José Antonio Pagola
A exegese católica não têm um método de interpretação próprio e exclusivo, mas, partindo da base histórico-critica das fontes, aproveita todos os métodos atuais. Os principais critérios foram expostos em 1993 pela Pontíficia Comissão Bíblica. Assinalamos os mais importantes.
Rejeição da literatura fundamentalista. Esta leitura parte do princípio de que a Bíblia deve ser lida e interpretada literalmente em todos os seus detalhes. Para isso não há necessidade de empregar nenhum método científico. Esta maneira de ler os evangelhos não leva em consideração a linguagem humana dos autores, costuma estar freqüentemente ligada a uma tradução determinada e oferece muitas vezes interpretações piedosas, mas falsas. O fundamentalismo constitui “uma forma de suicídio de pensamento”.
Caráter indispensável do método histórico-crítico. Com a finalidade de captar com a maior clareza possível o sentido expresso pelos autores, este método histórico-críttico leva em consideração a crítica textual, a análise lingüística e semântica, o estudo dos gêneros literários e o processo da redação. É “o método indispensável” para o estudo científico dos textos antigos. Uma justa compreensão dos textos evangelísticos “requer a utilização deste método”. Por isso, “os exegetas devem se servir do método histórico-crítico. Eles não devem, no entanto, atribuir-lhe a exclusividade.
Importância da abordagem a partir da antropologia cultural. A antropologia cultural procura definir as características antropológicas da sociedade onde se originaram os textos bíblicos (valores reconhcidos, modo de exercer o controle social, concepção da família, condição social da mulher, estruturação social, etc.). Esta abordagem dos textos é de suma importância. “Nos textos que relatam o ensinamento de Jesus, por exemplo, as parábolas, muitos detalhes podem ser esclarecidos graças a essa abordagem. Ocorre o mesmo para as concepções fundamentais, como aquela do reino de Deus.” Convém recordar que toda esta abordagem não está em condições por si só de dar conta no sentido profundo que o crente descobre na mensagem de Jesus.
Contribuição da abordagem liberacionista. A teologia da libertação promoveu uma abordagem liberacionista da Bíblia que traz “elementos cujo valor é indubitável”: maior atenção ao “Deus dos pobres, que não pode tolerar a opressão nem a injustiça”; insistência na dimensão comunitária da fé; urgência de um práxis libertadora enraizada na justiça e no amor. Esta leitura comprometida da Bíblia comporta riscos. “É certo que a exegese não pode ser neutra, mas ela deve também evitar de ser unilateral.”
Contribuição da abordagem feminista. São numerosas as contribuições positivas que provém da exegese feminista. As mulheres “conseguira, muitas vezes melhor do que os homens, perceber a presença, o significado e o papel da mulher na Bíblia, na história das origens cristãs e na Igreja”. Está crescendo uma sensibilidade feminina que “leva a revelar a corrigir certas interpretações correntes, que eram tendenciosas e visavam justificar a dominação do homem sobre a mulher”. Deve-se evitar, no entanto, o risco de cair numa leitura tendenciosa, apoiada no “argumento ex silentio” ou em “indícios fugitivos.
Importância da afinidade com o conteúdo do texto. Convém recordar que “o conhecimento justo do texto bíblico só é acessível àquele que tem uma afinidade viva com aquilo do qual fala o texto”. Por isso todo intérprete deve colocar-se a pergunta seguinte: “Qual teoria hermenêutica torna possível a justa apreensão da realidade profunda da qual fala a Escritura e sua expressão significativa para o homem de hoje?” Não há dúvida de que a sintonia com a mensagem de Jesus, a acolhida de seu chamado e o seguimento fiel aumentam a capacidade do exegeta de captar sua realidade profunda.
Atualização da mensagem bíblica. A expressão de fé renovou-se continuamente para enfrentar situações novas. Por isso, “a interpretação da Bíblia deve igualmente ter um aspecto de criatividade e afrontar as questões novas, para respondê-las partindo da Bíblia”. Pode-se dizer que a tarefa dos exegetas só termina quando “tiverem esclarecido o sentido do texto bíblico como palavra atual de Deus”. Para alcançar esta finalidade, “devem levar em consideração as diversas perspectivas lhes permitem de responder às necessidades dos leitores modernos das Escrituras”. Daí a importância de adaptar a interpretação à mentalidade e à linguagem contemporâneas.
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