sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Merece confiança o Evangelho de Barnabé?


Por Norman Geisler.

Os muçulmanos citam frequentemente o Evangelho de Barnabé para defender os ensinos islâmicos. Na verdade, ele é um campeão de vendas em muitos países islâmicos. Suzane Hausseff o recomenda em sua bibliografia anotada sobre o islamismo, dizendo:
Nele se encontra o Jesus vivo retratado mais vividamente e mais identificado com a missão que lhe foi confiada do que qualquer outro dos quatro evangelhos o NT pode retratá-lo.
É chamado “leitura essencial para qualquer um que busque a verdade” (Haneef, 186). Uma afirmação islâmica típica é a de Muhammad Ata ur-Rahim:
O Evangelho de Barnabé é o único evangelho ainda existente escrito por um discípulo de Jesus... [Ele] foi aceito como evangelho canônico nas igrejas de Alegandria até 325 d.C (Ata ur-Rahim, p. 41).
Outro autor muçulmano, M. A. Yusseff, argumenta confiadamente que “em antiguidade e autenticidade, nenhum outro evangelho pode chegar perto do Evangelho de Barnabé” (Yusseff, p. 3)

Não é de surpreender que os apologistas muçulmanos recorram ao Evangelho de Barnabé, pois ele apóia um ensinamento islâmico básico contrário ao NT. Afirma que Jesus não morreu na cruz (cf. surata 4.157). Mas argumenta que Judas Iscariotes morreu no lugar de Jesus (seç. 217), tendo-o substituído na última hora. Essa posição é adotada por muitos muçulmanos, já que a grande maioria deles acredita que outra pessoa tomou o lugar de Jesus sobre a cruz.

Eruditos conhecidos que examinaram cuidadosamente o Evangelho de Barnabé consideram que não há absolutamente nenhuma base para a autenticação dessa obra. Depois de examinar a evidência num artigo acadêmico em Islamochristiana, J. Slomp concluiu: “Na minha opinião a pesquisa acadêmica provou cabalmente que esse evangelho é falso. Essa opinião também é compartilhada por vários eruditos muçulmanos” (Slomp, 28). Na introdução à edição de Oxford do Evangelho de Barnabé, Longsdale e Ragg concluem que “a verdadeira data fica [...] mais próxima de século XVI que do século I” (Longsdale, p. 37).

As evidências de que esse não é um evangelho do século I, escrito por um discípulo de Cristo, são esmagadoras:
A referência mais antiga a ele vem de uma obra do século V, o Decreto gelasiano, pelo papa Gelásio, 492-495 d.C.) Mas até essa referência é questionada (Slomp, p. 74). Além disso, não há evidência manuscritológica na língua original para sua existência. Slomp diz diretamente: “Não há tradição textual do VEB [manuscrito de Viena do Evangelho de Barnabé]” (IBID). Em contraste, os livros do NT são comprovados por mais de 5.300 manuscritos gregos que começaram a ser produzidos durante os três primeiros séculos.
Em segundo lugar, L. Bevan Jones observa que
Sua primeira forma conhecida é um manuscrito italiano. Esse manuscrito foi analisado cuidadosamente por eruditos e é considerado pertencente ao século XV ou XVI, isto é, 1400 após o tempo de Barnabé (Jones, 79).
Até seus defensores muçulmanos, Muhamad ur-Rahim, admitem não existem manuscritos anteriores ao século XVI. Esse evangelho é muito usado por apologistas muçulmanos hoje, mas não há referência a ele por parte de nenhum escritor muçulmano antes do século XV ou XVI. Certamente eles o teriam usado, se de fato existisse. Mas nenhum deles, nem qualquer outra pessoa, jamais o mencionou entre os séculos VII e XV, quando houve intenso debate entre cristãos e muçulmanos.

Nenhum pai ou mestre da igreja cristã jamais o citou entre os séculos I e XV, apesar do fato de haverem citado todos os versículos de todos os livros do NT, com exceção de onze (Introdução Bíblica). Se o Evangelho de Barnabé fosse considerado autêntico, certamente teria sido citado muitas vezes, como todos os outros livros canônicos das Escrituras. Se esse evangelho existisse, autêntico ou não, certamente teria sido citado por alguém. Mas nenhum autor antigo o citou, nem contra nem a favor, por mais de 1500 anos.

Às vezes ele é confundido com a Epístola de [pseudo] Barnabé do século I (c. 70-90 dC), que é um livro completamente diferente (Slomp, p. 37-8). Por causa das referências a essa obra, eruditos muçulmanos alegam falsamente haver apoio para uma data anterior. Muhammad Ata ur-Rahim confunde os dois livros e, assim, afirma equivocadamente que o evangelho estava em circulação nos séculos II e III d.C. Esse é um erro estranho, já que ele admite que ambos são descritos como livros diferentes nos “Sessenta Livros”, atribuindo o número de série 18 à Epístola de Barnabé e o número serial 24 ao Evangelho de Barnabé pelo nome como evidência da existência do Evangelho de Barnabé (Ata ur-Rahim, p. 42-43).

Alguns até pensaram erroneamente que a referência a um evangelho usado por Barnabé mencionado no livro apócrifo Atos de Barnabé (antes de 478) fosse o Evangelho de Barnabé. Mas, isso é claramente falso, como a citação revela: “Barnabé, depois de desenrolar o evangelho, que recebemos de Mateus, seu cooperador, começou a ensinar os judeus” (Slomp, p. 110). Ao omitir deliberadamente essa frase enfatizada, dá-se a impressão de que há um evangelho de Barnabé.

A mensagem do Evangelho de Barnabé é refutada completamente por documentos de testemunhas oculares do século I, encontrados no NT. Por exemplo, seus ensinamentos de que Jesus não afirmou ser o Messias e que ele não morreu na cruz são absolutamente refutados por documentos de testemunhas oculares do século I. Na verdade, nenhum muçulmano deveria aceitar a autenticidade do Evangelho de Barnabé, já que ele contradiz claramente a afirmação do Alcorão de que Jesus era o Messias. O livro afirma: “Jesus confessou e disse a verdade: ‘Eu não sou o messias [...] Na verdade fui enviado à casa de Israel como um profeta de salvação, mas depois de mim virá o Messias’” (seç. 42,48). O Alcorão chama Jesus de “Messias” [o “Cristo”] várias vezes (cf. surata 5.19,75).

Até os promotores muçulmanos do livro,tais como Haneef, têm de admitir que “a autenticidade desse livro ainda não foi estabelecida incontestavelmente [...] É considerado um registro apócrifo da vida de Jesus”. Haneef afirma que o livro “ficou perdido do mundo durante séculos por causa da sua repressão como documento herético”, mas não há nenhuma evidência documentada disso. Conforme indicado acima, ele sequer foi mencionado por alguém anterior a ele no século VI. Outros teólogos muçulmanos também duvidam da sua autenticidade (v. Slomp, p. 68). O fato é que o livro contém anacronismos e descrições da vida medieval na Europa ocidental que revelam que não foi escrito antes do século XVI. Por exemplo, refere-se ao ano do jubileu a cada cem anos, em vez de cinqüenta. A declaração papal de mudá-lo para cada cem anos foi feita pela Igreja em 1343. John Gilchrist, na obra intitulada Origins and sources of the Gospel of Barnabas [Origens e fontes do Evangelho de Barnabé], conclui que
Apenas uma solução pode explicar essa coincidência surpreendente. O autor do Evangelho de Barnabé só citou as supostas palavras de Jesus sobre o ano do jubileu acontecer ‘a cada cem anos’ porque sabia do decreto do papa Bonifácio.
Gilchrist acrescentou:
Mas como saberia sobre esse decreto a não ser que vivesse na mesma época que o papa ou algum tempo depois? É um anacronismo óbvio que nos compele a concluir que o Evangelho de Barnabé não poderia ser escrito antes do século XVI d.C” (Gilchrist, p. 16-7).
Um anacronismo importante é que o Evangelho de Barnabé usa o texto da Vulgada do século VI. Outros exemplos de anacronismos incluem um vassalo que deve uma parte da sua colheita para o seu senhor, uma ilustração do feudalismo medieval, uma referência a barris de madeira para vinho, em vez dos odres de vinho usados na Palestina, e um procedimento na corte medieval.

J. Jomier dá uma lista de erros e exageros:
A obra diz que Jesus nasceu quando Pilatos era governador, mas ele não se tornou governador até 26 ou 27 d.C. Jesus velejou para Nazaré, que não fica à beira-mar. Da mesma forma, o evangelho de Barnabé contem exageros, como a menção de 144 mil profetas e 10 mil profetas mortos “por Jizebel” (v. Slomp).
O estudo de Jomier mostra quatorze elementos islâmicos em todo o texto que provam que um autor muçulmano, provavelmente convertido, escreveu o livro. O pináculo do templo, onde se diz que Jesus pregou – um péssimo lugar para pregação – foi traduzido para o árabe como dikka, uma plataforma usado nas mesquitas. Além disso, Jesus é apresentado como alguém que veio apenas para Israel, mas Maomé para a salvação do mundo inteiro. Finalmente, a negação de Jesus como Filho de Deus é islâmica, assim como o fato de que o sermão de Jesus é baseado num [hutba] muçulmano que começa com louvor a Deus e a seu santo Profeta.

Conclusão.

O uso islâmico do Evangelho de Barnabé para apoiar seus ensinamentos é desprovido de comprovação. Seus ensinamentos até contradizem o Alcorão. Essa obra, longe de ser um registro autêntico dos fatos sobre Jesus compilados no século I, é evidentemente uma invenção do fim da era medieval. Os melhores registros do século I que temos da vida de Cristo são encontrados no NT, e categoricamente contradizem o ensinamento do Evangelho de Barnabé. Até referências antigas pagãs contradizem o Evangelho de Barnabé em pontos cruciais.

Fontes


M. Ata ur-Rahim, Jesus: prophet of Islam.
N. L. Geisler, Introdução Geral à Bíblia.
_ e A. Saleer, Answering Islam.
S. Haneef, Wat everyone should know about Islam and Muslims.
J. Jomier, Egypt: reflexions sur la Recontre al-Azhar.
L. B. Jones, Christianity explained to muslims.
J. Slomp, The gospel dispute, Islamochristiana.
D. Sox, O Evangelho de Barnabé.
M. A. Yusseff, The Dead Sea scrolls, the Gospel of Barnabas, and the New Testament.



Comentários do blog:

Acho interessante quando os muçulmanos apelam para o Evangelho de Barnabé como se a simples alusão a Barnabé indicasse que o livro foi escrito por ele. Isso é no mínimo muito ingênuo (como é o caso de afirmar que esse evangelho, por possuir o nome de Barnabé, foi escrito por um discípulo), em alguns casos é clara a desonestidade.

Também quando muitos apologistas muçulmanos o citam sem nem mesmo conhecê-lo de fato, apenas por que viram em algum livro ou, principalmente, porque concordam com as afirmações islâmicas.

Quando confrontam os diversos manuscritos neotestamentarios, alguns afirmam que não temos nenhum manuscrito antigo completo, e que os únicos completos são bem posteriores. Entretanto, não utilizam a mesma afirmação para descredibilizar o Evangelho de Barnabé, que o manuscrito mais antigo que possuímos é bem mais antigo, e não conta nem mesmo com a sombra das evidências manuscritas do NT que possuímos para fazer um bom trabalho de crítica textual.

Como se não bastasse, alguns chegam ao cúmulo de afirmar que não possuímos tais manuscritos ou ele só apareceu séculos depois porque tal Evangelho foi escondido, o que é totalmente sem sentido. Vários livros tão heréticos quanto esse não foram escondidos dessa forma, e, principalmente, foram citados para ser refutados pelos pais da Igreja, ao contrário do Evangelho de Barnabé.

Ou seja, as evidências são devastadoras quando se tratam deste Evangelho, mas algumas pessoas precisam alimentar a crença cega de que esse livro existiu de fato nessa época, por isso acabam sendo obrigadas a fazer argumentações lamentáveis, e espalhar informações falsas como as que vemos sendo distribuídas no livro “Jesus: Um profeta do Islã” e o “Islã, a religião de Jesus”.

Gostaria realmente de saber quando tais alegações muçulmanas vão acabar, já que apesar do profundo pedantismo, elas são, na realidade, grandes equívocos que precisam ser desfeitos em prol da verdade que algumas pessoas alegam desejar seguir.

Vejo tais alegações também em sites muçulmanos e redes sociais (como Orkut), no qual tive a oportunidade de tratar de alguns temas com um muçulmano.

Se as evidências a favor do Islã e contra o Cristianismo forem as que andam apresentando, sinto em dizer, mas tais "verdades" só convencem quem não conhece a fundo estas "evidências".

Estou convencido que com o aumento do conhecimento e da passagem de informações para diversos lugares, a verdade ficará cada vez mais clara, e o Islã está muito longe de ser a Verdade.

11 comentários:

  1. Tá. Um único livro seria mais verdadeiro que os quatro evangelhos? hahaha

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  2. Jonadabe Rios, a questão não é ser protestante ou católico. É crer em Jesus Cristo como seu único salvado e se livrar da idolatria. O apóstolo Paulo começa o livro de Romanos com uma declaração enfâtica: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê…” (Romanos 1:16).Os homens “mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador” (Romanos 1:25).Quando Deus começou a dar os mandamentos ao seu povo Israel, ele disse, “Eu sou o Senhor, teu Deus… Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto…” (Êxodo 20:2-5).

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  3. Não sei se você leu o texto, mas ele é uma critica a esse livro.

    Quanto a tal idolatria. Os católicos só são idólatras na mente enganada de ALGUNS protestantes (isso porque nem todos caíram nessa farsa de aprender um conceito errado, que não é bíblico, de idolatria).

    Quanto a isso há várias respostas no blog, inclusive essa: http://porquecreio.blogspot.com/2010/07/os-catolicos-sao-idolatras-porque-quero.html

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  4. Para desacreditar o Evangelho de Barnabé os cristãos se servem dos "eruditos", mas porque não se servem dos mesmos eruditos para verificarem que o Novo Testamento é furado também?? O maior erudito bíblico do mundo é Barth Ehrman. Ele mesmo já falou: "A bíblia não passa de um livro humano". Por que vcs não aceitam isso? É a palavra de um estudioso tb!!!

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    1. Bart Ehrman não é o maior erudito bíblico do mundo. Ele é um grande erudito, e até já postei textos dele aqui, é só pesquisar.

      O problema é que o fato dele ser um grande (não o maior) estudioso não significa que esteja certo em tudo, basta ver as criticas feitas por outros pesquisadores ELOGIADAS PELO PRÓPRIO Bart Erhman que estão aqui no Blog.

      O Novo Testamento nem de longe é furado, muito menos comparável a esse evangelho que alguns grupos (como alguns muçulmanos) tentam usar de forma desesperada.

      Geralmente quem diz isso é quem não entende de nada do assunto mas leu o título do "O que Jesus disse, o que não disse ..." de Ehrman já com o intuito de achar confirmação para o que já acredita, e acabou entendendo o livro de forma errada.

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  5. meu amigo ,nota se que você está um tanto equivocado ,catolicismo é um grande engôdo ,diga me em que parte da bíblia está escrito que jesus nasceu 25 de dezembro ,esta data tem outro significado pelo paganismo romano ,jesus nunca afirmou que era DEUS,e por fim quem começou toda esta farsa católica foi constantinos ,que para salvar o império introduziu o sincretismo pagão e está ai ate hoje ,a tal trindade é pura invenção,vocês louvam tamuz ,semíramis ,mitra e por ai afora,pesquise mais a respeito destes nomes pagãos e veras a verdade

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  6. João Carlos, posso responder todas essas questões sem nenhum problema, pois é algo que pesquiso há anos.

    Mas antes me responda o seguinte: está realmente interessado em saber?

    Caso a resposta seja afirmativa, você estaria disposto a mudar caso lhe apresente a verdade?

    Abraços!

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    1. Desculpe amigo,mas que verdade quer apresentar ao J.Carlos?

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    2. Desculpe,mas qual verdade se referes?

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    3. Quando você diz "verdade",a que se refere?

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    4. A única que existe a respeito do que ele apresentou. Acaso pode existir mais de uma verdade?

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