quinta-feira, 9 de setembro de 2010

2 - O Novo Testamento é historicamente confiável?

 Por Craig L. Bloomberg

A Crítica Textual

O ponto de partida comum para investigar a confiabilidade de um documento antigo não tem a ver com a credibilidade do seu conteúdo, por si mesmo, mas pergunta se nós podemos ser confiantes de ter alguma coisa próxima ao que o autor daquele documento escreveu originalmente. Na maioria dos casos, as mais antigas cópias que nós temos de um determinado livro datam de séculos depois de quando ele foi escrito. Nem existem muitas cópias de determinado livro das eras anteriores à invenção da gráfica. Por exemplo, há apenas nove ou dez bons manuscritos da Guerra de Gália de César, e os mais antigos datam de novecentos anos depois das datas dos eventos descritos. Somente trinta e cinco dos 142 livros de história romana de Livy ainda existem, e estes em cerca de vinte manuscritos, dos quais somente um data do século IV. Dos catorze livros de Tácito sobre a história romana, somente sobrevivem quatro e meio, e estes em apenas dois manuscritos que datam dos séculos IX e XI.15

Por outro lado, a evidência textual do Novo Testamento desde os primeiros séculos depois que ele foi escrito é assombrosa. Acadêmicos de praticamente todas as classes teológicas concordam que os escribas cristãos copiaram o Novo Testamento com extraordiário cuidado, comparável somente pela exatidão da cópia, pelos escribas judeus, das Escrituras dos hebreus (o Antigo Testamento cristão). Somente no original em grego, mais de cinco mil manuscritos ou fragmentos de manuscritos de porções do Novo Testamento foram preservados dos séculos em que a Bíblia era copiada à mão. O mais antigo destes manuscritos é uma tira de papiro designada (p52) que contém partes de João 18.31-33 e 37-38 e data da primeira terça parte do século II d.C., menos de quarenta anos depois que o Evangelho de João foi escrito nos anos 90. Mais de trinta papiros datam do período entre o fim do século dois até o inicio do século III. Alguns destes papiros contém grandes trechos de livros inteiros do Novo Testamento. Um deles abrange grande parte dos evangelhos e do livro de Atos (p45); outro, grande parte das epístolas de Paulo (p46). Quatro Novos Testamentos muito confiáveis e quase completos datam do século IV (A e B) e do século V (A e C).

Todos os tipos de pequenas variações distinguem estes manuscritos entre si, mas a grande maioria destas variações envolve meras modificações de grafia, gramática e estilo, ou omissões acidentais ou duplicações de letras, palavras ou expressões. Apenas quatrocentas (menos de uma por página, em uma tradução normal nas língua inglesa) têm alguma influência no significado da passagem, e as mais importantes variações são normalmente indicadas nas notas de rodapé das traduções nos idiomas modernos da Bíblia. As únicas variações textuais que afetam mais do que uma ou duas sentenças (e muitas afetam apenas palavras ou expressões individuais) são João 7.53 – 8.11 e Marcos 16.9-20. Alguns entendem que nenhuma dessas passagens reflita, provavelmente, o que o texto de João ou Marcos escreveram originalmente, embora a história no texto de João – sobre a mulher flagrada em adultério – ainda tenha uma chance muito boa de ser historicamente precisa. Mas de modo geral, 97 a 99% do Novo Testamento original em grego podem ser reconstruídos sem qualquer dúvida. Além disso, nenhuma doutrina cristã baseia-se de modo único, ou até mesmo basicamente, em qualquer passagem textualmente discutida.16

Até mesmo os membros mais liberais do Seminário Jesus concordam com os acadêmicos evangélicos muito conservadores de que não há evidência histórica de nenhum tipo que sustente as declarações de alguns mórmons ou muçulmanos modernos de que o texto do Novo Testamento tornou-se tão corrompido com o passar dos séculos que não temos como ter certeza do que continha o original. Essas declarações, na verdade, contradizem os ensinamentos oficiais de ambas as religiões. As declarações de Joseph Smith, armazenadas nas Escrituras adicionais dos Santos dos Últimos Dias e o livro sagrado do Islã, o Alcorão, referem-se à Bíblia como a Palavra de Deus e sustentam fortemente a exatidão do seu conteúdo, embora não chegando a afirmar uma infalibilidade total. Mas os ensinamentos não oficiais de muitos lideres nos dois movimentos freqüentemente questionam, injustificadamente, esta exatidão.17

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