fé, p. 41]
Todos nós temos exemplos de problemas em certo período de tempo que acarretaram felicidades e melhorias em um maior período de tempo, onde, alem disso, várias lições de vida foram aprendidas. Muitos consideram a dor como “o megafone de Deus”, e isto é certo, as vezes só aprendemos algo bom assim. C. S. Lewis comenta:
“Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas crita em nossas dores. É o seu megafone para despertar um mundo surdo. Um homem mau, mas feliz, é um indivíduo que não tem a mínima noção de que seus atos não são uma "resposta", de que eles não se conformam às leis do universo.” [o problema do sofrimento]
Mas por que Deus permite que as pessoas más façam outras sofrerem? Por que muitos justos morrem de fome enquanto ladrões se fartam em dinheiro? Por que Deus não destrói o mal?
Estas perguntas partem do conceito de que Deus tem que acabar imediatamente com o mal. Mesmo que o mal não tenha acabado ainda, esta é uma prova de que Ele não quer pôr fim nisso? Segundo a bíblia, Deus preparou um momento certo para acabar com o mal e retribuir cada um segundo o que fez.
Até aqui observamos que:
1 – Deus tem uma percepção maior dos acontecimentos.
2 – Nossas percepções são temporais.
3 – As vezes o que parece ruim nos leva para algo bom.
4 – Podemos aprender lições com os problemas.
5 – Problemas em curso período de tempo podem nos levar a felicidades em longos (até infinitos) períodos de tempo.
6 – O sofrimento pode proporcionar mudança de vida.
Quero destacar que Deus não fica parado observando nosso sofrimento. Ele interviu a história da humanidade e carregou em si, na pessoa de Jesus, todos as nossas dores. Cada um tem seu sofrimento, mas Jesus suportou o sofrimento de todos. Concluindo, deixo mais uma citação de Peter Kreeft:
Simplesmente imagine cada dor em particular na historia do mundo, tudo reunido em uma bola, comido por Deus, digerido, plenamente experimentado, eternamente. No ato de criar o mundo, Deus não somente disse que houvesse lindos coelhinhos, flores e crepúsculos, mas também sangue, entranhas e moscas zunindo em torno da cruz. [...] Deus está intimamente envolvido de criar um mundo de sofrimento. Não foi ele quem o fez – nós o fizemos – no entanto ele disse: “Que esse mundo exista”. Se fizesse isso e depois simplesmente se sentasse e dissesse: “Bem, afinal de contas, é culpa de vocês” – embora tivesse plena justificativa em fazê-lo – eu não vejo como poderíamos amá-lo. O fato de ter ultrapassado inacreditavelmente a justiça, fé-lo tomar todo o sofrimento para si, e torna-o tão fascinante que a resposta do sofrimento é como você poderia deixar de amar esse ser que andou “a segunda milha”, que praticou mais do que pregou, que entrou em nosso mundo, que sofreu as nossas dores, que se oferece a nós no meio de nossas tristezas? O que mais ele poderia fazer? [...] Ele o suportou! A resposta de Deus ao sofrimento foi ao âmago do problema. Muitos cristãos tentam tirar Deus da dificuldade no que tange ao sofrimento; Deus se colocou em dificuldade, por assim dizer – na cruz. Portanto, a conclusão prática é que se queremos estar com Deus, temos de estar com o sofrimento, não podemos evitar a cruz, seja em pensamento seja de fato. Temos de ir onde ele está e a cruz é um dos lugares que ele está. E quando nos envia o nascer do sol, nos lhe agradecemos pelo nascer do sol; quando ele nos envia o pôr-do-sol, morte, sofrimento e cruz, nós lhe agradecemos por isso. [...] No céu faremos exatamente isso. Nós diremos a Deus: “Muito obrigado por esta pequena dor que não entendo agora e por aquela pequena dor que não entendo à ocasião; agora vejo que foram as coisas mais preciosas da minha vida.”. Mesmo que eu não me ache emocionalmente capaz de dizê-lo neste instante, ainda que eu não possa honestamente dizer a Deis em meio a dor “Deus, obrigado por esta dor”, mas tenha de rogar “Livra-me do mal”, isto é perfeitamente correto e perfeitamente honesto – no entanto, creio que essa não é a ultima palavra. As ultimas palavras do pai-nosso não são “livra-nos do mal”; as ultimas palavras são “teu é o poder e a glória”. Creio de verdade que qualquer cristão relativamente maduro pode olhar para sua vida e identificar algum momento de sofrimento que o colocou muito mais perto de Deus do que jamais julgou possível. Antes de isso acontecer, teria dito: “Eu realmente não vejo como isso pode produzir algum bem”, mas depois de sair do sofrimento diz: “Isso é incrível. Eu aprendi algo que nunca achei que poderia ter aprendido. Eu não achava que a minha vontade fraca e rebelde era capaz de tal força, mas Deus, com sua graça, deu-me força por um momento”. Não fosse o sofrimento, isso não seria possível. [Em defesa da fé, p. 60, 61 e 62]
Todos sabem que o problema do mal muitas vezes é respondido como conseqüência das escolhas humanas. Pra quem não se convenceu com este tipo de resposta (que não vou abordar) fica uma pergunta,:
Tendo em vista que o sofrimento é uma conseqüência do mau uso do livre arbítrio, seria LÓGICAMENTE possível criar um mundo livre, onde as pessoas tenham livre escolhas, sem a possibilidade de escolher o mal?
Para quem se interessar em ler algo mais sobre o assunto, índico:
Em defesa da fé – Lee Strobel
Fundamentos Inabaláveis – Norman Geisler e Peter Bocchino
O problema do sofrimento – C. S. Lewis
Autor: Jonadabe Rios
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