sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Seria Deus incompetente em salvar as pessoas?


"Por fim, objeta-se que a perda definitiva de uma única alma significaria a derrota da onipotência. E assim é. Ao criar seres dotados de livre-arbítrio, a onipotência desde o começo se submete à possibilidade de semelhante derrota. Mas o que você chama de derrota eu chamo milagre, pois criar algo que não a Si mesmo, e assim tornar-se, em certo sentido, passível de achar resistência da parte da própria obra é o mais impressionante e inimaginável dos efeitos que atribuímos à Divindade. (Lewis, O Problema do Sofrimento)



Recentemente me perguntaram isso num debate que antes tratava a questão de se o inferno é compatível com um Deus amoroso, tem um texto nesse blog falando algo sobre isso. Como foi respondido que
o inferno é compatível com um Deus amoroso, a questão mudou. "Tudo bem que Ele respeita as escolhas humanas, mas Deus não seria um incompetente em não conseguir salvar os seus filhos?". Pra não ficar sem postar nada, resolvi colocar a parte do debate que trata desse assunto.



Antes vamos ver algo sobre a onipotência.

A onipotência de Deus não é limitada por nada externo, mas ele não pode contradizer sua natureza. A lógica faz parte da sua natureza (lei da identidade e da não contradição, por exemplo). Por isso sua onipotência significa que ele pode tudo que é logicamente possível e não se contradiga, não dá pra fazer coisas sem sentido. Não confunda não poder se contradizer com não ser livre e onipotente.


Muita gente acha que Deus poderia destruir o inferno ou dar um jeito de criar almas que não fossem ao inferno. Todas essas opções contrariam a livre escolha. Se destruísse o inferno consequentemente acabaria com uma das opções (estar ou não com Deus). Se não existisse nenhuma separação, todos seriam obrigados a “escolher” Deus. Em nenhuma dessas opções haveria uma livre escolha. Então, como Deus quis um mundo onde existisse realmente o amor e não um bando de fantoches, nos deu a oportunidade de ama-lo ou não.


Alguns dos questionamentos.


Do mesmo jeito que ninguém iria para a cadeia se a sociedade não tivesse inventado a cadeia e o sistema de justiça humana, o pecado não conduziria o homem para a condenação se Deus não tivesse inventado a sua Justiça e a condenação

Aí está a questão, e onde você erra ao fazer uma conclusão precipitada. Deus não inventou a justiça. Ele É Justo, faz parte de sua natureza. Não pode contradizer a sua essência. Deus é a fonte de justiça, e sua justiça é imutável, pois Deus não muda. Deus é a bondade, amor, justiça e alegria, se alguém quer se afastar dele (e com foi dito, o pecado é esta “formula”), o que resta é o oposto disso. Ser justo não impede o perdão, mas o perdão de quem não se arrepende, pois perdoar quem não se arrepende é o mesmo que ignorar o pecado, fingir que ele é bom. Deus não seria mentiroso desse modo, e isso é imoral. Se Deus é a única fonte de justiça, vida amor e luz, evitar estar com Deus é evitar isso tudo.


Não existe perfeição na ausencia do amor.

Você está certo, não existe perfeição na ausência de amor. Deus criou um mundo perfeito, mas para ser perfeito tem que haver a opção de não amar. Deus não criou nossa separação, mas a opção de separação. Claro que a partir do momento em que as pessoas escolheram a separação o mundo deixou de ser perfeito, o melhor dos mundos possíveis. Mas mesmo com nossas escolhas Ele providenciou um modo de existir um mundo perfeito novamente. Esse pode não ser agora o melhor dos mundos, mas o melhor mundo para se chegar a este que você tanto fala.

É culpa de Deus sim, Ele poderia ser mais competente ao convencer as pessoas de que algo é errado (ele não fez a pergunta exatamente desse modo)

Uma coisa é convencer uma pessoa que algo é errado, outra é uma pessoa está convencida e ainda continuar errando. Uma coisa é uma pessoa roubar e não saber que está errando (quase impossível), outra bem diferente é saber que é errado roubar e continuar errando. D. A. Carson disse isso de maneira apropriada:

O inferno não é um lugar em que as pessoas estão confinadas porque eram gente boa, mas simplesmente não acreditaram nas coisas certas. Estão confinadas, antes de mais nada, porque desprezaram o seu Criador e querem estar o centro do universo. O inferno não está cheio de pessoas que já se arrependeram, mas Deus não é amável o suficiente para deixa-las sair. O inferno está cheio de pessoas que, por toda a eternidade, ainda querem ser o centro do universo e persistem na sua rebeldia desafiadora contra Deus.
O que Deus devia fazer a respeito? Se disser que não se importa, não será mais um Deus a ser adorado. Ele seria amoral ou positivamente medroso. Agir de qualquer outra maneira face a uma rebeldia tão ostensiva seria diminuir o próprio Deus.


Ninguém teria sido incompetente se não convencesse a pessoa que a droga não é boa, pois a sua vontade, independente de ter sido convencido, ignoraria toda tentativa de fazer com que ele parasse de usar drogas. Mas a questão não é só isso, é quando a pessoa sabe que é errado ignorar o propósito de ser, saber o certo e o errado, saber que Deus é amor e o melhor caminho, entender que o pecado passa uma falsa felicidade, e ainda assim continuar pecando.

Agora convencer de uma forma que transforme é coagir. Ele atua de maneira persuasiva, mas não coerciva de tal modo que não respeite a vontade humana. Quem quer conhecer a Deus de todo coração, vai conhecer. A transformação não se dá quando a pessoa é convencida, mas quando a pessoa quer ser transformada.


Não faz sentido dizer que uma pessoa esta convencida de que um erro é um erro se ela não abandonar o erro.

Não estou falando em fazer uma pessoa ficar sabendo que um erro é um erro.
O verdadeiro convencimento provoca a transformação.

Não existe o verdadeiro convencimento se a pessoa não se transformar.


O que vemos são vários exemplos de pessoas que sabem que algo é errado e mesmo assim continuam errando. Quando uma pessoa é convencida e quer mudar, aí sim há transformação. A vontade pode ignorar muitas outras coisas. Como os fariseus que mesmo vendo os milagres de Jesus como prova conclusiva que ele era o messias e continuaram na sua rebeldia. Outro bom exemplo, que você também falou aqui de outra forma, quando sentimos fome. É algo natural e benéfico se alimentar, mas algumas pessoas deixam de se alimentar por algum motivo, ou os que comem alimentos que fazem algum mal, ignorando todos os argumentos e provas conclusivas de que fazer isso só vai piorar sua situação. Ou pacientes que diante de médicos mostrando que vão morrer em alguns dias se não deixarem de ter certas atitudes, eles simplesmente ignoram, sua vontade diz que não vai acontecer nada, alguns não se importam com o que vai acontecer. Fumantes que sabem que fumar vai prejudicar sua vida e ainda o fazem. Pra terminar, vou citar o caso do sequestro de Eloá e sua amiga. O sequestrador sabia que era errado o que ele fez, mas ignorou isso, deixou o mal tomar conta do seu coração. Ele não fez isso contra a própria vontade, pois teve inumeras oportunidades se render e tirar o ódio do coração.
Enfim, exemplos não faltam para mostrar que uma pessoa pode saber que algo é errado e mesmo assim, por algum motivo, ela ignora isso e prefere continuar no erro.


Propor que Deus leve alguem pra viver com Elee sem respeitar sua vontade está mais pra um desrespeito a vontade humana.



Resumindo:

Deus não é incompetente em convencer as pessoas, mas as pessoas, mesmo depois de convencidas, querem continuar errando. Não sei como continuam pecando sabendo das consequencias. Eu mesmo sendo convencido de que Jesus é o caminho e a vida, peco, não nego, e não quero as conseqüências. A pessoa que tem vontade de ser salva, mesmo com todos os pecados, Deus vai ajudar a deixar o erro.

Outro ponto a destacar é que, mesmo se fosse logicamente possível criar um mundo onde as pessoas iriam escolher ficar com Ele, isso não significa que é algo necessariamente realizavel. Não é necessariamente realizavel enquanto as pessoas continuarem escolhendo não estar com Ele.

Apocalipse 3
20 Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.

"A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida."

"Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo."

João 3
"19 E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.
20 Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus."

Autor: Jonadabe Rios

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