José Antonio Pagola
A margem de todo este trabalho de investigação científica foi aparecendo durante estes anos um número incontável de publicações, escritos e romances de ficção científica com os dados aceitos pelos peritos e exegetas.
Em alguns casos trata-se de obras vinculadas a correntes esotéricas e gnósticas que ganharam nova força no marco da chamada “Nova Era” (New Age). Nelas apresentam-se diversas imagens: Jesus segundo o esoterismo tradicional; Jesus segundo a religiosidade gnóstica; Jesus segundo o “segredo” dos templários; Jesus segundo a Sociedade teosófica; Jesus segundo a antroposofia de R. Steiner; A vida mística de Jesus, de H. S. Lewis, segundo a ordem dos Rosa-cruzes (Amorc); Jesus e o movimento esotérico do Santo Graal. Jesus segundo a Fraternidade Branca Universalç Jesus e os extraterrestres... A posição dos investigadores diante deste tipo de literatura é unânime: a imagem de Jesus exposta nestas obras nada tem a ver com o Jesus que viveu na Galiléia no inicio do século I.
Por outro lado, publicam-se numerosas obras preparadas em poucos meses por autores que não se dedicam à investigação histórica de Jesus, mas provêm do campo do jornalismo, da literatura fantástica, da história oculta... Junto com estas obras sobre Jesus publicam também obras sobre óvnis, segredos das pirâmides do Egito, mistérios da história etc. São livros que trazem títulos como os seguintes: Jesus viveu e morreu na Chachemira, a história secreta de Jesus; Jesus, o homem sem evangelhos; Jesus e Maria Madalena; Jesus, esse grande desconhecido. Sem entrar na análise crítica de cada uma destas obras, de quase todas pode-se fazer as seguintes observações:
- Estas obras são escritas por autores que não levam em consideração a investigação moderna: seus retratos arbitrários de Jesus não se baseiam absolutamente nos dados dos peritos, mas antes os contradizem. É impressionante observar com que audácia escrevem amparando-se numa frívola referência geral à “investigação recente” ou aos últimos dados dos cientistas, sem poder trazer o nome de nenhum investigador sério sobre a matéria.
- Os leitores não iniciados não podem nem sequer suspeitar o uso arbitrário que se faz constantemente das fontes, sem tomar em consideração nenhum critério de historicidade. Por exemplo, Dan Brown, em seu romance O Código da Vinci, para provar que Maria Madalena estava casada com Jesus, baseia-se no Evangelho [apócrifo] de Filipe, afirmando que este escrito é anterior e mais original e seguro do que os evangelhos canônicos; o leitor não iniciado ignora que um perito de tanto prestígio como o alemão Hans-Josef Klauck conclui seu estudo sobre o evangelho de Filipe dizendo que “ninguém tenta datá-lo antes do século II”.
- Nestas obras fazem-se afirmações provocativas contra aquilo que afirmam os investigadores de primeira mão. Afirma-se que “Jesus foi essênio”; os especialistas concluem que a atuação e a mensagem de Jesus teriam encontrado em Qumran uma rejeição frontal. Afirma-se que o matriônio de Jesus com Maria Madalena é “o segredo mais importante e mais bem guardado de todos os tempos”; nenhum investigador competente podia tê-lo descoberto antes de chegar Dan Brown. Diz-se que “Judas foi assassinado por Pedro” (Michel Benoit); nenhum especialista o havia suspeitado.
- Em escritos deste gênero selecionam-se episódios de importância absolutamente secundária apenas por seu potencial sensacionalista (os amores de Jesus e Maria Madalena, a atuação de Judas, os “ensinamentos secretos” de Jesus...). Ao mesmo tempo, ignora-se o que historicamente constitui o núcleo do ensinamento de Jesus e de sua atuação: sua mensagem sobre Deus, sua defesa dos pobres, sua crítica aos poderosos, seu chamado à conversão ou seu projeto de um mundo mais justo para todos.
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