Por Craig L. Bloomberg
Milagres
A única coisa que impede que Ludemann passe da observação de que os primeiros cristãos acreditavam que Cristo tinha ressuscitado dos mortos para a convicção de que Ele ressuscitou fisicamente, e a sua sincera pressuposição de que essas coisas, ou quaisquer eventos milagrosos, jamais poderiam ocorrer. Embora pareça melhor deixar a questão do miraculoso para outro livro, eu não consigo evitá-la completamente neste capitulo, ainda que meus comentários devam ser breves.101
- Ceticismo e resposta
Há tres razoes principais por que muitos acadêmicos modernos acreditam que milagres não acontecem. Em primeiro lugar, alguns acreditam que a ciência refuta os milagres. A mais famosa enunciação dessa convicção vem do prolífico acadêmico do Novo Testamento e teólogo alemão, de 50 anos atrás, Rudolf Bultmann, quando declarou que "o conhecimento e domínio que o homem tem do mundo avançou a tal ponto, em razão da ciência e da tecnologia, que não mais e possível que alguém defenda seriamente a visão de mundo do Novo Testamento,”.102 Os povos antigos simplesmente não tinham o entendimento das leis universais de causa e efeito que nos temos, e por isso acreditavam no que nos não podemos crer.
Em segundo lugar, outros admitem a possibilidade do miraculoso (Mn teoria, mas insistem que, na pratica, sempre haverá uma probabilidade mais alta de que uma explicação naturalista se responsabilize pelo misterioso. A clássica exposição deste ponto de vista vem do filosofo escocês XVIII, David Hume, que defendeu essa afirmação enfatizando quão freqüentemente a declaração de testemunhas confiáveis pode estar equivocado, quão freqüentemente pessoas ingênuas e crédulas caem presas de interpretações equivocadas de eventos, e como os outros estão simplesmente procurando milagres e por isso são incapazes de analisar objetivamente causas de eventos incomuns. Hume adotou um uniformitarianismo filosófico, isto e, declarando que uma pessoa não pode atribuir uma causa a um evento que não observou nem vivenciou diretamente (nem obteve a informação de alguém que observou ou vivenciou o evento).103
Finalmente, um terceiro argumento apela para os aparentes paralelos na antiga religião e mitologia. Historias similares eram contadas sobre os deuses e deusas gregos e romanos. Quase contemporâneos de Jesus, por exemplo, Apolônio, no mundo grego e Hanina ben Dosa ou Honi, o que faz chover, no mundo judeu, são considerados como tendo realizado milagres, alguns deles assombrosamente similares aos primeiros prodígios e maravilhas cristãos. Portanto, este argumento tenta sugerir que nos interpretamos mal o gênero literário das historias de milagres bíblicos, que jamais teriam pretendido registrar fatos sérios, mas seriam relates fictícios designados a ensinar lições teológicas. Classicamente estruturada nos meados do século XIX por David Strauss, esta e hoje em dia a explicação dominante para as historias de milagres da Bíblia, entre o ramo mais cético dos acadêmicos.104 Cada um dos três argumentos merece uma resposta.
Em resposta a reivindicação cientifica, e importante enfatizar que em uma era pós-Einstein, pós-Heisenberg, os filósofos da ciência são cada vez menos dogmáticos sobre o que pode ou não acontecer, reconhecendo que a ciência, por definição, e o estudo do que e repetível, e por isso não pode avaliar a existência divina.105 Se Deus, por definição, e um ser sobrenatural que criou o universo, realmente existir, então nos devemos aceitar a possibilidade de que Ele ocasionalmente interrompa as leis científicas normais de causa e efeito, para criar o que chamamos de milagre.
Curiosamente, mesmo nesta era altamente tecnológica e cientifica, a substancial maioria dos norte-americanos adultos ainda crê em milagres, porque respostas dramáticas a orações e curas físicas instantâneas e inexplicáveis continuam a acontecer com excessiva freqüência para que se possa negá-las.106 Por outro lado, devemos nos lembrar de que, já no período do Novo Testamento, as pessoas sabiam que os mortos normalmente não ressuscitam, e que os doentes não se curam instantaneamente. Muito freqüentemente, nos declaramos a ingenuidade dos povos primitivos de maneira que simplesmente não são fieis a historia.
Embora ainda encontre adeptos, a objeção filosófica foi refutada ha mais de três séculos. O testemunho de pessoas confiáveis ainda deve ser levado em consideração, mesmo se o que elas descrevem parecer inacreditável. Algumas pessoas são ingênuas, mas não todas, e nem todas ao mesmo nível. Algumas certamente estão procurando milagres, e podem acreditar que os encontraram, por meio de algum processo de "cumprimento de desejos". Mas os céticos endurecidos também foram convertidos a fé cristã por causa dos milagres que decididamente não estavam procurando. E o uniformitarianismo prova: pelo seu critério, ninguém que viva nos trópicos, em uma época diante da comunicação global e tecnologia moderna, teria qualquer razão para crer no gelo! Alem disso, o uniformitarianismo marcara um determinismo antropológico; isto e, ele não deixa espaço para que o livre-arbítrio humano crie uma nova causa para um evento jamais imaginado antes.107
Quanto aos paralelos com outras religiões antigas, não e provável que sejam responsáveis por gerar as historias de milagres contidas nos Evangelhos e no livro de Atos. Os mitos classicos greco-romanos eram sobre deuses e deusas que jamais viveram vidas humanas verdadeiras na terra. Nas raras ocasiões em que os milagres eram atribuídos a heróis humanos endeusados, como Asclepio (embora mesmo então haja debates se este homem realmente existiu), ainda eram pessoas de séculos passados cujos retratos cresceram ao nível de lendas detalhadas somente depois de centenas de anos. Os milagres que aconteceram nos tempos do Novo Testamento em santuários dedicados a Asclepio provavelmente podem ser explicados pelo que hoje seria chamado de processos psicossomáticos.108 Apolonio de Tyana viveu depois da época de Cristo e a composição dos Evangelhos e do livro de Atos, de modo que as suas supostas curas e ressurreições não podem ter influenciado os primeiros relatos cristãos. Hanina teve milagres de cura atribuídos a ele, mas somente por meio da oração, ao passo que Cristo e os apóstolos ordenavam que as pessoas fossem curadas diretamente, e elas realmente ficavam curadas. O único milagre atribuído a Honi, como sugere o seu apelido, foi ter feito chover, um tipo de milagre que jamais e retratado nos Evangelhos ou no livro de Atos. Mas, dada a fé cristã de que Deus realizou milagres por intermédio de judeus fieis, e de que Satanás pode realizar falsos milagres, não ha razão necessariamente para rejeitar todas as historias antigas de outros eventos aparentemente sobrenaturais.109
- A Evidencia positiva.
Não apenas as objeções padrão a aceitação das historias de milagres do Novo Testamento não convencem, mas a evidencia positiva adicional respalda a sua historicidade. Nos já observamos que tanto a tradição rabínica como Josefo concordaram que Jesus realizou milagres. As his¬torias de milagres são encontradas em cada Evangelho, e cada suposta fonte para o Evangelho, assim como para o livro de Atos, e as referências a Jesus e aos apóstolos realizando milagres estão espalhadas pelas epistolas também (por exemplo, Rm 15.19; 2 Co 12.12; Gl 3.5; Hb 2.4). Globalmente, as historias de milagres satisfazem plenamente ate mesmo o antigo critério da dupla igualdade e desigualdade (veja o inicio do capítulo 1). Ha paralelos parciais nas fontes judaicas mais antigas e nas cristãs mais recentes, mas o âmago da singularidade dos relatos bíblicos e a objetividade e a eficácia dos milagres e da sua função como indicadores da chegada decisiva do reino de Deus. Os milagres, assim, também sa¬tisfazem o critério da coerência com o ensinamento de Cristo conhecido como autentico e essencial. John Meier, na mais abrangente investigação acadêmica dos tempos modernos, sobre a historicidade dos relatos de milagres do Evangelho, embora enfatize que nem todos os relatos satis¬fazem a todos os critérios, ainda assim conclui:
A curiosa conclusão da nossa investigação e que, considerada global¬mente, a tradição dos milagres de Jesus e mais firmemente respaldada pelo critério da historicidade do que o são inúmeras tradições conhecidas e com freqüência prontamente aceitas, sobre a sua vida e o seu ministério (por exemplo, a sua condição de carpinteiro, o seu uso de "abba" em oração, a sua própria oração no Getsemani antes da sua prisão). Explicando dramaticamente, mas sem grandes exageros: se a tradição dos milagres do ministério publico de Jesus tiver que ser rejeitada in toto como não histórica, todas as outras tradições do evangelho a respeito dEle também deverão ser.110
Esta não é, naturalmente, a conclusão de Meier; na verdade, há for¬tes razões para crer, ainda que com bases puramente históricas, na confiabilidade substancial da tradição dos milagres.
A Ressurreição
Novamente, breves comentários parecem completamente inadequados, mas ha excelentes livros que se dedicam mais plenamente ao tema,111 principalmente N. T. Wright na sua recente e magistral obra, The Resurrection of the Son of God [A Ressurreição do Filho de Deus].112 Nenhuma explicação alternativa convincente foi proposta para expli-car a fe dos primeiros cristãos na ressurreição. As idéias propostas na literatura popular mais antiga, de que Jesus na realidade jamais morreu na cruz, de que os seus discípulos roubaram o seu corpo, de que as mulheres foram ao sepulcro errado ou que mais de quinhentas "testemunhas" durante um período de quarenta dias, em diferentes localizações geográficas, todas foram acometidas de idêntica "alucinação em massa", foram apropriadamente descartadas por grande parte de acadêmicos contemporâneos. A alternativa acadêmica mais popular hoje e a de que a ressurreição e o produto de um processo de mitologização posterior de uma tradição original que não incluía um retorno sobrenatural dos mortos. Mas a evidencia de 1 Coríntios 15 já basta para refutar isso, como já vimos anteriormente nos tópicos ''Os Credos cristãos Antigos" e "Milagres". Alem disso, e o tipo de explicação que poderia fazer sentido, se Jesus tivesse sido um grego que pregava em Atenas, e se os seus seguidores, uma geração depois, tivessem se tornado predominantemente judeus. A Grécia, de modo geral, acreditava somente na imortalidade das almas. Os judeus eram comparativamente singulares no mundo mediterrâneo do século I, crendo em uma ressurreição total do corpo. Mas, naturalmente, isso e o oposto do progresso geográfico real do evangelho. No mínimo, nos deveríamos ter esperado um cristianismo helenista crescente, cada vez mais, para minimizar ou eliminar as referencias a ressurreição de um corpo.113
As alternativas a ressurreição corpórea de Jesus não convencem, e, alem disso, seis argumentos adicionais também propiciam fortes evidências a favor da sua historicidade. Nos já mencionamos o testemunho terreno de Paulo. Alem de 1 Coríntios 15, ha mais de uma dúzia de outras referencias a ressurreição de Cristo nas incontestáveis epistolas paulinas, escritas antes dos anos 50 (Rm 4.24, 25; 6.4, 9; 8.11, 34; 10.9; 1 Co 6.14; 2 Co 4.14; 5.15; Gl 1.1; 1 Ts 1.10; etc.). Em segundo lugar, não ha alternativa que explique adequadamente por que os primeiros cristãos judeus (isto e, não apenas gentios) alteraram o seu dia de adoração de sábado para domingo, especialmente quando a sua lei fazia da ado¬ração no sábado (Sabbath) um dos Dez Mandamentos invioláveis (Ex 20.8-11). Alguma coisa objetiva, assombrosamente significativa e com data de alguma manha de domingo em particular deve ter gerado a mudança. Em terceiro lugar, em uma cultura em que o testemunho das mulheres era freqüentemente inadmissível em um tribunal, quem inventaria um “mito” relacionado à fundação, em que todas as primeiras testemunhas de um evento difícil de crer eram mulheres? Em quarto lugar, os relates contidos do Novo Testamento diferem dramaticamente das bizarras descrições apócrifas da ressurreição, inventadas no século II e depois. Em quinto lugar, nos primeiros séculos do cristianismo, nenhum sepulcro jamais foi venerado, separando a resposta cristã a morte do seu fundador de praticamente todas as outras religiões da historia da humanidade. Finalmente, o que teria levado os primeiros cristãos judeus a rejeitar a interpretação que lhes foi dada como herança em Deuteronômio 21.23, de que o Messias crucificado, pela própria natureza da sua morte, demonstrou que Ele estava se colocando em uma posição de maldição diante de Deus? Novamente, e mais fácil crer em um evento aceito como sobrenatural do que tentar explicar todos estes fatos estranhos através de alguma outra lógica.114
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